Dia 6 / Fim do dia

Hoje meus pais me ligaram pela primeira vez, querendo saber se tudo estava bem. Eu disse que estava, e disse que estava sendo uma semana muito divertida. Eu não queria dizer para eles pelo que passei, nem queria que eles soubessem que eu posso não estar mais viva daqui a alguns dias. Eles disseram que estão com saudades, e mal podem esperar para me ver de novo amanhã... Só hoje que eu percebi que não posso voltar amanhã, não quero morrer na frente dos meus pais. Na verdade, só hoje me lembrei que eu teria que voltar amanhã, pois já estou a uma semana fora de casa.
Foi apenas hoje também que a ficha caiu em relação a Marcus. Não estou apenas separada dele, como quando costumávamos brigar e eu ficava sem falar com ele por alguns dias, até que ele aparecia me pedindo desculpas com flores, e eu acabava aceitando. Agora estamos separados no que pode durar para sempre... Me sinto mal por ter me afastado dele na última vez em que o vi. Como sempre, eu estou chorando por isso. Acho que Manuela estava certa em me chamar de criança...
Amanda passou o dia inteiro trancada no quarto, e estava deprimida de uma forma que eu nunca vi... Ela sempre foi muito animada, e nuca se deixava abalar por nada, nada mesmo. As vezes até parecia um pouco fria diante das situações, mas conseguia estar sempre disposta para fazer tudo. Hoje não, ela estava completamente paralisada pela tristeza, ou pelo medo, não sei o que se passa na mente dela. Nunca achei que veria ela mais para baixo do que eu... Apenas Ana e Lucas parecem não estar abalados com o jogo. Ana já passou por isso antes, então parece que ela aprendeu a lidar com a situação. Mas Lucas parece apenas não ter coração, ele apenas quer vencer e parece estar tirando todos de seu caminho. Ele está tentando me matar, matou Pedro, tentou matar Ana e Amanda e não duvido nada de que tenha matado Marcus e Manuela. Ou seja, ele atacou todos os “amigos” para vencer esse jogo. Ele teve coragem de atacar até a própria irmã mais nova.
Falando em Ana, ela está agindo de uma forma muito estranha comigo. Ela está sempre me seguindo, e fica compartilhando segredos comigo. Ela disse que queria que eu fosse a irmã dela, e eu sorri. Eu não tinha muito o que dizer para responder, eu achei fofo da parte dela, mas por que esse súbito interesse em mim? Ela é muito legal, mas dá medo, simplesmente pelo fato de saber tudo o que vai acontecer...
Na verdade, estou um pouco assustada, só agora que percebi que ela matou os amigos dela, e depois tentou se matar. Como uma criança tem capacidade de fazer isso? Ela está digitando no diário dela agora, e eu acabo olhando algumas frases soltas como “não sei se estarei pronta para isso” ou “está quase acabando”. Por sorte, ela não pode ler o que eu escrevo, por que estou atrás dela. Eu não sei por que estou tentando ler agora, por que hoje cedo eu perguntei a ela se eu poderia ler o que ela escreveu, e ela pensou um pouco e disse que sim, mas eu só poderia ler amanhã, antes de ir dormir... Eu perguntei por que, e ela disse que ainda não estava na hora para isso. Eu, como sempre, achei estranho, mas aceitei, vou apenas esperar um dia. Eu acredito que se eu ler este diário, saberei tudo o que vai acontecer no jogo, e então poderei garantir a nossa vitória, conseguindo realizar o desejo de nunca ter começado esse jogo, ou algo assim. Na verdade, nem sei por que me preocupo, acredito que Ana já saiba como vencer o jogo e salvar todos nós, mas não consigo confiar totalmente nisso... Digo, confio em Ana, mas não paro de pensar que ela é só uma criança que está me vendo como uma irmã mais velha. Eu não sou a melhor pessoa para ela nesse caso, pois não consigo cuidar nem de mim mesma, como cuidaria dela? Mas por mais que ela pareça uma criança, ela já provou que sabe se virar sozinha. Acho que ela que está cuidando de mim, todos estão. Não gosto de me sentir assim, ser tratada como uma criança me lembra da minha infância, que foi horrível. Meus pais não me davam liberdade, e eu não tinha amigos de verdade. Desde que eu saí de minha cidade natal, foi difícil me adaptar. Passei o período entre 11 e 15 anos apenas tentando fazer amigos novos, e falhando. Mas isso mudou com o tempo, e me adaptei a sociedade. Eu vou parar de escrever, ou irei chorar ainda mais, e não quero que Ana perceba que estou nesse estado. Eu espero acordar amanhã para poder escrever novamente...

Boa noite.