Aiden

Ouvi Mylla gritar inúmeras vezes lá em cima e um aperto se apoderou do meu peito.

Eu a tinha perdido.

–Ei, cara? Aiden, estás bem?

Abri os olhos e olhei para G.

Ele tinha sido mais que um amigo quando me deixou ficar em casa dele esta noite. Distraiu-me de todas as memórias com Della nesta casa.

–Perdia- Sussurrei rouco.

–Ouve, não é tarde demais. Nunca é.

–É tarde. Acabou.

–Não, mano. Apenas tens de te levantar e ir ter com ela. Dizer-lhe o que sentes.

–Achas?

G sorriu e foi a minha esperança.

A minha única esperança.

Mas então a porta da frente abriu e Della entrou.

Deixei de respirar, literalmente.

Vestia uns calções curtos mostrando as suas longas pernas bronzeadas e macias. Os saltos que usava faziam-nas parecerem ainda mais sexy do que já eram.

A camisola amarela de alças era solta do peito para baixo mostrando um pouco da sua barriga lisa.

Seus longos cabelos loiros estavam presos em duas tranças deixando fios de cabelos caírem pelo seu delicado rosto.

Toda ela reluzia beleza e inocência.

–Caralho me foda- Ouvi G sussurrar e por mais vontade que tive de pegar em Della e trancá-la no meu quarto não o fiz.

–Hmm, ei.- Disse timidamente.

–Ei- Respondi rouco.

–Tu és a Della?

Ela sorriu um pouco e enfiou as mãos no bolso detrás do mini calções.

–Da ultima vez que conferi.

G riu e ela corou.

–Linda e com sentido de humor. Gostei.

Olhei para meu amigo e estreitei os olhos.

O que ele pensa que está a fazer?

–Obrigado- Sussurrou Della.

–A única pessoa que tem de dizer obrigada sou eu por esta visão magnífica.

Della corou ainda mais eu cerrei os punhos.

–Controla-te- Rugi para G.

Ele ignorou-me levantou-se.

–Sou o G.

Pegou na mão dela e beijou-a.

Maldito idiota.

Maldita hora que o trouxe.

–G? É diminutivo de quê?

–Gay- Disse não me contendo.

Della engasgou-se contendo a risada e eu sorri quando G me lançou um olhar mortal.

–Que giro. Aiden é tão engraçado, não é Della? Mas não. Meu nome é Gui. Guilherme. G pra os amigos.

–Bom, prazer em conhecer-te Gui.

–Bela, tu podes-me tratar por G. Ficaria encantado.

PÁRA!

Eu vou partilhe a cara toda.

–Vou procurar Mylla- Murmurou Della saindo timidamente.

Assim que ela estava fora de vista juguei G contra a parede.

–O que pensas que estás a fazer, cara?

Ele riu e tirou as minhas mãos de cima dele.

–Calma, mano. Apenas conhecendo a mina. Deixa-me que te diga que menina, hem Aiden? Não me surpreende porque a querias só para ti. A miúda é um deleite para os olhos.

Ele riu e sentou-se de novo no sofá.

–Não te chegues perto dela, G. Estou-te a avidar. Della, não!

–Não te preocupes. Já entendi que ela é tua. Mas ouve, ó tu te despachas ou eu fico com o lugar. Uma mina daquelas não pode andar sozinha por ai por muito tempo ou ficas sem ela.

Cerrei os punhos sabendo que ele tinha razão.

Se queria Della, tinha que me despachar.

Se já não fosse tarde.

Della

Mylla saltava de um lado para o outro como uma idiota.

Eu ria da minha melhor amiga deitada na cama dela.

Só Mylla para me fazer rir.

–My, Pára. Estás completamente louca.

Ela riu e deitou-se em cima de mim.

Eu gritei e ri com ela.

–Já viste? Nós duas com namorados lindos e que gostam de nós. O acampamento vai ser incrível.

–Ele ia ser incrível na mesma, mas sim. Vai ser incrível. Só espero que esta semana passe num abrir e fechar de olhos.

–Vai passar. Vais ver. Por falar disso. Temos de ir comprar o vestido para o baile.

–Spencer ainda não me convidou.

–Mas vai. Alex já me convidou e eu já sei o vestido que quero levar.

–O azul de alças e renda que vimos na Fashion Feel?

–Esse mesmo. E tu? O que vais escolher?

–Ainda não sei, My. Estava á espera que Spencer me convidasse primeiro. E se ele não quiser ir?

–É claro que ele vai! Tenho tudo planeado para sexta. De manhã vamos á procura do teu vestido, fazemos cabelo e maquilhagem e á noite baile.

–Alex vem-te buscar?

–Não sei. Ele disse que tinha de ir ver a melhor oferta.

Frangi a testa.

–O que ele quis dizer com isso?

Ela deu de ombros.

–Não sei. Mas eu confio nele. Sei que vai ser incrível.

Sorri para a confiança dela.

Mylla gostava mesmo de Alex.

Ele é um, cara, porreiro. Não há muitos como ele.

Ele é o anjo de Mylla mesmo que ela ainda não o saiba.

–Bem? Não ias ter com o Spencer?

Assenti acordando dos meus pensamentos e levantei-me.

–Sim e tu minha amiga ias ter com o Alex se bem me lembro.

–Lembras-te muito bem- Disse rindo.

Levantou-se e abraçou-me.

–É Spencer que queres?- Sussurrou no meu cabelo.

–Claro. Sabes bem que sim.

Ela riu e beijou-me na cara.

–Muito bem. Então vamos.

Descemos e ouvi a voz de Gabe.

–Se tu dizes.

–Eu digo. Não se preocupe, senhor Willow.

–Bom-dia- Disse Mylla e eu.

–Bom dia, alegrias.

Ri e beijei Gabe na cara.

–Ides sair?

–Sim.- Disse Mylla e virou-se para Aiden- E tu vais nos levar porque deixas-te o meu carro na escola.

–Já te pedi desculpas.

Ela revirou os olhos.

–Como queiras. Vais-nos levar.

–Parece que é uma ordem- Disse Gabe rindo- Onde ides?

–Ao parque- Respondi seguindo Ana para a cozinha.

–Ides muito ao parque.- Disse Ana sorrindo e olhando-me de lado.

–É um bom ambiente.

Ela riu e beijou-me na cabeça.

–Apenas o parque?

Corei e peguei numa pera.

–Talvez sim, talvez não.

Ela pegou-me no queixo delicadamente e olhou-me directamente nos olhos.

–Espero que saibas o que estás a fazer e que isso te deixe feliz.

–Estou feliz, Ana. Spencer é… um fofo.

Ela sorriu mas não pareceu acreditar.

Fechei os olhos com uma dor na minha cabeça.

–Estás bem?

Abri os olhos e pressionei as têmporas.

–Sim, apenas dor de cabeça. Vem e vai, vem e vai. Apenas gostasse que fosse e nunca mais viesse.

Ela tirou um copo encheu-o de água e pôs um comprimido na minha mão.

–Toma. Vai passar num instante.

Agradeci e tomei o comprimido com a água.

–Que conversa é essa de namorados!

Ouvi Gabe da sala e olhei para Ana.

Ela sorriu um pouco.

–Parece que Gabe já sabe. Boa-sorte.

Beijei-a na cara.

–Obrigado. Vamos precisar.

Voltei para a sala para ajudar Mylla, mas a forma como Aiden olhava para mim assim que entrei decidi ficar encostada á parede com a minha pêra.

–Della, Dellita, diz-me que é mentira.

Gabe, olhava para mim com tanta esperança.

Contar a ele seria o mesmo que contar a meu pai.

Cocei a cabeça e sorri um pouco.

Ele deu um suspirou derrotado.

–As minhas meninas.

–Pai! Por favor. Não é nada de outro mundo. Eles são bons para nós.

–Não me interessa. Sois muito novas para namoricos.

–Temos 17!

–Della não.

–Por enquanto- Disse olhando para a minha pêra.

–Della, Mylla…

–Deixa as meninas, Gabe. Elas são crescidinhas para saberem o que querem. Já têm idade para namorar quem quiserem.

–Ana! Elas não…

–Gabe!

Gabe calou-se olhando para o olhar de Ana. Quem mandava ali era ela. Gabe nunca contrariaria sua mulher.

Ele ama-a de mais.

Um dia quero ter o mesmo amor deles.

–Tudo bem. Mas quero conhecê-los. Vamos ver se eles têm a minha aceitação.

Eu e Mylla corremos e abraça-mo-lo.

–Obrigado, obrigado, obrigado.

–És o maior, pai.

–Esperem para saber a minha opinião sobre eles.

–Eu sei que vais gostar deles.- Disse Mylla sorrindo.

–Vamos ver.

–Porque não os convidais para o jantar?

–Mãe!

–Ana!

Olhei de Aiden para Gabe perdida.

–É uma excelente ideia, mãe. Obrigado- Mylla abraçou Ana beijou-a.- Tu sim és a melhor.

Apenas olhei para Aiden.

G segurava-lhe os ombros com uma expressão tensa como se tivesse medo de que Aiden pudesse fugir ou… esmurrar alguém.

–Della, vamos. Não podemos deixar os rapazes á espera. Vamos Aiden, tu também.

Mylla puxou-me para fora rindo.

–Eu sabia que ele ia aceitar. Meu pai é um coração mole.

–Ele apenas tem medo de Ana- Disse rindo.

–Isso também. AINDE DESPACHA-TE!

Entramos no carro de preto de Aiden e olhamos para fora.

–Onde ele se meteu?

Dei de ombros e suspirei quando ele saiu de casa furioso com G atrás.

–Finalmente- Disse Mylla quando ele entrou.

Aiden não lhe ligou e ligou o carro arrancando pouco depois de G entrar.

–Aiden, calma.- Disse Mylla segurando o assento.

–Aiden, meu. Desacelera.- Tentou G.

Mas nada parecia pará-lo.

Segurei-me com força no lugar e fechei os olhos.

O carro balançava muito sendo difícil permanecer no lugar tirando o facto de que estava a ficar enjoada muito rapidamente.

–Aiden! Por amor de deus, pára o carro.- Quase gritou Mylla.

–Vais nos matar a todos, bro.

Inspirar,

Expirar,

Inspirar,

Expirar,

–Della?- Sussurrou Mylla.- Estás bem?

Assenti com a cabeça apertando os olhos.

Pára,

Pára,

Pára,

Por favor, Aiden.

–O que se passa com ela? Ela está bem?

–Eu não sei. Ela está branca.

–Porra! AIDEN PÁRA A MERDA DO CARRO!

Esperei alguns minutos mas nada aconteceu. O carro continuava a andar.

–Aiden…- Murmurei aflita.

Ele tinha de parar agora o carro ou eu não sei.

–Merda!-Ouviu dizer e logo houve uma derrapagem e o carro parou.

Mylla ao meu lado suspirou de alívio e eu tentei fazer o mesmo. Mas minha respiração mão me queira obedecer.

–Della? Delly? Porra, desculpa.

Assenti e abri a porta para sair.

Minhas mãos tremiam mais que sei lá o quê.

–És um idiota.- Ouvi Mylla dizer irritada enquanto eu me afastava.

Abri os olhos.

Estávamos a apenas 10 metros do parque.

–Delly.

Fechei os olhos sentindo o calor do corpo dele contra o meu.

Gostava de o ter ao meu lado mas não podia gostar.

O meu coração acelerava e não era por causa da velocidade.

Por mais que eu quisesse.

–Lamento. Foda-se.

Com as mãos dele nos meus braços e ele beijando minha cabeça eu senti que ia explodir.

–Sou mesmo um idiota, não é?

Não respondi e ele continuou.

–Della, olha para mim. Por favor, diz-me que estás bem.

O tom de preocupação dele deu um aperto no meu coração. Preferia que ele tivesse raiva de mim. Explodisse, me tratasse mal.

Preferia mas não era o que queria.

Queria que ele me embalasse nos seus braços e dissesse que nunca me ia deixar como quando eramos crianças.

Queria que me segurasse a noite inteira.

–Estou bem- Disse rouca.

–Olha para mim e diz-me isso.

Inspirei e virei-me para ele.

–Estou bem.

Virei-me para começar a andar mas ele parou-me virando-me de volta para ele.

–Della…

–Deixa-me ir, Aiden- Sussurrei-lhe olhando para o corpo largo dele.

–Não!- Levantou o meu queixo e senti meu coração prestes a explodir.- Nunca.- Sussurrou.

–Aiden… por favor.

–Nós temos de conversar.

–Aiden- Gemi- Já conversamos. Já te dei a tua paz então pronto. Está feito. Vamos seguir em frente.

Tentei afastar-me mas ele puxou-me contra o seu peito duro deixando todo o meu ar fugir.

–Não é sobre isso que quero falar. Bem, tem algo a ver mas não é só apenas isso. Eu tenho de te dizer sobre o que sinto. Agora mais do que nunca.

–O que sentes?- Sussurrei.

Ele deu um pequeno sorriso e segurou-me no rosto delicadamente e mais uma vez meu sangue ferveu apenas como Aiden sabe fazer.

Todo meu corpo tremia, tremia e tremia.

Meu deus!

–Sim. O que eu sinto sobre….

–Estás aqui!

Nós os dois olhámos para o lado e vi Spencer andando até mim olhando para Aiden de forma questionadora.

Arranjei forças e afastei-me de Aiden.

As mãos dele caíram para o lado e olhou de mim para Spencer e algo como reconhecimento apareceu nos olhos escuros dele.

–Hey.

–Hey. O que se passa?

–Hmm, Spencer é o Aiden, irmão de Mylla, Aiden é o Spencer, meu… namorado.

Spencer sorriu para a minha descrição, Aiden nem tanto. Ele apenas se encolheu quando disse namorado como se o tivesse atingido.

–Hey, prazer.- Disse Spencer rodeando-me com os braços.

Aiden olhava para ele com raiva olhando para todos os movimentos de Spencer.

Aiden olhou para mim e senti todo o meu ar evaporar com a dor nos olhos dele. Queria abraça-lo. Queria mas não o fiz.

–Pois. Vamos, princesa?

Spencer beijou-me na testa e vi os punhos de Aiden fecharem-se.

–Sim. Vamos- Sussurrei sem deixar de olhar Aiden.

–Até.

Spencer empurrou-me e andámos para longe de dois olhos negros como a noite que perfuravam meu coração com toda a dor existente neles.

Sim. O que eu sinto sobre….

O que ele senti sobre?

Sobre quê?

Sobre mim?

Sobre nós?

Sobre o quê?

O QUÊ?

MEU DEUS TODO PODEROSO.

Não podias ter atrasado Spencer apenas um pouquinho.

Espera, eu quero saber o que Aiden queria dizer?

Será que eu quero mesmo?

Afinal ele foi o cara que mais me magoou. Mais me destruiu.

O único em quem eu confiei e me desiludiu.

Meu coração dizia uma coisa mas minha cabeça dizia outra.

Qual deles seguirei?

Cabeça ou coração?