A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Encontrei uma brechinha nesse feriado e pude postar mais um capítulo. Não tive tempo de revisa-lo, por isso, se encontrarem algum erro, por favor, me avisem. Espero que gostem :)



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Acordei na manhã seguinte coma luz do sol invadindo o quarto. Me espreguicei, um sorriso bobo se insinuava na minha face ao recordar do sonho que preencheu minha noite. Um homem maravilhoso, o beijo mais...

Abrindo os olhos, olhei ao redor. Não foi sonho. E ele estava ali, de pé, olhando para mim, o peito nu aparecendo sob a camisa aberta.

Aquela imagem me deixou desconcertada. Ele era perfeito, mesmo desarrumado.

— Acorde, Isabella. Preciso partir. Permaneça no quarto e mantenha a porta trancada. O café da manhã será trazido para você.

Animei-me. Ele me deixaria sozinha. Contudo, assim que a ideia de fugir passou por minha cabeça, fui atingida pela dura realidade de não ter para onde ir.

— Não teme que eu fuja? — prendi a respiração. Por que eu o estava provocando?

— Fugir? — Ele não tentou esconder a incredulidade. — Não há lugar para onde possa ir onde eu não a encontre, Bella. Você é minha. Comprei e paguei.

— Por favor, não me chame de Bella.

Esse era um grau de intimidade que eu não queria , de jeito nenhum, ter com ele.

— Por que não? —Fitou-me cinicamente— Você é bela.

Ele apoiou o pé sobre uma cadeira e amarrou a bainha, acomodando o punhal. Em seguida, dirigiu-se à porta e saiu, trancando-a.

Sai da cama e me vesti. Atravessei o quarto para ir ao lavatório e fiquei surpresa ao encontrar uma lata de pó dental e uma jarra de água fresca. Inclinando-me, peguei a que tinha levado comigo e cuidei dos dentes. Até mesmo um monstro usava pó dental, pensei, por um momento. Depois de lavar o rosto, fui até a janela e abriu a cortina. A carruagem estava no pátio, mas não havia nem sombra de Edward. Recusei-me em admitir a pontada de decepção. De repente, a porta se abriu e eu me virei, largando a beirada da cortina.

Edward entrou no quarto, com um prato cheio de comida em uma das mãos e um grosso livro na outra. Colocou o livro na cama e me ofereceu o prato.

— Comprei um livro para você... — Parou, franzindo a testa. — Sabe ler?

— Sim, minha mãe me ensinou.

— E como ela sabia ler?

— Mamãe não foi sempre a esposa de um estalajadeiro. Ela era a décima segunda filha de um xerife — declarei, suavemente, erguendo o queixo em desafio. — Como o senhor aprendeu a ler?

— Não fui sempre o homem que sou agora. Fui o filho de uma mulher que me ensinou as letras. — Seu tom de voz ficou brusco. — Devo voltar ao crepúsculo. Para sua segurança, não saia desacompanhada. — Olhou-me com seriedade. — Ouça o que estou dizendo, Bella. A floresta é cheio de perigos. Eu não ficaria contente em tirar seu corpo de lá.

Com esse aviso, saiu, me deixando paralisada por um instante. Finalmente, olhei para o livro e franzi a testa, confusa. Que tipo de escrava eu era para que meu amo me trouxesse distração para amenizar as horas de espera?

Depois de terminar o desjejum e arrumar o quarto, peguei o livro Morro dos Ventos Uivantes e comecei a ler. Interessada na história, nem notei o tempo passar. Ao meio-dia, Jasper apareceu para me levar para caminhar do lado de fora da hospedaria. O céu estava claro, o ar fresco, mas a paisagem era desoladora. Depois que andamos uma distância razoável, Jasper olhou para meus pés.

— A senhorita está bem?

Sim, ele havia percebido que eu mancava bastante, os músculos das pernas doloridos pela longa viagem do dia anterior.

— Estou bem, obrigada. Quanto mais eu caminhar, melhor me sentirei. — Dei alguns passos para comprovar o que dizia.

— Por aí não, senhorita. —Jasper me pegou pelo braço e, gentilmente, fez com que eu mudasse de direção. — A floresta fica desse lado. A floresta e a morte.

Alguma coisa na voz do rapaz me fez estremecer.

— Morte de quem?

— A minha. Um garoto pode perder-se facilmente, especialmente depois de escurecer. Eu achava que estava na direção certa, pois sou uma pessoa do campo, mas me enganei. Então, caminhei assobiando, feliz, para logo em seguida ser encurralado por lobos ferozes.

— Como conseguiu fugir?

— Não consegui. Foi milor... o sr. Cullen que me ajudou. E ele era um estranho para mim. Ele afugentou os lobos e me arrancou de lá. Desde então, estou com ele. Ele era capitão. Tornei-me seu ajudante e companheiro.

Capitão. Agora, eu tinha mais duas peças no quebra-cabeça que era Edward Cullen. Ele foi capitão de um navio e arriscou a própria vida para salvar um garoto desconhecido.

Estranho como, às vezes, as peças de um jogo podem torná-lo ainda mais confuso.

O terceiro dia foi igual aos anteriores. Sai acompanhada de Jasper e, após a caminhada, passei a tarde lendo. A noite caiu, uma escuridão pesada e conhecida. Sozinha no quarto, fechei o livro e apoiei a mão sobre a capa de couro, minha concentração estava afetada pelo barulho de rodas sobre o chão de pedra.

Pegando o lampião, fui até a janela a tempo de ver um veículo parecido com o que vi na primeira noite, parar. O cocheiro desceu e caminhou para dentro da hospedaria. Eu começava a fechar a cortina quando vi dois vultos protegidos pela escuridão, andando furtivamente até a carroça carregada. Vislumbrei uma mecha de cabelo branco.

Era James. O homem que havia me atacado.

Estremeci e, com o coração acelerado, o observei. O homem que o acompanhava certamente era Laurent. Uma terceira pessoa apareceu nas sombras, alto e grande, vestido com um casaco preto, ele era inconfundível. Edward caminhou em direção aos dois com passos seguros. Eu não consegui entender o que eles diziam, mas James e Laurent pareciam beligerantes e alterados.

Edward avançou e os dois homens se afastaram. James deu um passo à frente e notei que alguma coisa brilhava na sombra, talvez a lâmina de um punhal. Os homens começaram a brigar e um grito fez com que os pelos da minha nuca se eriçassem. Agarrando-me à cortina, encostei o rosto no vidro, incapaz de afastar os olhos.

Uma figura saiu da sombra cambaleando.

Assustada, levei a mão sobre a boca. Oh, céus, seria uma tragédia que eu acabei de testemunhar?

Dois homens se afastaram, um amparando o outro, sem tocar na carroça. E eu não tive dificuldade para perceber quem era o terceiro homem que tinha permanecido atrás.

Os segundos se arrastaram, meus pensamentos em desordem. Edward virou o rosto para a hospedaria e deu um passo até a claridade vinda das janelas do andar térreo. Eu identifiquei um objeto inconfundível em sua mão: um punhal, que ele segurava com a confiança de um homem que sabia o que estava fazendo.

Apesar da atitude civilizada, Edward Cullen era um mistério e uma ameaça. Eu tinha que manter em mente que não sabia do que ele era capaz. Caminhando pelo quarto, esfreguei os braços, incapaz de me aquecer. Apenas quando ele entrou no quarto, alguns minutos depois, é que eu parei de andar.

— Boa noite, Bella — disse, com um olhar zombeteiro.

Eu o fitei, atormentada pela suspeita e pela imensa alegria que senti ao vê-lo chegar. Por um momento, questionei minha sanidade. Tinha que ver aquele homem exatamente como ele era, um criminoso, um contrabandista, talvez um assassino. Alguém que eu devia temer.

Loucura. Era a única explicação para meus sentimentos em relação a ele.

Peguei a bandeja que ele me estendia, sentindo o aroma bom de pão fresco e de guisado de carneiro.

— Boa noite — respondi, enquanto ele tirava o casaco e o pendurava.

Meu coração batia forte ao observá-lo executar o mesmo ritual das noites anteriores: tirar a pistola e o punhal e colocá-los ao lado da cama.

Se eu pudesse examinar a arma, veria vestígios de sangue?

Um arrepio percorreu minha espinha. Erguendo os olhos, notei que ele estava me observando. Agitada, tirei os pratos da bandeja e os arrumei sobre a mesa. Nós sentamos um diante do outro.

— Está gostando do livro? — perguntou, momentos mais tarde.

— Sim, obrigada.

Me servi de batata e cenoura.

— O que acha de Catherine? — quis saber, inclinando-se para pôr o vinho no meu copo.

O fitei. Passsei os últimos minutos querendo saber se ele feriu um homem e ele estava pensando em literatura.

— Apesar de muito mimada. Ela preza as belezas simples da vida, e isso eu posso entender, mas fez as escolhas erradas e ao decorrer da historia colhe os frutos amargos delas. Não vejo como pode existir honra em escolher o dinheiro acima de todos os seus princípios. — respondi calmamente, pensando na protagonista de Morro dos Ventos Uivantes. — Ela também tende a desmaiar muito, e chorar com muita facilidade.

Edward riu, o som breve e claro. Fechei os olhos, apreciando a cadência da risada, perplexa pelo prazer que sentia em ouvi-la. Quando os abri, percebi que ele me observava, com um sorriso nos belos lábios.

Lábios que me tinham beijado, quentes e firmes. Abaixei a cabeça, desanimada tanto pela incapacidade de expulsar o episódio da memória quanto por saber que gostei do beijo e desejava desesperadamente ser beijada de novo.

— Sim, acho que tem razão — ele concordou. — Eu acho que, ao contrario de Catherine, Heathcliff é muito honrado, sua paixão é tão intensa que chega a destruir a si mesmo e aos outros a seu redor, mas ele nunca abandona seus objetivos.

Percebi que aparentemente ele se identificava muito com Heathcliff.

—Mas admira isso? Seu profundo senso de honra? Não parece um homem que valorize a moralidade ou a honra — disse, prendendo a respiração ao pensar no que acabei de dizer. — Oh, eu...

A intensidade do olhar de Edward parecia me atingir na alma e enxergar muito além do que eu gostaria.

— Moralidade... — ele murmurou. — Não, não tenho tempo para a moral social imposta por uma civilização corrupta. Mas não sou um homem que iguala a falsa moralidade com honra. Vamos dizer que eu tenho meu próprio código moral.

O tom de voz era seco e seguro, com alguma emoção que eu não consegui identificar.

Abri a boca, mas não respondi. Aquelas palavras queriam dizer que ele escolheu viver do lado de fora das fronteiras da civilização? Era uma confissão de suas ações ilegais? E isso significava que ele era honrado de acordo com algum padrão secreto que não quisera definir. As possibilidades me atormentavam.

Terminamos a refeição em silêncio, visivelmente constrangidos, e senti um aperto no peito ao perceber que a culpa era minha. Pedindo licença, Edward levantou-se da mesa e atravessou o quarto. Olhei para as suas costas largas quando ele pegou a pistola e o punhal. De algum modo, o ofendi. Quase ri alto do absurdo daquilo. Eu questionei a honra de um homem suspeito de ser contrabandista e ladrão. E, ainda pior, eu achava que tinha sido grosseira.

Voltando à mesa, ele colocou os pratos vazios na bandeja, sem nem sequer me olhar.

— Vou dar-lhe um momento de privacidade, Isabella.

Isabella. Ele me chamou de Isabella. O que aconteceu com o Bella?

Ele ergueu a bandeja e saiu, trancando a porta pelo lado de fora. Confusa, eu troquei as roupas para dormir. Enfiei-me debaixo das cobertas e puxei os lençóis até a altura do queixo, como fiz nas noites anteriores. Agora sabia o que esperar. Sabia que Edward voltaria e se deitaria ao meu lado. O pensamento me emocionou e afligiu. Virei de um lado para o outro, nervosamente esperando pelo retorno dele. Por fim, fechei os olhos, as pálpebras pesadas devido o adiantado da hora. E mergulhei em um sono leve.

Eu estava em uma passagem escura, em pé no mar cinzento e furioso. Uma mulher emergiu das ondas, o cabelo loiro se agitando como cobras vivas, as órbitas negras no crânio, as mãos estendidas. No rochedo, uma figura disfarçada observava e ria até desaparecer, substituída por um homem vestido como qualquer mortal, um estranho vindo de uma terrível lembrança. Ele estava ali, mas então aparecia perto da Mansão Pattinson.

— Ei, garota. Qual é o caminho para a hospedaria?

O jovem, não parecia ameaçador, mas a arrebentação agitava e rugia com fúria atrás dele.

Esteja em casa antes de escurecer. A recomendação de mamãe ecoava em meus ouvidos e eu senti o peso do céu, tingido pela noite que se aproximava. Incerta, olhei para trás, para o homem. Qual o problema de contar ao estranho sobre o caminho? Que dano poderia causar?

O terror era um agouro espesso, embrulhando-me no seu abraço sufocante.

Era tarde demais. Tarde demais para ver o dano, para escutar o alarme que percorria minhas veias com tentáculos gelados. As mãos dele estavam em mim, ferindo-me. As mãos dele...


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Notas finais do capítulo

Sim, eu sei. O Morro dos Ventos Uivantes foi lançado 1847, e a fic se passa em 1813, ou seja, 34 anos antes do lançamento da primeira tiragem. A menos que a Bella tenha uma bola de cristal, ou uma maquina do tempo, ela nunca leria o livro. Mas, nesse caso, eu não respeitei a ordem cronológica, então, não me xinguem!