Sun Goes Down escrita por Jojo Almeida


Capítulo 6
Travis, 20:38


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei. Eu devia escrever pra Ticket to Ride, ou pra Partners in Disguise.
Mas não é culpa minha se minha inspiração só funciona para essa fic!
Argh.



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“Isso é ridículo. Eu não consigo nem pensar em nada mais ridículo do que isso.” Eu digo, quando Polux passa pela porta do banheiro.

“Eu disse. Caras não vão juntos ao banheiro.” Connor resmunga. “Não é assim que funciona.”

“Nós não vamos passar a noite procurando por mim.” Eu digo a ele, irritado. “É uma completa perda de tempo.”

“Não, é diversão e você é um cara que precisa desesperadamente de alguma diversão. Você está com essa” Connor faz uma careta perturbadora. “cara há meses.”

“Eu não estou com essa cara.”

“Acredite. Você está.” Ele me segura pelos ombros. “E é essa a cara que eu vou ficar quando Miranda me chutar porque ela acha que eu menti.”

“Miranda está te chutando a meses. Você só nunca percebeu.” Polux argumenta, mas Conn o ignora completamente.

“Por que você disse isso, cara?” Eu pressiono as mãos sobre os meus olhos, lembrando a mim mesmo de contar até dez. “Você não pode sair por aí falando que conhece Hitch. Não é assim que funciona.”

“E por que não?”

“Porque eu não existo, lembra?!” explodo. “Merda, Connor. Eu não pinto porque eu quero ser legal, ou porque eu quero pegar garotas. E graffiti é vandalismo. Eu posso ser preso!”

Connor revira os olhos. “Dá pra parar com essa baboseira de arte pela arte, só hoje?”

“Tanto faz, Agora é tarde demais.” Polux balança a cabeça. “Nós temos que jogar com isso. Ou elas vão achar que nós somos mentirosos, e ninguém vai ganhar nada.” Ele se encosta na pia. “Ow. Merda.”

“O que?” Conn pergunta.

“Eletricidade estática.” Polux muda mexe na sua calça jeans desconfortavelmente.

“No seu pênis?” Connor ri. “Como é que você consegue todas aquelas garotas, de qualquer jeito?”

Ele ignora Connor e se vira para mim. “Deixa rolar, Trav. Eu imploro. Eu estou de joelhos implorando para você.”

“Você está em pé, em um urinol, prestes a mijar.”

“Não me faça ajoelhar nesse chão. Você sabe quantos germes devem ter nesse banheiro?”

Eu balanço minha cabeça e rio, e ele sabe que me convenceu. “Duas horas e é isso.” Eu digo. “Nós não contamos que eu sou o Hitch, não importa o que acontecer. Nós vamos a alguns lugares, fingimos procurar e damos um jeito de mudar os planos.”

Connor sorri. Ele está gostando disso até demais. Eu posso vê-lo lá fora, conversando com Miranda, e simplesmente deixando alguma coisa escapar porque ela está bonita demais naquela blusa dourada ou coisa do tipo. “Não importa o que acontecer, nós não contamos.”

“Não importa o que acontecer.” Connor repete.

Eu não acredito nele nem por um segundo, mas decido que não vou contar para Miranda que ele mentiu porque eu sei o que é querer uma garota tanto assim. Eu sei o que é ser arrastado na merda, sem nem se importar, só pela pequena esperança de qualquer coisa qualquer dia.

Eu sei por causa de Arabella.

Era uma festa de qualquer coisa por qualquer motivo, e eu estava louco para sair dali. Tinha gente demais, e o ar estava úmido e pesado, como sempre acontece no final do verão. Eu só conseguia pensar nesse haicai que tinha lido mais cedo, sobre peixes vermelhos e perseguir estrelas.

Eu saí pela porta dos fundos, arrastando Connor, e ela estava sentada do lado de fora do café, praticando um truque de mágica.

“Hey! Escolhe uma carta.” Arabella pediu, sem nem se apresentar. Eu larguei meu irmão e cheguei mais perto da pequena roda de pessoas da qual eu normalmente passaria longe. Peguei um ás de copas.

“E agora?” perguntei. Ela sorriu.

“Eu não faço a menor ideia. Mágica é uma merda.”

“Você não pode culpar a mágica se você é uma merda em praticá-la.” Eu observei.

“Mágica é ilusão. É fazer com que as pessoas acreditem que veem uma coisa quando, na verdade, não veem. Até onde eu sei, isso passa bem perto da definição de merda.”

“E não é isso que todo mundo quer? Um pouco de ilusão?” eu encolhi os ombros. “Vai ver mágica não é uma merda. Vai ver todo o resto é uma merda.”

“ Você tem fogo?” perguntou, colocando um cigarro entre os dentes.

Eu tirei o isqueiro do bolso e acendi o cigarro para ela. Observei enquanto ela tragava e jogava a cabeça para trás, deliciada, meio sem saber o que fazer com as minhas mãos.

Tentei devolver o ás de copas, mas Arabella apenas sorriu.

“Pode ficar com a sua ilusão.” Disse, colocando o resto do baralho em sua bolsa sem muito cuidado. Eu dei de ombros, e meti a carta no bolso de trás do meu jeans. Fiqui em silêncio enquanto ela fumava, pensando sobre os peixes. Não consigo lembrar exatamente quais eram as palavras do haicai, mas a mensagem era algo como: as pessoas falam sobre perseguir estralas, mas acabam como peixes vermelhos em um aquário.

Arabella não parecia remotamente com um peixe vemelho.

Ela me deu seu cigarro, e eu traguei calmamente. Da sua bolsa de Marry Poppins, Arabella tirou um pick n’mix. “É o último” disse, como que para explicar que não iria me oferecer o doce. Meus pensamentos ficaram cada vez mais rudes, enquanto ela falava e mastigava o seu último pick n’mix.

Quando acabou, Arabella se levantou.

“Você não vem?” perguntou, percebendo que eu não tinha a seguido. Eu olhei para Connor, meio inconsciente, a alguns metros de nós.

“Claro.”

Foi uma das noites mais estranhas de toda minha vida. Mas, eu tenho certeza, foi uma ótima noite. Eu achei que Arabella seria apenas isso: uma ótima noite. Por alguma outra razão, ela parecia sempre voltar para mim. Essa ótima noite se tornou duas ótimas noites, e então uma série de ótimas noites se seguiram. Nós íamos aos lugares mais loucos, e ficávamos lá até termos as maiores aventuras. Então, quando amanhecia, andávamos para casa de mãos dadas, e por um instante todas aquelas luzes nas fábricas eram estrelas.

Eu sabia tudo sobre Arabella, mas não sabia nada sobre ela. Se ela fosse um livro, eu lia apenas as notas de rodapé de um capítulo fora de contexto vagando no espaço. Eu sabia quase tudo sobre essa Arabella, que ela era agora, que respirava e ria e falava. Por outro lado, eu sabia quase nada sobre a Arabella, como pessoa completa. Sua família? Não sei dizer se ela tem uma. Onde morava? Por aí. Faculdade? Não sei se ela cursa. Qual é sua opinião a respeito de cup-noodles? Essa eu sei.

São Francisco está cheia de Arabella. Para todos os lados. Você nem precisa procurar tanto assim. Eu tive a decência de me certificar que toda a cidade recebesse um pouquinho dela em suas paredes. Normalmente, são palavras. Palavras e palavras e palavras. Talvez seja por isso que eu não consigo mais escrever: porque Arabella levou todas as palavras com ela.

“Para quem mais você contou?” Eu pergunto para Connor antes de nós sairmos do banheiro.

“Ninguém. Só Miranda.”

Eu passo meu braço no batente da porta, impedindo a passagem.

“Okay. E Arwell. Só.”

Eu não me mexo.

“E um ou dois amigos de Arwell. Mas só isso!”

Eu balanço a cabeça. Bom, não é totalmente inesperado. Arwell é um dos garotos que Connor dá aulas de matemática voluntariamente ao sábados, na nossa antiga escola. Ele é russo, e, segundo Conn, um gênio.

“Arwell tem uma das maiores bocas da cidade. E se nós encontramos com ele?”

“Ele tem prova de segunda chamada amnhã de manhã. Relaxa Trav, Arwell não deve sair de casa.”

Eu semicerro os olhos e me aproximo. “Se você falar para mais uma única pessoa, eu juro, Conn, todo mundo vai saber daquela vez que-”

O telefone de Connor começa a tocar, me interrompendo. Ele se esquiva de mim para atender, e fala brevemente.

“Nós temos que passar em uma festa. Para resolver alguns detalhes do trabalho com Bunker.” Anuncia quando desliga. “Não deve demorar muito.”

“Que tipo de festa?” Polux pergunta.

“Festa do Jake tipo de festa.”

Eu assovio. “Vai ser difícil explicar pras garotas uma festa do Jake.”

“Uma festa do Jake vai ser perfeita. Ele não sabe que você é o Hitch.”

“E se as garotas ouvirem sobre o trabalho?”

“Elas não vão.”

“Elas podem.”

Connor pede para Polux que nos espere na mesa e, quando estamos sozinhos, ele diz: “Olha. Você não precisa fazer esse trabalho, mas você tem que me falar agora. Depois que nós falarmos com Bunker vai ser tarde demais.”

“Eu sei.” ele não parece irritado. Eu faço sua prova de cálculo, eu forjo aquela assinatura, eu bato naquele cara pra você, sem problemas. É isso que Connor faz, mas ele não pode forjar e bater por mim para sempre. Ele não pode pagar minhas contas. “Eu estou dentro.” Digo, e ele assente. É isso. Ele não vai me perguntar de novo.

De volta à mesa, Polux está contando para Miranda e Silena a respeito dessa festa irada em que Hitch com certeza iria. Silena parece animada, mas Mi olha para ele tanto quanto cautelosa antes de começar com as perguntas. “Festa de quem?”

“Do Jake.” Polux responde.

“Jake? Que faz música?” Miranda sorri. “Por que você não disse antes? Jake é amigo de Katie!”

“Que Katie?” Eu pergunto.

“Gardner?” Si responde franzindo o cenho, como se eu fosse idiota. Tenho que segurar meu riso. Katie Gardner, de todas as pessoas, é amiga de Jake? Desde quando? Só acredito vendo.

“Então vocês estão dentro?”

“Claro.” Mi diz. “Só... vamos falar com Kay antes. E... nós temos que ficar por aqui mais um pouco.”

“Mais um pouco... quanto?”

“Uma hora?” ela sorri sem jeito. “No máximo. Katie disse que...”

Miranda continua a falar, mas eu simplesmente paro de ouvir. Acho que nunca vou saber o que Katie disse, afinal. Não consigo tirar os olhos da bartender atrás do balcão. Ela está de preto, de costas, se esticando para pegar uma garrafa das prateleiras mais altas. Para completar tem uma silhueta tanto quanto... interessante. Muito interessante. O tipo de silhueta sobre a qual escrevem sonetos, se é que isso faz algum sentido. O tipo de silhueta que eu não reclamaria nem um pouco de ter ao meu lado em uma cama.

Eu bato no braço de Connor, ao meu lado, para chamar sua atenção. “Hey” falo, indicando a bartender com a cabeça. “Quem é aquela?”

Não há tempo para a resposta. Ela se vira, e eu sinto que acabei de levar uma facada.

“Katie Gardner?” Eu murmuro em choque. “Que merda ela está fazendo ali?”

Connor abre a boca para me responder, mas eu já estou de pé, andando em direção ao balcão. Por um segundo, é como se eu fosse uma terceira pessoa completamente imparcial, que assiste as ações inconsequentes de um corpo mais ou menos parecido com o meu numa tela de cinema.

“Hey! Gardner!” chamo quando estou perto o suficiente. “O que você está fazendo aí?”

Ela franze o cenho, confusa, tentando equilibrar a garrafa de whiskey e os dois copos nas mãos.

“Eu trabalho aqui.”


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Notas finais do capítulo

Travis, tão bobão, coitado.
Algo a dizer sobre a Arabella?
Mandem reviews, gente linda. Porque gente linda manda reviews. E vocês são gentes. E assim, acho que devem ser bem lindos.
Beijinhos!