A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 19
Esconde-esconde


Notas iniciais do capítulo

Demoramos, né? Mil perdões! O tempo foi tão curto que quase não saía esse capítulo.
Marcela não está perto do pc agora, então me pediu pra postar
(mas a maior parte do capítulo é dela. A melhor escritora incorporando o Snow que já vi. Tirando a tia Suzie, claro aiuhsuaisgs)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/499813/chapter/19

Silêncio. Escuro. Duas palavras tão temidas, mas que para mim representam paz. É essa a minha realidade e me contento com ela.

Sem mais dores, sem sofrimento.

Será que estou morta? Espero que sim. É melhor que eu esteja. Sem mais mentiras, sem confusão. Parece que a morte não é tão má. Pelo contrário, parece acolhedora e cômoda.

De repente, minhas ilusões são tiradas de mim outra vez. Escuto um grito e a luz volta aos meus olhos. Logo após, uma dor que arrepia todos os meus pelos passa por meu corpo, despertando-me de minha realidade confortável.

Todas as partes de mim estão doloridas. Observo minhas mãos, braços e pernas, que estão completamente arranhados por causa do vidro estilhaçado.

Passo a mão pelo pescoço, onde mais dói, e um cheiro de aguardente preenche minhas narinas. Alguém jogou bebida em mim.

Olho para cima e encontro olhos de cobra me observando. Meu coração dispara ao ver meu pesadelo vivo. Snow não leva uma cara nada feliz e possui uma garrafa com líquido transparente na mão. Não ouso me mexer.

– Então não morreu – diz, finalmente, quebrando o silêncio – Admito que estou surpreso com sua capacidade de sobreviver.

– Preferiria não tê-lo.

Snow rir sem humor.

– Não importa.

Ele larga a garrafa de lado, abaixa-se pegando meu braço e me senta.

De repente, dois guardas aparecem e vem em minha direção. Tento me livrar de Snow, mas seus lacaios já estão me segurando.

– O que você vai fazer agora? – pergunto num fio de voz. Não aguentava mais torturas. As lágrimas voltaram a correr livremente pelos meus olhos – Por que não acaba logo com isso? Matando-me?

Ele tira uma faca do seu paletó. A lâmina brilha e parece bem afiada. Meu corpo treme tanto que se os guardas não estivessem me segurando, provavelmente teria caído.

Snow aproxima-se e passa a faca por meu rosto, sem cortá-lo.

– Está acabando, senhorita Everdeen. Você não passará de hoje. – segredou-me com seu hálito de sangue me enjoando – O problema é que seus namorados acabaram com minha brincadeira – seu tom era reprovador.

Não me passou despercebido a palavra “namorados”. Os únicos que os são é Peeta e Gale. Ou que Panem pensa que são. Eles estão aqui. Mais uma vez para me salvar.

Como se lesse meu pensamento, Snow pressiona um pouco mais a faca em meu rosto.

– Dessa vez, vou entregá-la morta.

Seus olhos de cobra me olham prometendo uma morte lenta e dolorosa. Seus lábios se abrem num sorriso maléfico.

– Mas primeiro vamos brincar de esconde-esconde com eles. E como essa ideia melhorou meu humor, vou até mesmo deixar uma pista.

Os guardas me apertam mais, deixando-me completamente imóvel. Só percebo o que isso quer dizer quando Snow passa a faca por meu braço, cortando-o, e deixando uma trilha de sangue, além de meus gritos.

Eles me largam e eu caio, a dor me dominando. Sons esquisitos escapam de minha boca enquanto eu tento inutilmente estancar o ferimento com minha outra mão.

Colocaram uma mordaça em minha boca e novamente me levantaram, apenas eles me mantêm em pé.

Snow sorri totalmente satisfeito com meu sofrimento.

– Quase que eles conseguiram chegar aqui primeiro que eu. No último segundo, no entanto, consegui desviá-los para a direção oposta. Mas eles vão achar aqui e vão achar também a trilha de sangue. Agora, vamos.

Snow vira-se para uma parede branca e de repente ela se abre.

Os guardas me obrigam a andar e a passar pela passagem secreta.

Um corredor se apresenta a minha frente, escuro e frio. A única luz provém de uma pequena lanterna na mão de Snow, que nos guia. Meu coração bate tão forte de temor que posso escutá-lo em meus ouvidos. Eu queria fugir e sumir, mas não podia. O dia da morte do Tordo de Panem chegou.

Ainda tento, inutilmente, estancar meu ferimento até o pensamento de como isso é idiota atravessar minha mente. Vou morrer mesmo, não faz sentido algum.

Permito, então, que os guardas apenas me guiem por meus ombros. Abraço meu próprio corpo, sujando minha roupa de sangue que escorre pelo meu braço, e abaixo a cabeça em derrota. Caminhamos até chegarmos a uma sala.

A sala têm cadeiras, câmeras e televisores. Muito televisores com imagens de vários lugares. Passando meus olhos, consigo ver Peeta, Gale, Finnick e outras pessoas andando armadas.

– Vocês realmente estão aqui – sussurro apenas para mim mesma, mas Snow escuta e solta uma risada.

– Já se esqueceu, doce senhorita Everdeen, do acordo que fizemos? De não mentirmos um para o outro? Se eu disse que eles estavam aqui é porque estavam.

Foi minha vez de rir.

– Como se você dissesse sempre a verdade.

Snow me olha, ofendido.

– Certo que eu manipulo, minto, mato, torturo e todas essas coisas – ele balança a mão, com um gesto de "tanto faz" – Mas eu honro com minha palavra quando a dou.

Reviro os olhos, impaciente. Minha resposta seguinte tem um tom irônico.

– Claro que sim.

Parece que minha ironia foi a gota d’água para ele perder a paciência comigo. Num gesto rápido, sua mão chega em meu pescoço, esmagando-o. Arranho sua mão, mas logo sou contida pelos guardas. O presidente afrouxa o aperto, porém, a dificuldade de respirar ainda está presente.

– Quanta audácia! Perdeu a noção do perigo? Esqueceu o que posso fazer com você?

Faltava sair sangue por seus olhos de tanta raiva. A raiva também se acendeu em mim.

– O quê? M-me ma-ta-r? – um sorrisinho sarcástico escapa de meus lábios entres as lufadas de ar.

Snow larga meu pescoço e num movimento rápido me dá um soco. Os guardas me soltam e o impacto do soco me derruba no chão. Sinto o sangue na minha boca e levanto meu olhar para a cobra.

– Você vai me matar lenta e dolorosamente de qualquer jeito. Mas se eu cair, querido presidente, você cairá comigo.

O ódio em seu olhar aumenta e então me preparo para o próximo golpe que não vem. Em questão de segundos, vejo sua expressão de raiva ser substituída por uma de superioridade e divertimento maléfico.

– Não posso discordar – anuncia, por fim.

Snow começou a andar de um lado para o outro, muito lentamente.

– Contudo, não cairão apenas nós dois. Seus amigos também o farão. E preparei uma morte lenta e dolorosa para eles também.

Snow para em minha frente, observando minha expressão de horror. Meu coração para de bater por um segundo, em preocupação. Entretanto, logo volta a trabalhar.

– Vai ser lindo – finalmente respondo – Todos nós de mãos dadas correndo para a morte.

– Um espetáculo – ele abre um sorriso falso.

Snow volta sua atenção para monitorá-los. Uma vertigem me abate, de repente, levando meu corpo totalmente ao chão. Tusso e o sangue sai junto com escarro; sinto-me numa poça de sangue.

Tento me apoiar em meus cotovelos, mas não consigo.

– Olha - Snow começa, atraindo minha atenção para ele – Parece que seus namorados não entram em acordo.

Vejo Peeta e Gale no que parece uma discussão calorosa em frente a porta que dava acesso ao quarto anterior que eu estava. O volume da televisão é aumentado por Snow dando para escutar o que eles dizem.

"Eu não vou ficar aqui, não mesmo!"

"Mellark, não podemos correr o risco de dar errado uma outra vez. Quem vai sou eu. Você não corre tão rápido"

"Mas eu estou no comando!"

Observo Finnick interromper a discussão dos outros dois e se colocar de frente para ambos. Ele ajeita as armas nos ombros e agarra a pequenina mão de minha irmãzinha. Meu coração aperta imediatamente. Eles a trouxeram?

"Enquanto as donzelas não se decidem, vou tirar Prim daqui. Não estamos num lugar seguro. E eu realmente espero que quando eu voltar vocês tenham entrado num acordo"

Finnick arrasta uma Prim chorosa para fora da Mansão de Snow. Numa outra tela, posso ver a sua surpresa quando percebe que todas as portas se trancam com um clique. O olhar de horror e medo foram capazes de tirar mais uma gargalhada do meu querido presidente.

– Pobrezinhos... - comenta, realmente divertindo-se com tudo aquilo. O cheiro proveniente de sua boca me deixa enojada - Vamos assistir um mais uns minutinhos?

Snow cruza os braços e sorri para as telas.

De repente, ouço outro clique. Viro o rosto de relance para encontrar um dos guardas apertando um botão.

– Vamos deixá-los se iludir só mais um pouquinho. O que acha disso, senhorita Everdeen?

Assim que Snow termina de falar, escuto o som de bombas. Ou tiros. Não sei ao certo.

Assisto a meus amigos mudarem de uma tela a outra à medida que correm ao meu encontro. Um choro silencioso se prende em minha garganta. O fim está próximo. O jogo está terminando.

Na realidade, nunca havíamos saído dos Jogos Vorazes. Continuamos numa horrorosa e cruel Arena à céu aberto.

Nunca estivemos próximos do fim. No fundo, sabíamos disso. Só queríamos protelar.

Então, num estranho impulso, começo a assobiar a canção de Rue. Talvez meu último ato como vivente. Snow se delicia com isso. Posso ver em seu sorrisinho de canto.

No entanto, assim que a porta de onde me encontro se abre, minha música se transforma em berro.

Tudo acontece meio de repente e ao mesmo tempo: um tiro sai de algum lugar atrás de mim, atravessa a sala e Peeta cai de joelhos. Eu consigo me desvencilhar do pacificador e me jogo na direção de meu saudoso padeiro.

E então tudo fica escuro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A captura do tordo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.