Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 4
A mensagem na parede




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/498027/chapter/4

A data mais comemorada no mundo bruxo havia chegado. O Halloween trazia mesas fartas, decoração em cores quentes e as abóboras gigantes de Hagrid espalhadas pelo ambiente, fazendo várias caretas. Sacolas de doces eram carregadas pelos alunos, que estavam animados demais com toda a festividade.

Era só pensar em tudo isso pra John se arrepender pela enésima vez de ter aceitado ir ao aniversário de morte de Nick-Quase-Sem-Cabeça. A celebração nas masmorras era totalmente contrária ao ar animado e festivo do salão principal. Ali só tinha uma música fúnebre e desafinada, uma mesa cheia de comida podre e uma decoração mais lamentável que um soneto cantado pelo Filch. Fora os numerosos seres esbranquiçados e transparentes que faziam o ambiente ficar cada vez mais frio.

Mas Sherlock parecia maravilhado:

— É a primeira vez que vejo o aniversário de morte de alguém...

— Sherlock, eu preciso comer alguma coisa ou vou morrer e me juntar a esses fantasmas.

— Shhh! — Fechou os olhos e colocou as mãos nas têmporas — Preciso colocar essa experiência no meu palácio mental.

— Oh, Deus...

John se encostou na mesa e se limitou a observar a lamentar a própria situação. De todos os alunos de Hogwarts, por que ele foi se interessar justamente pelo mais estranho?

Haviam caras conhecidas ali. Frei Gorducho, o fantasma da Lufa Lufa, a Dama Cinzenta, o fantasma da Corvinal, e um ser que já fora um homem nobre, mas que agora pairava pela escola com cara de poucos amigos e coberto de um líquido prateado. Barão Sangrento, o fantasma da Sonserina.

Das caras novas, a que mais chamou a atenção de John era a de uma garota encolhida numa mesa distante. Não era atraente. Nem um pouco. Tinha cabelos pretos, presos em maria-chiquinha, óculos fundo de garrafa e uma cara de quem lamenta por saber que jamais seria escolhida para ser a rainha do baile.

— AHÁ! ESTÁ OLHANDO A MURTA! – A voz estrondosa e agoniante de Pirraça, o poltergeist, fez John dar um pulo para trás e Sherlock sair de seu palácio mental.

A tal Murta gritou feito um agouro ao ouvir o próprio nome:

— POR QUE ESTÁ OLHANDO PRA MIM? VOCÊ ME ACHA FEIA? ACHA?

— Heim? Não! — John logo se desculpou ao ver a fantasma deslizar em sua direção — Não, não acho não!

— ACHA SIM! — Pirraça começou a gargalhar alto — MURTA FEIA! ESPINHENTA!

— PÁRA! — Murta começou a choramingar e saiu de lá rapidamente, esfregando os olhos e com Pirraça em seu encalço.

Os demais fantasmas não pareciam se incomodar com o alvoroço que Pirraça e Murta estavam fazendo. Talvez porque se sentiam bem em ambientes atormentados ou então simplesmente estavam acostumados com o drama de Murta e o aborrecimento gerado por Pirraça.

O estômago de John roncou e o rapaz abraçou a própria barriga:

— Eu espero que ainda tenha sobrado um pouco do jantar...

— Jovem Watson! Jovem Holmes! — A voz pomposa de Nick-Quase-Sem-Cabeça surpreendeu os meninos.

Nick estava acompanhado de um fantasma sem cabeça e com vestes de cavalaria.

— Ah, aqui estão! Os garotos que solucionaram o roubo da pedra filosofal e impediram aquele-que-não-se-deve-nomear de levá-la. Meninos, este é Sir Patrício Delaney-Podmore.

— Ola, vivos! Enfim um monte de ossos que vale a pena dar alguma atenção nessa escola. Claro, tirando o próprio Dumbledore. — Ponderou o fantasma arrogantemente.

— Sim, sim... E então, meninos? Podem falar ao Sir Patrício o que acham de mim?

John esqueceu sua fala.

— Ãh? É... Bem.

— Um fantasma com a cabeça pendurada é fantasticamente horripilante — Sherlock respondeu com a voz tão cortante que os fantasmas e John emudeceram — Ele pode levar qualquer trouxa aos gritos com sua cabeça pendurada no pescoço por um mísero fio de pele. Os vivos estão acostumados com fantasmas sem alguma parte do corpo, mas com a cabeça pendurada? Isso atormenta um cérebro comum. 

O tom de Sherlock soava tão convincente que John até se esqueceu de que estavam falando do mesmo Nick e sentiu vontade de estar frente a frente com um fantasma tão assustador. Na verdade, o próprio Nick-Quase-Sem-Cabeça parecia impressionado consigo mesmo.

— Agora se os fantasmas me permitem, John e eu temos que ir. Ele tem essa mania de querer comer, sabe?

— Ah... Claro, claro. — Sir Patrício ficou gesticulando um pouco confuso — Foi um prazer conhecê-lo, Holmes.

Nesse momento uma cavalaria prateada e barulhenta atravessou as paredes e invadiu a festa, causando uma arruaça só. Nenhum dos vivos ficou lá para ver o desfecho do aniversário. Desceram a masmorra e passaram pelos corredores.

— Você é um mentiroso filho da mãe. — Resmungou o loiro faminto.

— Obrigado, eu pratico bastante. Acho que consegui atender ao desejo de seu fantasma.

— Eu espero que tenha sobrado um pouco do pudim… — John seguiu em direção das escadas — Aquele fantasma da Sonserina, sabe? O Barão Sangrento? Aquele líquido na roupa dele é sangue? Será que ele matou alguém antes de morrer ou o sangue é… Sherlock? Sherlock!

Shelock não o seguira. Mais uma vez ele parou de andar no meio do caminho e ficou olhando para outro lugar. Dessa vez foi um corredor muito escuro e úmido que roubou sua atenção.

John logo se juntou a ele:

— O que foi?

— Tem algo ali.

Os dois seguiram pelo local estreito e bastaram algumas passadas para o jovem Watson sentir as solas dos seus sapatos espalhando poças de água. Depois notou que realmente havia alguma coisa no meio do caminho e levou um susto ao perceber o que era.

Pendurada pelo rabo por uma corda presa ao teto estava a gata do zelador, Madame Nor-r-a, dura feito um pau. Atrás dela, os dizeres escritos em letras garrafais nos tijolos.

A CÂMARA SECRETA FOI ABERTA.

INIMIGOS DO HERDEIRO, CUIDADO.

Durante alguns segundos os garotos não se mexeram. A tinta usada na frase tinha um tom de sangue reluzente que brilhava no corredor tão escuro, e a primeira coisa que o jovem Holmes percebeu é que não tinha sido escrita com magia.

— Fantástico!

— Perdão. Que!? — O Watson saiu da paralisia. — Sherlock, tem noção da situação em que nos encontramos? Mataram a gata do Filch!

— Isso significa que temos um mistério em nossas mãos!

— E também significa que vão achar que fomos nós! Temos que sair daqui!

— Ora, bastariam dar uma olhada nas nossas unhas para...

— Sherlock! Agora não é hora!

Uma onda de sílabas animadas de gente bem alimentada veio junto com várias passadas de quem estava realmente comemorando o Halloween. John sentiu a pressão cair no instante em que os alunos cruzavam o corredor. Seriam flagrados em segundos.

A conversa, o bulício, o barulho morreu de repente quando a turma que invadia o local avistou os meninos parados no meio do corredor e o gato pendurado atrás deles. Sherlock e John estavam sozinhos e os estudantes estáticos.

De repente alguém gritou e o estardalhaço se fez.

O falatório foi tão grande que atraiu mais alunos, professores, o diretor... E o zelador.

— O que está acontecendo? O que está acontecendo aqui, pirralhos?

Argo Filch abria caminho com os ombros por entre os alunos aglomerados. Então ele viu Madame Nor-r-ra e recuou, com uma veia quase saltando da testa.

— MINHA GATA! O QUE VOCÊS FIZERAM COM ELA? DIGAM, SEUS PIRRALHOS!

— Argo! — Dumbledore entrou em cena, ganhando passagem dos alunos automaticamente e sendo seguido por Minerva, Snape e Lockhart.

— Diretor, eles mataram minha gata!!

— Na verdade, se checarmos as evidências... — Sherlock ia começar a falar, mas John lhe deu uma cotovelada.

Dumbledore chegou perto do animal e o analisou atentamente. Cutucou-o com a ponta da varinha, depois se virou para os demais.

— Venha comigo, Argo - Pediu o diretor — Os senhores também, Srs. Holmes e Watson.

Lockhart deu um passo à frente todo pomposo.

— A minha sala fica mais próxima, diretor, logo aqui em cima, por favor, fique à vontade...

— Muito obrigado, Gilderoy.

Os presentes se afastaram para os lados em silêncio para deixá-los passar. Todos olhavam os dois alunos com muita desconfiança. John sentia-se um daqueles suspeitos dos filmes policiais indo direto para a sala do interrogatório. Provavelmente Snape faria o papel do policial ruim. O problema é que Minerva não tinha cara de policial boa e Lockhart era um peso morto.

Na sala particular de Lockhart havia vários Lockharts nas molduras dos retratos, todos com os cabelos presos em bobes e pijamas em cores berrantes. O verdadeiro Lockhart acendeu as velas sobre a escrivaninha e se afastou um pouco. Dumbledore pôs Madame Nor-r-ra na superfície polida e começou a examiná-la. John estava nitidamente nervoso, e, pra piorar, o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas não parava de falar.

— ...foi um feitiço que a matou, provavelmente a Tortura Transmogrifiana. Já vi usarem-na muitas vezes, que pena que eu não estava presente, conheço exatamente o contra feitiço que a teria salvado...

— A gata não está morta. — O diretor cortou.

Lockhart calou-se imediatamente.

— Não está? — Engasgou-se Filch, fungando enquanto olhava para Madame Nor-r-ra. — Então por que é que ela está toda... Toda dura e gelada?

— Ela está petrificada. Só não sei como fizeram isso.

— Pergunte a eles! — Apontou para os dois meninos.

— Não fomos nós, diretor! - John se defendeu - Estávamos no aniversário de morte do Nick-Quase-Sem-Cabeça! Pode perguntar pra todos os fantasmas que estavam lá!

— Talvez esteja falando mesmo a verdade, Watson. — Snape falava com a voz arrastada — Mas o que faziam naquele corredor? Os aniversários de morte não tem comida para os vivos. Por que não foram direto para o banquete?

— Nós íamos, mas Sherlock viu a gata...

— Num local tão escuro?

— Eu tenho uma boa visão. – O jovem Holmes complementou impassível.

Minerva interveio:

— Isso não pode ter sido obra de um segundanista, Severo. É magia negra, não um mero petrificus totalus.

— De fato. — Dumbledore pontuou — Pomona recentemente obteve umas mandrágoras. Assim que elas crescerem, vou mandar fazer uma poção que ressuscitará Madame Nor-r-ra.

— Eu faço! Eu faço! — Lockhart erguia o braço. — Devo ter feito isto centenas de vezes! Seria capaz de preparar um Tônico Restaurador de Mandrágora até dormindo...

— Desculpe-me – disse Snape num tom gelado. – Mas creio que eu sou o professor de Poções aqui nesta escola.

Snape lançou outro olhar investigativo aos dois alunos, como se quisesse arrumar alguma desculpa para enchê-los de perguntas. Todavia, para o alívio de John, Dumbledore os dispensou.

Logo não se falaria em outra coisa na escola que não fosse aquele evento

 

~O~

 

O ocorrido rendeu muitas situações perturbadoras para Sherlock e John. Mycroft decidira perturbar John, enchendo-o de perguntas das quais ele não sabia responder, e Sally insistia em jogar na sua cara que isso não teria acontecido se ele não andasse com o "Sr. Problema". Já Lestrade ralhava Sherlock sempre que o encontrava e o culpava pelo estado impaciente de Molly, que não parava de fazer perguntas sobre como ele estava.

— Ela fica preocupada com você, sabe? Poderia ter pelo menos um pouco de consideração! Quando soube que poderia ter sido expulso...

— Eu já disse que não tive nada a ver com isso. — Respondia Sherlock apático enquanto treinava seu xadrez bruxo no refeitório.

— Eu sei, mas também sei que você vai atrás de problemas. Pelo menos pense na Molly, ta legal? Ela pensa muito em você.

E assim se encerrava todas as conversas que os dois tinham.

Como Sherlock e John não eram da mesma casa, eram poucos os lugares que eles poderiam conversar sossegados.

A tarde estava cinzenta e fria.

Nos jardins de Hogwarts, debaixo de uma faia, eles dois observavam de longe o treino de quadribol da Corvinal. O contato ombro a ombro transmitia um calor humano que amenizava a baixa temperatura ambiente e os deixava ligeiramente confortáveis. John catava alguns feijões de todos os sabores do pacote enquanto o amigo apenas viajava nos pensamentos.

— "A Câmara Secreta foi aberta." — John comentava distraído — Você sabe o que significa?

— Eu já li sobre ela em Hogwarts, uma história, mas achei que era só uma lenda.

— Que tipo de lenda?

— Sobre uma época em que o mundo mágico e o mundo não mágico viviam em conflito. Para garantir que a magia não fosse extinta, Godric Gryffindor, Rowena Ravenclaw, Salazar Slytherin e Helga Hufflepuff se uniram para fundar Hogwarts. Mas eles tinham opiniões diferentes sobre quem deveria fazer parte da escola. Hufflepuff dizia que todos deveriam ser acolhidos. Ravenclaw e Gryffindor até concordavam, mas um queria que a escola fosse dos bruxos corajosos e outra dos bruxos inteligentes. Quem não tinha gostado muito dessa ideia foi Slyterin, que não aprovava nascidos trouxas na escola.

— Ele achava isso porque trouxas perseguiam bruxos?

— Bruxos também perseguiam trouxas. Era uma guerra. Diz a lenda que Slyterin teria criado a Câmara Secreta e escondido um monstro lá dentro. Um dia, seu herdeiro conseguiria finalmente abri-la e usar o monstro contra seus inimigos.

— "Inimigos do herdeiro, cuidado". - John se lembrou da frase e olhou para Sherlock - Acha que ele estava falando de... Ahn... Todos os nascidos trouxas?

— Com certeza.

— E você acha que essa Câmara existe mesmo?

Sherlock demorou a responder:

— A gente não tem todos os fatos. Não é bom formular teorias antes dos fatos ou vamos acabar fazendo eles se adequarem às teorias. O que temos? Água. Havia água no chão, mas de onde ela veio?

— Ahn... Filch devia estar limpando aquele lugar, não?

— E ainda tem as aranhas.

— Aranhas?

— Elas estavam estranhas. Fazendo um caminho em direção à janela, escapando por um único fio. Aranhas não costumam andar em fileira.

— Quem presta a atenção em aranhas quando tem uma gata pendurada pelo rabo no meio do corredor?

Um grupo de alunas da Corvinal cruzou o caminho deles. Entre elas estava Sarah Sawyear. Ao vê-la John sorriu feito um bobo e até acenou, mas ao contrário do que esperava, a menina rapidamente baixou o olhar e fingiu que não tinha visto. As demais garotas imitaram o gesto e todas aceleraram o passo descaradamente.

O sorriso de John desmanchou.

— Qual é o problema delas?

— Não é com você. É comigo. - Explicou Sherlock olhando o horizonte atentamente — Acham que eu sou o herdeiro de Slyterin.

— Só por que você estava no lugar errado e na hora errada? Que ridículo! E eu também estava lá!

— Você é filho de trouxas, isso o tira da lista de suspeitas.

— Bobagem. Eles só querem alguém pra culpar.

Sherlock mergulhou num breve silêncio, típico de quando sua mente estava trabalhando com mais velocidade do que seus sentidos conseguiam acompanhar.

Sentia que estava entrando em outro jogo.

Continua


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Depois de uma vida e meia enfim postei. Inicialmente eu tava meio broxada com a falta de comentários, mas isso nunca foi motivo pra eu parar de postar. Mesmo porque seria um desrespeito com quem comenta e acompanha. Só que eu tava estudando pra um concurso e acabei parando tudo o que é fic.

Enfim estou de volta! Espero que tenham gostado do capítulo.