A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem....



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Com um grito, me sentei, o peito pesado enquanto tentava respirar. Uma recordação. Um sonho. Não tinha aquele pesadelo havia tanto tempo que achei ter me livrado dele.

Alarmada senti mãos sobre meus ombros, mãos gentis, leves e confortadoras. Estremeci. Estava em um quarto na hospedaria.

Assustada, tentei me livrar das recordações que me dominavam, atravessando a fronteira entre o sonho e a vigília. Rígida e distraída, olhei para o nada, assombrada por aquelas imagens que ainda pareciam reais, memórias que se recusavam a me deixar. O fogo da lareira havia apagado e o quarto estava mergulhado no frio e na escuridão.

— Deite perto de mim, carinho. Não deixarei que nada te machuque, nem mesmo os demônios dos seus sonhos.

O tom suave e firme da voz de Edward me acalmou. As mãos grandes e quentes me puxaram de encontro ao seu peito e me abraçaram. Não pude resistir, tragada pela força e pela gentileza do toque dele.

— Durma agora — ele disse, a respiração acariciando meu rosto, aquecendo-me.

Eu podia sentir o ritmo firme do coração dele, e a cadência da respiração. Ele era grande, mas acariciava meus cabelos com muita delicadeza.

O horror das recordações do passado foi esmaecendo e cai no sono, confortada pelo abraço do monstro que agora fazia parte da minha vida. Pensei que devia estar desequilibrada, para me sentir tão bem nos braços dele.

Não, não estava louca. Estava segura, ao menos naquele momento. O pesadelo veio me buscar, mas Edward não me deixou ir.

Na manhã seguinte encontrei Edward de pé e vestido, rondando pelo quarto como uma fera enjaulada.

— Meus negócios estão concluídos e podemos partir. Estou com saudade de casa.

Casa. Olhei para ele, insegura. Não iriamos para minha casa. Iriamos para a casa dele. Tive medo. Ele foi gentil comigo na noite passada, mas naquele momento eu não me senti mais segura.

Edward estava muito sério e seu olhar era distante e frio.

— Você viu demais nessa pequena excursão. — Fez uma pausa antes de dizer: — Vou esperá-la do lado de fora. Apresse-se, por favor.

Ele esperou por mim no corredor, junto com Jasper, que entrou no quarto apressadamente para pegar meus pertences. Caminhamos juntos até o pátio da hospedaria.

— Sr. Cullen! — chamou-o da porta o proprietário da hospedaria, Ephraim Blanck.

Percebi que Ephraim me olhava de cima a baixo e ficou evidente que tinha me reconhecido, da época em que estive ali com meu pai. Era a primeira vez que me viu desde da minha chegada. Constrangida, ruborizei ao me lembrar que passei as noites anteriores na mesma cama que Edward, e o homem jamais acreditaria que nada aconteceu entre nós dois.

Outro pensamento passou por minha mente. Como proprietário daquele estabelecimento, era altamente improvável que o sr. Ephraim não soubesse das atividades de seus hóspedes. Aquela ideia me perturbou. A maioria dos habitantes de Forks acreditava que o que o mar jogava na praia era de propriedade deles, e que um pouco de contrabando não era prejudicial. Porém, o que acontecia ali não era algo pequeno e inofensivo.

A Hospedaria Ephraim fazia parte do roteiro de contrabando que serpenteava por toda a zona litorânea. Havia também a terrível possibilidade de os ladrões estarem atraindo os navios, pois era estranho que tanto o grupo de destruidores de navios quanto os contrabandistas estivessem atuando na costa ao mesmo tempo. Mais provável serem um mesmo grupo, liderado, talvez, por Edward. Oh, Deus!

Quando os homens encetaram uma animada conversa, comecei a andar pelo pátio e me dirigi até uma grande pilha de pedregulhos e pedras que estava diante de mim. Quando a alcancei, bati em uma das pedras com o bico da bota. De repente, vi alguma coisa brilhar e abaixei-me para pegar. Parecia o botão que notei faltar no paletó de Edward na primeira noite. Logo, vi também outra coisa. Pés calçados por botas, semiescondidos pelas pedras. Corri os olhos pelo corpo do homem até a mecha de cabelo branco caída na testa. Era James. E havia uma grande mancha de sangue no solo.

Apavorada, cambaleei, procurando Edward com os olhos. Como se sentisse meu desespero, ele se virou e nossos olhares se encontraram.

— Isabella! — Ele me alcançou com largas passadas. — O que foi?

— Ali — murmurei, sentindo a garganta obstruída. — Um homem morto.

Dei um passo para trás enquanto os homens puxavam o corpo de James dos pedregulhos. Ele tinha os braços sobre a cabeça e o rosto virado para baixo.

Eu estava chocada e atormentada. Teria Edward matado aquele homem? Eu teria testemunhado o assassinato pela janela do quarto? Coloquei, discretamente, o botão que havia encontrado no bolso da minha capa. Aquilo, decerto, não provaria nada, pois James estava vigoroso e robusto vários dias depois de Edward ter perdido o botão do paletó.

— Apunhalado pelas costas — um dos homens declarou. Edward voltou-se para Jasper.

— Você sabe o que fazer — disse, indicando o cadáver.

— Sei, senhor.

— Não deveríamos chamar o xerife? — protestei. — Encontrar o assassino? Enviar o homem à sua família?

— James não tinha família. Um dos rapazes o levará à igreja e ele será enterrado — disse Jasper.

Olhei para o grupo de homens e percebi que era observada com maldade por um deles: Laurent, o companheiro de James. Lembrei de como eles me haviam tocado e das ameaças que tinham feito. E agora, um deles estava morto. Cruzando os braços sobre o peito, desviei o olhar e respirei fundo, estremecendo.

— Quanto ao xerife... —Jasper deu de ombros. Edward esboçou um sorriso e meneou a cabeça.

— Minha lei bastará.

Viajamos em silêncio durante bastante tempo, e percebi que Edward, com o cenho carregado, olhando pela janela da carruagem enquanto eu recordando os terríveis eventos da manhã.

— O senhor... — balbuciei. Que tipo de tolice estava me dominando para ousar fazer perguntas a ele? Suspirando, tentei continuar: — Sr. Cullen... — Mais uma vez, não tive coragem de prosseguir.

Ele se virou e me fitou, um olhar firme que não tive coragem de evitar.

— Edward — ele disse, suavemente. — Nós partilhamos uma cama, Bella. — Sorriu. — Meu nome de batismo é Edward. Use-o.

Eu senti uma onda de calor diante daquelas palavras.

— Não partilhamos nada além de um lugar para dormir — eu o corrigi. — E eu o chamarei de...

— Edward. Você me chamará de Edward. Considere isso uma ordem. Você não vai colaborar comigo, Bella? Não concordou com o acordo?

Abri a boca para responder, mas me senti perdida, inquieta com as perguntas dele e com o tom estranho em sua voz, baixo e áspero e um tanto ansioso, como se alguma coisa importante estivesse ligada ao uso do nome dele. — Sr. Cull...

A expressão de desagrado me fez engolir o resto da palavra, e olhei pela janela antes de, em silêncio, treinar o nome dele. Edward. Por que ele queria me ouvir dizer seu nome? Olhando-o, vi que me encarava. Alguma coisa naquele olhar fez meu coração disparar e minha pele formigar.

—Edward... —sussurrei, o nome preenchendo o pequeno espaço que nós separávamos.

Ele se inclinou, apoiando uma das mãos no banco ao meu lado, e gelei, atraída e repelida, meu bom senso gritando para que eu desviasse o olhar, e meu corpo ansiando para que ele se aproximasse ainda mais.

Desejei inalar o cheiro dele, descansar a mão naquele peito forte. Olhei para os lábios firmes e sensuais. Lábios de um homem duro, talvez até um pouco cruel.

Oh, Deus! O que havia de errado comigo, para desejar com ardor um homem que era contrabandista, destruidor de navios, assassino? Seria um traço hereditário? O mesmo que fez com que mamãe se apaixonasse por um homem rude e severo e muito inferior a ela?

Mas, naquele momento, aquilo não importava. O que quer que ele fosse, eu ansiava por ele. Desejava pressionar meus lábios sobre os dele, abrir a boca como ele me ensinou. Ele me olhava intensamente, então passou o polegar por meu lábio inferior, e eu senti um desejo inimaginável de lamber e sugar seu dedo.

A carruagem deu um solavanco, arremessando-me contra o encosto do banco, o que foi suficiente para me lembrar do perigo que ele representava. Não podia confiar naquele homem. No entanto, cada vez que me olhava, eu parecia me esquecer de que ele era arrogante, moldado em metal e gelo.

Decidi, finalmente, fazer a pergunta que me atormentava desde que aquela viagem começou.

— Aquele homem... James... Você o... — Não, não podia perguntar daquele modo. Teria que refazer a pergunta. — Quem acha que o matou? E por quê?

O rosto de Edward não revelou nenhuma emoção quando ele se encostou ao banco e cruzou os braços sobre o peito. Observando-me em silêncio.

— Pergunte novamente — ele ordenou. — Mas pergunte o que deseja saber, e não uma versão da pergunta. — Desviou o olhar e ficou alguns momentos em silêncio, antes de continuar: — Não deve me temer, Bella.

Aquele conselho era absurdo. Por que ele se importaria que sua escrava o temesse? E como imaginava que aquele sentimento podia ser evitado?

— Pergunte — ele ordenou.

— Não sei do que está falando.

Enfiei a mão no bolso da capa, as pontas dos dedos esfregando o botão que encontrei no local do crime. Lembrei-me do punhal e da ameaça que ele tinha feito ao homem assassinado. Meu pulso acelerou. Retirando a mão, pressionei ambas sobre a saia. E me preparei para perguntar.

— Aquele homem, James, você o matou?

Edward olhou atentamente para mim, e fui percorrida por um estremecimento ao vê-lo sorrir.

— É corajosa. Poucos homens se atreveriam a me questionar.

— Você me fez perguntar. —fiz uma pausa. — Além do mais, não sou homem.

— Mas eu sou. — Ele fitou meus lábios e, casualmente, encostou a perna na minha. — E meus sentidos estão repletos de você, Bella.

Deus, o jeito que ele pronunciava meu nome...

Aquela onda de calor percorreu-me de novo, ainda com mais intensidade do que antes. Ele estava tão perto, era tão belo e tão musculoso... Não consegui vencer a atração que sentia por ele.

Colocando a palma da mão à frente, para impedir o avanço dele, disse:

— Obrigou-me a perguntar e agora se recusa a responder.

Ele pegou uma mecha do meu cabelo para logo em seguida largá-la.

— Responda — sussurrei. Por um momento, cheguei a esquecer do que queria saber, a atenção fixa em Edward Cullen, na paixão que via no seu olhar, na linha rígida de sua mandíbula.

Ele me desejava. Não podia fingir ignorância, pois senti a minha própria reação vibrar em cada fibra do meu corpo. Umedeci os lábios com a língua, desejando que fosse ele quem os estivesse tocando. Edward se aproximou mais, e eu pude sentir a respiração quente acariciar minha pele. Cerrei os pulsos para conter o desejo de tocar os cabelos sedosos, de correr os dedos por sua pele e sentir a textura...

— Eu não o matei, Bella.

Eu queria acreditar naquelas palavras.

— Mas poderia.

Ele riu, divertido.

— Eu não escolheria um modo covarde para matar um homem. Eu não o apunhalaria pelas costas.

— Você mente. De certo modo, atingiu meu pai pelas costas. Não usou um punhal, mas o desespero, tirando-me dele em vez de enfrentar o homem que você chama de inimigo.

— Não minto bem, Bella e, portanto, nem tento. A verdade sempre basta. — Ergueu as sobrancelhas. — Eu enfrentei seu pai e não roubei nada. Ele estava bêbado demais para perceber o valor do que deu com tanto descuido. Eu não roubei você, Bella. Você veio por sua vontade. — Tocou-me no queixo, inclinando minha cabeça, para impedir que eu desviasse o olhar. — Lembre-se disso. Lembre-se de que você fez uma escolha.

Lutei contra aquela declaração. Na ocasião, achei ter aceitado a única solução possível, acreditei que aquele homem rude e belo não tinha me oferecido nenhuma outra alternativa. E agora? Eu já não sabia mais de nada.

Confusa, desviei o olhar, passando a admirar a paisagem do lado de fora quando, e, de repente, me dei conta de que não conhecia aquele caminho.

— Não estamos indo para a Mansão Pattinson?

— Estamos. Por outro caminho.

A resposta apenas serviu para me deixar ainda mais ansiosa. Pouco tempo depois, o cocheiro parou a carruagem. Eu percebi vagamente que nós haviamos deixado a estrada principal, e agora via uma casa de fazenda, pintada de branco, com um bonito telhado preto e um bem cuidado jardim. Um pouco além, havia uma colina que criava um obstáculo entre a casa e o mar. Eu sabia, era um velho truque. Contrabandistas transportavam terra para construir um muro, escondendo suas atividades noturnas dos olhos da patrulha costeira.

Olhei para Edward. A expressão era fria, mas não traía o desejo que havia irrompido entre nós dois. Por um momento, achei que tinha imaginado todas aquelas emoções, a necessidade urgente e a inexplicável atração que existia entre nós.

E então, naquele exato momento, ele me fitou. Nos belos olhos, vi o reflexo do meu próprio anseio, misturado ao dele. Edward ainda me desejava. A constatação era assustadora e acirrante. Porém, o que mais me perturbava, era o fato de ele querer que seu desejo fosse percebido por mim, que fosse reconhecido. Reciproco.

Edward se virou para abrir a porta da carruagem, desceu e estendeu a mão para me ajudar a sair.

— Aquele dia em que me tirou da minha casa. Deixou, de propósito, que eu subisse na carruagem sozinha, sem ajuda. Por quê?

— Para que perguntar o que você já sabe?

Apertei os lábios, certa de que a conduta daquele dia, quando ele nem ao menos olhou na minha cara, foi especificamente para atormentar meu pai.

Edward me ajudou a descer, segurando minha cintura mais tempo do que o necessário. O toque me fez desejar me jogar nos braços dele e jamais me afastar. Suspirei, nossos olhares se encontraram, e ele, por fim, me soltou.

Edward me fitava com olhos famintos. Ele me desejava, mas... por quê? Desnorteada, me virei, procurando me acalmar, aspirei a maresia que vinha do oceano.

De repente, a porta da casa se abriu e uma mulher de meia-idade saiu para o sol de final da manhã.

— Bem, aí estão vocês. — Caminhou em direção a Edward sorrindo, com as mãos estendidas para saudá-lo. — Eu os esperava mais cedo. Mas isso não importa. Estão aqui, agora, não é? Os rapazes chegarão com a carroça. Jasper cuidará dos cavalos? Ele a...

Quando notou minha presença o sorriso da mulher desvaneceu.

— Oh, querido, quem é essa moça? — perguntou.

— Ela é minha, Gianna — Edward respondeu de maneira rude.

Fiquei tensa.

— Sua? — Gianna me mediu dos pés à cabeça, tentando tirar conclusões. — Bem, que coisa você fez arrastando sua esposa por aí como se fosse bagagem em vez de deixá-la em casa confortável. Homens!

Para minha surpresa, Edward franziu as sobrancelhas, mas nada disse.

A mulher deu um passo à frente e me enlaçou pela cintura, conduzindo-me em direção à casa, com determinação.

— Meu nome é Gianna McCarty. Mas pode me chamar apenas de Gianna, sra.Cullen.

— Não sou... Isto é, sou sua...

— O que foi, querida? Você não é?... Você é?... — Ergueu os braços. — Não importa. Venha comigo. Parece precisar de boa comida e de um bom descanso.

Ao olhar para trás, vi Edward encostado na carruagem, rindo. Por que ele estava rindo? Aquele homem duro e frio tinha senso de humor? Voltando-me novamente para Gianna, falei em voz alta:

— Obrigada, Gianna. Tem razão. Necessito de comida. Meu marido não me alimentou essa manhã. Estou faminta e fatigada.

— Oh! Ele não trouxe nada com vocês? Que homem! — Gianna endereçou a Edward um olhar duro.

Por sobre os ombros, o observei se afastar da carruagem. Ele não estava mais rindo.


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Notas finais do capítulo

Agora, gente, só semana que vem!
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Gianna é a secretária humana dos Volturi que tinha esperança de ser transformada em vampira por eles, mesmo sabendo do risco de se tornar a próxima refeição. Bella fica estarrecida e a chama de aprendiz de monstro em Lua Nova quando é informada por Edward que ela sabe dos Volturi e suas atividades e do risco que corre. Risco este que vem a se concretizar em Amanhecer quando no decorrer dos acontecimentos é morta pelos mesmos. Descrita como morena de olhos verdes, bonita até para uma humana.
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Primeiro eu pensei em Esme, mas como já está inclusa na historia como prima da Bella, optei para Gianna.