Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 10
As peças se encaixam




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Sherlock voltou à cabana de Hagrid para apanhar a capa da invisibilidade, mas ainda não estava com vontade de voltar. Canino tremia debaixo de um cobertor no seu cesto, sem ligar para o comedouro bem abastecido, e John estava simplesmente jogado em uma poltrona, olhando as ripas da cabana, tentando se acostumar com a revelação do corvino de olhar penetrante que, agora, estava de pé a sua frente.

— Você é cheio de surpresas. – O grifinório falou finalmente – Herdeiro de Slyterin?

— É o que dizem.

— Outras pessoas da sua família são ofidioglotas?

— Eu evito meus parentes, mas meu pai e Mycroft não são.

Sherlock sentou-se numa cadeira. John olhou para ele.

— Isso não quer dizer que foi você... Mas é mesmo muita coincidência. — Admitiu o Watson.

— Eu sei. Moriaty disse que queria começar um jogo comigo, lembra? Dobby é elfo pessoal do Moriaty e sabia que a Câmara Secreta foi aberta, então, obviamente, Moriaty sabia de algo. Com todos dizendo que eu estava por trás dos ataques, comecei a pensar se alguém estava me manipulando magicamente.

— Isso pode ser feito?

— Isso vive sendo feito por bruxos das trevas. Eles apagam sua memória ou implantam uma falsa. Até eu ouvir do próprio Moriaty que seria muito óbvio se o culpado fosse eu, essa hipótese não tinha saído da minha cabeça.

John se manteve reflexivo enquanto escutava. Por isso o corvino parecia tão contente depois de suas investigações na Sonserina. 

— A lembrança de Tom Riddle chamou minha atenção – Sherlock prosseguiu – Aquilo tudo não fazia sentido. Slyterin era ofidioglota, o monstro tinha que ser uma cobra, e o monstro de Hagrid não era. Mas se o monstro da Câmara Secreta estava realmente atacando os alunos, ele tinha que ser controlado por um ofidioglota. Elimine todas as alternativas impossíveis e fique com a que restou, por mais improvável que seja. Eu precisava ir para a Floresta Proibida eliminar a hipótese da acromântula, só não imaginava que Hagrid nos meteria numa fria dessas – deu de ombros – De qualquer forma, agora só restou uma alternativa. Há um ofidioglota além de mim na escola.

Os dois ficaram em silêncio. Sherlock realmente era um forte candidato a abir a Câmara Secreta, em todos os pontos de vistas. Se John não o conhecesse, provavelmente teria se deixado levar pelos comentários.

Mas ele o conhecia.

— Você é mesmo um idiota. — Confessou o loiro antes de fitá-lo, e quando viu o corvino franzir o cenho, acrescentou — Sério que achava que Moriaty estava lhe manipulando?

— Você não pode fingir que não faz sentido.

— Não estou fingindo. Moriaty pode ser astuto, mas não tem metade da sua inteligência. O único bruxo do segundo ano que teria alguma chance de aprender feitiços complicados é você. E se nem você conseguiu aprender a distorcer memórias, claro que Moriaty não consegue!

— Quem lhe garante que não sei manipular memórias?

— Se você soubesse já teria se exibido disso.

Sherlock soltou um riso fraco sem querer: 

— Seu poder de observação realmente está melhorando.

— Eu observo você. — John baixou o olhar desanimado — O problema é que eu não lhe entendo. Se você se abrisse comigo seria mais fácil.

Sherlock se sentiu estranhamente leve, como se muita coisa tivesse saído de dentro de si. No fundo sabia que fora vencido pelas emoções e era por isso que odiava quando elas prevaleciam sobre o seu intelecto. Se estivesse usando sua mente, saberia que poderia confiar no amigo desde o começo.

— Ta. — O corvino concordou — Eu lhe falo o que eu sei e poderemos pensar juntos.

— Ótimo.

— Lembra quando ouvimos a Murta-Que-Geme pela primeira vez? Quando Sally nos flagrou?

— Sim?

— Você tinha ouvido a Murta, mas eu não. Eu ouvi uma voz estranha de algo sedento por liberdade. Quando percebi que você não ouvia, cheguei à conclusão de que era uma cobra.

— No banheiro?

— Não. Nas paredes. A voz se distanciava de mim, mas só haviam paredes do meu lado. Sally sabe do meu segredo, então eu não podia contar para ela o que eu estava ouvindo.

— Por que?!

— Digamos que a primeira vez que eu dei "oi" pra um cinzal ele queimou a casa do vizinho, e Sally até hoje acha que eu o mandei fazer isso. Foi mais ou menos na época que meus pais me proibiram de usar o idioma. Sempre que uma cobra fizer algo, vão atribuir a culpa a mim.

O queixo de John quase caiu ante aquela confissão. Lembrou-se de Sally dizendo, no primeiro ano, que Sherlock era o tipo de bruxo que ficaria bem na Sonserina. Tudo estava inesperadamente explicado. 

— Eu segui a voz, mas ela sumiu. — Sherlock prosseguia pensativo — Ok, depois voltamos do aniversário de morte de Nick-Quase-Sem-Cabeça e eu ouvi a mesma voz pela segunda vez. Eu a segui e só então vi a gata do Filch pendurada pelo rabo. Com certeza Snape não engoliu minha desculpa. Minha visão pode ser boa, mas não a ponto de enxergar no escuro.

— Ah, cara! — O loiro, de repente, cobriu o rosto com uma das mãos — Você ficou muito feliz com a mensagem na parede, lembra? Olha, eu tento ficar do seu lado, mas...

— Era um mistério! Como não ficar animado? — Seus olhos se encheram de brilho, todavia, em segundos, a empolgação se dispersou como fumaça — Só que depois vieram as acusações e percebi que a única pessoa que se enquadrava como herdeiro era eu mesmo. O resto você já sabe. 

John absorvia tudo o que acabara de aprender. Considerava a amizade de Sherlock uma dádiva, mas também um grande desafio. Ele tinha um imã natural para problemas e isso piorava com a má fama oriunda da sua personalidade peculiar.

— Ta. — Disse o loiro pensativo — Então temos um basilisco que se movimenta pelas paredes. A Câmara Secreta?

— Provavelmente. Mas onde fica a entrada?

— Peraí, qual é o tamanho da Câmara Secreta? Digo, será que nenhum  fantasma ou mesmo o Pirraça, notou que por trás das paredes tem a Câmara? Fantasmas adoram atravessar paredes, não?

Sherlock apoiou o queixo nos dedos entrelaçados e mergulhou numa cadeia de informações formada diante da sua visão. Sentiu sua mente viajar pelo palácio mental enquanto imaginava o basilisco passando pelas estruturas de Hogwarts sem ser visto.

— Um tipo de passagem que se estende pelas paredes do castelo e não pode ser acessada pelas pessoas... Um tipo de passagem que pode ser acessada por fantasmas, mas é ignorada por eles... 

Então lembrou-se da água presente no cenário onde a Madame Nor-r-a foi encontrada petrificada e a resposta se fez óbvia. Tão óbvia que quase sentiu vergonha de não ter pensado nisso antes.

— Claro! O encanamento do castelo!

— Encanamento? — John indagou — O basilisco se move pelos canos?!

— Sim! Canos! Eles estão por toda a escola, não da pra acessá-los facilmente e os fantasmas os ignoram! E... A garota... A garota que Aragogue falou... Ela foi morta num banheiro!

— Então a entrada fica num banheiro! — O grifinório pulou da poltrona, mostrando um sorriso exultante, cheio de adrenalina.

— Mais do que isso. E se a garota ainda está nesse banheiro? E se ela é um fantasma que assombra o lugar onde morreu?

—  Caramba...

— O banheiro da Murta. 

— Caramba... Caramba! Sherlock, você solucionou o mistério!

— Ainda não. Precisamos perguntar pra ela primeiro. E não sabemos quem anda abrindo a Câmara Secreta.

— Não precisamos saber agora! Se acharmos a Câmara Secreta, achamos quem está por trás dela!

Sherlock abriu um sorriso aquilino enquanto John se encontrava imbuído por uma euforia descomunal. Enfim, o corvino se levantou, pegou a capa da invisibilidade e a jogou por cima dos ombros.

— Hora de voltarmos, John. Amanhã falamos com os professores.

 

~O~

 

Naquela hora da madrugada, o fluxo havia diminuído um pouco. John foi deixado perto do quadro da Mulher Gorda e Sherlock seguiu para o dormitório da Corvinal. A sala ficava perto do quadro de um nobre e, na porta, havia uma aldrava em forma de cabeça de águia. Quando o aluno se aproximou, a águia lançou o enigma:

Por mais que eu corra

Não consigo escapar

Observo, mas não vejo

Longo, causo desânimo

Curto, causo aflição

Quem sou eu?

—  O tempo.

A porta se abriu. Sherlock tirou a capa da invisibilidade e a enrolou debaixo do braço. Subiu muito silenciosamente até o dormitório e entrou. Todos os seus colegas do segundo ano ainda dormiam enquanto ele sentia a ansiedade invadir-lhe. Sua mente estava unicamente concentrada no que faria após o raiar do dia.

Guardou a capa, descalçou os chinelos e sentou-se na cama. Achou melhor usar um pouco da poção do sono dessa vez.

 

~O~

 

Na manhã seguinte, a notícia da saída de Dumbledore alarmou quase todos os alunos. Obviamente Jim Moriaty e seu séquito sequer fingiam descontentamento com a situação. Divertiam-se assustando e zombando os primeiranistas das outras casas que estavam amedrontados com os ataques. A mente de Sherlock, no entanto, estava em outro lugar. Precisava encontrar John logo para colocar seu plano em prática. Preparou um feitiço de origami para mandar a mensagem assim que o encontrasse no café da manhã, mas John não estava no refeitório. Dormira demais por causa da noite passada.

A impaciência tomava conta de seu ser e ficou pior quando notou que o grifinório não tinha comparecido na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, nem na de poções.

Enquanto Sherlock se empenhava na sua cura para furúnculos, estava mais fechado que o normal. As provocações de Anderson e de Snape entravam por um ouvido e saiam pelo outro. A ausência do amigo já estava começando a preocupá-lo. Estava tentado a perguntar sobre John para Sally e Henry, mesmo que os dois não parassem de encarar Sherlock e cochichar entre si, mas quando deu o horário da saída eles foram embora antes que o garoto pudesse alcançá-los.

Na hora do almoço, seguiu apressadamente para o refeitório, na esperança de encontrar John descontando seus aborrecimentos da noite passada num bife suculento. 

Mas no meio do corredor se deparou com Flitwick.

— Holmes.

— Professor?

— Estive procurando por você.

Por um instante o segundanista chegou a pensar que o diretor de sua casa desconfiava de sua saída noturna, mas só então notou que o semblante dele trazia certo pesar.

— Venha comigo, Holmes.

E sem dizer uma palavra, Sherlock o seguiu.

Os corredores estavam cada vez mais vazios. O clima era mórbido. Era como se Dumbledore tivesse levado parte de Hogwarts com ele. Sherlock percebeu que não estavam indo para a sala de feitiços, nem para a sala da vice-diretora. O caminho que traçavam era o da enfermaria.

E quando Flitwick abriu a porta, o garoto quase caiu para trás.

John estava na primeira cama, petrificado, com o mesmo pijama vermelho da noite anterior e uma expressão de pânico no rosto.

—  John!!

Sherlock praticamente correu até o leito e segurou o rosto do amigo com as duas mãos, os polegares fixos em suas bochechas. Não. Não podia entrar em pânico. Precisava olhar a situação de uma forma lógica. A pose. John estava meio curvado quando foi petrificado e uma das mãos estava espalmada para frente. A outra segurava algo. Certamente a varinha. A boca do loiro estava aberta, provavelmente ele ia gritar.

— Professor, onde ele estava apoiado? A mão dele, está… Está vendo?

— Segundo Filch, em um dos vitrais.

A porta se abriu novamente. Harry, Sally e Henry haviam entrado, escoltados por Minerva McGonagall, e quando Sally viu o jovem Watson naquele estado quase explodiu em cima de Sherlock:

— O que você fez com ele, aberração?

—  Calma, Sally… –  Henry estava aflito.

Sherlock mal conseguia ouvir a conversa. Fechou os olhos e rangeu os dentes como se pensar exigisse muito esforço agora. 

Enquanto isso, Henry se virava para os professores:

—  Por isso ele não estava no dormitório hoje de manhã! Quando isso aconteceu?

—  Achamos que foi nessa madrugada. –  Respondeu Minerva. – Ele provavelmente estava com fome e saiu no meio da noite para comer algo, pois Filch o encontrou a caminho da cozinha.

— Então prenderam a pessoa errada! –  Harry se exaltou – Se o guarda caças fosse mesmo o culpado, isso não teria acontecido!

—  Sabemos, senhorita Watson, e por isso acabamos de mandar uma coruja ao Ministério.

Sherlock tentava raciocinar em meio ao falatório, então teve a ideia de vasculhar os bolsos de John. O bisbilhoscópio não estava com ele.

— Alguém sabe onde está o bisbilhoscópio dele? — Interrogou o corvino.

Todos ficaram calados. Henry respondeu:

— Tinha... Tinha um bisbilhoscópio quebrado na frente do quadro da mulher gorda. Parece que alguém pisou em cima.

Uma cena se passou pela cabeça de Sherlock. Antes de entrar na sala comunal, o bisbilhoscópio apitou. John deve ter visto alguém suspeito e, por impulso, quebrou o bisbilhoscópio antes que pudesse ser flagrado. A pessoa não o atacou, caso contrário ele teria sido encontrado perto da Torre da Grifinória. Não, ela continuou seu caminho e John a seguiu. Não foi o basilisco, ele não seguiria uma cobra gigante e mortal. Foi a pessoa por trás dos ataques. Um barulho suspeito deve ter assustado o rapaz no meio do caminho, então usou a varinha para conjurar o lumus. Como desconfiou que poderia ser o basilisco, olhou para o vitral, buscando ver o reflexo da coisa, mas o reflexo que viu foi o dos olhos da criatura.

Sim. Isso fazia bastante sentido.

— … Por isso vamos tomar medidas mais drásticas a partir de agora. – Era a voz de Minerva conversando com os demais – Todos terão que ser escoltados pelos professores. Ninguém mais poderá ficar sozinho pelos corredores. Tenho certeza que Dumbledore voltará assim que o Ministério da Magia receber a coruja. Agora vamos todos voltar ao salão.

— Venha, Holmes. – Fitwick o puxou com cuidado – Precisa voltar às aulas.

Mecanicamente, o rapaz obedeceu.

Continua


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Notas finais do capítulo

O capítulo deu uma mudada porque assim fica mais fácil de ler.