Worse Than Nicotine escrita por Dama do Poente


Capítulo 31
Life Ain’t Always What You Think It Ought To Be


Notas iniciais do capítulo

Oiiii, pessoinhas!! Eu já deveria ter postado, eu sei, mas aqui está esse capítulo, que eu amei horrores. Obrigada a todos que comentaram no último capítulo, vou respondê-los assim que terminar de postar aqui, ok?
Aah, todo mundo sabe que agora tem um grupo para essa e outras fanfics? Não? Então deem uma olhada no meu perfil e cliquem no link que aparece bem em cima!
Aproveitem o capítulo (que tem música. yupiii)



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P. O. V Autora:

Celebrar-se-iam 13 dias desde que o mundo real perdera o brilho para o mundo dos sonhos. Treze longos dias sem que Allegra abrisse os olhos.

Apolo, estranhamente, estava esperançoso, dizendo que logo a teriam de volta. Passava dia e noite ali, ao lado da filha, e foi preciso que sua mãe viesse da Grécia para persuadi-lo a ficar um ou dois dias em casa. Mais parecia uma ordem incontestável, o que o levou a ficar quieto em seu apartamento, “cuidando” de Ártemis. Por nada no mundo ele a deixaria ir para o próprio apartamento. Não agora.

Mas, se por um lado, conseguiram tirar Apolo do hospital, nada no mundo tiraria Thalia de lá. Nem mesmo Nico, que após muita insistência ― e falha ―, preferiu apoiá-la e passar o maior tempo que podia com ela.

Por isso, na manhã do 13º dia, quando Nico não estava em lugar algum, Hera se aproximou de Thalia e lhe perguntou:

― Onde está Nico, meu bem?

― Na faculdade. ― suspira Thalia ― Ele lembrou que ainda está matriculado e foi fazer uma prova.

Não eram muito de conversar, por mais que a mais velha tentasse, mas nas atuais circunstâncias, tudo estava mudando.

― Acho que lhe devo desculpas, ou muito obrigada... ― Thalia murmura, após um longo silêncio.

― Como... Como disse? ― Hera pergunta confusa.

― Você e meu pai estão juntos há tanto tempo que mal me recordo, e você sempre fez o máximo que pôde para transformar aquela casa em um lar. E eu sempre fui muito... Muito...

― Humana? ― Hera quase ronrona de tão suave que foi sua fala ― Thalia, eu nunca levei muito a sério aqueles xingamentos, mesmo que machucassem um pouquinho.

― E é exatamente isso que torna tudo pior! ― o olhar de Thalia foi parar em todos os aparelhos que monitoravam a agora frágil vida de Allegra ― Você sempre foi aquela que esteve por perto nas horas mais difíceis: quando Apolo descobriu que Daphne estava grávida e quando ele se tornou pai solteiro aos 18 anos; quando minha mãe morreu... Eu me lembro de acordar gritando, no meio da noite, e você estava lá, na beira da minha cama. E quando não estava comigo, estava com Jason. Quando Maria faleceu, você me ajudou a permanecer firme para ajudar Nico e, agora... Agora você está aqui, me dizendo que não lhe devo nada.

― Por que é verdade: tudo o que fiz foi por querer. ― Hera sorria tenramente ― Eu sempre tive em mente que jamais substituiria Leto ou Beryl, sabia que não me aceitariam tão facilmente.

― Apolo sempre te adorou, Hera...

― Isso porque ele sempre foi louco por medicina e análise comportamental; uma psicóloga especializada em Behaviorismo, morando dentro de casa, era algo a chamar atenção.

Thalia reflete e acaba concordando: Apolo e tudo ligado a psique eram um casamento compreensível.

― Mas Jason também gostava de você...

― Ele era pequeno, Thalia: nem entendia o que estava acontecendo. E, quanto a você ― o sorriso de Hera se tornou ainda mais pronunciado, como se dividissem um segredo ―, você sempre foi ciumenta.

― Ciumenta? De quem, além do Nico, eu tenho ciúmes?

― Do seu pai! ― Hera responde.

― Eu? Sentindo ciúmes de Zeus? Não me faça rir, Hera.

― Sabe o modo como Allie sempre destruiu tudo o que as ex-namoradas de Apolo lhe davam de presente? Ou como ela ainda repele, só com um olhar, qualquer mulher, exceto Ártemis, que se aproxime do pai?

― Ela só faz isso porque, assim como todos nós, quer que os dois fiquem juntos. Eu a apóio nisso.

― E agia assim quando a conheci. Mas não por querer que seus pais ficassem juntos, e sim por achar que eu a separaria de seu pai.

Thalia mordeu a língua para evitar dizer que, de certa forma, os separou, porque, lá no fundo, ela bem sabia que aquela não era a verdade.

― Não seria bom se ela escolhesse esse momento para acordar e me chamar de tola?

― Ela jamais faria isso: Allegra te ama, Thalia. Assim como todos nós! ― Hera se surpreende a se ver dando um beijo na testa da enteada antes de sair do quarto.

Do lado de fora, no corredor, estava Zeus. Cabisbaixo como os filhos. Ela ainda se lembrava de como ele estivera quando descobriu o estado da neta. Ele se sentira culpado. Não fora um bom pai, nem bom marido... Ainda não era um bom marido... Na verdade, falhara miseravelmente nas duas tarefas, mas tentava ser um bom avô.

― Vai ficar tudo bem? ― a esposa o pergunta, assustando-o.

― Espero que sim! ― ele suspira ― Thalia está lá dentro?

― Sim! E você deveria estar lá também! ― Hera lhe dá um beijo na bochecha ― Estarei no consultório, ligue-me se precisar, ou se qualquer coisa acontecer.

Zeus assentiu e respirou fundo antes de se encaminhar para o quarto em que a neta e a filha estavam. Ver Allegra naquele estado era um paradoxo e tanto se comparado com a primeira vez que a vira: era apenas um bebê no berçário, mas ele logo se encantou por ela; tinha a pele rosácea e os cabelos castanhos ― talvez uma junção entre o loiro do pai e o preto da mãe ― e mexia-se preguiçosamente. Apesar das complicações do parto, a menina estava saudável... Ao contrário de hoje em dia.

E, ao contrário de hoje, quando Apolo lutava para não sair do hospital, naquele dia ele se recusava a vê-la.

“― Apolo, ela é sua filha... ― Zeus suspirara, sentado ao lado do filho mais velho, que tinha apenas 18 anos.

― Eu não posso! O amor da minha vida se foi; não posso olhar para essa criança e pensar que tudo está bem! ― o filho respondera, com lágrimas escorrendo pelo rosto

― Ela precisa de você, filho! ― tentou soar o mais carinhoso possível, mas havia muitas barreiras entre eles. Barreiras que, Zeus admitia, foram criadas por ele.

E não só entre ele e Apolo, mas entre ele e Thalia, e entre ele e Jason também!

― Não... Você e Hera podem cuidar dela, ou pagar uma babá, ou... ― mas ele não deixou Apolo terminar o discurso de desdém.

Zeus não podia permitir que o filho acabasse como ele. Apolo era jovem demais, ainda podia recomeçar.

― Olhe para aquela coisinha minúscula ali, e tente imaginá-la triste, abandonada pelo pai e com a mãe morta! ― foi com certa violência que o pai pressionou o rosto do filho contra o vidro do berçário após arrastá-lo até ali.

A primeira reação de Apolo foi arquejar! E então, gaguejar.

― É... É e-la? ― ele pergunta, espalmando as mãos no vidro, como um menininho numa vitrine de brinquedos.

― Sim, Apolo! Aquela é sua filha! ― ele respondeu baixinho.

O filho não esboçou reação alguma, apenas ficou ali, boquiaberto. Foi ali que Zeus sentiu que de fato poderia ajudá-lo e não perdeu tempo: fez sinal com a cabeça, permitindo que a enfermeira trouxesse a criança para eles.

Apolo acompanhou, com o olhar, a caminhada curta até onde estavam e, no minutos seguinte, segurava a filha no colo.

― Ela é tão linda! ― ele murmura, vendo-a se remexer em seus braços ― Tão linda, minha princesinha!

― Qual será o nome da princesinha? ― a enfermeira sorria tenramente.

― Allegra! ― Apolo respondera sem pestanejar, sorrindo ao ver a filha bocejando ― Minha eterna fonte de alegria!”

Allie acabou por ser a alegria de todos os Grace, especialmente de Zeus: ela amolecera o coração do avô, quase uma segunda chance para ele também!

E lá estava sua pequena luzinha, presa a cama, sem previsão para acordar...

― Oi, pai! ― a voz de Thalia o tira de seus devaneios, e ele abaixa seus olhos para encontrar os da filha, tão azuis quanto os dele, e igualmente tristes ― Você sabe que não é sua culpa, né?

Sim, ele sabia, mas não conseguia parar de pensar que, se tivesse sido um pai melhor, se não tivesse sido impaciente, mas sim um bom exemplo para os três filhos ― nesse caso, especialmente o mais velho ―, talvez nada daquilo estivesse acontecendo.

― Hera disse para eu não me torturar... Disse que Allie não gostaria disso... ― ele murmura, sentando ao lado de Thalia.

Era embaraçoso como eles ficavam desconfortáveis juntos. Deveriam ser uma família, mas graças a ele, todos os laços estavam arrebentados...

― Ela tá certa! ― Thalia suspira, observando as unhas com interesse... Apenas mais uma forma de mostrar o incômodo que era aquela situação.

― Espera aí: você tá concordando com Hera? ― ele pergunta assustado, sorrindo para ela.

― Nós... Meio que... Nos entendemos hoje, sabe? Eu pedi desculpas pelo meu comportamento quando era criança, e ela me disse que estava tudo bem em ser humana. ― Thalia estava vermelha, e sem maquiagem o lembrava bastante de quando era criança e os dois ainda se davam bem ― Todo esse negócio de enfim me acertar com Nico, e então tudo isso acontecendo e virando o jogo, indo da alegria extrema para o terror extremo, me fez perceber que a vida é curta demais para se guardar rancor.

“― Seus filhos estão vivos, Zeus: você ainda pode ser pai deles! ― Hera murmurara, abraçando-o no sofá há algumas noites quando enfim estiveram em casa. Ele tinha acabado de reclamar que Allie era sua última segunda chance...”

E ali estava a prova de que Hera estava certa: Thalia estava ali, conversando normalmente com ele, mas ainda havia uma barreira para se quebrar. E ele a quebraria, reconstituiria os laços com seus filhos.

Principalmente com sua princesinha ― que o mataria se soubesse que era tratada assim.

― O que você acha de tomarmos um café, filha?

P. O. V Thalia:

A única coisa que me entreteve na sala de espera naquela tarde, sentada ao lado de meu pai, foi o incontável número de mensagens que chegavam a meu celular. Afrodite e as filhas, Mathias, repórteres ― esses querendo debater ora sobre o coma, ora sobre a coleção, ora sobre meu namoro com Nico ―, e vários conhecidos enchiam a caixa de entrada. Mas ninguém vencia Nico.

Era extremamente fofo e reconfortante receber tantas mensagens, perguntando como eu estava, como tudo estava e, principalmente, repetindo o quanto me amava; entretanto eu também me preocupava: ele deveria se concentrar na prova, não em mim... Se bem que, não tem como negar: todo aquele mimo estava me deixando emocionada.

― Ei, por que está chorando? Aconteceu alguma coisa? Aquele filho de Hades fez alguma coisa? ― Zeus pergunta preocupado, voltando com dois copos de café.

― Nada. Nico não fez nada, além de ser atencioso demais! ― respondo, secando as lágrimas que eu não percebera que caíam ― Ele fica mandando mensagens toda hora, mesmo que não devesse.

― E por que não deveria? ― meu pai me passa um dos copos.

― Porque ele tem provas para fazer e... ― me interrompo, ao receber mais uma mensagem ― Só um minuto, pai...

Me afasto, já com o celular na orelha, observando o copo de café e tentando adivinhar seu conteúdo ― seria um cappuccino ou um machiatto?

― Aconteceu alguma coisa, vita mia? ― a aflita voz de Nico me surpreende, interrompendo meu pensamento ao atender antes do segundo toque.

― Como atendeu tão rápido? ― solto, antes que consiga organizar meus pensamentos ― Esquece, não responde. Liguei para mandar você parar de me enviar mensagens.

― Nossa... Eu só estava preocupado. ― Nico soa ofendido.

Suspiro. Eu realmente soara rude, o que ele não merecia, não depois de tanto carinho. Mas meus nervos já não respondiam de forma agradável. Não depois da intensa conversa com Hera.

― Desculpe, amor! Eu sei que você tá preocupado, mas você tem uma prova hoje e... ― hora de tomar medidas drásticas ―, se não tirar uma nota boa, vou trancá-lo do lado de fora ― além de me sentir culpada, mas não digo isso a ele.

Nico tentaria aliviar minha culpa, o que não daria certa, e entraríamos num ciclo vicioso.

― Eu tenho a chave. ― eu quase conseguia vê-lo dando de ombros, como se a faculdade não fosse nada demais.

― Eu sei. Mas também sei o número de um bom chaveiro, então trate de tirar um A+ se quiser dormir numa cama quentinha.

Va bene! ― ele suspira, se rendendo ― Mas você precisa ir para casa, precisa descansar, dormir. Sei que quer ficar ao lado dela, mas não vai adiantar nada ficar aí e ser internada por exaustão.

― Mas...

― Sem mas, Thalia! Eu vou passar aí quando a prova acabar e iremos para casa, ok? ― havia um autoritarismo desconhecido em sua voz, que eu adoraria ouvir em outras circunstâncias.

Contudo, ele estava coberto de razão. Eu estava a ponto de desmaiar de exaustão, assim como quase acontecera com Apolo.

― Ok, Nico! ― me rendo ― Só presta atenção!

― Prestarei! ― e agora eu quase podia ver o sorriso em seu rosto ― Eu te amo! ― e ele verbaliza o conteúdo de suas mensagens.

― Também amo você! ― sorrio enquanto desligo, sentindo-me mais calma.

E coro, imediata e violentamente, quando viro e vejo Zeus me encarando com um sorriso bobo no rosto sempre severo. Vê-lo sem terno e sorrindo era algo raro.

― O que foi? ― pergunto, tentando evitar seus olhos muito azuis.

― É fofinho o modo como se preocupa com o filhote de Hades. ― ele responde, aumentando minha surpresa.

― Não fale do meu namorado como se ser filho do pai dele fosse algo ruim... É ofensivo, ok? Meu sogro é legal. ― de fato, Hades era um cara legal, sempre fora. Era o extremo oposto de meu pai: enquanto Zeus não conseguia se manter junto aos filhos, Hades não conseguia se afastar. Mesmo quando brigou com Nico por conta da faculdade, ele constantemente ligava para o filho para saber como estava, além de exigir sua presença nos almoços de domingo, onde era comum ver os dois cozinhando e discutindo teorias de filmes cult.

― Quem diria... Hades e eu na mesma família! Aquele desgraçado sortudo! ― meu pai sorri, como se falasse de um bom e velho amigo ― Sabe a mulher que Hades e eu...

― Já sei pai: era Maria. Hades contou essa história a Nico, que me contou também...

― Pois é... Hades e eu já fomos bons amigos ― papai murmura, saudoso ― Não tanto quanto você e Nico... Não o achava muito atraente, sabe? Ele era magrelo e cabeçudo, embora ele se achasse sarado...

E, como se aquele fosse o dia dos milagres, eu estava rindo de algo que meu pai dissera. E não de um jeito ruim, mas como se fôssemos cúmplices em alguma brincadeira. Como se ainda fosse inverno e eu tivesse 16 anos a menos e estivéssemos no mesmo time de guerra de neve.

Lá estávamos nós, papai e eu, rindo de suas aventuras como um jovem piloto, quando um grito nos desperta, levando-nos a correr.

―Ai. Meu. Deus.

P. O. V Autora:

―Se você morresse jovem, qual música romântica gostaria que embalasse sua partida?

―Agora, neste exato dia, acho que seria Angels, do The XX.

―Por quê?

―Porque, se as pessoas acreditassem, se alguém acreditasse em mim, eles se apaixonariam por você assim como eu.

― Cuidado: desse jeito eu me apaixono por você!

―Não esse tipo de amor. Você é minha única amiga, meu anjinho da guarda, a única que entendeu meu lado. Sou apaixonado por isso.

― Quem diria que você poderia ser fofo?

―Sou um amorzinho, e você sabe disso. Agora você: qual canção de amor embalaria sua partida?

―Acho que Brooklyn Baby, da Lana diva Del Rey! ― a menina responde ao amigo, indo se sentar ao lado dele.

―Música indie... Por que não me surpreendo? ― ele revira os olhos, ganhando um leve tapa no braço. ― Ok, por que essa?

― Por que eu sou muito legal para te conhecer. ― ela ri, mas se endireita. ― É porque todo mundo me acha nova demais para tudo o que gosto, mas essa é uma nova geração: somos jovens, mas conscientes. E eu to bem cansada de explicar isso.

― Eu ia te zoar, mas concordo com o que disse. Enfim ― agora o menino se dirigia para a câmera a sua frente ―, todo esse papo foi apenas para entrar no clima da canção sorteada para nós: essa fofa garota ao meu lado.

― Allegra Grace.

― E esse que vos fala, William Solace. ― o loiro leva a mão ao peito ― Podemos, senhorita?

Allegra apenas assente, antes de começar a cantarolar a capela

If I die young, bury me in satin (Se eu morrer jovem, me cubra com cetim)
Lay me down on a bed of roses(Deite-me em uma cama de rosas)
Sink me in the river at dawn(Afunde-me no rio ao amanhecer)
Send me away with the words of a love song(Mande-me embora com as palavras de uma canção de amor)

Apolo pausa o vídeo no momento em que Will começa a dedilhar o violão. Ver a filha cantar uma música sobre morrer jovem era irônico demais para ele. Era quase ouvi-la dizer que gostaria de ser despachada dessa para a melhor usando um vestido branco e pérolas, e que não deveriam ficar tristes por ela ir tão cedo: ela tivera tempo suficiente para aproveitar tudo.

― Quem era, Apolo? ― a voz de Ártemis o desperta, e ele se esforça para secar as lágrimas.

― Will. ― ele evita o sobrenome , sabendo que ela não gostaria de ouvi-lo ― Ele veio saber como Allie estava e aproveitou para, mais uma vez, pedir desculpas.

― Pobre garoto torturado. ― a ruiva suspira, abraçando-o pelas costas e beijando o topo de sua cabeça ― O que estava vendo?

Ele sequer queria responder. Falar parecia piorar tudo, mas Ártemis merecia saber.

― Um vídeo, do Will e da Aliie. Nem sabia que eles tinham que gravar uma música... ― murmura, antes de soltar o vídeo.

Lord, make me a rainbow, I'll shine down on my mother (Senhor, faça de mim um arco-íris, eu brilharei sobre minha mãe)
She'll know I'm safe with you when she stands under my colors, oh and (Ela saberá que estou segura com o Senhor quando ela estiver sob minhas cores, oh e)
Life ain't always what you think it ought to be, no (A vida nem sempre é o que você acha que ela deveria ser, não)

Dessa vez foi Ártemis quem pausou o vídeo, na exata parte em que Allie canta que a pessoa nem é grisalha, mas já está enterrando seu bebê.

― Odeio essa música a partir de agora! ― a ruiva fecha o notebook ― Por que deram essa música a eles?

Mas ele não respondeu. Não sabia o porquê, apenas que era dolorosamente irônico. Era terrível ver a filha ali, viva, cantando e brincando, sabendo que ela estava longe disso, presa a uma cama.

― Ela não vai morrer. ― Ártemis suspira, como se pudesse ler os pensamentos dele. ― Eu sei que é difícil acreditar, mas...

― A culpa é minha.

― O quê?

― Se eu não tivesse mentido, se eu não tivesse brigado com ela, Allie não teria fugido e decidido morar com você. Não teríamos marcado nada, e estaríamos seguros, porque ele pouparia você. Ele se entregaria se você tivesse pedido...

― Não se entregaria, Apolo! Órion preferiria acabar com nossas vidas a viver sem mim. ― Ártemis o interrompe, e ele sente as lágrimas dela molharem sua camisa. ― Mas eu preferiria estar morta, a...

― Não, não diga isso, Ártemis! ― ele a puxa para sua frente, sentando-a em seu colo ― Eu ficaria perdido sem você... Eu não sou nada sem você, então nem começa com preferia estar morta, porque isso não mudaria nada. Eu não estaria menos triste, nem me conformaria. Se você tivesse morrido, e Allie estivesse em casa, estaríamos destruídos.

― A culpa não é sua. É minha. ― ela diz sôfrega. ― Toda minha.

Mas antes que Apolo tentasse tomar a culpa para si, seu celular toca, anunciando com a voz de Cyndi Lauper que sua mãe queria falar com ele.

―Oi, mãe! ― ele atende, ainda acariciando as costas da ruiva em seu colo.

― Meu filho, você estava chorando? ― a mãe pergunta, preocupada.

Entretanto, não foi na mãe que ele prestou atenção.

― Mãe, que falatório é esse aí? A senhora não estava no hospital? ― pergunta confuso: havia uma gritaria tão alta, que ele poderia jurar que a mãe estava em alguma feira de rua, ou em Chinatown.

― Ah, isso? ― a mãe ri ― Ok, ouça.

A linha semi-silencia por uns segundos, antes de voltar com força total, aos berros.

― Ai. Meu. Deus! ― Apolo exclama ― Allegra!

― Hum? ― Ártemis ergue a cabeça, a atenção voltada para o celular, que Apolo pusera no viva-voz.

Do outro lado da linha, bem longe dali, uma mini-força da natureza causava um rebuliço.

― Como assim tirar sangue? Eu to ótima! Estou acordada, sinto todo o meu corpo, que está bem rígido, consigo falar, enxergar e ouvir! ― Allegra gritava, a plenos pulmões ― Aliás, não vejo meus pais. Onde estão eles? Vovó, o que está...? Ei, tá falando com meu pai? Se estiver, seria legal se ele parasse de beijar a mamãe e viesse me ver... Impedir que tirem meu sangue...

― Nós não impediríamos nada! ― Apolo diz, se afastando de Ártemis. Eles ainda choravam, mas não era mais de tristeza ou qualquer sentimento ruim. As lágrimas eram de pura felicidade, e Ártemis achava que os profundos e misteriosos olhos azuis de Apolo ficavam ainda mais bonitos assim.

― Podiam pelo menos segurar minha mão, né? ― a filha briga, já sem gritar.

― Já estamos indo, filha. Não surte! ― Ártemis tenta acalmá-la, mas estava tão feliz que sentia vontade de gritar.

― Se estiverem felizes o suficiente para me darem um irmão, não precisam se apressar. Se não, façam o favor de correrem pra cá. E tragam o idiota do Will: estou com saudades de bater nele.

― Allie! ― os pais mais felizes de Nova York reprimem a filha.

― Amo vocês! ― a menina cantarola, antes de desligar.

E os dois ficam ali, em júbilo pela recente conversa, encarando-se. Sorrisos gêmeos estampavam seus rostos.

― Ela... Ela...

― Eu sei! ― Ártemis ri, segurando o rosto de Apolo em suas mãos ― Eu disse, não foi? Eu disse que ela voltaria para nós.

― É. Você disse. ― Apolo sorri, inclinando-se na direção de Ártemis.

Allie os interrompera na primeira tentativa, mas, no silêncio daquele apartamento, não havia ninguém para interromper o beijo que se sucedeu. Um simples roçar de lábios, do tipo que deixa gostinho de quero mais; simples, mas suficiente para descompassar seus corações.

― Vamos! Vamos ver nossa filha!


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Notas finais do capítulo

Eu disse que o sofrimento de vocês não duraria muito. E então? O que acharam desse capítulo? Do papo de Zeus, de Hera, a preocupação de Nico... E esse momento Alliam? Essa música (If I Die Young - The Band Perry) me lembra muito Allie e Will. Ouçam a versão original (porque essa é a acústica) e chorem comigo!
Muito obrigada a todos que estão acompanhando e comentando: cada recado é um incentivo para continuar com meu trabalho!!
Beijoos e até os reviews