Ao chegar ao distrito, sinto meu coração acelerar. Ethan veio junto, mas Cato está impossibilitado. Ele até tentou, brigou, xingou. Mas birra não é exatamente a coisa mais esperta para usar contra Coin ou contra a mãe de Katniss. Então ele apenas levou um sonoro “NÃO”.

O distrito dois é localizado em um conjunto de montanhas. A Noz é a parte principal do distrito. É lá que se localizam os computadores, o arsenal, é onde a maioria dos cidadãos estão concentrados trabalhando também.

Alguns ainda trabalham nas pedreiras, enquanto outros, a maioria de minha idade, treinam no centro para se tornar futuros pacificadores ou mais antigamente, futuros campeões dos Jogos Vorazes.

Estamos ficando em vilas rebeldes ou cavernas adjacentes. A liberdade é nítida aqui, tanto eu quanto Katniss nos sentimos mais leves.

Eu caminho pelas pedras alinhadas da entrada da vila dos vitoriosos. Com o crescente ataque dos rebeldes, todos os vitoriosos ou estão na Noz, ou no centro de treinamento e soube que alguns estão ajudando os rebeldes. Lyme, Nuno e Blye estão envolvidos diretamente.

Entro no que foi minha casa entre o final da primeira e o inicio da segunda arena. Está tudo exatamente do jeito que deixei, no dia em que fui para a praça, para a colheita em que acabei me voluntariando por Enobaria. Respiro profundamente, essa casa não parece com a minha, apesar de tudo estar exatamente como deixei. Ela exala a capital, exala ao luxo que nunca tive na vida.

Subo as escadas, e vou até meu quarto. Na gaveta do lado direito da cama, a faca ainda esta lá. Ela deve ter sido a ultima coisa que sobrou de meu pai. Foi a primeira faca que ele me deu, a primeira que atirei. Não posso descrever o quanto ela representa para mim. A coloco na cintura e desço as escadas, indo em direção a casa de Enobaria. Acho que devo levar algo daqui para ela, se chegarmos a voltar aqui, quem garante que tudo vai estar como foi deixado?

Algumas fotos perto da televisão, vidros quebrados pelo chão. Provavelmente uma tentativa de conter a frustração antes de ir para a colheita, no massacre quaternário.

Subo as escadas, a casa de Enobaria também é grande, mas não contem muitos objetos pessoais ou algo que diga que esta é a casa dela.

No quarto, procuro por gavetas, cômodas e no fundo do guarda-roupa eu acho, não exatamente o que procurava, mas algo que me chama a atenção. É uma caixa, ela é grande e preciso fazer algum esforço para a retirar de lá. Com minha faca consigo abrir a fechadura e o conteúdo cria uma expressão de duvida em meu rosto.

Tem roupas, sapatos, fotos e uma fita de vídeo. Ao olhar as fotos, me surpreendo, na primeira tem Enobaria, mais jovem de fato, mas tão linda. Ela estava com um shorts e um colete, ambos eram pretos e botas. Ela tinha também dois braceletes e uma faca com sangue e estava na carruagem, o garoto ao seu lado, um garoto moreno com olhos verdes e assassinos.

Em outra foto, aparece ela na entrevista, incrível. Um vestido de seda negro, sua boca vermelha e chamativa. Ela estava linda. Em outras aparece na arena, no treinamento.

Vou até a televisão que está no canto e coloco a fita. No inicio aparece o logo da Capital e em seguida a praça do distrito dois, a colheita começa e Enobaria acaba sendo voluntaria para a arena. O garoto, que descobri se chamar Addison parece um assassino sangue frio, seus olhos são verdes e penetrantes, e quando ele focaliza na tela, como se me encarasse pela tela, sinto um leve arrepio percorrer minha espinha.

A fita pula para o desfile na capital, mostram uma vista aérea da praça e então as carruagens, aquele bracelete de Enobaria faz com que sangue escorra e ela e Addison parecem realmente mortais. Passam então alguns takes do treinamento, Enobaria treinando com as armas, conversando com um grupo que creio ser dos carreiristas, e então ela lutando com um pacificador. Ela cai, e antes que possa começar a lutar novamente uma garota começa a rir. Enobaria levanta e vai em direção a ela, acerta seu joelho e vejo um garoto, muito bonito, muito bonito mesmo ir ate lá e tentar a parar, mas ela o acerta também fazendo ele a largar. Foram necessários quatro pacificadores para a tirar de cima da garota e um sorriso se forma em meu rosto, Enobaria era realmente insana. Não é para menos que ela é o orgulho de nosso distrito.

Na fita é anunciado que Enobaria está fora do treinamento, e só vai poder voltar no dia da sessão individual. A fita pula para as notas, Caesar aparece sorridente e anuncia Enobaria com uma nota 12. Fico me perguntando o que ela fez lá, mas realmente não me surpreendo, Enobaria treinou a vida toda, não seria alguns dias de treinamento que a faria ficar para trás ou tirar uma nota baixa.

Chega a hora da entrevista, lá está ela. Mostram ela nos bastidores, esperando.

Começam pela garota que Enobaria bateu no treinamento, ela é do um e se chama Lindsay, tenta ser sexy e mortífera mas isso realmente não é seu forte. Ela é tão insuportável, que não me surpreendo nada em saber que Enobaria a bateu, essas pessoas do distrito um devem ter um carma! Glimmer, Cashmere e agora essa Lindsay.

O próximo é Alan, o garoto que também tentou segurar Enobaria. Ele é do um e é serio, curto e direto.

Então Enobaria entra no palco, ela é mortífera. Cada palavra soa como uma onda de terror entre os tributos, já que estão focalizando em seus rostos. Enobaria desce do palco em todo o seu esplendor, ela é realmente fabulosa.

Addison sobe então, Caesar pergunta o que ele acha sobre Enobaria: “ Acho que se eu irritar ela vai cortar meu pescoço.” Ele diz passando os dedos na garganta teatralmente. Um pequeno sorriso me escapa, ele parece ser bem brincalhão. “Ela é realmente mortífera então?” Caesar pergunta. “Ela é muito mais que isso. Ela é louca, corajosa... Sinto-me honrado em ter ela no meu distrito.” Existe realmente uma pontada de malicia nessa frase ou sou apenas eu que vi isso?

As entrevistas vão passando, algumas se passam normais, alguns nervosos gaguejando, outros tentando ser firmes, mas às vezes vacilando, tinha os simpáticos e os que não falavam nada, além dos que puxaram muito o saco da capital. A tela se apaga e passa para a arena, na hora do lançamento, faltando 60 segundos.

A arena se passa em um pântano, tem um lago gigante na área de lançamento, eles precisam passar por ele para chegar na cornucópia e isso muito me lembra os raios da arena relógio.

O gongo soa e vários se jogam na agua, quando chegam a cornucópia, o que se vê é algo sangrento, uma banho de sangue realmente sangrento. Enobaria da realmente um show de horrores, matando torturado um garoto na cornucópia.

O primeiro dia teve nove mortos, os dias se passam. Enobaria é insana sem duvidas, enfrenta um casal de aliados que acabam mortos por ela. Então, um dia as coisas começam a mudar, a aliança dos carreiristas se separa e Enobaria e Alan acabam ficando sozinhos, preocupados, começam a procurar pelos aliados, eles caminham muito e acabam em uma área da floresta muito alagada, que contem um buraco gigante que se abre abaixo de um penhasco, eles acabam encurralados por um grande crocodilo e se jogam no buraco.

No fundo do buraco eles encontram o resto da aliança carreirista, que também tinham acabado lá embaixo. Eles são pegos por outra aliança, Enobaria esta machucada e um dos carreiristas acabou se juntando contra eles. Addison acabou fugindo no meio da confusão. Vários xingamentos, confissões e promessas de morte se seguem. Eles se aproximam de onde esta Enobaria caída e Alan diz que não vai deixar, mas então algo acontece, Enobaria não esta mas caída, um grito é escutado e vejo a cabeça de uma garota se separar do corpo e rolar ao chão. A imagem me deixa com o estomago embrulhado e desligo a fita ali. Eu não tenho mais estomago para ver isso.

Guardo a fita no baú e volto a olhar as fotos, existem muitas ali com Brutus e eu sei que são essas que devo levar. As ajeito dentro de meu colete e arrumo o baú novamente no fundo do roupeiro. Sao da casa de Enobaria e vou em direção a de Brutus.

O simples fato de passar na porta aperta meu estomago e faz uma dor aguda aparecer no peito. Meus olhos marejam e eu me sinto tonta.

A dor da perda de Brutus volta com força total, e eu preciso me sentar. Começo a soluçar e me sentir asfixiada. Eu queria que ele estivesse aqui.

– Por que você não esta aqui? – Eu falo, mesmo sabendo que ninguém irá me responder. –POR QUE BRUTUS? – Agora eu grito, a plenos pulmões, não me importando realmente se alguém vai ouvir ou não. Sinto alguém me abraçar, eu me encolho e continuo a chorar. Qual foi a ultima que perdi o controle desse jeito?

– Shh Clove, esta tudo bem, tudo bem. Eu to aqui. – As palavras de Ethan me reconfortam por breves segundos, antes das lagrimas voltarem. – Vem vamos sair daqui, esse lugar não esta te fazendo bem.

Ele tenta me levantar, mas eu não tenho uma ação. O que eu consigo fazer é me encolher ainda mais em seu peito, e chorar. Será que algum dia, serei a sombra da garota focada, assassina, sem sentimentos, que nada derruba e corajosa que fui um dia?