Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 11
A Câmara Secreta




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Foi o pior dia da vida de Sherlock desde que entrara na escola.

Alguns alunos insistiam em dizer que ele sacrificou o próprio amigo numa crise de tédio, mas a grande maioria desistiu de acusá-lo de ser o sucessor de Slyterin. Alguns até se compadeceram de seu estado. Seu colega da Corvinal, Sebastian Wilkes, se ofereceu para fazer grupo com ele e Lestrade na aula de herbologia, mas nada disso importava. Era a imagem do rosto rígido e assustado do jovem Watson que lhe causava náuseas. Mesmo que ele estivesse petrificado, e não morto, Sherlock simplesmente não conseguia aceitar o incidente.

— Boas notícias, alunos. – Dizia a professora Sprout animada – As mandrágoras fizeram uma festa na estufa três. Assim que elas começarem a querer se mudar para o vaso uma das outras, estarão adultas e o antídoto poderá ser feito. Todos voltarão ao normal.

Os alunos em geral comemoraram. Falavam de Sarah, falavam de Janine, falavam de John, da Dama Cinzenta… Falavam até da Madame Nor-r-a.

— Preciso contar pra Molly. – Lestrade sorriu radiante para o seu grupo – Ela nem ficou para o resto das aulas depois que soube o que aconteceu com John.

Sherlock desviou rapidamente o olhar para o lufano.

— Ela deve ter ficado com medo. – Wilkes comentava – Afinal, é filha de trouxas, né?

— É, e ta sendo difícil acalmá-la. Desde que aquela mensagem apareceu na parede, ela anda muito tensa.

— Greg? – Sherlock se meteu na conversa.

— Hn?

— Por acaso o salão comunal da Lufa Lufa fica perto da cozinha?

— Como você sabe?

A mente de Sherlock eclodiu numa nova epifania em milésimos de segundos. “Se eu dissesse pra vocês quem está por trás da Câmara Secreta, vocês jamais acreditariam.” A frase de Jim Moriaty funcionava como um gatilho. Dobby é o elfo de Moriaty e sabia sobre o monstro que atacava bruxos nascidos trouxas. Moriaty estava com Molly no final do primeiro ano, então...

— Hei, Sherlock! – Lestrade o chamou para a realidade – Ta viajando de novo?

— Ele deve estar pensando na Hooper. – Sebastian brincou – Por que não chega nela, Holmes? Ela vive olhando pra você, aposto que foi ela que mandou aquela canção no dia dos namorados.

O comentário de Sebastian fez as peças do quebra cabeças se encaixarem mais ainda. Moriaty mandou uma música trouxa para Sherlock no dia dos namorados. Molly é filha de trouxas e tinha sentimentos pelo corvino. Não foi um mera brincadeira do sonserino, foi uma pista. Pista de algo estava acontecendo com Molly.

Hagrid dissera que viu Molly espreitando as abóboras da horta. E se ela na verdade estava caçando os galos?

Molly era alguém que John não se importaria em seguir na espreita. E se foi ela que invocou o basilisco quando percebeu que estava sendo seguida? Mas ela é nascida trouxa e obviamente não tem qualquer ligação com Slyterin. Jamais teria como achar a Câmara Secreta, quanto mais abri-la.

A não ser que estivesse sendo controlada.

— Ar...!! — Sherlock abriu a boca e colocou as mãos na cabeça, engolindo muito ar. Foi tão repentino que seu grupo podia jurar que ele estava passando mal.

— Sherlock? – Lestrade o sacudiu pelo ombro esquerdo.

— Eu estava certo! Havia controle mental! Eu só errei a pessoa!

— Do que tá falando, cara?

A resposta foi bloqueada pela sineta marcando o fim da aula de Herbologia. O professor Binns veio escoltar os segundanistas para assistirem à aula de História da Magia e Sherlock se viu diante da oportunidade perfeita, afinal o professor era um fantasma idoso, muito conservador e bastante distraído, que achava a história da Câmara Secreta uma lenda que não devia ser levada a sério. Escoltava os alunos porque essas eram as ordens superiores, e não porque achava necessário.

Enquanto todos saíam da estufa, Sherlock cutucou Lestrade e fez sinal com o polegar para que ficassem no fim da fila de alunos. O lufano obedeceu. A turma entrou praticamente juntinha no castelo, muitos em estado de alerta, pois sabiam que o professor não tinha condições nenhuma de protegê-los. Era mais fácil terminar como a Dama Cinzenta.

Assim que terminaram de subir o primeiro lance de escadas, Sherlock puxou Lestrade e se esconderam no corredor mais próximo.

— Sherlock, o que foi?

— Preciso falar com Molly. Pode me levar até a torre da Lufa Lufa?

— É porão da Lufa Lufa. Você quer se declarar pra Molly, é isso? Não é que eu seja contra, mas não quero ficar de vela quando…

— Molly pode estar correndo perigo.

Antes que o lufano pudesse exclamar qualquer coisa, a voz da professora McGonagall, magicamente amplificada, ecoou pelos corredores, assustando-os.

Todos os alunos voltem imediatamente aos dormitórios de suas casas!

Todos os professores voltem à sala de professores!

Imediatamente, por favor!

Os garotos olharam para todos os lados e em seguida se olharam.

— Mais um ataque? – Lestrade perguntou mais pra si do que para Sherlock. – Essa não!

— A sala dos professores fica no fim do corredor, não?

— O-ou. O que vai fazer?

— Vamos.

Sherlock correu até a aludida sala, com Greg em seus calcanhares, puxou a varinha e usou alohomora na porta para entrar. Ao abri-la, empurrou Lestrade pra dentro e depois a fechou.

— Sherlock, o que… O que pretende fazer?

— Descobrir o que está acontecendo, o que acha? – O corvino olhou para todos os lados e encontrou um armário de madeira onde os professores guardavam capas, chapéus e alguns materiais de trabalho – Aqui. Venha logo.

Lestrade se apressou em atender ao pedido e se enfiou junto com Sherlock dentro do armário cheio de tecido puído e bolorento. O corvino fechou as portas e passou a olhar a sala pela fenda formada entre elas.

— Fala sério... – Lestrade sussurrava aborrecido – É esse tipo de coisa que você e o John fazem nas horas vagas?

— Shhhh!

Do meio das dobras mofadas das capas, Sherlock observou os professores chegarem um a um. Alguns pareciam intrigados, outros completamente apavorados. Então chegou a professora McGonagall, fechando a porta atrás de si e passando uma das mãos no rosto abatido.

— Aconteceu – disse ela com a voz fraca – Uma aluna foi levada pelo monstro para a Câmara.

Flitwick deixou escapar um grito fino, Sprout tampou a boca com as mãos e Snape agarrou com muita força o espaldar de uma cadeira antes de perguntar:

— Como você pode ter certeza?

— O herdeiro de Slytherin deixou outra mensagem, logo abaixo da primeira. “O esqueleto dela jazerá na Câmara para sempre.”

Lestrade se esticou para também olhar pela fenda e viu os professores aflitos. Madame Hooch se afundara numa cadeira e sacudia a cabeça como se quisesse acreditar que tudo não passava de um grande mal entendido:

— Que aluna foi levada?

— Uma nascida trouxa. Molly Hooper.

Sherlock viu Lestrade encará-lo com os olhos cheios de horror e dúvida. Em resposta, colocou o indicador sobre os próprios lábios, pedindo silêncio.

— Teremos que mandar todos os alunos para casa amanhã – continuou McGonagall em desalento – Isto é o fim de Hogwarts, meus amigos. Se Dumbledore estivesse aqui… – A voz dela ficava cada vez mais embargada – Ele diria para...

A porta da sala de professores bateu outra vez. Era Lockhart e ele sorria:

— Lamento muito, cochilei, que foi que perdi?

Lockhart não pareceu notar que os outros professores o olhavam com uma expressão muito próxima ao ódio. Snape se adiantou:

— Oh... Aqui está o homem de que precisávamos.

— Oi? – Lockhart desmanchou o sorriso confuso.

— Uma menina foi sequestrada pelo monstro, Lockhart. Levada para a Câmara Secreta. Chegou finalmente a sua vez.

Lockhart ficou branco e assustado.

— Isto mesmo, Gilderoy! – Disse Sprout, impaciente, limpando as mãos nos quadris – Você não disse que sabe onde fica a entrada da Câmara Secreta?

— E-eu...

— E disse também que já enfrentou o monstro!

— Ótimo. – Finalizou McGonagall – Deixaremos esse caso em suas mãos, Gilderoy. Vamos providenciar para que todos estejam fora do seu caminho.

Lockhart olhou desesperado para os lados, mas ninguém veio em seu socorro. Sherlock podia ouvir um John imaginário se divertindo com o pânico do professor mais inútil que ele conhecera.

— M-muito bem – Lockhart disse. – Estarei... Estarei em minha sala me... Me preparando. – E saiu às pressas.

A professora McGonagall olhou para os demais professores:

— Com isso tiramos ele do caminho. Agora, ao trabalho. Os diretores das casas devem ir informar os alunos o que aconteceu. Digam que o Expresso de Hogwarts os levará para casa logo de manhã. Os demais, por favor, certifiquem-se de que nenhum aluno fique fora dos dormitórios.

Os professores saíram, um por um. Quando a sala finalmente ficou vazia, Lestrade imediatamente pulou para fora do armário e apontou para Sherlock:

— Como você sabia que ela corria perigo?

— A Câmara Secreta. É ela que está por trás disso.

— A-a… N-não, não... Molly é nascida trouxa e não tem nenhum parentesco com Slyterin!

— Ela foi amaldiçoada. Não sei como. Eu esperava descobrir como isso aconteceu se conversasse com ela. – Passava as mãos pelos cabelos – Eu achava que ela iria ser morta assim que não tivesse mais utilidade, mas ainda tem muitos nascidos trouxas pela escola. Então por que a levaram para a Câmara Secreta? Agora fiquei meio perdido.

— Não dá pra ficar pensando o dia todo. Quer saber? – O lufano se dirigiu à porta – Vamos até a Câmara Secreta.

— Heim?

— Lockhart sabe onde fica a entrada, não? Vamos falar com ele!

— É claro que ele estava mentindo. Você não viu a mão trêmula, a mandíbula rígida e…

Lestrade não ficou para ouvi-lo terminar o discurso. Sherlock revirou os olhos e o seguiu na falta de uma solução melhor, afinal tentar convencer os professores de que ele, um garoto de doze anos, achara a solução do enigma estava fora de cogitação.

 

~O~

 

Os garotos abriram a porta da sala do professor Lockhart sem bater e se depararam com o local praticamente desmontado. Havia dois malões abertos no chão, cheios de vestes com cores espalhafatosas dobradas e guardadas de qualquer jeito. As fotografias que cobriam as paredes agora estavam comprimidas em caixas sobre a escrivaninha e toda a coleção de livros de Defesa Contra as Artes das Trevas se misturava com as roupas em um dos malões.

— O que fazem aqui?! – perguntou Lockhart quando tinha acabado de tirar um dos seus quadros da parede.

— Professor? – Lestrade sacudia a cabeça incrédulo – O senhor está indo embora?

— É, pois é. Chamado urgente, sabe? Coisas importantes fora daqui. Vida de gente famosa. – Ele continuou fazendo as malas.

— Mas e a Molly?

— Bem, sobre isso... Foi muito azar. Ninguém lamenta mais do que eu.

— Do que está falando?! O senhor disse que sabe onde fica a entrada da Câmara Secreta! Viemos ajudá-lo a enfrentar a criatura!

— Eu devo ter falado no calor do momento. Talvez tenha tomado uma ou duas garrafas de hidromel. As vezes falamos coisas demais quando estamos eufóricos.

— Verdade. – Sherlock interveio – Mas o senhor parece o professor certo para enfrentar o basilisco.

— Basilisco? – Lockhart se alarmou – A criatura é um basilisco!?

— Sim. E no Meu Eu Mágico o senhor fala sobre como derrotou um.

Lestrade e Lockhart fizeram a mesma cara de espanto.

— Sério que você leu os livros dele? – O lufano indagou

— O senhor nunca viu um basilisco, não é mesmo? – Perguntou o jovem Holmes – Como conseguiu descrevê-lo?

Lockhart estufou o peito e amarrou a cara para o aluno:

— Escute, rapaz. – ele fechava o malão com roupas e livros à força – Eu também fui um corvino, entende? Sei que aprendemos a usar a cabeça com mais rapidez do que os outros pobres coitados.

— E eu achava que os sonserinos estavam mal representados. – Lestrade erguia uma sobrancelha com desprezo.

Gilderoy o ignorou:

— Use o bom-senso, Holmes. Meus livros não teriam vendido nem a metade se as pessoas não achassem que eu fiz todas aquelas coisas. Ninguém quer ler histórias de um velho bruxo feio da Armênia, mesmo que tenha salvado uma cidade dos lobisomens. Ele ficaria medonho na capa. Nem sabe se vestir. E a bruxa que afugentou o espírito agourento tinha lábio leporino. Quero dizer, convenhamos...

— Então o senhor só está recebendo crédito pelo que outros bruxos e bruxas fizeram? – perguntou o lufano incrédulo.

— Não é tão simples, garoto. Há muito trabalho envolvido. Eu tive que procurar essas pessoas e perguntar exatamente como conseguiram fazer o que fizeram. Depois tive que lançar um feitiço da memória para elas esquecerem seus feitos. Sou muito bom nisso.

— Isso é... – Sherlock pensou alto, parecendo abismado – Surpreendentemente inteligente.

— Não! É doentio! – Bradava o amigo – Ele é um charlatão! Agora há vários bruxos lá fora com a memória ferrada por causa desse cara!

Lestrade estava tão furioso - prestes a explodir - que não reparou quando o professor sacou a varinha rapidamente e apontou pra ele, mas antes que tivesse tempo de conjurar qualquer magia, Sherlock se adiantou:

— Expelliarmus!

E a varinha do professor escapuliu da mão dele, indo parar num amontoado de robes verde esmeraldas.

— Isso é um feitiço de duelo... – Lockhart estava boquiaberto – Não é ensinado no segundo ano.

— Capítulo cinco de Férias com Bruxas Malvadas. – Sherlock estava claramente se exibindo – Devia ter cuidado com o que anda ensinando nos seus livros.

— Tá na hora desse cara fazer jus à fama que tem. – Lestrade sacou sua própria varinha e apontou para o professor também – Vamos levá-lo à Câmara Secreta pra nos ajudar a resgatar Molly. Ele não pode ser completamente inútil.

— Eu ajudaria vocês – O professor ria amarelo – Mas não faço ideia de onde fica a Câmara Secreta.

— Felizmente pro senhor... – Sherlock sorriu – Eu tenho uma suspeita.

 

~O~

 

Os três bruxos desceram as escadas e seguiram pelo corredor escuro até a porta do banheiro da Murta-Que-Geme. O professor ia na frente, com os dois alunos apontando as varinhas para ele. Lockhart não tinha ideia de quais feitiços os garotos sabiam e não queria saber do jeito mais difícil.

Sherlock abriu a porta e Lestrade empurrou Lockhart na frente. Murta estava sentada na descarga do último boxe e, ao ver os visitantes, ela saiu de seu lugar para flutuar por cima deles.

— Ah, é você... – disse para Sherlock. – Que é que você quer agora?

— Oi, Murta. Quero saber como foi que você morreu.

A atitude de Murta mudou na hora. Parecia que nunca alguém lhe fizera uma pergunta tão elogiosa.

— Oh! Foi pavorooooso! – respondeu com satisfação. – Aconteceu nesse banheiro e nesse box. Me lembro tão bem! Eu tinha me escondido porque Olívia Hornby estava caçoando dos meus óculos. Tranquei a porta e fiquei chorando e então ouvi alguém entrar. Disseram uma coisa engraçada. Deve ter sido numa língua diferente. Mas era um garoto! Um garoto intrometido, feito vocês! Eu saí pra mandar ele embora e então...

Murta fez uma pausa dramática. Os três rapazes estavam ansiosos para escutar o desfecho da história.

— Morri. – Ela disse sorrindo.

— Que? – Lestrade uniu as sobrancelhas – Mas como?

— Não faço ideia. Só me lembro de ter visto dois olhos grandes e amarelos. Meu corpo inteiro foi engolfado e então me afastei flutuando... – Ela rodopiou pelo teto sonhadora, mas parou e fez cara de zangada – E então voltei! Voltei pra assombrar Olívia Hornby! Ha! Ela lamentou ter rido dos meus óculos!

Lestrade e Sherlock se olharam. Lockhart olhou para a porta.

— O monstro da Câmara Secreta? – Lestrade indagou.

— Sim. Um basilisco. Mata com o olhar. Os alunos petrificados tiveram sorte de não encará-lo diretamente. O idioma esquisito deve ser a língua das cobras. É assim que o herdeiro controla o basilisco.

— Então a culpa disso tudo é um tatatataraneto de Slyterin, ofidioglota que nem ele?

Sherlock não respondeu. Em vez disso virou-se para Murta.

— Você lembra onde viu os olhos?

— Por ali – respondeu Murta apontando vagamente na direção da pia em frente ao boxe em que estava.

Sherlock deixou Lockhart aos cuidados de Lestrade e passou a examinar a pia. Era igual a todas as outras, incluindo os canos embaixo. No entanto, havia um pequeno detalhe a mais. Uma cobrinha bem pequena perto de uma das torneiras. 

— Essa torneira nunca funcionou – disse Murta, animada.

Sherlock passou os dedos pelo emblema de cobra, olhou firmemente para ele e falou uma palavra que só era entendível aos seus ouvidos:

— Abra.

O som que saiu da sua boca foi totalmente diferente do que os demais presentes estavam acostumados. Parecia um estranho e macabro assobio. Na mesma hora a torneira brilhou com uma luz branca e começou a girar. A pia se deslocou para dentro da parede e sumiu de vista, deixando um grande cano exposto, largo o suficiente para um homem escorregar por dentro dele.

Quando o corvino olhou para trás viu Lestrade e Lockhart com a boca e os olhos bem arregalados, prontos para esquecerem suas diferenças e darem no pé.

— Não. Eu não abri a Câmara Secreta.

— Quando você ia me contar isso? – Lestrade era uma mistura de pavor e indignação – Eu pensei que você tinha perdido o dom!

— Ninguém perde esse dom! Quem lhe falou isso?

— Minha mãe, ora! Disse que você passou por um evento traumático!

— Meus pais devem ter inventado essa história pra ela. – O corvino encarou o cano, analisando-o.

— Cara, você é mesmo o herdeiro de Slyterin...

— Somos parentes, então você também é, Greg.

— Somos parentes muito, muito, distantes!

— Eu já posso ir? – Lockhart apontou para a porta – Acho que não precisam mais de mim.

— Não! – Rosnaram os alunos ao mesmo tempo.

Lestrade cutucou o professor com a varinha:

— Você pode descer primeiro!

De rosto amarelo e sem a varinha, Lockhart se aproximou da abertura. Antes que pudesse interceder por sua própria segurança, Lestrade o empurrou cano abaixo. Em seguida se virou para Sherlock:

— Vamos conversar sobre isso mais tarde. – E escorregou em seguida.

Sherlock foi por último.

Os três derraparam por um escorregador escuro, viscoso e gelado. Havia canos mais estreitos saindo para todas as direções, passando pelos olhares dos três enquanto os bruxos desciam pela superfície íngreme. Finalmente, o cano nivelou e os três foram atirados a uma altura considerável. Lockhart caiu numa poça de lodo, Greg numa pilha de pedras e ossos, e Sherlock caiu em cima dele. Os três numa construção de pedra grande e cheia de limo.

Sherlock foi o primeiro a se levantar e logo puxou um atordoado Greg pelo braço, ajudando-o a ficar de pé. 

— Você está bem?

— Não. Cof! – O lufano tentava se recompor – Nunca mais vou a um escorregador na vida.

— O monstro deve estar por aqui. Lumus.  — A ponta da sua varinha acendeu — Aconteça o que acontecer, jamais olhe nos olhos dele.

— Ta. Vou me lembrar disso. E… Cadê minha varinha?

“Procurando por isso?” Lockhart estava alguns passos a frente dos garotos, com a roupa imunda e apontando a varinha de Lestrade para eles.

— Ah, droga... – Lestrade resmungava.

O professor abria um sorriso radioso, para o espanto dos meninos. Mas, de repente, Sherlock notou alguma coisa e acabou estreitando os olhos. Havia um detalhe faltando.

— A aventura termina aqui, rapazes! – Lockhart se gabava – Vou dizer que abri a Câmara Secreta, mas cheguei tarde demais para salvar a garota. Vocês não suportaram ver o corpo mutilado dela e enlouqueceram enquanto a criatura fugia.

— Professor, esper… – Sherlock tentou falar.

 Obliviate!

De repente a ponta da varinha explodiu, lançando Lockhart para trás. Da ponta saiu um raio que atingiu o teto, como uma pequena bomba. O solo começou a tremer e a desabar, e os segundanistas saíram correndo para escaparem dos grandes pedaços da estrutura que caíam com estrondo no chão. Isso acabou os afastando.

Quando a breve avalanche terminou, Sherlock se viu atrás de um grande amontoado de pedras bloqueando a passagem.

— Greg!

— Aqui atrás! – A voz dele soava longínqua devido aos montes e montes de pedras – Arg! Esse charlatão desmaiou! O que aconteceu? Que feitiço ele usou?

— Acho que era um de memória, mas ele não notou que sua varinha quebrou com a queda.

— Minha…? – Pausa. Provavelmente o lufano foi conferir – Minha varinha! Que merd…

— Tente arranjar um modo de passar. Eu vou na frente buscar a Molly.

— Sherlock, espera! Eu vou tentar tirar umas pedras!

— Se conseguir, me alcance. 

O corvino seguiu sozinho a caminhada para além do lugar desmoronado. Logo o som distante de Lestrade batalhando para retirar as pedras silenciou. Quando começou a investigar sobre o caso da Câmara Secreta, jamais imaginou que sua única opção seria lutar contra um basilisco sem ajuda. Lembrou-se vagamente de John, que, no ano passado, o colocou num sono forçado para enfrentar Quirrel sozinho. Se o grifinório estivesse lá, teria dado um jeito de proteger o corvino. Um jeito impulsivo e imprudente.

Pensando bem, achou bom ele estar petrificado dessa vez.

Ao dobrar mais uma curva, se deparou com uma parede sólida à sua frente em que havia duas cobras entrelaçadas talhadas em pedra, os olhos engastados com duas enormes esmeraldas brilhantes. Sherlock segurou a varinha com mais força e tomou coragem:

— Abram. — Disse em língua de cobra.

As cobras se separaram e as paredes se afastaram. As duas metades deslizaram suavemente, desaparecendo de vista, e Sherlock entrou.

Ali estava a Câmara Secreta. Grande, fétida, rodeada por água e lodo.

E no chão de pedra estava Molly Hooper, desacordada, de barriga pra cima, branca feito o gelo, e com o diário de Tom Riddle abaixo das mãos unidas contra o peito.

— Molly! – Sherlock correu até ela e tentou erguê-la pelos ombros – Hei, Molly, acorde!

A cabeça dela pendeu molemente para o lado. Sherlock prestou a atenção em seu torax, que subia e descia vagarosamente. Estava viva e não estava petrificada. Se afastou um pouco, tirou a varinha do casaco e conjurou o feitiço:

— Ennervate!

O som de um estalo ecoou, mas nada aconteceu.

“Ela não vai acordar”. Uma voz aveludada soava perto dele.

O corvino ficou rapidamente de pé. A varinha em punho, pronto para atacar. E logo se deparou com um garoto alto e de cabelos negros a poucos passos dali. Tinha os contornos estranhamente borrados, como se Sherlock estivesse vendo ele através de uma janela embaçada, mas o rosto era bem familiar.

— Eu sabia que não podia confiar em você... Tom Riddle.

 

Continua

 


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