GOD: O Jogo dos Sonhos - Diário de Letícia escrita por Lua Calixto


Capítulo 14
Dia 7 - Manhã




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/500247/chapter/14

Dia 7 / Manhã

Novamente, Ana estava certa sobre o jogo. Foi muito assustador, mas houve um ponto positivo: eu reencontrei Marcus... Eu estou no quarto, e Ana está deitada no meu colo, dormindo... Me pergunto como ela consegue voltar a dormir depois disso, mas acho que ela está acostumada.
O desafio começou, e eu estava sozinha em uma sala escura. Era um lugar bem confortável, mas eu me sentia observada ali. Eu abri a única porta que havia, e ela levava para um pequeno jardim. No jardim havia algumas portas que não estavam em nenhum tipo de parede, elas apensa estavam em pé no chão. Olhei para trás e reparei que a minha também estava solta de qualquer parede, como se fosse apenas um enfeite, mas eu já havia passado por ela e sabia que levava a algum lugar. Deduzi que as outras portas fariam o mesmo, então escolhi a que estava mais perto e abri, revelando um corredor com mais portas, que me pareceu ser o mesmo do desafio dos espelhos. Fui até a última porta do corredor, e ouvi a voz de Ana, então abri a porta, na esperança de encontra-la e garantir minha vitória, mas a sala estava vazia. Era definitivamente a mesma sala do segundo desafio, e possuía o mesmo espelho na parede, pelo qual eu havia passado para ver Ana. Fechei a porta atrás de mim, e toquei no espelho, mas ele não tinha o mesmo poder que os outros, pois não aconteceu nada. Abri a porta para sair, e me deparei com uma parede de fogo. A porta parecia uma fornalha, pois só havia fogo do outro lado, e o chão era apenas cinzas. Fechei a porta rapidamente, assustada, e dei alguns passos para trás, sentindo uma mão no meu ombro. Eu quase dei um grito, mas ouvi a voz de Marcus dizendo para eu me acalmar. Eu podia sentir a respiração dele, então virei para trás, e não havia ninguém ali. Eu entrei em desespero, e não sabia o que fazer, então olhei para o espelho e vi que havia uma sombra de uma pessoa parada na parede, como se estivesse me observando. Olhei para a parede, e a sombra estava lá, imóvel, como se fosse um desenho muito bem planejado. Me afastei um pouco, com medo, mas o braço da sombra começou a se alongar, descendo pela parede e escorregando lentamente pelo chão em minha direção. Eu encostei na outra parede da sala, em pânico, gritando, e observei a porta abrindo. Pedro estava lá, e eu corri para perto dele. Ele disse para eu me acalmar, e saímos da sala, indo para o jardim por onde eu havia passado antes. Pedro me perguntou se eu havia encontrado com Amanda, e eu disse que não, e perguntei sobre Ana. Ele disse que eu fui a primeira que ele viu no desafio, e começou a me acompanhar. Nós não trocávamos nenhuma palavra, a não ser para dizer em qual porta entrar.
Escolhemos uma porta que nos levou para um parquinho abandonado. Estava um clima chuvoso, e o vento fez a porta se bater atrás de nós. Eu vi Ana sentada no balanço, olhando para baixo, aparentemente triste. Corremos até ela, e eu tentei chama-la de longe. Ela nem sequer se mexeu, então me aproximei e chamei novamente, e ela olhou para mim rapidamente, me fazendo perceber que não era Ana, e sim uma criatura sem olhos, que começou a gritar, e vários tentáculos negros como sombras começaram a sair de sua boca, vindo em minha direção. Pedro me puxou para longe, mas os tentáculos começaram a nos seguir. Corremos em desespero para a porta, e quando abrimos ela, havia apenas uma sombra mais escura do que qualquer coisa que eu já vi, que lançou vários tentáculos em nossa direção. Eu gritei, e corri para o outro lado, tentando desviar das dezenas de tentáculos que se espalhavam pelo ar, enquanto começava a chover. Pedro estava correndo ao meu lado, e disse que só havia aquela porta para sair. A chuva ficou mais intensa, e os relâmpagos faziam os tentáculos parecerem mais demoníacos do que já eram. Por sorte, eles eram lentos o suficiente para se desviar deles com facilidade. Pedro disse que tínhamos que voltar para a porta, e eu disse que a sombra ocupava toda a porta, e que não havia como fechá-la. Ele disse que não seria necessário fechar a porta, pois poderíamos usar o outro lado. Corremos até lá, enquanto os tentáculos começavam a nos empurrar, até que Pedro abriu a porta e passamos correndo, entrando em um quarto antigo e muito desarrumado. Pedro tentou fechar a porta, mas a sombra a empurrava com mais força, e ele me mandou correr. Eu tentei ajuda-lo, mas um dos tentáculos se enrolou no braço dele, e começou a puxar. Pedro gritou, puxando a porta com mais força, e outro tentáculo começou a se enroscar nele, e eu tentava puxá-lo para dentro de volta, mas a sombra era mais forte do que eu, e começou a arrastar nós dois para ela. Então Amanda apareceu com Ana, e as duas nos puxaram para dentro, e a sombra nos soltou. Ana fechou a porta, e perguntou se estava tudo bem. Pedro e Amanda começaram a se beijar, e eu observei que ele estava com marcas de queimadura no local onde a sombra se enrolou.
Ana abriu outra porta para sairmos da sala, e fomos para o labirinto gigantesco do outro desafio. Começamos a seguir Ana, pois eu já sabia que ela ia nos levar ao lugar certo. Pedro e Amanda pareciam nem estar se importando muito em para onde iriam, só queriam estar juntos. Após cerca de uma hora andando pelo labirinto, e conversando sobre como conheci Marcus com Ana, chegamos na porta do labirinto, a que me deu várias lembranças de ter saído de lá sem Marcus, e de não ter deixado ele me acompanhar. Eu me ajoelhei no chão, chorando. Manuela me disse que também sentia saudades de Marcus, e Pedro concordou, mas eu não sinto apenas saudades, sinto culpa por ele não ter acordado. Ana abriu a porta, revelando o campo gramado do terceiro desafio, com a mesma cabana, as mesmas árvores e o mesmo lago. Ana pediu para que Pedro e Amanda segurassem a porta, e me levou até o lago, sussurrando no meu ouvido que talvez eu devesse lavar o rosto para limpar as lágrimas. Eu fui até a beira do lago, vendo o meu reflexo na água, e meu rosto extremamente vermelho de tanto chorar. Peguei a água do lago com as mãos e lavei o rosto, vendo uma sombra deformada na água. Eu me afastei um pouco, e um tentáculo surgiu da água. Ana me puxou e saiu correndo comigo de volta para o labirinto, e fechamos a porta. Eu estava muito assustada, então recuei um pouco, e Pedro comentou que não foi uma boa ideia ir até o lago.
Eu comecei a falar que não aguentava mais aquele pesadelo, e que aquele lugar era horrível, até que ouvi a voz de Marcus gritando meu nome. Todos ouviram, e começaram a chamar por ele. Seguimos os gritos, e ele realmente estava lá, correndo por um dos corredores do labirinto. Eu corri para abraça-lo, sem pensar duas vezes, e ele me agarrou, me perguntando se eu era real. Pedro e Amanda vieram na nossa direção, e abraçaram Marcus também. Eu mal podia acreditar que ele estava ali, e eu pude abraça-lo novamente. Ele começou a se desculpar por ter beijado Amanda, e eu disse que perdoava ele. Pedro e Amanda disseram que não foi nada demais, então eu comecei a me desculpar por ter mandado ele sair de perto de mim, impedindo ele de vencer o jogo. Marcus me beijou, e disse que a culpa não foi minha, pois ele havia encontrado a saída, mas Lucas não o deixou sair. Eu perguntei o que havia acontecido, e começamos a andar pelo labirinto enquanto ele me explicava que quando ele, Lucas e Pedro encontraram a porta, Lucas disse que os dois seriam inimigos dele na busca pela vitória, e os empurrou para longe da porta. Faltavam apenas alguns minutos para o final do desafio, e eles começaram a brigar com Lucas para passar pela porta. Lucas jogou Marcus no chão e saiu correndo. Pedro levantou Marcus e foi atrás de Lucas, faltando apenas alguns segundos para o final do jogo. Lucas correu até a porta, e Pedro passou logo em seguida. Marcus estava mais atrás, e não conseguiu passar a tempo pela porta.
Enquanto Marcus me contava a história, Pedro estava atrás conversando com Amanda sobre o mesmo assunto. Chegamos até a porta de novo, e Ana a abriu. Do outro lado estava o jardim com várias portas espalhadas. Tentamos sair, mas Marcus não conseguia passar pela porta, era como se houvesse uma barreira que impedia a passagem dele. Ele disse que não via nada além de uma luz branca pela porta, eu voltei para dentro, e abracei Marcus, dizendo que não iria abandoná-lo novamente. Mas Lucas apareceu para estragar toda a felicidade que poderia haver no memento. Ele disse que era um momento muito lindo, mas que iria “eliminar a concorrência” naquele momento. Eu disse para Lucas que seriam quatro amigos contra um assassino desarmado, e perguntei quem ele achava que levaria a melhor, mas ele perguntou quem era o assassino desarmado, e tirou uma chave do bolso. Pedro perguntou o que ele faria com uma chave, e Marcus já estava correndo para dar um chute na cara de Lucas. Então ele jogou a chave em uma parede e saiu pela porta do labirinto, que se trancou atrás dele. Marcus ficou gritando com a porta, dizendo que Lucas não iria escapar, mas foi inútil. Ana disse que precisávamos correr, e apontou para a chave que estava no chão, que se contorcia como se estivesse derretendo, fazendo o formato de um círculo no chão. Andamos para longe do círculo, enquanto ele se tornava escuro e começava a liberar uma fumaça extremamente densa e escura. Começamos a correr, e apenas ouvi um grito seco, enquanto via Pedro e Amanda correndo para outro corredor. Marcus e Ana continuaram comigo, até que eu vi uma sombra na parede que parecia ser de uma criança. Eu olhei para trás e observei um garoto que parecia ter 12 anos, totalmente imóvel e com uma expressão assustadoramente fria. Era como se ele estivesse morto, mas nos encarando. Ana gritou, falando para não encarar ele, e Marcus me puxou. Viramos para o outro lado, e ele estava lá, me encarando friamente. Olhei para trás e a sombra estava vindo em nossa direção. Ana gritou para o garoto ir embora, e ele sussurrou alguma coisa enquanto desaparecia. Corremos até encontrar outra porta, e abrimos ela. Ana entrou, mas eu me recusei a deixar Marcus sozinho novamente, mas ele me beijou, e disse que eu devia continuar lutando, me empurrando para dentro e fechando a porta. Eu estava dentro de um quarto infantil agora, o mesmo da mansão do quinto desafio. Olhei para trás, chorando, e lá estava o garoto, que me encarava enquanto sussurrava, dizendo algo como “você está tirando ela de mim”. Ana gritava histericamente, mandando ele ir embora, enquanto começava a chorar. Eu abri a porta novamente, mas Marcus não estava mais lá, ela apenas levava para fora do quarto. Eu puxei Ana, e fomos para o corredor da mansão, trancando o menino lá dentro.
Perguntei para Ana quem era ele, e ela apenas gritava, e corria. Nunca tinha visto Ana desse jeito, ela parecia estar possuída. Corremos pelas escadas, e o garoto aparecia em todos os corredores, enquanto eu fazia o máximo para desviar dele. Chegamos na entrada da mansão, e quanto tentei abrir a porta, ela estava trancada. Então o garoto apareceu longe de nós, sussurrando com uma voz que parecia gritar de todos os cantos, dizendo “procurando por isso?”, enquanto uma sombra se erguia no formato de uma flor. Ana disse que a chave estava lá, e o garoto dizia “venha pegar”. Ana estava em pânico, colada na porta, gritando para deixar ela sair da mansão. Eu me aproximei do garoto, e peguei a flor, que lentamente se transformava em uma chave na minha mão. Saí correndo para a porta, coloquei a chave e abri, arrastando Ana para fora sem nem olhar onde iria. Eu só queria fugir dali, e me afastar do garoto. Ana gritava para ele ir embora, e corremos para dentro da porta, que nos levou para uma sala totalmente branca. A porta se fechou sozinha, e em uma das paredes da sala, podíamos ver um relógio fazendo contagem regressiva de 2 minutos. Era o tempo que faltava para o desafio terminar, e então poderíamos finalmente acordar. Ana disse que foi ali que o segundo jogo dela acabou. Eu estava em pânico, então nem me preocupei em perguntar mais nada. Ana pegou minha mão e disse que estava com medo, e me abraçou. Olhei para o relógio, e faltava um minuto e meio para o fim, e pensava que se Ana estava com medo, eu deveria estar em pânico. E eu realmente estou em pânico. Disse para ele que já estava acabando, e ela disse que não estava. O relógio parou, faltando apenas um minuto para o final do jogo, e a porta se abriu. Vários tentáculos saíram da porta, e começaram a nos cercar. Corremos para o canto da sala, mas parecia inútil tentar escapar dos tentáculos. Eles se enroscaram em mim, e jogaram Ana para longe, nós estávamos gritando muito, e eu era puxada em direção a porta, até que abri os olhos e acordei.
Ana estava deitada do meu lado na cama, e acordou junto comigo. Amanda também acordou, mas está trancada no quarto, chorando muito. Eu me pergunto o que foi que ela viu... Será que aconteceu algo com Pedro? Bem, eu vou descobrir, e escrevo mais a noite... Só espero me livrar das lembranças desse pesadelo. Quer dizer, quero me lembrar de ter reencontrado Marcus, mas não quero me lembrar de ter abandonado ele, nem daquele garoto...

Até mais tarde...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!