Winter is Coming escrita por Samantha Stark


Capítulo 16
O passeio em Porto real - capitulo 14




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Renly Baratheon era um verdadeiro cavaleiro, era tudo o que sua mãe prometera que um dia encontraria em um lorde que se casaria. Casar, pensou e sentiu o corpo estremecer. Durante a infância, Jon e Samantha tinham certeza que ficariam juntos para sempre, ele contava-lhe que a beijaria diante de toda Winterfell, isso a fazia corar, ela, por sua vez, dizia-lhe que gritaria “sim” tão alto que até mesmo os selvagens para-lá-da-muralha poderiam escutar. Eram tempos mais fáceis. Hoje, Samantha podia sentir o peso de ser a filha mais velha da casa Stark,  agradecera ao senhor seu pai por ter colocado Sansa como prometida ao príncipe, mas sabia que tais regalias não durariam para sempre, era quase uma mulher formada agora, sentia que o dia em que sagraria estava próximo e temia por isso. Seu maior desejo era casar-se com Jon, o homem que amava com todo o seu coração, mas oficialmente isso seria impossível. Primeiramente, havia a barreira de serem, querendo ou não, meio-irmãos, por mais que tentasse se convencer de que aquilo não se tratava de algo anormal, afinal, os grandes reis Targaryen casaram-se com suas irmãs e reinaram por muitos anos. Eram loucos, todos eles. A voz da velha ama soou em sua cabeça, ela costumava dizer as palavras do Rei Jaehaerys: “a loucura e a grandeza são dois lados da mesma moeda, "Sempre que um novo Targaryen nasce" dizia ele, "os deuses atiram uma moeda ao ar e o mundo segura a respiração para ver de que lado cairá." Mas ela não era um deles, era uma Stark de Winterfell, não poderia casar-se com Jon, jamais permitiriam. Além disso, ele era um bastardo, sem títulos ou terras, e ela, era filha de Ned Stark e Catellyn Tully, pertencia a uma Grande Casa e fora treinada para um dia casar-se e ser senhora do seu próprio castelo. Eram pensamentos infelizes, sentiu os olhos arderem e as lágrimas ameaçaram descer.

— Há algo de errado, minha senhora? - ouviu uma voz resgatando-a de seus devaneios

Virou-se depressa e uma mecha de cabelo soltou-se, cobrindo o seu rosto. Lorde Renly se aproximou e delicadamente a colocou atrás da orelha. Ela o olhou por um tempo, em silêncio, e ele a lançou um sorriso caloroso.

— o gato comeu sua língua? - riu o rapaz, lembrando que tinha dito o mesmo na noite em que se conheceram

Samantha sentiu o rosto arder e agora sabia que estava vermelha como um morango.

— Apenas saudades de casa, meu senhor, nunca antes estive tão longe - disse a garota

— Aposto que também sente saudades do frio do norte, não é? - Renly parecia falar sorrindo - Porto Real é quente como os sete infernos

— Sete infernos?

— Ah, perdão, minha senhora, esqueci-me de sua fé do norte

— Estava a falar da fé dos sete? não se desculpe, minha mãe tentou ensinar-me quando criança, Sansa orava com ela mas eu e Arya nunca entendemos muito - confessou -  o senhor meu pai construiu um pequeno septo para que ela pudesse cultuar sua fé, eu nunca senti que pertencia aquele lugar

— E aonde você pertence? - perguntou o jovem com genuína curiosidade, nunca conhecera tão de perto um nortenho, ainda mais um verdadeiro Stark, eram um povo estranho para ele, ao mesmo tempo em que eram fascinantes.

— “Nosso jeito é o antigo”, é o que meu pai costuma dizer - começou - ele nunca nos forçou a abraçar a fé nos deuses antigos, um dia por volta do sexto dia de meu nome, tive uma briga com uma garotinha que gostava de me aborrecer, corri por Winterfell até parar naquele lugar. O bosque sagrado. Caminhei por aquele lugar silencioso, olhei para o lago e suas águas negras como a noite e naquele momento, senti que estava sendo observada - Sam olhou de relance para o rapaz que a fitava praticamente sem piscar, de fato, interessado por sua história -  quando virei-me, eu vi o grande represeiro, o senhor meu pai costuma chamar-lhe árvore coração”...

— Temos um bosque sagrado em Ponta Tempestade e também na Fortaleza vermelha… bem, na verdade não é bem um represeiro…  desculpe, continue - riu o cavaleiro verde

— Então conhece bem um represeiro, seu tronco esbranquiçado como ossos, as folhas vermelhas como mãos sangrentas, e os rostos…

— ah, os rostos, bem sei, evitei durante todo o tempo nas Terras de Tempestade entrar naquele lugar, aquela árvore me da arrepios

— eu não senti medo, aquele rosto esteve ali durantes tantos anos que mal posso imaginar, veio antes de mim, ou de você ou de qualquer homem em Westeros, são os olhos dos deuses, eles guardam a história do mundo, sabia?

Renly não respondeu, continuou olhando a devoção da garota à sua crença.

— eu me senti tão acolhida naquele dia, sentei de frente a árvore coração e contei-lhe meus problemas, desde então, é o que venho fazendo, o bosque de winterfell é meu lugar seguro -  terminou Samantha enquanto o olhava

Renly sorriu-lhe, é uma garota especial, pensou. Ficou ali, em silêncio, admirando os traços delicados da jovem. Seus cabelos eram como a noite, negros e cintilantes. Seus olhos refletiam sua alma, e naquela manhã, estavam azuis como o céu de um verão sem fim. Tinha a pele alva e sardas nos rostos. Uma beleza pela qual vale a pena lutar, concluiu. Samantha o atraia de uma forma que nunca sentira antes. Percebeu que havia olhos nele, e virou-se para ver os donos. Loras Tyrell, o cavaleiro das flores, o olhava carrancudo.



Passado algum tempo na estrada, entre conversas e risadas, chegaram a uma grande estalagem. Era um lugar charmoso, com flores silvestres na entrada, uma senhora de olhos bondosos os aguardavam na porta.

— meu senhor, é uma honra recebê-los aqui, me chamo Mabel, a mesa que solicitou esta ao seu aguardo - disse a senhora fazendo uma leve reverência, não pareceu saber quem era Samantha, mas isso não a incomodava

— essa é Samantha, da casa Stark, primogênita de Eddard Stark, Mão do rei - anunciou um dos guardas do senhor seu pai, ela não sentia que havia necessidade para tais formalidades mas sabia que seria necessário.

A velha parecia ter levado um susto, sua reverência fora tão apressada que até parecia que estava curvando-se para a rainha, Sam esboçou um leve sorriso quando ouviu a senhora pedir perdão.

— esta tudo bem, senhora Mabel, não me ofende - disse por fim

A senhora os acompanhou até o interior do lugar. Um local ventilado e iluminado, revestido de madeira clara que dava ao local harmonia e um ar de frescor. Samantha estranhou a princípio, em Winterfell as tabernas eram pequenas e escuras, bem aquecidas para proteger os clientes do frio. Esse era um tipo diferente de taberna, o qual era novo para a visão da garota lobo. Sam analisou o lugar com olhos atentos, tinha um cheiro forte de comida mas não chegava a ser incômodo, as mesas eram da mesma madeira do restante do estabelecimento, cobertas com um forro branco e limpo, um pequeno vaso com flores silvestres de cores vivas encontrava-se ao meio. Era uma mesa para dois, Samantha observou. Renly Baratheon, galante como era, puxou a cadeira para a donzela acomodar-se, em seguida, sentou a sua frente. Não levou mais do que alguns minutos para que vários servos trouxessem comida a sua mesa, colocaram vinho na sua taça, explicando que eram especiais de Dorne, trouxeram costelas assadas de porco e tomates cortados, aparentemente bem frescos. Samantha bebericou um pouco do vinho, era saboroso, doce e suave. O senhor seu pai permitia apenas uma taça de vinho para os seus filhos quando aconteciam jantares especiais. Lembrara de um dia em que Jon roubara uma garrafa da cozinha, Robb e Samantha fingiram sentir uma forte dor de barriga e pediram permissão ao pai para retirar-se, mesmo preocupado, ele permitiu. Os três esconderam-se atrás de uma carroça e beberam toda a garrafa. No final estavam soltando gargalhadas ao vento e falando alto. Robb foi o primeiro a vomitar, depois ela. Jon estava acostumado a beber mais, dizia que era um privilégio de ser bastardo, não prestavam atenção nele. Jon tentou levá-los para os quartos antes que fossem pegos mas foi em vão, depois de subirem cambaleantes as escadas do castelo, encontraram o pai em pé de frente a porta do quarto dos meninos. Jon tentara explicar o que estava acontecendo mas antes que fosse capaz de dizer duas palavras, Robb vomitara nos pés do seu pai.

— Samantha? - Renly chamou novamente tirando-a de seus devaneios -  algo lhe desagrada? não gostou do lugar?

— Esta perfeito - Sam não demorara mais de um segundo para formular uma resposta, ainda que seu espírito estivesse mais no norte do que ali

— Venho aqui com certa frequência, as pessoas são boas, simpáticas

— As pessoas são boas com quem tem ouro a oferecer - Sam observou

— De fato - riu o cavaleiro verde - está especialmente bela esta manhã, um broto como esse não pode ficar para sempre escondido no gelo

Samantha lançou o melhor sorriso que conseguira. A verdade é que aquele broto jamais sairia de WInterfell se dependesse de suas escolhas. A jovem agora analisava o rapaz a sua frente, era belo e risonho, parecia ser um homem bom e a tratava como uma dama. Eles se davam bem. Mas Sam temia aquele encontro e o que poderia surgir disso, o senhor seu pai tinha um grande apreço pelo lorde de Ponta Tempestade, dizia-lhe que ele era a imagem viva dos tempos de glória de Robert, quando lutava a Batalha do Trindente e conquistara o trono de ferro. Pensou na ironia do destino, tentarem unir um homem cuja imagem lembrava Robert Baratheon e uma mulher que muitos diziam assemelhar-se a Lyanna Stark. Ela não poderia ser prometida a Renly, seu coração pertencia a outro e assim seria para sempre, nada podia mudar o que sentia por Jon Snow.

Renly começara a contar-lhe sobre os dias em Ponta Tempestade, de sua infância ao lado dos irmãos mais velhos, sobre como Robert erguia-se entre os demais, vencendo em tudo que lhe era proposto, sempre fora sua inspiração. Ao contrário do seu outro irmão, Stannis Baratheon, que sempre fora carrancudo. Durante a Rebelião de Robert, ele era apenas uma criança com seis verões vividos, e fora mantido em segurança para que não fosse tomado como refém. Disse que nessa época brincava sozinho pelo castelo, fingindo ser o que quisesse, até mesmo um rei. Confessou que desejava filhos um dia, não apenas para sucedê-lo mas também por ter um enorme apreço por crianças. Samantha gostava de ouví-lo falar, era um bom amigo, por vezes a fazia soltar risadas genuínas, não lembrara de um dia tão confortável desde que chegaram a Capital. Mal notaram o cair da noite, outros pratos foram oferecidos várias vezes durante o dia, mais vinho para o rapaz, bolinhos doces para a donzela.

— olhe só o tempo - exclamou Renly Baratheon olhando a janela - acho que seria prudente que voltássemos a Fortaleza Vermelha

— Certamente sim, meu senhor

Enquanto Renly acertava com a mulher o valor do que tinham consumido, Samantha observou uma criança entrar no estabelecimento. Era tão magra que o rosto ossudo parecia envelhecido, pequena como um filhote de rato. A garotinha esgueirou-se e pegou um pão, Samantha não falara nada mas agora a menina a encarava, tinha sido vista e temia o que lhe aconteceria. Distraida, continuou parada com o pão em mãos e foi ai que um dos trabalhadores a viu

— sua ratinha! - rosnou o homem, puxando a pelos cabelos

— não! pare! pare agora! - gritou Samantha enquanto saltava de seu assento

O homem pareceu se assustar, mas não soltou a menina que choramingava

— o que pensa que esta fazendo? - perguntou Samantha, com a voz tão firme que talvez nem ela mesma a reconheceria

— m-minha senhora - o homem gaguejou - ela estava roubando!

— é uma criança, não enxerga? uma criança faminta! - Samantha sentia a fúria dentro de sí - solte-a

O homem a soltou relutante e olhou para os guardas as costas da garota Stark. Samantha sabia que ele não a temia, ele temia os homens armados dispostos a morrer por sua segurança

— Tome - Samantha tirou uma moeda de ouro de um bolso escondido em seu vestido, seu pai dera em casos de emergência, e aquele era um - isso deve dar pra pagar três pães

O homem apressou para pegar a comida e entregar a Samantha.

— qual o seu nome? - ela perguntou a garotinha

— Gilly - disse, assustada

— aqui esta Gilly, não é muito, mas vai ajudar

— como se chama, senhora?

— Samantha Stark

A menininha abriu a boca em espanto

— a senhora é esposa da Mão do rei?

— não - samantha riu - filha dele

Gilly sorriu e abraçou os pães que recebera. Depois de agradecer, retirou-se da  taberna correndo. Samantha lembraria aquele nome, pediria aos Deuses que a protegesse.

Sentiu uma mão torcar-lhe o ombro. Era Renly Baratheon e ele lhe sorria.

— você é uma mulher incrível, Samantha - disse por fim










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Notas finais do capítulo

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