Dia 7 / Final do dia

Hoje foi o segundo dia mais assustador da minha vida. Não posso olhar para nenhum canto sem ver a sombra do garoto que estava no desafio... Sinto como se eu estivesse em um pesadelo eterno. Estou escondida embaixo das cobertas da cama, não tenho coragem de sair daqui, parece que ele está no quarto, me observando. Ana está dormindo, já são duas horas da manhã, e não me sinto segura aqui. Eu tive que mentir para os meus pais novamente, e isso me deixa muito triste.
Depois que eu terminei de escrever o sonho, fui até o quarto de Amanda tentar chamar ela para tomar café da manhã, mas ela gritava pela porta, pedindo para eu deixa-la sozinha. Ana ainda estava deitada, então fui para a cozinha, e lá estava o garoto do desafio. Ele me encarou por um segundo antes de sumir. Eu quase gritei, mas me controlei, e convenci a mim mesma de que era apenas imaginação minha. Peguei a comida na cozinha e fui comer no quarto, pois não queria ficar sozinha. Eu olhava pela janela e via o sol nascendo, enquanto lembrava de Marcus, e chorava por saber que ele estava condenado a vagar por um labirinto eternamente.
Ana acordou mais tarde, e me abraçou, chorando, dizendo que teve um pesadelo. Eu tentei acalma-la dizendo que ela já havia acordado, e ela me apertava tão forte que parecia que ia me esmagar. Eu tentei dizer a ela que tudo iria se resolver, mas eu fiquei paralisada quando olhei para a parede e vi a sombra do garoto, completamente imóvel. Ana me perguntou o que foi, e eu apontei para a parede. Ela olhou para a sombra, mas não conseguia vê-la. Eu disse que havia visto o garoto do sonho na cozinha, e Ana disse que o nome dele era Leandro, e que devia ser só imaginação minha estar vendo ele em casa. Ana estava estranhamente triste, e completamente diferente de seu estado natural. Perguntei a ela com o que havia sonhado depois que voltou a dormir, e ela não quis me dizer.
Mais tarde, por volta de meio dia, minha mãe me ligou querendo saber se estava tudo bem comigo e que horas eu iria voltar. Eu obviamente menti, dizendo que tudo estava ótimo e divertido. Disse também que talvez eu não conseguisse voltar hoje por que o carro estava com defeito. Minha mãe pareceu um pouco chateada com isso, mas no final das contas aceitou. Eu fiquei muito triste por ter mentido para a minha mãe, e fui para o banheiro chorar. Fiquei encarando o meu reflexo no espelho, pensando em como tudo estava péssimo e não poderia piorar, e então piorou. Leandro apareceu no reflexo do espelho, parado atrás de mim. Olhei para trás, com medo, e ele não estava lá, então corri para a porta, e não consegui abri-la. Olhei novamente para o espelho, e o menino estava lá, me encarando. Eu gritei para Ana me ajudar a sair, e eu via uma sombra saindo do espelho, passando pela pia e escorregando pelo chão até chegar no meu pé. Leandro me encarava com uma expressão extremamente morta, enquanto a sombra formava um círculo ao meu redor. Eu estava paralisada, e a última coisa que vi antes de desmaiar foi Amanda abrindo a porta. Eu acordei alguns minutos depois, e Amanda me perguntou o que aconteceu. Nem ela nem Ana viram o menino, e eu ficava o tempo todo dizendo que estava com medo. Amanda voltou para o quarto dela, e Ana não desgrudou de mim depois disso.
Resolvi perguntar para Ana como ela sabia o nome do garoto, e ela me disse que ele ficava assombrando os sonhos dela. Ela explicou que Leandro foi o amigo que chamou Ana para o segundo jogo. Eu perguntei o que havia acontecido com ele, e ela disse que não sabia. Fiquei surpresa, digo, a Ana sempre sabe de tudo, mas não sabe o que aconteceu com o amigo dela? Então ela suspirou por alguns segundos, e disse que quando ela perdeu o segundo jogo, acordou no dia seguinte e ligou para ele. Leandro atendeu o telefone, e Ana perguntou o que havia acontecido. Ele disse que não poderia contar, e Ana tentou insistir. Ela foi até a casa dele nesse dia, e os pais dele não a deixaram entrar, dizendo que o filho estava passando mal. Ana reparou que eles estavam chorando, e perguntou o que havia acontecido. Eles não quiseram dizer nada, e Ana teve que ir embora. Ela passou o resto da tarde tentando ligar para o amigo, sem sucesso.
Quando Ana foi dormir naquela noite, ela sonhou com Leandro, e ele estava assustado, mas feliz por vê-la. No sonho, ele contou para Ana o que havia acontecido, mas ela não quis me dizer. A única coisa que Ana disse foi que Leandro havia cometido suicídio naquele dia, cortando seus pulsos com uma faca.
Ana começou a chorar enquanto me contava a história, e eu também estava chorando, mas por outros motivos. Eu estava abraçando ela, sentindo uma mistura de medo e confiança. Eu senti alguém me observando, mas me neguei a abrir os olhos, pois não queria olhar para Leandro novamente. Ana disse que ele estava tentando me assustar, e eu perguntei por que ele faria isso, e ela não me respondeu.
Não aconteceu mais nada de importante hoje, apenas vi a presença de Leandro milhares de vezes, que não me deixava ficar calma nem por um segundo. Amanda não saiu do quarto dela nem para comer. Me pergunto como ela aguenta ficar lá dentro. Ana ficou o dia inteiro deitada na cama, ouvindo música e chorando. Eu estou com saudade da minha família, saudades de Marcus, saudades de poder dormir sem ter medo de não acordar, saudades de estar feliz, e de não ter que me preocupar em perder meus amigos. A única coisa que me resta é a esperança de que tudo acabará bem.

Boa noite.