A cor do amor escrita por Cyn
Aiden
Não aguento isto.
Estou farto.
Estou farto da minha vida.
Do raio da música que me está a fazer surdo.
Das mulheres que não param de andar á minha volta.
Até da porcaria da cerveja que me está a dar vómitos.
–Aiden, mano. Então? Diverte-te.
Olhei para G e dei-lhe a minha cerveja.
–Vou indo.
–Espera. O quê?
Ele tirou a miúda ruiva do colo dele e veio atrás de mim.
–O que se passa, A? Acabamos de chegar.
–Estamos cá á três horas.- Avisei passando pelos corpos dançantes á nossa volta.
Depois de deixar Mylla em casa peguei G e fomos para uma discoteca não muito longe de minha casa. Não dava para ficar em casa e pensar em Della com aquele tipo. Precisava tirá-la do meu sistema. Mas nada resultou.
Nenhuma destas miúdas, me faz esquece-la.
–Exactamente, a festa ainda agora começou. Nem é ainda meia-noite.
–Desculpa, G. Vou indo.
Ele calou-se e pensei que ia voltar para trás mas enganei-me.
–Quem é ela?
–Quem?
Ele revirou os olhos.
–Por favor, Aiden. Á alguma buceta que não te sai da cabeça. Quem é ela?
Agarrei-lhe no colarinho.
–Ela não é buceta nenhuma- Rosnei.
Minha Delly era muito mais que isso.
Ela era a minha menina.
Meu tesouro.
G sorriu e eu larguei-o.
–Então sempre á uma mina. Quem é ela para te fazer parecer uma gaja.
Empurrei fazendo-o rir e continuei o meu caminho.
–Estou a brincar, A. Quero conhecer a rapariga que pôs uma trela no meu melhor amigo. Quando posso vê-la?
G é um bom amigo, mas não confio dele com miúdas muito menos Della.
Ele atraísse muito facilmente por rabos de saia e não o quero atrás da minha menina.
–Então Aiden? Vais-me apresentá-la, não é?
–Vai sonhando- Resmunguei saindo para o frio da noite.
–NÃO ACREDITO! Aiden Willow está apaixonado- Disse rindo.- Cara, agora tens mesmo de apresentar a menina. Prometo que não me faço a ela.
Ele fez o juramento dos mosqueteiros, mas não confiei na mesma.
Ele ainda não tinha visto Della.
–Esquece, G. E para além do mais ela ignora-me.
–O que fizes-te?
Encostei-me á porta do meu carro e tapei a cara.
–Fui um filho da puta com ela á quatro anos.
–Agora entendo. Era dela que estavas a fugir. Sempre achei que não ias para casa por algum motivo.
–Pois é. Eu praticamente criei aquela menina. A protegi. Delly sempre foi diferente. Em primeiro sempre vinha ela. Sempre.
–Quantos anos é mais nova que tu?
–4.
–Não é uma grande diferença de idade.
–Não é a diferença de idades que é o problema. Eu fui… sou muito possessivo com ela. Então via com um garoto da idade dela e surtei. Ela era minha, entendes? Apenas minha.
Ele frangiu a testa.
–Então porque a tratas-te mal?
Desencostei-me do carro e olhei para o céu.
–Porque sou um idiota. E em vez de me desculpar escondi-me durante 4 anos. Pensei que era apenas uma atracção. Agora voltei e…
–Quere-a mais do que tudo.
Assenti e olhei para minhas mãos.
–Hoje saiu com um cara e precisava de apagar por um tempo. Mas não dá. Ela não me sai da cabeça. A hipótese de ele a beijar apenas me dá vontade de bater em alguém.
G não falou por minutos e eu não fiz esforço para dizer o quer que seja.
–Estás mesmo apanhado.- Disse sorrindo.
Dei um pequeno sorriso e assenti.
–Completamente. Nenhuma menina me tocou como Della faz.
–Já lhe disseste o que sentes?
–Ela nem olha para mim.
–Devias tentar explicar o porquê de teres sido um idiota.
Olhei para ele.
–Achas.
–Claro, mano! Se gostas da menina, vais perde-la?
–Não mas…
–Nada de mas. És um gajo ou uma gaja? Tens de ser corajoso e dizer-lhe na cara. Acredita em mim. Se fores sincero e ela sentir o mesmo, não te escapará.
Olhei chocado para o meu colega de quarto.
–Como sabes tanto sobre isto?
Ele coçou a cabeça e suspirou.
–Eu também já estive apanhado por uma mina, mas ai ela escolheu outro em vez de mim. Dói como a merda, Aiden. Acredita. Mas pela forma como falas da tua mina, ela deve sentir o mesmo.
–Não sei, G. Della, mudou muito. Quer dizer, ainda é a minha Delly. A menina doce que protegi, mas ela passa mais tempo agora sozinha. Ela nunca gostou da solidão. Quando a mãe dela morreu, Della morria de medo de estar só. E depois nunca mais quis isso. Mas agora ela fica sozinha naquela casa.
–Ela cresceu.
–Sim, eu sei, mas tem de haver mais. Estou preocupado com ela. Della é … muito frágil.
G bateu-me no ombro e apertou-mo.
–Se algo se passa ela dirá. Não á ninguém em quem ela confie que te possa dizer?
–Minha irmã. Elas são melhores amigas.
G riu e empurrou-me para trás.
–Cara, logo a melhor amiga da tua irmã? Tu és louco?
Sorri e assenti.
–Sou. Sou louco por aquela menina.
..................
12 Anos atrás
Della
–Delly, anda.
Olhei para a mão de Aiden e depois para o rosto dele e recuei batendo contra o carro.
Ele ajoelhou-se á minha frente e pegou-me nas mãos.
–Vou estar contigo. Não tens porque ter medo.
–Não quero- Chorei.
–Princesa, olha para mim. Achas que eu te levaria para algo que te magoasse?
Neguei com a cabeça.
Aiden nunca me faria mal.
Ele é meu amigo.
Melhor amigo.
Ele sorriu e deu-me a mão.
–Confias em mim?
Assenti e agarrei-me a ele com força.
Ele abraçou-me e falava baixinho comigo.
Um passo, dois, três, quatro, cinco e estávamos em frente á porta.
Ele abriu-a devagar mostrando o cheiro a limpo e a flores.
O cheiro de mamã.
A minha mamã.
Agarrei-me a ele com mais força e entrámos.
Tudo estava no lugar. Limpo e arrumado.
Parecia como se mamã o tivesse limpo e deixado tudo no sítio como acontecia todos os dias que chegava da escola.
Mas desta vez ela não apareceu sorrindo cheia de farinha com biscoitos de chocolate.
Mamã era linda e nunca mais iria voltar para mim.
Deixei uma lágrima escorrer pela minha cara.
Os senhores do hospital disseram que ela tinha ido para o céu. Minha mãe era um anjo, seu lugar era o céu.
–Vamos para o teu quarto?
Olhei para as escadas com medo e depois para Aiden.
Ele acreditava em mim. Confiava em mim.
Como mamã.
Não o queria desapontar.
Com ele ao meu lado não teria medo.
Assenti e ele sorriu orgulhoso para mim.
Subimos e as escadas fizeram barulho conforme andávamos.
Nunca larguei a mão de Aiden. Ele era o meu anjo salvador.
Mamã sempre dizia isso.
Aiden sempre seria meu amigo, meu anjo, meu protector. Sempre estaria lá para mim. Eu não queria desapontar meu anjo.
A porta do meu quarto era azul com o meu nome em dourado.
Não gosto de cor-de-rosa como Mylla, prefiro o azul como Aiden.
Ele abriu a minha porta e eu entrei olhando em volta.
Cheirava a rosas.
Rosas brancas.
Vovó tinha um quintal cheio delas.
As rosas brancas estavam na minha pequena varanda, mas estavam murchas e pretas.
–Aiden, as rosas.- Disse começando a chorar.
Ele ajoelhou-se e puxou-me para ele.
–Nós vamos mudá-las, sim? E serão tão lindas como dantes.- Ele olhou-me e sorriu.- Tão lindas como tu.
Assenti sorrindo um pouco.
Ele levou-me para a minha cama e deitou-me nela. Deitou-se ao meu lado e olhou em volta sorrindo.
Ele sempre gostou do meu quarto. Disse-me que o de Mylla era cor-de-rosa demais para ele.
–Aiden?
Ele olhou para mim e acariciou-me o cabelo.
–Sim, princesa.
–A mamá foi para o céu? Os médicos disseram que sim.
Ele sorriu e beijou-me na testa.
–Claro que sim. Tua mãe era um anjo.
Sorri orgulhosa de minha mãe.
–Tu também vais para o céu.
–Achas?
–Mamã disse que tu era o meu anjo salvador. Como os anjos vão para o céu, tu vais para o céu.
Ele riu e virou-se de lado para mim.
–Então eu sou o teu anjo, hem?
Assenti sorrindo.
–Isso quer dizer que és a minha protegida.
–O que é isso?
–Quer dizer que eu vou-te proteger sempre. Nada de mal te vai acontecer.
–Porque tu és o meu anjo.
Ele assentiu.
–Quem é o anjo da Mylla?
–Ainda não há. Mas ele vai aparecer.
–Posso ser o anjo dela enquanto o anjo não aparece?
–Claro que sim, princesa. Ela ficará feliz.
Sorri e abracei-o.
–Agora dormir, sim? Não tens dormido nada. E tens de dormir para ser uma menina grande e linda.
–Ok.
–Queres uma história?
–Sim, por favor.
Ele sorriu e aconchegou-me perto dele.
–Era uma vez uma menina presa num castelo com um cabelo tão grande, tão grande, mas tão grande, que podia dar a volta ao mundo duas vezes. Essa menina foi presa por uma bruxa…
........................
Della
Acordei com o som do meu telemóvel.
Sabia que era Mylla.
Na noite anterior não lhe liguei. Simplesmente deitei-me na cama e dormir.
Teríamos hoje o dia livre de escola o que era um alívio.
–Oi.
–Oi? Todo o que dizes é oi?
–Bom dia Mylla.
Ela riu e eu sorri.
–Como foi? Como foi? Ele beijou-te? Diz-me que ele te beijou.
–Ele beijou-me.
Ela gritou.
–EU sabia! Eu sabia! Como foi? Sentiste-te flutuar? Eu sempre sinto quando Alex me beija.
Spencer na realidade tinha-me beijado quando me deixou e casa. E foi como sempre sonhei.
Doce, delicado, tímido, suave e sem Aiden Willow no meio.
–Foi… foi… eu não sei- Admiti rindo.
–Foi como esperavas?
–Sim. Sem dúvida alguma. E ele pediu-me em namoro.
–Disseste que sim, não é?
–Na verdade não respondi. Bloqueei.
–O quê? Della, tu querias isto. O que aconteceu?
Aiden Willow.
–Não sei. Ele disse que me ia deixar pensar. Ele foi tão fofo, Mylla. Aceitou sem fazer um drama.
–PORQUE ESTÁ LOUCO POR TI!- Gritou e eu ri.
–Mylla, vais acordar a casa inteira.
–Na, meus pais saíram e Aiden está com um colega da Universidade na sala. Eles passaram a noite fora e só chegaram agora. Acreditas nisto?
Senti um nó na garganta e meu coração apertar.
O que estava á espera?
Aiden não é mais o meu anjo. Ele tornou-se uma pessoa que eu não conheço. Irmão da minha melhor amiga. Nada mais.
Mas pensar nele com outra doí. Dói tanto quanto a falta que sinto de minha mãe.
–Acredito- Sussurrei.- Mylla, posso ligar-te mais tarde? Tenho uma resposta a dar a Spencer.
Ela riu
–Claro que sim, doida. Boa sorte.
Antes de desligar fez sons de beijos e tentei sorrir mas não deu.
Assim que desliguei desabei na cama e chorei.
O meu Aiden.
Eu queria o meu Aiden.
Odeio-me porque prometi não voltar a chorar por ele mas não consigo. Aiden fez parte da minha vida. Uma parte importante. Ainda faz e odeio-o por isso.
Odeio-o por me fazer tão vulnerável.
A minha cabeça começou a doer mas tinha sido um hábito regularmente. Então ignorei-a. Ela sempre desaparecia.
Sentei-me, enxuguei as lágrimas e disquei uma mensagem a Spencer.
Sim. ♥
Aiden não merece as minhas lágrimas.
Ele não merece nada de mim.
Esquece-lo é impossível porque é irmão de Mylla, mas posso perfeitamente conviver com ele.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
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