Tento relaxar à medida que as bolhas aparecem ao meu redor.

Banho, primeiro passo da “beleza base zero” que irão fazer comigo e com Katniss.

Hoje, a recém descobri que minha equipe de preparação esta morta, e por alguns momentos, eu senti falta deles.

Não só alguns momentos, e sim todas as vezes que olho para os lados e vejo a equipe de Katniss parecer tão preocupada com ela.

Após eu e Katniss estarmos com a beleza “na base zero”, começa a reconstrução de nossas cicatrizes, bem, na verdade, eles as refarão de um modo que fique “atraente” para as câmeras.

Eu me sinto incomodada com isso, pensei que sendo uma rebelde e me juntando a causa do distrito treze, eu seria mais eu mesma. Andaria com roupas confortáveis como costumava fazer no distrito dois, com o rosto livre de maquiagens e coisas que me ligassem a capital, mas estou enganada.

Na hora do jantar, todos parecem extremamente apavorados com a chegada minha e de Katniss, junto com nossa “equipe”.

É claro, peles coloridas, cabelos tingidos e tatuagens chamativas não é algo comum por aqui e duvido muito que eles já tenham visto tão de perto pessoas com essa aparência.

– Apenas os ignorem. – Diz Katniss tranquilamente, o que eu particularmente acho estranho... Katniss tem desequilíbrios, não é normal estar tão calma assim.

Manter o resto das pessoas ignoradas é uma tarefa complicada visto que dedos são apontados, murmúrios indignados são escutados e olhares nada disfarçados são jogados em nossa direção.

Após o almoço, Katniss e Gale vão procurar por Beetee, e eu vou apenas dar uma volta pelo complexo, já que em minha programação, não consta qualquer atividade. A única coisa que tenho realmente para fazer, é sobre o horário agendado para “A sala de armamento especial”.

Eles não são realmente burros em me dar qualquer atividade.

Na maioria das vezes eu não vou.

O problema é que agora, se eu não cumprir, posso morrer. Devido ao que consta no “acordo” de Coin.

– Clove? – Olho para trás e então me deparo com seus olhos verdes meio perdidos, como se tentassem realmente saber que eu, sou eu. O cabelo esta mais bagunçado que o normal e ele não parece que vai fazer qualquer gesto galanteador para mim, tirando isso, Finnick continua o mesmo.

– Finnick! – Exclamo e nem dou tempo dele pensar, o envolvo em um abraço e ele da uma pequena gemida, que parece ser de dor. Afasto-me e o olho culpada. – Desculpa! Machuco?

– Nada que eu não sobreviva. – Ele diz abrindo um leve sorriso. – Como esta? Eu me encontrei com Katniss durante o anuncio de Coin, porem, não consegui falar com você. Nem te vi na verdade.

– Eu não estava perto da Katniss, fiquei mais ao fundo.

– Ah sim! – Ele para e então por um momento, começa a fazer nós em uma pequena corda que eu nem tinha percebido que estava em suas mãos.

– Finnick? – Ele parece muito envolvido no fazer e desfazer dos nós. – Finnick?

– O que? – Ele me olha confuso e então parece lembrar-se de algo. – Me desculpe Clove, às vezes eu... – Ele parece procurar as palavras.

– Tudo bem Finnick, eu entendo. Como esta em relação a tudo?

– Annie... Eles a pegaram. – Faço um esforço extremamente grande para me lembrar de quem é Annie, até me vir que ela é a garota dos jogos, a que enlouqueceu com eles.

Ela é do distrito de Finnick, e surtou após se tornar campeã.

Lembro que na arena, quando ficamos presos na hora dos tordos, a voz dela foi parte do que atormentou Finnick.

– Eu sinto muito Finnick... Mas tenho certeza que vão a resgatar. – Ele começa a fazer nós aplicando uma força muito mais do que seria necessário, vejo que lagrimas se formam em seu rosto. – FINNICK! – Grito e seguro suas mãos, ele treme e por fim me encarra. – Vai ficar tudo bem entendeu? Vão trazer Annie de volta para você.

– Como você pode ter certeza Clove?

– Coin não ia querer perder seus tordos não é?

– Acho que não...

– É claro que não Finnick, e isso faz parte do acordo. – O abraço e fico na ponta dos pés, de modo que consiga alcançar o seu cabelo para fazer o que eu juro que quero tentar demonstrar como um gesto de carinho, como quem diz “Vai ficar tudo bem” e consiga transmitir isso.

Depois que deixo Finnick na ala hospitalar, me encaminho para a sala de armamento especial.

A sala que é taxada como a de “armamento especial” é guardada por quatro soldados. Verificar o horário em nossos braços é uma coisa insignificante comparado ao que vem a seguir.

Exame de retina e DNA, além de passar por um detector de metais especial.

Beetee tem que sair de sua cadeira, e pela cara de Katniss, ela esta achando tudo muito bizarro... Não que eu não esteja, por que não vejo realmente um motivo para termos de passar por isso.

Essas armas devem ser realmente muito especiais mesmo.

Na porta do arsenal, somos sujeitos a uma segunda rodada de exames... Como se fosse possível mudar o DNA em vinte metros!

E então, finalmente somos autorizados a entrar.

Juro que fico boquiaberta por alguns segundos, ou minutos? Eu nem sei mais... Só sei que a visão doa arsenal me tira folego. Eu estou maravilhada!

Se eu achei o centro de treinamento da Capital, com todas aquelas armas um local incrível, esse aqui esta muitos níveis acima.

Filas e filas de armas de fogo, lançadores, explosivos, veículos blindados... Isso é o paraíso!

Andamos então ate um local, onde se encontram arcos.

Até mesmo eu que não me dou bem com arcos, achei esses simplesmente perfeitos!

Eles têm uma aparência mortal.

– Eles são tão lindos! – Deixo escapar maravilhada.

– Você gostou dos arcos? – Pergunta Beetee. Ergo um arco de tamanho médio, ele é um pouco pesado para mim, mesmo assim o seguro com firmeza. Ele tem uma flecha negra, afiada e de aspecto mortal.

– Olhem para isso! É uma obra prima.

– Achei que gostasse de facas. – Diz Gale enquanto pega outro arco, muito mais elaborado e testa seu peso no ombro.

– Eu gosto. Mas vamos combinar que este arco esta incrível.

– Eu já volto. – Comenta Beetee um segundo depois, por uma porta que até dois segundos atrás não existia.

Ficamos ali por um tempo, em silencio, apreciando silenciosos os arcos magníficos que estavam em nossa frente, volta e meia Gale experimentava um e outro, mas eu tenho certeza, que ele já escolheu o dele.

Quando Beetee volta, ele tem em mãos um arco, um pouco menor, ele parece leve e é de um designer inovador.

Ele o entrega para Katniss e então vem em minha direção.

– Acho que você não se da bem com arcos, então fiz algo especial. – Ele abre uma caixinha que estava sobre suas pernas e me entrega. – Espero que goste.

Abro a caixa e lá encontro seis facas, com o cabo e navalhas totalmente negras. Elas aparecem afiadas e de aparecendo letal.

Pego uma na mão e é impossível não sorrir. Levo o dedo em direção a lamina e então Beetee o puxa com uma força desnecessária para longe.

– Nunca faça isso, a não ser que queira morrer iminentemente. A lamina não é tão escura desse jeito apenas por ser mais bonitinho, é para mascarar o veneno. Ele é forte e corrosivo, esse material negro meio que impermeabiliza o veneno, fazendo ele não corroer toda a faca. O veneno fica depositado em seu cabo e é levado ate a lamina por minúsculos tubos. Ela é mortal.

– Bom, ela é incrível, porem, não posso ir para uma guerra apenas com ela.

– É claro que não, você terá mais equipamentos é claro, considere isso um símbolo e uma saída de emergência. – Beetee diz e então pisca.

Sorrio para ele e observo as facas depositadas com cautela na caixa.

Ethan iria ficar louco com elas e de repente me da uma saudade dele...

Com certo esforço, afasto os pensamentos que me levam a Ethan e foco no que preciso para agora.

Tem algo muito maior acontecendo, algo muito maior que Ethan, que os jogos... E eu preciso estar pronta.