Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 13
O Jogo Termina




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A alegria havia retornado a Hogwarts. 

Os alunos petrificados voltaram ao normal. A gata de Filch e a Dama Cinzenta também. O elixir das mandrágoras foi um sucesso, a professora Sprout recebeu elogios de todo o corpo docente e o número de alunos interessados nos segredos da herbologia aumentou consideravelmente. 

Ao contrário do que Molly esperava, os professores a receberam extremamente bem e ninguém a culpou pelo ocorrido com o diário. Ou quase ninguém. Snape descontou cinquenta pontos da Lufa Lufa por ela ter colocado a escola em risco, aumentando a repulsa dos segundanistas lufanos pelo professor de poções. Mas isso não foi nada perto do trabalho que os professores tiveram para convencerem o Sr. e a Sra. Hooper a deixarem a filha matriculada depois do que acontecera. Foram necessárias muitas súplicas da garota.

Ninguém sabia ao certo como foi o desfecho da história da Câmara Secreta e pouquíssimos acreditavam nos boatos de que Sherlock Holmes, o garoto do segundo ano, derrotou o monstro de lá. Os alunos só passaram a dar algum crédito à história quando Dumbledore celebrou uma festa de última hora no castelo e, em reconhecimento ao feito do jovem, concedeu 150 pontos para a Corvinal, fazendo-a ficar na frente na copa das casas.

E Sherlock, mais uma vez, finalizou seu ano estudantil em uma enfermaria. As lágrimas do pássaro de Dumbledore o salvaram do veneno do basilisco, mas seu braço direito ainda estava bem comprometido por ter executado o feitiço avançado de explosão sem ter habilidade suficiente. Madame Pomfrey, depois de lhe dar umas boas broncas, disse que melhoraria em alguns meses.

Mas quem estava irresignado com a imprudência de Sherlock era John. No entanto, nada podia falar a respeito, afinal Molly corria risco de não sobreviver se os garotos tivessem demorado um pouco mais.

— Mas você podia ter morrido. – John estava sentado na beira da cama.

— Eu sei. Eu estava lá, lembra? – O corvino ironizava na enfermaria, tentando comer a sopa de abóbora com cubos de carne usando a mão esquerda. Seu braço direito estava envolvido por uma espécie de tipoia embebida com uma pasta de cheiro forte. 

— Enfeitiçar um diário desse jeito...  Eu nem sabia que era possível.

— Eu também não. O plano de Riddle era usar o corpo dela para voltar à vida. 

— Você quer que eu lhe ajude com isso?

Sherlock largou a colher na tigela e empurrou a sopa para ele. John a recolheu.

— Eu devia ter entrado logo na sala comuna – admitiu o loiro com pesar enquanto enchia uma colher – mas tive a impressão de ver um vulto. Achei que era você, até esperei você tirar a capa… Mas meu bisbilhoscópio começou a apitar. Eu fiquei nervoso e quebrei ele. Segui o vulto. Era Molly. Não fui muito inteligente.

— Nhão. – Sherlock esperou mastigar a carne para continuar – Mas a ideia do vitral foi boa. – Abriu novamente a boca para receber outra colherada do amigo. 

— Estávamos falando com Voldemort quando ele ainda era um estudante. Ele parecia tão… Comum.

— Ele nunca pareceu uma pessoa comum. – Falava entre uma colherada e outra – Monitor, articulado, queridinho do diretor, popular… Era promissor.

— Quando eu soube da existência dele, pensei num bruxo malvado que matava os outros por prazer... Mas Tom Riddle não parecia com nada disso. Ele me enganou muito bem. É assustador.

— Minha mãe sempre me disse que a gente tem que estar preparado para enfrentar todo o tipo de monstro.

John riu pra si mesmo:

— Como está a sopa?

— Muito boa.

A porta da enfermaria foi aberta por Alvo Dumbledore. Os garotos logo pararam o que estavam fazendo, intimidados pela mera presença do diretor, que estava com a ave vermelha empoleirada em seu ombro. O pássaro curvava o longo pescoço majestosamente em sinal de cumprimento.

— Recuperando-se bem, sr. Holmes? Vejo que conheceu Fawkes. – Dumbledore falou com brandura enquanto erguia uma das mãos para acariciar a cabeça da criatura – Ah, as fênix… Criaturas extraordinárias essas. Suas lágrimas tem poder curativo, sua força é descomunal e quando envelhecem são engolidas pelas chamas para renascerem e um novo ciclo começar.

— Uau… – John estava maravilhado.

— Então era uma fênix. – Sherlock a observou interessado.

— Uma ótima fênix. – Dumbledore comentou – E você deve ter mostrado verdadeira lealdade a mim lá na Câmara. Nenhuma outra coisa teria levado Fawkes a você.

— De verdade, diretor, eu estava apostando em qualquer coisa.

Dumbledore deixou uma risada singela escapar, antes de olhar para os alunos com ternura:

— Imagino que vocês tenham perguntas.

— Tenho. – Disse o corvino sem rodeios – Que tipo de magia era aquela no diário?

— Essa é uma boa pergunta. Eu também fui pego de surpresa. Pelo visto Voldemort não está tão morto quanto imaginávamos. Já tentou voltar duas vezes. 

John se arrepiou:

— E ele… Pode conseguir?

— Se conseguir, estaremos preparados, jovem Watson.

John não colocou muita fé naquela resposta. Sherlock baixou a cabeça e se encostou mais no leito:

— Meus pais nunca tinham me contado que Voldemort era ofidioglota… Como eu. Eles me proibiram de usar o idioma e eu achei que era por causa de Slyterin ou do incidente com o cinzal, mas não. Agora eu entendi. Voldemort controlava as cobras. Eu posso acabar me tornando como ele.

O diretor se aproximou do corvino e descansou a mão no ombro seu esquerdo:

— Eu conheci Tom Riddle, sr. Holmes. Era um bruxo brilhante, como você. Mas há coisas no mundo da magia que não se explicam através dos livros e Voldemort não sabia disso. Se você tiver isso em mente, não seguirá o mesmo caminho.

— Que tipo de coisas? – Dessa vez foi John que perguntou.

— Você bem deve se lembrar, sr. Watson, que sobreviveu ano passado porque a maldição do sangue de unicórnio impediu o professor Quirrel de conseguir o que queria. E o senhor Lestrade me contou sobre o acidente com Lockhart. Aquilo foi a proteção temporária que você, sem saber, colocou em Holmes ao enfrentar Quirrel no lugar dele. Não foi azar de Quirrel ou sorte de Holmes. Foi magia.

John olhou espantado para um Sherlock bem surpreso, como se tivessem sofrido um impacto. Antes que pudessem ter feito qualquer pergunta, o diretor se adiantou:

— Sacrifícios, vícios, dívidas, promessas… Há magia em tudo isso, garotos, e ela é mais complexa do que pensamos. Os livros mostram as diretrizes, mas nunca saberemos a imensidão delas.

— Então… – John estava deslumbrado – Sentimentos estão ligados ao mundo mágico?

Dumbledore mostrou um olhar gentil para o rapaz:

— Todos tem sentimentos, sr. Watson. Não são eles que determinam o tipo de bruxo que vamos nos tornar. São nossas escolhas

Durante um minuto nenhum deles falou. Depois, Dumbledore deu meia volta e andou até a porta. 

— Bom, continue descansando, Holmes. Não vai precisar se preocupar em fazer as provas porque elas foram canceladas. Agora preciso preparar um anúncio para o Profeta Diário. Vamos ter que contratar um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Perdemos esses tão rápido...

Acenou sutilmente para os alunos e foi embora.

 

~O~

 

O expresso de Hogwarts chegara à estação King Cross. Alunos e mais alunos desembarcavam, tiravam suas coisas do bagageiro e cumprimentavam seus familiares. John colocou a gaiola de Sentinela em cima do malão, tudo dentro do carrinho, e se juntou a Sally e Henry para longe da multidão.

— Como você ainda pode continuar defendendo ele? – Sally comentava – Ainda não entendeu que ele é perigoso?

— Ah, vai, Sally – Henry estava entusiasmado – Ele fala com cobras, mas e daí? Salvou o dia e ainda salvou a garota! Lestrade estava lá e viu tudo!

— Greg ficou preso atrás de um monte de rocha. Ele não viu coisa nenhuma. E Hopper estava desacordada, nem sabe o que aconteceu.

— Sabe, Sally – John falava entre um pio e outro da coruja – Foi legal você não ter contado o segredo, mesmo não gostando dele.

— Não foi por ele. – Sally retrucou – Meus pais me fizeram prometer que eu nunca contaria. 

— Foi legal mesmo assim. Você manteve sua palavra. 

Muitos alunos desembarcavam e abraçavam seus pais e familiares. A família Moriaty falava alguma coisa para o filho, a mãe apontando para a parede que dava para o mundo trouxa, e logo se afastaram. Dobby estava à direita do garoto, carregando uma mala mais pesada do que parecia suportar.

John olhou a cena com pesar. Fechou os punhos e ficou decidido a fazer algo bem imprudente, mas a mão de Sherlock em seu ombro e a voz dele em sua orelha direita o freou:

— John, venha rápido.

— Heim?

Sally e Henry olharam desconfiados para o jovem Holmes, especialmente quando John largou o carrinho com malão, gaiola e vassoura para segui-lo. Sherlock ainda usava tipoia, e segurava uma meia vermelha natalina bem cafona com alguma coisa retangular dentro dela.

— Sherlock, o que foi?

— O final do jogo.

A dupla chegou perto de Moriaty, que instantaneamente sorriu arrogante ao vê-la.

— Se não é o novo herói de Hogwarts e seu sangue ruim de estimação.

— Seu presente de Natal atrasado, Moriaty. – O corvino ofereceu a meia.

Moriaty estranhou, mas pegou o presente. Tirou o que havia dentro e jogou a meia fora. O embrulho de pano, na verdade, embalava o diário destruído.

— Você estava por trás disso, não? – Sherlock estava sério, quase espumando de raiva – Você se aproximou de Molly no final do primeiro ano e deu o diário de presente pra ela, não foi? Você sabia que era um artigo das trevas. Onde o arranjou?

Talvez porque a expressão contrariada de Sherlock divertisse o sonserino, Moriaty voltou sorrir satisfeito: 

— Consegui vasculhando as coisas de Quirrel ano passado. Você sabia que ele também era da sua casa? 

— Você é louco! – John interveio impaciente – Você poderia ter matado todos nós! Matado a Molly! Sua raiva com nascido trouxas é tão grande assim?

— Oh, você acha que foi só por causa dos sangues ruins? – O sonserino cruzou os braços – Eu não ligo para eles. Eu só queria ver o Holmes dançar, e foi bem divertido. 

Os dois o miravam indignados. Moriaty recuou e deu meia volta:

— Vamos logo, elfo. 

Mas Dobby não o seguiu. Estava com a meia jogada por Moriaty na mão e uma expressão de realização no rosto:

— O amo deu uma meia para Dobby – disse o elfo cheio de assombro. – O amo deu a Dobby!

— Que? – cuspiu Moriaty – Que foi que você disse? 

— Dobby ganhou uma meia! – O elfo erguia a peça de roupa como se fosse um tesouro – O amo atirou a meia e Dobby a apanhou, e Dobby... Dobby está livre!

Moriaty ficou imóvel, encarando o elfo com uma cara que John daria tudo para guardá-la na memória pra sempre. O diário caiu da mão do o sonserino antes dele encarar Sherlock com tanta fúria, mas tanta, que seus olhos lacrimejavam.

— Seu…

— Eu também sei jogar, Moriaty.

Moriaty rangeu os dentes, trêmulo de raiva:

— Eu vou fazê-lo sofrer tanto, Holmes… – Falava com a voz engasgada – Eu vou queimar seu coração.

— As pessoas duvidam que eu tenho um. – Retrucou o corvino impassível.

— Nós dois sabemos que não é verdade.

E com um último olhar rancoroso, Moriaty empurrou a sua bagagem e desapareceu no meio da multidão. John estava admirado e assustado ao mesmo tempo. Ria bobamente, olhando de Dobby para Sherlock.

— Você… Você é…

— Incrível? – Sherlock sorriu presunçoso – Eu sei.

— Eu ia dizer louco. Sabia que dar uma meia libertaria Dobby?

— Uma meia ou qualquer tipo de roupa. A fronha é a marca da escravidão. Quando o dono dá roupas para um elfo, significa que deu a liberdade. Moriaty é destro e Dobby estava a direita dele. Foi fácil para ele apanhar a peça.

— Sim! – Disse o elfo com voz aguda, erguendo a cabeça para os garotos – O amigo do bruxo bom libertou Dobby! Dobby está muito grato! 

— Não foi nada. Você me ajudou a desvendar um enigma. E dos bons.

— O nome dele é Sherlock Holmes. – John curvou-se, apoiando-se nos joelhos, para falar com o elfo – Eu sou John Watson. O que vai fazer agora que é um elfo livre?

— Dobby tem planos, senhor! Muitos planos!  

O chamado do senhor e da senhora Holmes foi escutado no meio da multidão, atraindo a atenção dos garotos. John endireitou a postura e viu que a senhora Holmes não estava com uma cara boa. O senhor Holmes, por sua vez, falava com Mycroft.

— É, uma hora isso aconteceria. – Disse Sherlock para o amigo – Mycroft deve ter dito que meu segredo não é mais tão secreto.

— Você foi um herói. Dessa vez você não só resolveu um enigma. Você salvou o dia! Eles vão considerar isso.

— Você nunca viu a mamãe com raiva. 

Sherlock juntou o diário do chão.

— Recordação. – Disse antes de guardar no bolso da calça – Tenho que ir agora.

— Ta. Aproveite as férias. E… Hm…

— Vou lhe escrever.

— É.

Ele estendeu a mão e John a apertou. Ir embora de Hogwarts sempre deixava uma sensação estranha no peito do jovem Watson. Algo parecido com saudade.

E uma boa forma de supri-la seria pensando no seu próximo artigo do Pasquim.

 

FIM

 


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Notas finais do capítulo

E pronto. Terminada.

Espero que tenham gostado da história. Se gostaram, deixem o feedback.

Abraços e até a próxima.



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