Apaixonados por maçãs escrita por Caramelkitty
Notas iniciais do capítulo
Eu sei que demorei! Me desculpem!
E o capítulo não tá lá essas coisas...
mas enfim, foi o melhor que eu consegui sob pressão.
Kaori perdera a conta de quantas lágrimas tinha derramado sobre a almofada assim como perdera a conta das vezes que revivera o que tinha acontecido de manhã. O ar estava quase salgado, porque a circulação era interdita pelas janelas fechadas com pesadas cortinas e a porta estava trancada, ainda com a chave pendurada na fechadura. Tudo o que se podia ver, no meio de toda aquela penumbra, era um montinho de cobertores que escondiam uma menina de coração partido.
A cabeça de Kaori chegava a doer de tão confusa que estava. No dia anterior, Raito tinha-a beijado e hoje tinha-a ignorado. Pior, tinha-a tratado como se ela fosse louca e tivesse imaginado tudo aquilo. Mas Kaori sabia que não estava a ficar louca!
«Eu não posso ter sonhado tudo aquilo...»
Mas então qual era a explicação lógica? Raito tinha sido tão carinhoso com ela... e hoje a única vez que a olhara, fora com desprezo e frieza. As palavras dele ressoavam-lhe na cabeça:
Kaori, que estás a dizer? Nós saímos juntos? Deves estar a ficar louca se achas que alguém iria querer sair contigo. Quanto mais eu, né, Kaori? Será que estás tão perdida de amores a ponto de imaginares que eu também me apaixonaria por ti? Faz-me um favor, Kaori, não fales mais comigo, as pessoas podem achar que somos amigos...
O pior era que a garota sabia que Raito estava a mentir. Ele lembrava-se perfeitamente de tudo o que tinha acontecido, apenas queria fingir que não. E a pergunta era: Porquê? Mai consolara-a, fizera um longo discurso de como os rapazes eram idiotas e lamentara com sinceridade a forma cruel como Raito «brincara» com ela. Mai tinha dito que a melhor coisa a fazer nesses momentos era encher a cara de chocolate, só que Kaori era alérgica a chocolate e também não podia nem ver uma maçã pela frente. Isso só avivava as recordações do dia anterior. O pomar era real, Rina ainda tinha o corte nos lábios, tudo tinha acontecido, as provas eram inúmeras. Só havia uma explicação! Raito estivera mesmo a divertir-se com os seus sentimentos. Tivera o mau gosto de fingir estar apaixonado por ela e no final o prazer de a dispensar com o maior sorriso de cafageste da Terra.
«Ele não podia ter feito isso! Porque é que ele me odeia? Eu nunca fiz nada para ele!»
Kaori queria odiá-lo igualmente. Queria sentir o corpo fervilhar de ódio ao lembrar-se do que aquele idiota tinha feito com ela, mas simplesmente não conseguia. Ao invés, dava por si a perguntar-se o que ela tinha de errado afinal, que ninguém a queria. Sim, nunca fora bonita, ou interessante, ou inteligente. Nunca fora talentosa nem atleta. Como se não bastasse, era estranha o bastante para ninguém querer aproximar-se. Era viciada em maçãs, chorava muito,vivia no mundo da lua e acreditava em espíritos.
«Como alguém pode interessar-se por alguém tão... criança como eu? Eu fui muito estúpida de me envolver com o Raito, bem que o meu pai me avisou.»
Deslocou-se um pouco, destapou a cabeça e procurou na gaveta da cômoda um desenho que fizera recentemente a lápis de cera. Numa folha de papel branco, um Raito sorria para ela. Não estava perfeito, evidentemente, parecia mais um boneco de feições grotescas mas havia algo que logo chamou a atenção de Kaori. Os olhos vermelhos que a ela tanto lhe cativaram. E algo fez um clique no seu cérebro.
A rapariga esperava, encostada ao portão da escola a chegada de Raito com tanta ansiadade que o coração quase lhe saltava pela boca. Eis que enfim o vê, chegar sozinho, como sempre, nos seus passos firmes e decididos.
– Raito-kun! Bom dia!
Ele lançou-lhe o tal olhar de desprezo e repulsa. Um olhar que fez Kaori se encolher. E só agora Kaori reparara num pormenor. Os olhos dele tinham voltado a ficar laranja.
– Sai da frente, miúda. Estás a atrasar-me! – Respondeu ele, num tom de voz extraordinariamente suave para quem parecia estar zangado.
A voz também voltara ao normal. Raito tinha se recuperado da constipação.
Ao passar por Kaori, o rosto da rapariga era um espelho de horror.
«Não, voltou tudo ao normal!»
– Normal! – Murmurou. – Há algo muito errado nisto tudo. Eu não sei o que é, mas eu quero descobrir.
Passou o dedo pelo vermelho dos olhos do Raito representado no desenho.
– Raito, eras mesmo tu naquele dia? Ou seria um irmão gêmeo?
Kaori deixou-se cair sobre a cama.
– Eu podia brincar aos detetives e investigar isto, mas não quero magoar-me mais! Eu quero... eu só queria que alguém gostasse de mim pelo que eu sou. Mesmo eu sendo uma louca que fala sozinha.
Bateram à porta. Uma voz preocupada fez-se ouvir.
– Kaori, está tudo bem? Estás trancada aí há horas!
– Está sim, mamãe! – Respondeu a menina, mas deu por si a soluçar.
– Kaori, estás a chorar? O que aconteceu? Abre essa porta, por favor, filha!
Kaori cedeu. Abriu a porta e deixou entrar a mãe que de imediato a abraçou. A mãe de Kaori, Sakura, era a sua segunda melhor amiga. Tinha cabelos loiros iguais aos da filha, mas os seus olhos eram azuis. As rugas da idade não conseguiam esconder o quanto ela era linda.
Depois de contado todo o ocorrido, a mãe de Kaori não conteve uma exclamação de indignação.
– Oh, mas diz-me imediatamente quem é esse Raito, que eu vou até à casa dele e lhe dou uma tareia.
– Não, mãe, por favor. Eu não quero mais que ele se incomode com a minha presença.
A mãe suspirou, cansada da fraca auto estima da sua Kaori.
– Não contes ao pai o que aconteceu. Ele odeia o Raito, acho que era capaz de não conseguir impedi-lo de lhe dar uma sova. E isso só arranjaria problemas. Eu não quero causar mais transtorno do que já causo.
Sakura sentou-se ao pé dela na cama e começou a tentar mudar de assunto.
– Lembras-te quando eras pequenina, mesmo pequenina. As tuas tias perguntaram-te com quem querias casar no futuro. Elas foram crueis, perguntarem-te algo assim. E tu, provavelmente não te lembras, mas disseste que querias casar com uma maçã. As tuas tias pediram para que eu te internasse. E olha que elas nem sequer te viram falar sozinha.
Kaori manteve os olhos baixos e uma lágrima solitária deslizou-lhe pelo rosto.
– Eu devia estar internada! Talvez no hospício eu encontrasse a minha alma gêmea.
– Não Kaori! Não é no hospício que irás encontrar quem te ame. É nos céus, nas estrelas, num outro mundo quem sabe.
Kaori pousou os olhos verdes na sua mãe querida.
– O que queres dizer?
– Quero dizer que estás destinada a ficar com alguém muito especial. Especial como tu, minha nana. – Justificou a mãe roçando o nariz no da filha. – Por isso... não chores mais por quem não merece.
Kaori deu um breve sorriso, que ainda soou forçado.
A mãe pegou no desenho de Raito que Kaori fizera na noite passada e ameaçou rasgá-lo. Kaori pulou da cama e interveio.
– Não! – Tirou o papel das mãos da mãe. – er... eu mesma faço isso!
A mãe acenou, compreensivamente e saiu do quarto.
– Mãe... – Chamou Kaori. Ela voltou atrás para ouvir o que a sua filha queria dizer-lhe. Esperaria qualquer coisa, menos o que na realidade ouviu. – Há alguma chance de o Raito ter sido possuído por um espírito?
A mãe não conteve uma gargalhada.
– Acho que não filha! Mas... é uma opção a considerar. – Brincou. Ao descer as escadas, porém, o seu semblante voltou a ficar sério.
«Kaori é mesmo... uma menina estranha!»
Enquanto isso, a própria atirava uma bola de papel amachucado contra a parede do seu quarto. Mas logo voltava a ajuntar a bola do chão sem indícios de qualquer raiva. Voltou a alisar a folha e analisou mais uma vez o desenho.
Ela queria tanto ver Raito de novo. Mas não o frio Yagami Light que a destratara e humilhara. Ela queria ver o seu Raito de olhos vermelhos.
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