Nos dias que se seguem, sou convocada para uma reunião, a fim de discutir o “problema” Noz. Lyme, que atualmente está a frente da revolução aqui no dois, leva todos a um passeio virtual pela Noz, coisa que nem presto atenção, poia já conheço. Horas se passam sem que ninguém ache uma solução adequada, minha opinião é solicitada algumas vezes, mas simplesmente me afasto do assunto. Se eu começar uma discussão agora, eu provavelmente serei a favor do povo que trabalha na Noz, o que colocaria em cheque minha lealdade e também minha vida.

Cerca de mais duas horas se passam até Gale se pronunciar com o que pareceu um plano genial e ao mesmo tempo me deixou perplexa. Seu plano não era tomar a Noz, e sim a destruir, matando todos os inocentes que estão lá dentro.

– Você está maluco? – Me levanto extremamente irritada. – Existem pessoas boas lá dentro, tão usadas quanto Eu ou Enobaria. Vocês não podem fazer isso! – Mas parece que meus apelos não serão ouvidos, todos estão mais do que cogitando seriamente o plano, em seu rosto, plaina a aceitação.

– Nunca confiaremos neles, que diferença faz? – Gale se pronuncia em um tom neutro, como quem não está nem ai para algo, bem, e realmente ele não está.

– Se vocês vão explodir aquela Noz, podem ter certeza que não sou eu que vou votar a favor. Isso é uma matança desnecessária. Sinceramente? Vocês querem tanto reprimir as atitudes da Capital, que estão ficando igual a ela. Eu não faço parte disso, não é por isso que eu luto.

Dou as costas a reunião, não estou me importando com Coin, com minha vida ou com a puta que me pariu, quero que vá todos para o nono circulo do inferno.

Quando a tarde chega, Katniss me procura, passando para mim a decisão tomada na reunião. Eles irão “dar uma chance” para as pessoas, deixando um túnel que liga a Noz a praça aberto, permitindo que as pessoas passem e se rendam. Eu sou ordenada a ir junto, mas recuso. Estou pouco me lixando para Coin, ela que vá para o inferno com suas ordens.

Eu vou até minha casa na vila dos vitoriosos, é o local mais afastado da Noz de que tenho lembrança, eu não quero estar perto quando tudo desabar.

As horas passam, meu coração aperta. Nesse momento, pessoas estão morrendo, suas vidas sendo tiradas com detonações e poeira. Familias estão ficando sem os pais. Eu pareço engasgar, apenas de pensar na situação que pode estar ocorrendo.

Levo minhas mãos em direção aos meus cabelos, estou frustrada, estou impaciente, estou com medo.

Não sei quantas horas passaram, creio que eu dormi a maior parte do tempo. Sou acordada com um estrondo na porta.

– Clove, parecisamos ir agora. – Ethan está com muita pressa, ele me puxa sem nenhuma delicadeza do sofá.

– Calma, espera, mas que merda está acontecendo?

– Katniss levou um tiro.

Nós voltamos ao distrito treze e Katniss está em estado grave. Está direto na morfina, e em coma induzido há três dias. Me sinto muito culpada em relação a seu estado, talvez se eu estivesse lá, isso não teria acontecido. Sou chamada para uma reunião com Coin, e eu tenho certeza absoluta do que vem pela frente.

Entro na sala do comando, está apenas Coin na sala, eu me sento e espero pelo pior.

– Nós tínhamos um acordo. – Ela diz sem rodeios, de uma maneira tão fria e ameaçadora que sinto um frio percorrer minha espinha. – Um acordo que não incluía voce desobedecer minhas ordens diretas. Voce concordou em ser um tordo e dai voce resolve não participar por que era o seu distrito que estava no fogo cruzado? Tenho uma informação para você: Eles são os rebeldes, os tiranos. Você estava do lado deles até pouco tempo atrás. Isso coloca em cheque de que lado da moeda você está Clove. Isso, foi uma grande prova de deslealdade. Se apenas a minha opinião contasse, eu executaria voce por traição, mas conforme me foi aconselhado, devo preservar você mais um pouco, como uma segunda chance de voce mostrar que está servindo a nossa causa. – Respiro fundo e paro alguns segundos para digerir tudo que Coin acabou de me dizer. Ela é muito pior do que eu pensava.

– Pode contar comigo. – Digo por fim, achando que essa é a melhor solução, e também a mais sabia a se fazer.

– Otimo. Quero você ajudando nos preparativos para o casamento de Finnick e Annie. – Oi?

– Como assim?

– Bem, poucas pessoas ainda estão cientes do que vai ocorrer nos próximos dias. Estamos esperando Katniss se recuperar para enfim anunciarmos para todos. Será algo bem modesto, que envolvera apenas três centenas de pessoas. Você receberá mais instruções. Está dispensada. – Maneio com a cabeça e saio da sala na maior velocidade que consigo. Já do lado de fora, respiro fundo, mas em que diabos de lugar em me meti?

Depois do claro recado que Coin me passou, os dias que se seguem é de total calmaria, bem, não exatamente isso. Todos no distrito estão se mobilizando para ajudar no casamento, voluntários é o que não falta.

Katniss saiu do hospital, está se recuperando bem, enquanto Enobaria está cada vez em um mundo mais seu e mais longe. Tenho medo dela se tornar alguém como Annie.

As poucas que vezes que me cruzo com Cato, tento ficar apenas nisso mesmo. Eu não estou pronta para uma conversa, assim como tenho evitado Ethan.

“Você não pode fugir disso para sempre”, minha consciência já me alertou tantas vezes que eu perdi as contas, mas por enquanto, eu simplesmente não consigo.

O vestido de Annie será fornecido por Katniss. Ela e Annie partem para o distrito doze, junto com sua equipe de preparação. Ela me pede para ir junto, mas eu não tenho o menor senso de moda, então recuso e prefiro ficar no distrito.

Penso em visitar Enobaria no hospital, mas me arrependo no momento em que chego lá. Ela está na cama, com os olhos desfocados, tampando os ouvidos como se um som terrível a estivesse atingindo. Eu me aproximo, ela me observa, mas não pareço chamar sua atenção.

– Enobaria... – Sento-me ao seu lado na cama.

– O distrito dois é lindo nessa época do ano. – Ela comenta, mais para si mesma do que para mim.

– Como está se sentindo está manhã? – Pergunto, tentando a trazer para a realidade.

– Ah, as flores... Tão belas perto do centro, Brutus sempre diz que é a única coisa bela, mas eu discordo.

– Enobaria! – Puxo de leve seu ombro, ela me olha, a cabeça pende para um lado e depois para o outro.

– Sim? – As lagrimas encobrem minha visão, por um segundo, é como se a cortina da realidade despencasse, e então eu compreendo: Enobaria não me reconhece mais.

Saio do hospital com as lagrimas deixando rastros quentes por meu rosto. A realidade me atinge como um soco. Enobaria perdeu a razão, está completamente perdida. A única pessoa que eu ainda tinha, foi retirada de mim.

Primeiro Brutus e agora Enobaria. Eu quero socar alguma coisa, eu quero gritar, eu quero voltar no tempo. Snow está tirando tudo de mim.

Finalmente chegado o dia do casamento, a decoração foi feita com as folhas de outono. Annie usa um vestido de seda verde, e Finnick um terno quase no mesmo tom. Eu, assim como os demais convidados, usamos nossa roupa diária, o macacão cinza.

O casamento está longe de ter um padrão da Capital, é algo simples, mas não deixa de ser lindo. A felicidade de Annie e Finnick, deixa o resto minúsculo e cinza, diante do brilho que está presente em seus olhos.

Depois do brinde com cidra de maça, no violino, as notas iniciais de uma canção começam. Eu não conheço a letra, mas pelo jeito, é algo bem popular no distrito doze. Todos os presentes do distrito, fazem dias grandes filas.

Aposto que Plutarco está quase pulando de alegria, uma dança em meio a guerra? Com o Snow assistindo de camarote? Ah! É muito mais do que ele queria.

No meio da multidão encontro Katniss e Prim, sorrio para elas enquanto bato palmas no ritmo da musica, eles abrem um grande circulo, e então a musica começa.

É realmente bonito, e consigo mentalizar o rosto de Snow se contorcer em descrença.

Em seguida a dança, um enorme bolo de casamento surge das laterais. Isso deve ser uma raridade aqui no treze, devido a forma como os presentes o observam.

Antes do termino da festa, eu prefiro me retirar. Caminho pelo complexo, agora um pouco mais vazio, sem um destino certo. A dor pelo estado em que Enobaria se encontra me atinge novamente, e apesar de estar feliz por Finnick, tenho vontade de chorar.

– Você já sabe sobre ela, não? – A voz de Cato faz eu me assustar. Ele está encostado na parede, e eu não percebi sua presença até então.

– Teria como não saber?

– Bom, foi nos passado ordens para você não saber, pelo menos por enquanto.

– E por que?

– Para não afetar mais ainda um dos tordos. Parece que Coin se preocupa muito com você.

– Sei muito bem o tipo de preocupação dela. – Comento, me sentindo levemente irritada. Passo por Cato, indo em direção a lugar nenhum. Eu só preciso sair dali o mais rápido possível. Sua presença me deixa desconfortável a um nível extremo.

– Clove, espera. – Cato me puxa pelo braço.

– Am, claro, fale.

– Você vai ir para a Capital.

– O que? – A total descrença me abate. – Como assim “você irá para a Capital”? Não me foi passado nada.

– Ainda não foi passado. – Ele comenta. – Em breve será.

– Como você sabe?

– As pessoas acham que estou louco. Elas não tem a decência de segurar a língua perto de mim. Você será convocada em breve.

Ele solta meu braço e tem o bom senso de seguir para o lado contrário ao meu.

Otimo, agora meus pesadelos estão perto de serem, em fim, deixados cara a cara comigo.