Os dias passam e faço o possível para poder ajudar. Eu e Katniss visitamos os feridos, gravamos propôs para os rebeldes; Apesar de não entrarmos em combate de verdade, participamos de reuniões que dizem ser mais importantes do que as que participamos no distrito treze.

Com os dias que se passam, as noticias do treze chegam junto com eles.

Peeta não melhora, para dizer a verdade parece cada vez mais confuso, e vejo Katniss se deteriorar a cada noticia dada, por outro lado, Cato parece cada vez melhor, parece até mesmo novo e com a força que tinha quando nos conhecemos, estão cogitando a hipótese de o mandar para o distrito, mas não é nada certo, vai depender muito do bom humor de Coin e com isso não se pode contar, além disso é muito perigoso o largar aqui. Cato não está com uma boa reputação no distrito, nem mesmo entre os próprios rebeldes daqui, então, não podemos desconsiderar que ele pode ser morto por um próprio “aliado” nosso.

Quando a noite chega, tento ajudar Katniss a depenar gansos ou outros pássaros. É meio obvio para nós duas que sou péssima com isso, apesar de ter sido treinada, o treinamento sempre envolve mais a parte física, a parte em que você aprende a matar sem dó.

Você aprende mais de cem maneiras de matar com uma faca, mas, não aprende a depenar gansos. É o lado ruim de ser criado em um distrito carreirista.

Além disso, somos bem alimentados, quando nos deparamos com a fome na arena, a única coisa que acontece é entrar em desespero, isso acontece também com a falta de água; Um exemplo bem claro disso foi eu e Cato, nós passamos fome na primeira arena por sermos muito inúteis para saber que plantas poderíamos comer ou não, ou eramos muito lentos para conseguir pegar esquilos e outros animais.

A segunda arena foi mais simples para mim, pois estava com Katniss e Peeta. Somente nela eu consegui perceber que ser mais bem alimentado e treinado, quando se trata dos jogos, trás apenas desvantagens em muitos aspectos.

Sou tirada de meus devaneios com a chegada de Gale, ele senta ao nosso lado, não tem o que falar e então começa a depenar outro pássaro, ajudando eu e Katniss. Acabo o ganso e me retiro, acho que Gale quer conversar com Katniss ou vice-versa, apesar de termos nos tornado algo mais proximo, como amigas ao longo desse tempo, ainda não sou Gale e tem assuntos que obviamente ela só tem confiança em relatar a ele.

Caminho pelo acampamento e pego uma rua que leva a minha antiga casa. A casa que passei os piores momentos de minha vida, aquela que fiquei quando minha mae me abandonou depois que meu pai morreu. Ela agora me parece grande e vazia demais, nunca liguei para isso realmente quando morava aqui, antes da primeira arena. Minha vida basicamente era ficar no quarto, e do quarto passar na sala e ir para o centro; Voltar para casa muitas horas depois, e passar pela sala e ir para o quarto novamente. Era realmente raro eu passar em outros cômodos, afinal, o que eu iria fazer la? Fui no quarto que era de meus pais, inicialmente com a intensão de chorar até não poder mais, depois procurei dinheiro e por ultimo fui vendendo os poucos pertences que minha mae deixou para trás. Isso me sustentou por um tempo, mas depois, precisei pensar em algo mais inteligente para poder sobreviver mais que alguns poucos meses.

Hoje, resolvi caminhar pelos cômodos já empoeirados e uma súbita saudade se adona de mim. Fecho os olhos assim que entro em meu antigo quarto, tenho vontade de voltar no tempo e fazer tudo ficar como era antes.

Minha vida não era fácil, mas era muito melhor que agora. Eu não precisava me preocupar com Snow me odiando, com uma rebelião em curso e em andar na linha para não ser morta por Coin. Quando Cato era só mais um desconhecido, Brutus estava vivo e Ethan o treinador chato que ficava no meu pé, o campeão ignorante pelo qual eu não sentia nada mais do que desprezo e principalmente voltar a ser a Clove que eu era, sem sentimentos, apenas focada em vencer os Jogos Vorazes. Suspiro e volto para a sala, me sento no sofá duro e olho para o teto, será que seria mais fácil se Brutus estivesse vivo?

– Clove? – Olho para a porta e me encontro com a pessoa menos obvia possível.

– Gale? O que ta fazendo aqui? Como me achou? – Ele passa pela porta e senta ao meu lado, deixando de lado a pesada arma dos rebeldes.

– Bem, basicamente Ethan me mandou para cá. Voce sumiu e ele achou que voce iria para a vila dos vitoriosos, então ele foi para lá e para segundo ele “cobrir um terreno maior”, me mandou para cá. Mas acho que na verdade só estava muito irritado por eu ter que cortar a comunicação que ele estava tendo com a Enobaria por que suspeitamos de um possível grampeamento da Capital, enfim, o que faz aqui?

– Eu não sei, passando o tempo eu acho.

– Sente falta daqui não?

– As vezes. Não são lembranças muito boas as que tenho, mas, colocando em uma balança com o que está acontecendo hoje, o que eu passava não era quase nada.

– Não é muito diferente do que eu vivia no distrito doze então. – Eu suspiro e o silencio se instala entre nós. Estar aqui com o Gale é desconfortável a um nível que não sei explicar, levanto e dou um aceno com a cabeça avisando que estou indo, ele assente mas não se levanta para me seguir, acho que ele precisa pensar ou algo assim, então eu passo pela porta e com um pequeno baque a fecho, ouvindo a respiração de Gale se transformar em um suspiro pesado como quem diz que precisa ficar sozinho mais um pouco.