Let it be escrita por Algodão doce


Capítulo 8
Estou no youtube e isso não é bom.


Notas iniciais do capítulo

Não consegui postar ontem, mas postar hoje não deixa de ser um bônus, já que geralmente só adiciono um novo capítulo uma vez por semana. Me amem.



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Quarta feira eu despertei ainda me sentindo mal. No jantar de ontem a Victoria preparou para mim sopa, que eu acho horrível, e mesmo assim fui obrigada a comer. Quando acordei tive que engolir um suco de laranja (sem açúcar!) porque tem vitamina C. Odeio suco de laranja, acho desnecessariamente azedo. Meu Deus, estar doente é horrível. Sem nada para fazer o dia todo, só assisti TV. Lá pela noitinha peguei meu celular e entrei no whats app. Fazia um tempão que eu não olhava o aplicativo. Desde domingo! Havia umas trezentas e dez mensagens novas, só no grupo da Athena e da Melissa. Estranhei o fato de elas não terem me removido. Tentei me segurar ao máximo, mas minha curiosidade não resistiu. Tive que olhar as mensagens. Sou semi-masoquista (meus duendes, não, essa frase não tem duplo sentido). Subi o máximo que podia, lá para as mensagens do topo, e pude ver que falavam de algo que tinham visto em outro grupo do whats app, no grupo da nossa sala. E sobre mim. Elas são tão discretas. Tipo: “Ei, que tal falarmos mal da Alice, que pode ver tudo que escrevemos aqui?"

Apesar de haver centenas de mensagens citando meu lindo nome, não consegui entender nada direito, todas as frases pareciam desconexas. Referiam-se a algo que estava no grupo da sala. Eu nunca cheguei a participar do grupo do whats app da sala, mas já imaginava o que estava rolando. Priscila é claro. Espalhando rumores e boatos sobre mim. Lembrei-me do que ela disse outro dia na sala de aula. Algo sobre eu “dar em cima de todo mundo” para conseguir o que quero. Ela me odeia, e eu odeio, é recíproco. O problema é o que levou a todo esse ódio. E o fato de ela insistir em aumentar a história, como se eu que fosse a bruxa má do oeste.

Até o oitavo ano, uns dois anos atrás, éramos amigas. Como tudo mudou em tão pouco tempo? Bem, a Priscila conheceu um garoto. Ele era novato, e muito – na opinião dela - lindo. A garota se apaixonou por ele, e fazia de tudo para conquista-ló. O Igor, esse era o nome dele, não estava nem aí. A Pri, sem amor próprio nenhum, continuava dando em cima do pobrezinho. Lá para o final do ano a Priscila resolveu se declarar, na cara dura mesmo. Como se ele ainda não tivesse percebido! O Igor deu um fora nela, que ficou morrendo de raiva. E aí, meio que uma semana depois, o Igor veio falar comigo. Ele disse que estava a fim de mim desde o inicio do ano, me achava linda, engraçada e blá, blá, e perguntou “então, você quer ficar comigo?”. Respondi rápido que não, primeiro por causa da Priscila e segundo porque eu realmente não gostava daquele garoto. Eu tinha treze anos, e não queria desperdiçar meu primeiro beijo com um imbecil! Nos últimos dias de aula decidimos fazer uma festa de “despedida”. Foi no salão de festas do prédio de um dos colegas.

Eu estava usando um macaquinho laranja de renda (perfeito!), botas pretas e uma tiara com orelhas de gatinho. Gloss rosinha, maquiagem leve, cabelos soltos. Sentia-me maravilhosa. Ei, são detalhes importantes! Aposto que a Priscila ficou com inveja, ela nunca nem chegou aos meus pés. Aí, com todo mundo animado e brincando, o Igor chegou em mim. Eu estava perto da Pri, rindo e dançando de um jeito meio maluco, e quando ele perguntou se podíamos conversar lá fora, ela me fuzilou com o olhar. Não disse não, na verdade eu respondi “tudo bem”. Fomos para a área externa do salão, e estava congelante. Sentei em uma das cadeiras lá dispostas. O lugar estava vazio. Todo mundo estava lá dentro. O Igor se sentou a meu lado, e percebendo que eu estava com frio me ofereceu seu casaco. Seria fofo se ele não fosse um idiota. Aceitei, sou folgada, e rapidamente o vesti. Seus braços estavam me envolvendo em uma espécie de abraço e eu, nervosa, perguntei o que ele queria conversar. Por falar nisso, um dos motivos pelo qual odeio meu apelido. O Igor me chamava de All. E a Priscila também. Além de que é muito escroto. Tipo, “All”. Parece até que sou uma marca de tênis. Hum, certo, voltando. Deixei-me levar pelas lembranças.

– All, eu gosto mesmo de você. E sei que sabe disso, até porque já te falei! Eu só queria uma chance para te mostrar como sou um cara legal. Mas vou para outra escola, e vai ficar meio difícil nossa comunicação, né? Seria mais fácil se eu soubesse que é correspondido... Que você também vai sentir minha falta. E aí a gente podia visitar um ao outro, manter contato por telefone. E quem sabe dessa amizade não surgem novos sentimentos em você?

– Igor, eu acho melhor... Não, olha, não quero te dar falsas esperanças. Acho que você devia me esquecer. Merece alguém melhor. E também, tem a Pri. Ela é minha melhor amiga. Seria uma traição!

– Não tem nada a ver, eu não gosto dela, ponto. E tudo bem. Quer dizer, acho que só me deve uma coisa antes de eu ir embora. – seus lábios encostaram levemente nos meus, e eu me afastei rapidamente, assustada. Fiquei de pé. Ele parecia estar se divertindo com minha cara.

– Por que fez isso?

– Queria uma lembrancinha sua. Apenas. Não me leve a mal Alice, nem chegou a ser um beijo. – O Igor ainda ria. Pensei em ignora- ló. Dar as costas. Mostrar a outra face. Mas antes de tudo lhe dei uma tapa, com força. A marca de cinco dedinhos ficou em seu rosto.

– Oh, eu também queria uma lembrancinha, querido. Não me leve a mal, Iguinho, nem chegou a ser uma tapa.

Sorri ironicamente. Estava pronta para ir embora, quando o garoto me arrastou até o elevador do prédio. Gritei e tentei me livrar das suas mãos fortes apertando meus pulsos, mas não conseguir nada. Tentei por o pé para impedir a porta do elevador de fechar, mas ele me empurrou com força contra o espelho. Era óbvio – ou quase – que ele não ia fazer nada comigo ali, porque tinha câmeras. E também podia entrar qualquer um a qualquer hora. Tentei apertar algum dos botões, mas o Igor ainda segurava meus pulsos. Estava machucando. Com uma das mãos livres, ele apertou o botão da cobertura. Descemos lá (bem, eu fui arrastada). O lugar estava completamente escuro. Eu permanecia morrendo de medo e tremendo. Lágrimas deslizam pelo meu rosto.

– Fica tão bonitinha assim, chorando. Parece uma boneca de porcelana. Se eu não te conhecesse, pensaria até que é uma menina meiguinha. - Ele enxugou uma de minhas lágrimas. Eu estava imóvel, sem saber o que fazer ou pensar. Resolvi cuspir na sua cara.

– Eu te odeio! Pode fazer o que quiser comigo. Pode até me jogar daqui se quiser. Não importa! Eu sempre vou te odiar.

– Ei, princesinha, relaxe. – ele enxugou o próprio rosto (admito, gostei de cuspir nele) e se aproximou mais. Suas mãos apertavam minha cintura com força, me levando para ainda mais perto. Meu casaco (quer dizer, o casaco do Igor) agora estava no chão. Eu estava assustada. Como qualquer garota de treze anos ficaria quando um garoto mais forte e maior a leva para um lugar escuro. Mas fiz aulas de defesa pessoal quando pequena. Haha.

– Desculpa, porém eu acho que mexeu com a garota errada. – falei, e dei uma joelhada bem “lá”. Deve ter doído para caramba. Pensei: Nossa isso está parecendo um filme de comédia. Tipo os do Adam Sandler. E desatei a correr, enquanto o Igor gemia. Deixei escapar uma risadinha. Chamei o elevador, torcendo para que chegasse logo. Não havia escadas na cobertura. Mas também, quem ia subir ou descer quinze andares de escada? O menino já estava se recuperando (ou quase) quando uma figura alta e magrela surgiu no elevador que se abriu. Uma lanterna iluminou meu rosto, e eu franzi os olhos. – Dona foice, não me leve agora! Eu sou jovem demais para morrer!

– Sou Luciano, o porteiro. Você está bem garota?

– É claro que sim! Sou a Alice, prazer. – O empurrei para dentro do elevador e entrei também. Apertei o botão do térreo e o botão fechar várias vezes. O Igor estava correndo no meio do nada, tentando nos alcançar. Em vão.

– E o garoto?

– Ele é um pedófilo, senhor. Ai meus santos duendes, fui salva pelo gongo.

– Adolescentes. – ele suspirou. - Essa área, a cobertura, é restrita. A piscina está em manutenção. Vocês não deveriam estar ali.

– Sinto muito. Ei, isso aí na sua mão é um sanduiche de atum?

Quando voltei ao salão de festas, tudo continuava na mesma. Exceto que agora havia menos pessoas. A Pri estava sentada, parecendo concentrada em sua coxinha. Fui até a mesa de salgados e peguei uma empadinha para mim, junto com um copo de coca cola. Puxei uma cadeira ao lado da Priscila e sorri para ela, com um bigodinho de refrigerante. Limpei a boca e sentei-me ao seu lado, como se nada tivesse acontecido.

– Onde você estava?- ela perguntou, com um tom de acusação.

– Com o Igor! – procurei por ele com os olhos. Não o encontrei. Será que havia ido embora ou ainda estava na cobertura? – Você não vai acreditar no que tenho para te contar! Fomos conversar lá fora, disso você sabe, e aí ele me beijou do nada. Fiquei com raiva, é claro, e lhe dei uma tapa. Seu rosto ficou vermelho. Acho que feri seu ego, porque fui arrastada até a cobertura do prédio e...

– Vocês se beijaram?!

– Ah, nem chegou a ser um beijo de verdade, eu acho. Que seja. Não vai ser o que vou contar aos meus filhos quando eles perguntarem como foi meu primeiro beijo.

– All, você entende que isso é tudo o que eu sempre quis? Você. Beijou. O. Igor.

– Eu sei Pri. Foi mal. Ele que me beijou, não é como se eu quisesse. E não queria. Além disso, ele é um idiota. – Mostrei-lhe meus pulsos, vermelhos e machucados. – Fui praticamente agredida. E poderia te sido pior! Ele me arrastou até a cobertura, e aposto que não foi para dizer “desculpa”. Sorte minha que sei me defender.

– Como assim?

– Chutei suas bolas. – dei risada. – Agora são ovos mexidos. Ovos. Mexidos. Entendeu?

– Fez mesmo isso?- A Priscila não ria. Ela parecia... Brava.

– É claro que fiz! Foi muito engraçado!

– Ah, é? Quem garante que vocês não ficaram? Quem garante que não rolou algo mais lá em cima? Você é uma traidora, Alice. Fica longe de mim.

– Por que eu mentiria?

Ela se levantou e dirigiu-se à porta. Saiu, e desceu até a sala de espera do prédio. Pensei em ir atrás dela, mas desisti. Não posso ser amiga de alguém que fica com raiva de mim por algo tão besta! Liguei para os meus pais e pedi para eles virem me buscar. Havia sido uma noite cheia de acontecimentos. Eles pediram para eu esperar na portaria, e quando passei pela sala onde a Priscila estava, pude vê-la conversando com a Victoria. Ambas me olharam com... Nojo. Sorri para as duas, e até passou pela minha cabeça ignora-lás. Só que não sou do tipo que leva desaforo para casa.

– Algum problema, queridinhas? – falei – melhor tirar um foto, que dura mais.

Tudo o que se seguiu foi muito rápido. Soltei um gritinho, enquanto unhas arranhavam meus braços e mãos pequenas puxavam meus cabelos. Retribui os ataques com uns soquinhos na barriga da Priscila, minha agressora. Alguns socos, unhadas, e pontapés depois, o Beto, o Fábio e o Carlos apartaram a briga. O nariz da Priscila sangrava e os meus braços também. Várias pessoas gravaram tudo. Um tempo depois, a Priscila “convenceu” todo mundo a não postar o vídeo. Quer dizer, ela sabia os podres de todo mundo. Um pouco de chantagem. Mas ela mesma possuía o vídeo, graças a Victoria.

E agora está tudo no youtbe. – Concluí, falando sozinha. Depois de dois anos, o vídeo foi parar na internet. E, como não fui eu que saí mais machucada e no vídeo realmente parecia que eu havia começado a briga, todo mundo aparentava estar do lado da Priscila. Havia acabado de entrar no facebook e praticamente todos os meus amigos tinham compartilhado o link que dava para o vídeo. Havia também dezenas de novas mensagens, e um montão de pedidos de amizade. Ah, ótimo.


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Notas finais do capítulo

Não ficou tão bom... Um pouco estranho, hauhsahjhw. Mas espero que tenham gostado mesmo assim *--* próximo capítulo só sábado. Reviews???