Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 12
O herdeiro de Slyterin




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/498027/chapter/12

Sherlock não fazia ideia do que era Tom Riddle - que mais parecia fruto de uma alucinação - nem mesmo sabia o que ele poderia fazer. A única coisa que suspeitava era de que não era confiável. Para piorar, sua própria confusão era algo perceptível. O que estava à sua frente estava fora de tudo o que ele conhecia.

— Estou desafiando a sua inteligência? – Dizia Tom com um sorriso satírico – Logo você, que ela admirava tanto?

O olhar do corvino focou o diário, agora abandonado ao lado de Molly.

— É, você está na pista certa. – Tom cruzava os braços como se estivesse ansioso por um espetáculo.

— O que é você? Um fantasma?

— Mais que isso. Uma lembrança bem guardada.

Uma ruga de dúvida se formou entre as sobrancelhas de Sherlock. Via-se diante das peças flutuantes de um quebra cabeças, dificultando o encaixe. Certo de que, por mais que pensasse, não conseguiria as respostas tão cedo, optou por continuar perguntando:

— O que realmente aconteceu com Molly?

— Ela escreveu no meu diário, Sherlock Holmes. Me mostrou seu coração, suas mágoas, suas inseguranças, suas preocupações… Ela contou todos os segredos para o amigo invisível entre as páginas, inclusive como não conseguia chegar do coração do bruxo mais inteligente que ela já viu.

Tom riu novamente. Uma risada que fez o coração de Sherlock vacilar.

— Molly abriu sua alma para mim. – Continuou Riddle – Então eu pude me alimentar dos medos dela e dos segredos mais íntimos. Tive o bastante para colocar a minha própria alma no corpo dela.

— Em outras palavras, você a possuiu.

Riddle assentiu com certa malícia:

— Foi engraçado vê-la escrever seus medos no meu diário. “Tom, acho que estou perdendo a memória. Tem penas nas minhas roupas e não sei como apareceram lá”. Ou “Tom, não me lembro do que fiz na noite das bruxas, mas a gata do zelador foi atacada e minhas mãos estão sujas de tinta”. “Tom, acho que estou ficando maluca! Será que eu sou a pessoa que está atacando todo mundo?”

Sherlock sentiu pesar. Pobre Molly. Se ele próprio desconfiava de si mesmo só por causa de sua ligação com Slyterin, o que dirá a garota e toda a sua memória duvidosa?

— Mas pelo visto ela não é tão burra quanto eu achava que fosse. – Riddle debochava – Desconfiou do diário e tentou se livrar dele, mas seu amigo o pegou. Sabia que a primeira coisa que ele escreveu nas minhas páginas foi o seu nome? Olha, eu fiquei bem curioso em saber quem você era. Uma pena que não ficamos mais tempo juntos. Quando Molly viu meu diário cair da pasta do seu amigo, deu um jeito de pegá-lo de volta e manter seu segredo.

Tom Riddle segurou as mãos atrás das costas e andou de um lado para o outro, como se eles estivessem em um encontro casual. E Sherlock não conseguia ter nenhuma ideia do que fazer. Não tinha como atingir um espírito… Ou uma lembrança… Ou seja lá o que Tom Riddle era agora.

— Agora ela é minha. – O semblante de Tom foi ficando mais rígido – E finalmente, depois que eu drenar toda a vida dela, poderei voltar para terminar o que comecei.

— Do que está falando?

— Você está perdido, não é? Eu vejo a forma como seus olhos se movem procurando respostas. Tem certeza de que está pronto pra elas?

Tom abriu os braços e palavras brilhantes saíram do diário, pairando no ar.

TOM SERVOLEO RIDDLE

Agitou mais uma vez os braços e as palavras se embaralharam, formando outra frase.

EIS LORDE VOLDEMORT

Sherlock quase caiu para trás. Ele já havia dito para John que achava que “Voldemort” era algum tipo de apelido, mas aquilo estava fora de sua compreensão. 

— Eu usava esse nome em Hogwarts pra não ter que usar o nome nojento do meu pai trouxa! – Tom desabafava – Sabe por que? Porque eu tenho o sangue do próprio Salazar Slytherin correndo em minhas veias! Sim! Eu sou o legítimo herdeiro de Slyterin, assim como minha mãe! Mas meu pai a abandonou só porque ela era uma bruxa. Finalmente criei um nome que eu sabia que os bruxos de todo o mundo um dia teriam medo de pronunciar quando eu me tornasse o maior bruxo de todos!

Das feições de Riddle transbordava muita coisa. Poder, raiva, determinação, confiança... Ele não blefou em um único segundo. 

Sherlock olhou para Molly mais uma vez. Tinha que pensar rápido:

— Você nunca chegou a ser o maior bruxo do mundo. – Falou, voltando a encarar Voldemort – Foi derrotado de uma forma patética.

Tom Riddle lançou um olhar ultrajado:

— Você nem mesmo sabe se fui derrotado.

— Eu sei que foi. Seis anos e você nada mais é do que uma lembrança ruim. Seus seguidores foram presos ou então negaram você. Se tivesse sido derrotado numa batalha épica, a notícia do conflito se espalharia em todos os jornais, e se Dumbledore tivesse derrotado você, todos saberiam. Um bruxo temido desaparece e ninguém sabe como aconteceu? Com certeza sua derrota foi vergonhosa demais pra virar notícia. Alguns até falam de um feitiço mal executado.

A expressão de Riddle era a perfeita tradução da palavra ódio.

— Você não é o bruxo mais poderoso. – Sherlock continuava provocando – Dumbledore é. 

— Dumbledore não está na escola!

— Ainda assim continua sendo um bruxo muito mais forte. Mesmo que eu morra e você possua Molly, Dumbledore vai acabar com você. Todos até dizem que você tem medo dele.

Sherlock meio que havia conseguido o que queria. Provocar Tom Riddle e ganhar algum tempo para a garota. O problema era que não tinha nenhum plano a partir daí. 

Inchado de raiva, Tom entoou uma frase em idioma ofídico, que Sherlock entendeu claramente.

“Fale comigo, Slyterin. Maior dos quatro de Hogwarts!”

Um ruído grave e seco de algo feito de concreto se arrastando encheu a Câmara, seguido de um baque aquoso no chão. Um dos túneis havia aberto uma passagem e liberava uma criatura que logo estaria a frente de Sherlock. O corvino baixou a cabeça e fechou rapidamente os olhos quando escutou uma coisa grande deslizar por meio do lodo.

Um estrondo veio junto com um silvo. E logo a cobra gigantesca rastejou rapidamente na direção do garoto, já abrindo a boca e mostrando a grande quantidade de presas.

Sherlock arriscou a correr dali sem visão bem no momento que sentiu algo descomunal bater no piso de pedra bem atrás dele. 

— Mate-o! – Mandou Riddle.

Com um dos braços cobrindo os olhos, o corvino começou a correr às cegas para os lados, escutando as risadas de Tom juntamente com o rastejar do corpo pesado do réptil. Logo tropeçou e levou uma surra do torso da cobra, praticamente quebrando a sua coluna. Deslizou o corpo para desvencilhar-se, mas escorregou numa poça d’água e caiu para trás. Não viu que o monstro agora estava acima dele, com a boca aberta, prestes a abocanhá-lo.

Por instinto, rolou para o lado e escutou um estrondo alto de alguma coisa caindo às suas costas. Quando se levantou, sentiu o corpo da criatura bater na sua barriga com tanta violência que o esmagou novamente contra a parede. Sherlock sentiu gosto do próprio sangue na boca, a cabeça zunindo, e mesmo com o corpo dolorido, tentava inutilmente se desvencilhar. Quando pressentiu que ela ia abocanhá-lo, desesperadamente ergueu a varinha:

— Incendio!

Ouviu o silvo do basilisco muito acima da própria cabeça, indicando que estava prestes a ser devorado se o fogo não tivesse confundido-o. A criatura se remexeu, fazendo Sherlock escorregar para baixo dela, até cair no piso alagado. Não podia nem mesmo olhar para baixo ou corria o risco de se deparar com o reflexo de dois olhos amarelos na água e terminar como Madame Nor-r-a. Levantou-se e começou a correr novamente, até que um outro som encheu as estruturas.

Era um canto estridente e imponente semelhante ao grito de uma ave. Desesperado demais para identificar os barulhos, o corvino continuou correndo, mas escorregou novamente. Foi no mesmo momento que ouviu Tom gritar:

— NÃO! DEIXE O PÁSSARO! DEIXE O PÁSSARO! O GAROTO ESTÁ ATRÁS DE VOCÊ! VOCÊ AINDA PODE FAREJÁ-LO! MATE-O!

Farejá-lo? O que aconteceu com a visão do monstro?

Sherlock abriu os olhos e se deparou com um verdadeiro milagre. Um pássaro vermelho e majestoso estava na direção da cabeça do basilisco, cujos olhos foram substituídos por duas poças de sangue. Já vira aquela ave antes. Foi a mesma que ele e John tinham visto passando por cima da cabeça deles quando saíram do banheiro da Murta.

A criatura agora se balançava confusa enquanto o pássaro descrevia círculos em volta de sua cabeça, grasnando uma música estranha, atacando aqui e ali o nariz escamoso, enquanto o sangue jorrava dos seus olhos destruídos. Sherlock saiu do transe e checou se a própria varinha estava inteira. Sim. Sem acidentes. Era hora de correr riscos. Não dava para deixar aquela oportunidade passar.

— MATE O GAROTO! – Riddle escandalizava-se, colérico – O GAROTO ESTÁ ATRÁS DE VOCÊ! FAREJE, FAREJE!

Obedecendo ao seu amo, o basilisco ignorou a ave e moveu a cabeça na direção do garoto. Sherlock ficou parado, apenas esperando, sem tirar os olhos da cabeça da cobra. Sua atitude era suicida demais. John o mataria se soubesse.

A cobra atacou às cegas e Sherlock saltou para o lado, fazendo-a bater contra o chão cheio de lodo. Ela colocou a língua bifurcada para fora e virou a cabeça rapidamente, abrindo a boca para fisgar o rapaz e acabou abocanhando-lhe o braço direito e boa parte do seu tronco. Sherlock sentiu a dor descomunal das presas perfurando seu corpo, mas mesmo assim apontou a varinha dentro da boca do monstro:

— Confringo!

E a cabeça da cobra explodiu, espalhando sangue e pedaços de carne em volta do rapaz.

Uma parte do corpo do basilisco chicoteou aleatoriamente pelo lodo até esparramar pelas poças de água, enquanto o pouco que sobrava da mandíbula caía aos pés do garoto.

Sherlock cambaleou. O feitiço avançado foi mal executado, acabando por danificar boa parte do seu corpo. A dor no braço era excruciante e o sangue quente encharcava as suas vestes. Ele não duraria muito. Vacilante e com a visão turva, retirava os dentes um a um enquanto se aproximava do corpo estirado de Molly. 

Caiu sobre os joelhos com uma última presa cravada em seu braço.

— Nada mal. – Riddle estava sério – Você pode ter destruído o meu basilisco, mas agora você está morto. – Viu o pássaro vermelho pousar no ombro do corvino e baixar a cabeça, na direção de um dos ferimentos. Lágrimas peroladas escorriam da face da criatura, molhando o local. – Viu? Até o pássaro de Dumbledore está chorando por sua causa. 

"Dumbledore..." Sherlock não conseguia mais falar, mas agora entendia por que o diretor tinha dito que Hogwarts sempre ajudará os que dela precisam. Ele havia colocado a ave para vigiar os alunos.

O corvino piscou. A cabeça do pássaro entrava e saía de foco. Se morresse ali, não teria impedido Tom, nem salvado Molly. A volta de Voldemort ainda era um risco.

O diário controlava Molly…

O diário tinha vida...

O diário…

Com as últimas forças que lhe restavam, Sherlock arrastou o diário pra perto de si e cravou a presa de basilisco bem no meio dele.

Tom entrou em pânico:

— NÃO!

Ouviu um grito longo e cortante vindo de Riddle enquanto um rio de tinta jorrava compulsivamente do diário e escorria pelo chão. Tom estrebuchava e se contorcia, gritando e se debatendo, até desaparecer de vez da vista de Sherlock.

O pássaro de Dumbledore continuava chorando sobre os seus machucados e agora, ao invés de dor, Sherlock só sentia um sono profundo.

Se aquilo era a morte, então não era tão mal...

 

~O~

 

Quando Sherlock acordou ainda estava no chão inundado da Câmara Secreta. Acima dele via o rosto vermelho e choroso de Molly, a face alarmada de Lestrade, o pássaro de Dumbledore no ombro do lufano e, sorrindo, como se não fizesse ideia da gravidade da situação, o professor Lockhart.

— Que bom! Você ta vivo! – Lestrade, que estava ajoelhado, sentava-se no chão aliviado – Que susto! Achávamos que você...

Molly tentava conter as lágrimas:

— Eu… Sherlock, eu…queria contar, mas… eu… não conseguia… eu sinto… muito...

— Você não tem culpa de nada. – O corvino tentava tranquilizá-la enquanto se sentava com dificuldades. Todo o seu lado direito ainda estava em frangalhos. – Foi aquilo que possuiu você. – Apontou para o diário com um buraco no meio. 

— Sherlock falou que você estava correndo perigo. – Lestrade a confortou – Sabemos que você não é culpada, Molly, por isso viemos salvá-la. Além disso, ninguém morreu. Logo a professora Sprout vai fazer o elixir de mandrágoras e todo mundo vai deixar de ser pedra. 

— Por minha culpa… – Ela continuava em prantos – Sherlock quase... Morre... Todos podiam... Ter morrido… Se eu não tivesse…

Mas ela não conseguia mais falar. Permaneceu em seu choro enquanto o professor Lockhart sorria sonhador e olhava para os lados.

— Como eu sobrevivi? – Perguntou o corvino.

Lestrade apontou para o pássaro em seu ombro:

— Só vimos essa ave chorando nas suas feridas.

A ave abriu as asas e alçou voo, pairando acima deles e cantando alto, como se quisesse dizer alguma coisa.

— Ela está se exibindo para nós? – O professor perguntava bem animado.

Lestrade olhou de Lockhart para Sherlock e Molly.

— A memória dele desapareceu. – Explicou.

— Que lugar interessante, heim? – Continuava o professor – Vocês moram aqui?

— Acho que a ave quer que a sigamos.

Sherlock se levantou com dificuldades, precisando da ajuda de Greg para ficar de pé. Molly recolheu a varinha e o diário, e, juntos, seguiram o pássaro. A criatura os guiou até o túnel que os levou para dentro da Câmara Secreta e ficou parada, batendo as asas e silvando.

— Será que... – Molly falava trêmula – Ela quer nos levar lá pra cima?

O pássaro rodopiou duas vezes e parou no mesmo lugar. 

— Eu acho que é isso mesmo! – Lestrade desvencilhou-se de Sherlock – Segure na pata dela e vê se ela consegue lhe carregar.

— Mas e vocês?

— Se ela lhe levar, vai poder nos levar depois. Além disso você pode abrir a Câmara Secreta. Vai conseguir ajuda.

Sherlock usou o braço bom para segurar uma perna da ave e uma leveza extraordinária pareceu se espalhar por todo o seu corpo. Quando foi suspenso flutuava como uma pena.

— Esperem, eu acho que ela consegue carregar todos nós. – Observou o jovem Holmes.

— Tem certeza? – Perguntou Lestrade.

— Não muita. Um de vocês, segure a minha perna. A esquerda.

Greg olhou para Molly e fez sinal com a cabeça para ela ir. Ela segurou no calcanhar de Sherlock e a ave subiu mais um pouco, a ponto de suspendê-la do chão também. 

— Funcionou... – Ela riu insegura e estendeu a mão para Lestrade.

Greg puxou o professor pelo pulso e pegou a mão de Molly. No segundo seguinte, o grupo voava pelo cano em meio a um farfalhar de asas, tão leve e delicado que os quatro pareciam feitos de plumas.

Ao chegarem ao banheiro e pisarem no chão mais uma vez, Sherlock murmurou um "feche" em idioma de cobra, e o cano voltou a se encaixar suavemente no lugar.

— Ah, vocês sobreviveram… – Murta flutuava por perto, olhando bastante desapontada para Sherlock – E eu que achava que íamos dividir esse banheiro quando você morresse.

Os três alunos se olharam.

— Vamos sair logo daqui? – Disse Lestrade voltando a segurar Sherlock – Temos que avisar à professora Sprout… Ou McGonagall… Ou… Pra qualquer pessoa o que aconteceu.

 

Continua

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Potterlock - A Câmara Secreta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.