A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 18
Lágrimas repetidas


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pela demora!
Hope you enjoy! ^^



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Prim e eu corremos de mãos dadas por entre as árvores até o local em que a garotinha afirmou que levaram Katniss. Depois que Prim me disse que levaram sua irmã, fiquei no automático. Deixei que a loira me guiasse pela floresta, enquanto meu coração batia freneticamente e minha mente tentava processar as palavras de Prim.

“Tiraram ela daqui, Peeta!”

Foi o que me disse desesperadamente e com lágrimas nos olhos. Katniss. Levaram minha Katniss para longe. De novo. Exatamente como Prim, começo a entrar em desespero. Como a levaram? Quem a levou?

Primrose fala sem parar, mas eu não a escuto, consigo apenas perceber que ela aponta para cima.

Posso ver ao longe um aerodeslizador, mas já está muito longe. Ainda assim, largo a pequena, e saio atrás da máquina flutuante, como se pudesse alcançá-la.

Escuto gritarem meu nome, mas ignoro. Eu tenho que salvar Katniss, mantê-la a salvo. Eu prometi que estava tudo bem, que ficaria tudo bem. Continuo correndo até que sinto alguém me segurar por trás e me derrubar no chão, colocando-me bem abaixo dela.

Desfiro socos para me livrar do individuo que impede meus movimento, mas nada parece fazer efeito. Ele conseguiu me imobilizar. Finalmente, percebo que era Finnick.

– ME LARGA, FINNICK! – grito para ele, completamente inconformado – ME SOLTA.

– Você tem que se acalmar – sua voz era suave, hesitante – Eles já foram! Não dá para correr atrás de um aerodeslizador.

– LEVARAM-NA, FINNICK. – grito novamente, indignado. – Eu... Eu preciso... Eu...

Sem conseguir estruturar uma frase, tudo que faço é chorar, incontrolavelmente.

– Vou te soltar. mas não tente correr, okay? Nós vamos dar um jeito! Eu prometo. Você precisa estar calmo para que possamos fazer algo útil.

Finnick fala comigo como se eu fosse uma criança. Talvez naquele momento eu fosse e quissesse o colo do meu pai para chorar. Eu balanço a cabeça, afirmativamente, e observo Finnick sair de cima de mim para sentar-se na grama. Eu me dirijo para o lugar ao seu lado, e coloco minha mão no rosto, tentando, sem sucesso, parar de chorar. Finnick não fala nada, mas parece tão atordoado quanto eu.

Você tem que salvá-la! Então levanta sua bunda daí e vai fazer alguma coisa antes que seja tarde. Minha consciência me alerta. Está certa. Ficar sentado aqui chorando não vai trazê-la de volta.

Controlo-me até parar de chorar e me levanto, voltando para onde estivera, minutos antes. Olho para ele e vejo que há uma tristeza enorme em seus olhos. Contudo, o sentimento não parece ser apenas por causa de Katniss.

Meus olhos encontram uma Prim soluçando no colo de Gale, que também possui lágrimas nos olhos. Quando me vê, uma chama de ódio em seus olhos relampeja. Procuro ignorá-la. Aproximo-me deles e chamo Prim. Ela vem até a mim, desolada, e então me agacho até a sua altura.

– Eu preciso que você me conte o que viu, está bem? – pergunto seriamente, mas com a voz suave. Ela assente.

– De manhã, eu saí para o Hospital. Assim que tive uma brecha, fui dar uma olhada em Katniss – sua voz estava tão embargada e triste que doeu em meu peito – Quando cheguei ao compartimento, ela não estava mais lá. Saí a procura dela e vi que ela estava subindo a escada com Annie...

Annie? Será que a levaram também e por isso Finnick estava desse jeito? Mas é claro que deve ter sido isso. É a única explicação...

– Então elas saíram do complexo, mas demorei muito tempo para alcançá-las, entende? Ainda estava longe quando vi um monte de pessoas com roupas pretas cercá-las.

Prim colocou as mãos no rosto para controlar o choro. Vê-la com o rosto e os olhos vermelhos nesse desespero todo me deu vontade de chorar com ela. Eu a abracei, tentando acalmá-la. O corpo dela tremeu em meus braços, parecendo ter finalmente o acalento que precisava.

– Eu gritei por ela, Peeta... Mas Katniss me mandou fugir... Eles pegaram ela e Annie, então eu corri para vocês.

Dessa vez, a voz de Prim saiu como um sussurro, e eu tinha certeza que só eu pude escutar. Abracei-a ainda mais forte, tentando reconfortá-la, e prometendo a mim mesmo que Snow iria pagar.

– Peeta!

Escuto alguém me chamar. Desfaço do abraço com Prim e direciono meus olhos para a pessoa que mais tenho evitado todo esse tempo: Haymitch Abernathy, meu mentor.

Ele parecia péssimo. A barba grande e malfeita – que poderia ser um ninho de rato –, os olhos fundos, e mais magro do que eu possa me lembrar. Não sei como ele decaiu tanto desde a última vez que o vi, principalmente por não fazer tanto tempo assim.

Fiquei sabendo que bebidas alcoólicas são proibidas aqui no 13. Haymitch, sem sombras de dúvida, estava numa crise de abstinência.

Sei que nunca vou poder superar o fato dele ter me salvado ao invés de Katniss. Mas quando o vejo, corro para seus braços. Descobrimos como ela foi torturada; depois de algum tempo, ela acabou contando.

Por mais que Gale, Prim e a sra. Everdeen amassem Katniss, eles nunca entenderiam como é estar numa arena. Nunca entenderiam como aquele lugar que você tem que sobreviver tão precariamente se torna a única coisa real naquele momento; como pessoas inocentes se tornam suas inimigas; como você se torna um assassino; como você tem um único desejo e ele custa a tudo o que você é. Isso era algo que só Finnick, Haymitch e eu entendíamos. E imaginar que Snow a tortura com isso me coloca em pânico.

Ninguém nunca deveria passar por experiências como essa.

– Nós vamos resgatá-la. Vamos trazer de volta para nós e acabar com Snow uma vez por todas – promete-me, ainda no abraço.

Culpe minha fragilidade momentânea, meu desespero ou minha ingenuidade. Mas resolvi acreditar em sua promessa, mesmo recordando o fato dele ter quebrado a última que me fizera.

– Levaram-na debaixo do meu nariz – rio sem humor, sentindo-me o maior trouxa do mundo. Snow deve está dando gargalhadas de mim.

– Você não podia fazer nada, está bem? – ele diz, seriamente. – Peeta, você não pode ter o controle sobre tudo.

– Não importa mais – resolvo deixar para lá. Culpa não vai trazer Katniss de volta. Além disso, não sou movido por culpa. – O que importa agora é como iremos salvá-las. Acho que Coin não deve estar disposta a organizar outro resgate.

– Os Distritos estão unificados. – Gale comenta, de repente. Olhamos para ele, confusos.

– O que isso tem a ver com Katniss?

Gale revira os olhos.

– Que podemos direcionar toda nossa força militar para a Capital. Que vamos finalmente acabar com Snow. Vamos derrubá-lo e finalmente seremos livres e teremos Katniss novamente – enquanto ele fala, um brilho surge em seus olhos.

*****

– Não, você não vai. – Coin me encara, muito friamente. Por alguns segundos, tenho medo que seu olhar solte faíscas letais – Nem temos o que ser discutido.

Estou parado na porta da sala de controle, diante de uma mulher tão perigosa quanto o próprio Snow. E embora eu saiba que o certo é atacá-la e persuadi-la sem que ninguém perceba, existem momentos que posturas agressivas são necessárias.

– Isto não foi uma pergunta. Apenas comuniquei-a, para que não desse por minha falta.

Coin balançou suas pernas cruzadas, inclinando o corpo para frente e para trás, quase simultaneamente. Ela parecia estar se divertindo com tudo aquilo.

– Você, Peeta Mellark, não vai gastar meu tempo, minhas bombas e minha equipe para um segundo resgate.

– Precisarei repetir, Coin?

Minhas mãos haviam se apoiado, energicamente, na mesa à minha frente. A presidente continuou dona de si, olhando para mim, como se eu fosse um criancinha. Isso me deixava ainda mais furioso por dentro.

De repente, a mulher se levantou. Ela deu a volta em sua mesa, e caminhou para ficar lado a lado comigo. Com a mesma pose austera, Coin tornou a falar:

– Não escolhi Katniss como Tordo. Pouco me importa o que está acontecendo com ela na Capital. Muito menos com a louca da senhorita Cresta.

Aquilo veio até a mim como um soco no estômago. Meu sangue ferveu. Como ela conseguia ser tão insensível?!

– Sem Katniss e sem Annie, você perde dois de seus melhores soldados, presidente. Eu realmente sinto muito, mas regras são regras. Eu disse desde o início que sem elas eu não trabalho.

– Pedidos drásticos exigem medidas drásticas – disse simplesmente, quando eu me desapoiei da mesa para encará-la – O senhor está ciente disso, não está?

– Eu estou indo para a Capital.

A decisão tomada me parece tão correta, que, mesmo morrendo de medo, não pisco um segundo sequer. Continuo encarando a presidente do D13 em seus olhos frios.

– Mais alguma coisa a comunicar? – pergunta, com uma ironia nociva em seus lábios.

– Eu apoio ele!

Eu e Coin nos viramos para encontrar um Gale sujo de trabalho, com o braço erguido. Ele parece tão frio quanto nós, mas sem dúvidas do meu lado. Pelo menos é o que ele diz.

– Se impedir nossa saída, pararei de servi-la.

– O mesmo em relação a mim – foi a vez de Finnick aparecer atrás de nós.

– Também paro o meu treinamento!

– PRIM! NÃO!

Gale e eu gritamos ao mesmo tempo. Finnick parece não se importar muito, mas eu definitivamente não deixaria Prim se envolver naquilo.

– Prim, volta pro quarto.

– Não!

– Prim, pelo amor de Deus... – Gale tenta também, empurrando-a com cuidado para fora – Quem te deixou subir?

A irmãzinha de Katniss aponta para Finnick, que levanta as mãos, rendendo-se.

– Ela me pediu!

– Eu não sou mais criança. Parem de me deixar de fora!

– Pessoal... – Coin, impaciente, chamou seus próprios seguranças – A conversa está encerrada, e a decisão já foi tomada. Por favor, levem-nos para baixo, onde deviam estar.

E assim, a presidente voltou à sua mesa, remexendo em sua gaveta. Eu não pude deixar de alfinetá-la:

– Estaremos partindo assim que possível.

– Mas é claro que estarão!

Com isso, pude ver um último sorriso falso por um telefone na orelha enquanto éramos conduzidos para longe da sala de comando.

Desvio minha preocupação com a presidente ao pensar em Prim. Depois eu pensava no que fazer com relação à Coin. A pequena Primrose era mais urgente no momento.

Mas como fazer para se livrar da melhor amiga que eu tive nos últimos meses?


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