Apaixonados por maçãs escrita por Caramelkitty


Capítulo 7
Death note


Notas iniciais do capítulo

telemóvel = celular
montra = vitrina



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/499325/chapter/7

Yagami Light estava sentado à sua secretária com a televisão ligada no volume mínimo. Todas as noites era a mesma rotina. Os criminosos eram anunciados pela media e Raito escrevia os seus nomes no Death note, delineando diferentes horários para as suas mortes sempre com o olhar fixo nas fotos apresentadas na TV. Alguns rostos com fúria sádica, outros conformados, alguns uma mistura dessas duas reações. Haviam mesmo alguns rostos que apresentavam uma certa tristeza, algum arrependimento. Algo que Raito provavelmente nunca iria demonstrar: arrependimento por todos os homens que matara. Ryuuku tinha a certeza: Raito era como eles, como esses assassinos, os seus objetivos podiam ser justos, mas os meios para os alcançar não eram de todo os mais nobres. E essa história de Deus de um mundo de esplendor... modéstia desmedida, sem dúvida.

– Raito, não achas que foste um pouco cruel com a Kaori?

O estudante pré universitário revirou os olhos pela décima vez antes de encarar o shinigami.

– Já repetiste isso pelo menos 10 vezes. Pareces um telégrafo avariado! Vê se mudas de tema. A culpa não foi minha, foi tua. Se tu decidiste criar falsas ilusões à menina, eu não tinha obrigação de manter a farsa. Não querias ter experiências humanas? Já tiveste, foi divertido, volta a agir como um shinigami, come uma maçã e vê se finges que essa Kaori não existe. Ou pelo menos não me fales mais nela, nunca fui muito de ter amigos precisamente por isso. Quando se apaixonam por uma garota... ficam insuportáveis! – Resmungou.

Ryuuku estava sem vontade de comer maçãs. Elas faziam-no lembrar-se da Kaori. Se Raito não soubesse da história toda, poderia pensar que o Shinigami estava doente.

– Mas Raito... podias ter sido mais simpático. – Censurou.

Raito passou as mãos pelo desalinhado cabelo loiro arruivado, como que exausto. Levantou-se da secretária, afastou levemente as cortinas e mostrou um homem que estava parado na esquina, iluminado por um candeeiro. O homem usava uma gabardine simples cinzenta e um chapéu também cinzento que pouco deixava à mostra o cabelo loiro escuro. Quando se sentiu observado, o homem lançou um olhar para a janela do quarto do rapaz, mas tudo o que viu foi um leve remexer de cortinas que podiam ser sido simplesmente sido golpeadas pelo vento. O seu olhar verde profundo ficou algum tempo pousado na janela antes de voltar a olhar para nenhum ponto em especial.

– Eles estão a vigiar-me, Ryuuku! E não fazem questão de escondê-lo. L desconfia de mim, senão não enviaria um detetive para a porta da minha casa. – Raito voltou a afastar as cortinas e enfiou a cabeça de fora, como se estivesse a aproveitar o ar noturno. Porém, com uma capacidade habilidosa, espiava de vislumbre o homem. Ele fazia-o lembrar alguém, mas não sabia exatamente quem. Voltou a fechar a janela e cerrou as cortinas.

Deitou-se na cama de barriga para cima e mãos a apoiarem a cabeça.

– Tenho de me livrar dele! E terá de ser de uma maneira habilidosa e que não levante mais suspeitas. Como vês Ryuk, não tenho tempo para os teus conflitos amorosos e não tenho paciência para ser delicado com aquela chata da Kaori. Iria ser um desperdício do meu carisma. Agora, fica em silêncio, que quero dormir.

– Mas é cedo! – Protestou o Shinigami. – Amanhã não tens aulas!

– Mas tenho um detetive na minha cola e um teste na segunda feira! Por isso, finge que és uma pedra, um arbusto, algo não falante. – Resmungou Raito, quase a cair no sono.

Ryuuku ficou imóvel e calado até de madrugada.

******************************************************************************

Kaori não queria ir ao supermercado fazer compras!

Não era fútil ao ponto de conseguir estar alegre numa loja de roupas durante uma tarde inteira como a sua mãe. Enquanto Sakura corria de um lado para o outro tentando arranjar vestidos e bandeletes para a filha, Kaori olhava sonhadoramente uma libelinha que pousara no vidro da montra. De repente alguém chocou violentamente com ela.

– Desculpe. – Disse Kaori, sempre educada, antes de perceber que não tinha sido um empurrão acidental mas antes um intencional.

– Olha quem ela é, a maçã podre! – Ouviu-se a voz de Suzuna. Lá estava a chefe das líderes de torcida, com a sua cintura bem torneada com a nova saia, longos cabelos pretos quase até à cintura e unhas de gel de quase 20 centímetros que podiam muito bem esconder, debaixo de cada uma, um espigão de veneno, como a personagem Irina no livro das 39 pistas.

Atrás de Suzuna, vinha o tractor, o bujo de canhão, o rinoceronte insensível, Rina. De braços cruzados e dentes puxados para cima como os cães da raça pequinês, esperava ordens.

Kaori olhou desanimada para as duas.

– Deixem-me em paz, por favor, hoje eu não estou com disposição para isso.

– Owww, a chorona está triste porque o Raito deu o fora nela? A sério que pensavas que ele tinha um mínimo interesse em ti? És patética! – Lançou uma gargalhada maligna. Relanceou o olhar para a companheira. – Ri!

Rina soltou uma gargalhada seca e grossa, que assustou todas as pessoas a menos de um metro de distância.

Suzuna tirou do bolso um telemóvel touch com uma estrela colada na parte de trás e começou a procurar alguma informação.

– E sabes o que eu postei na internet, Kaori? Sabes o quê? O que será que foi, hein, maçã podre?

Kaori começou a tremer. Não, não era possível! Elas não podiam ter colocado o nome do seu pai na internet. Kira iria matá-lo! Conteve uma crise de choro e esperou até que Suzuna espetasse na sua frente o ecrã.

As lágrimas escorreram pela cara da menina. Lágrimas de alívio, porque Suzuna apenas colocara no Facebook a notícia da sua mais recente desilusão amorosa. O seu pai estava a salvo. Estava ainda aterrada demais para poder emitir qualquer som por isso apenas conseguia fixar a foto dela com algumas imperfeições feitas em Photoshop, enquanto mais lágrimas brotavam dos seus olhos e iam juntar-se às restantes.

Suzuna interpretando mal o choro de Kaori, riu novamente e disse com malícia.

– És uma idiota! Uma fraca! O rapaz aproveitou-se de ti e depois mandou-te passear e tu simplesmente ficas aí, encolhida a chorar como a estúpida que és!

– Eu só não quero arranjar problemas... – Conseguiu justificar-se Kaori.

– Já arranjas problemas pelo simples facto de estares viva! Agora vais a casa do Raito e vais exigir que ele te explique o motivo do desprezo.

– Porquê?

– Porque eu vou a-do-rar ver o Raito a desprezar-te mais uma vez. Talvez ele até te expulse de casa, não seria maravilhoso? E eu terei o meu telemóvel para filmar todo o momento e postarei ainda hoje. Não é todos os dias que a escola tem uma palhacinha, não é? Temos de fazer render um pouco.

O primeiro pensamento de Kaori foi recusar. Não tinha a mínima vontade de ser rejeitada mais uma vez. No entanto lembrou-se que Suzuna tinha de facto armas contra ela. Suzuna deixara bem explícito: haveria uma postagem ao fim do dia. Agora o conteúdo só dependia de Kaori. Não teve qualquer dúvida na escolha. Preferia mil vezes ser humilhada durante os restantes dias que passasse na escola do que pôr em risco a vida da sua família. Por isso acenou pesarosa. Suzuna deu um sorriso arrogante e saiu da loja altiva, seguida por Rina. Kaori foi até à seção de joalheria onde a sua mãe estava quase de nariz colado à montra.

– Mamãe, eu vou ter que resolver umas coisas, volto cedo para casa, está bem?

– Tudo bem, querida. Mas... aconteceu alguma coisa? Estás com um ar tão deprimido.

Kaori tentou negar.

– Só estou cansada.

Depois de ter conseguido despistar uma mãe preocupada, Kaori saiu da loja e dirigiu-se a passos apressados a casa de Raito, sentindo duas sombras a seguirem-na de perto. Ainda conseguiu ouvir as risadinhas antes de tocar à campainha.

Uma mulher, que Kaori deduziu ser a mãe do Raito, veio atendê-la.

– Bom dia, senhora. O Raito está? Preciso de falar urgentemente com ele.

– Ele ainda está no colégio, ficou a ajudar os professores. Como representante da turma ele tem esse dever. Porém, deve estar quase a regressar. Entra, podes esperar no quarto dele. O que é tão urgente?

Kaori foi conduzida pela senhora Light até ao quarto de Raito e enquanto subia as escadas foi explicando:

– Eu sou uma... amiga dele. Vim esclarecer uns detalhes sobre o trabalho de Biologia.

A mãe de Raito deixou-a no destino e voltou a descer as escadas para ir verificar o frango que tinha deixado ao lume. Enquanto isso, Kaori olhava atarantada em volta, sem saber o que fazer sentindo-se uma intrusa naquele quarto. Acabou por sentar-se à secretária balançando as pernas curtas em nervosismo. Viu uma caneta que estava em cima da secretária e começou a rabiscar um papel de rascunho com algumas flores e coelhinhos. Assustou-se ao ouvir uma voz atrás dela.

– Queres alguma bebida?

Era apenas a senhora Light, mas a menina tomou tal susto que deixou cair a caneta. Jogou-se no chão para a recuperar. Enquanto tateava a madeira em busca do objeto ia tartamudeando.

– Não, obrigada, não quero nada!

Quando enfim encontrou a caneta tentou levantar-se mas bateu com a cabeça no tampo da secretária. Resmungou e os seus olhos foram parar instintivamente num pormenor. Havia um buraco na parte de baixo da gaveta.

– Caruncho. – Pensou.

Procurou por todo o quarto algo que pudesse ajudá-la a encontrar o bichinho comedor de madeira mas não teve outro remédio senão usar o bico da caneta. Mesmo assim era muito grande. Foi então que teve a ideia de usar a carga. No entanto, ao invés de encontrar o caruncho, ouviu-se um estalido e só então é que Kaori percebeu que aquilo era na verdade um fundo falso.

«Puxa, eu sou bem lerdinha de não ter percebido antes.» pensou com um revirar de olhos.

Sempre curiosa, não conseguiu resistir a dar uma vista de olhos. Levantou bem devagarinho a tampa e espreitou para a penumbra conseguindo distinguir a forma de um caderno que era completamente preto. As letras brancas destacavam-se: Death note.

– Que será isso, agora? – Sussurrou passando os dedos pela superfície do caderno. Kaori sabia que não devia estar a fuçar nas coisas dos outros mas se já tinha chegado até ali não faria qualquer diferença ver ou não o conteúdo do caderno que a deixara curiosa já pelo título. Olhou mais uma vez para a porta para verificar que estava sozinha e por fim atreveu-se a folhear algumas páginas.

Qual não foi o seu espanto quando reconheceu os nomes de muitos dos criminosos que tinham morrido de ataque cardíaco. Não demorou muito a que Kaori percebesse como funcionava o caderno, as instruções eram bem claras. Só que, simplesmente, a garota não queria acreditar.

«Raito é... ele... matou toda esta gente. Raito é... KIRA!»

Foi então que ela ouviu uma voz que lhe pareceu estranhamente familiar.

– Se eu fosse a ti, voltava a pôr esse caderno no sítio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo em breve!
Espero que tenham gostado.
Eu sei que foi meio estranho Kaori ter descoberto o Death note tão ao acaso, mas não é assim que algumas das maiores descobertas da ciência são feitas? Sem querer?
Comentem...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Apaixonados por maçãs" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.