Worse Than Nicotine escrita por Dama do Poente


Capítulo 25
I Just Don't Know What I Can Do


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer, primeiramente, à Sra Maddox pela recomendação! Sério, se desse eu iria ao sul para te abraçar, gata, mas como não posso... Fique com esse capítulo ^^
Que também é de todos os que comentaram o último! Muito obrigada, pessoal.
Ah, tenho novidades para vocês! Conto mais nas notas finais ^^



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P. O. V Apolo:

Aquela era uma noite estranhamente quieta para a emergência de um hospital, o que, considerando o local de que se tratava, deveria ser algo bom — viva, as pessoas estão saudáveis, ninguém sofrendo acidentes, todo mundo em paz, nada de atentados —, por outro lado, para mim, era quase um suplicio.

Eu não deveria estar ali, uma vez que o caso do assassinato não fora fechado, mas eu tampouco podia ficar em meu apartamento: era um lugar solitário com Allie fora e Atena dentro. Eu acabaria mergulhando em pensamentos que não deveria ter, e acabaria sofrendo e sendo improdutivo.

Poetas deveriam vir com uma válvula de escape, uma trava de segurança ou um botão: “aperte aqui caso esteja DESESPERADAMENTE apaixonado”. Eu precisava de um botão desses, ou corria o sério risco de desenvolver algum distúrbio obsessivo-compulsivo em relação à Ártemis.

Eu não conseguia parar de pensar na sensação dos lábios dela esmagando furiosamente os meus, de como era sentir suas mãos em meus cabelos, ou no deleite que era sentir seu corpo contra o meu. Em como eu sentia falta disso, de ouvi-la suspirar meu nome ou de sucumbir a seus desejos e caprichos.

E era sobre a frustração de estarmos vestidos que eu pensava, quando a calmaria deu lugar à tempestade.

Ouvi meu nome e de outro plantonista — um cirurgião geral, se não me enganava — serem chamados, com urgência. Rapidamente saí de minha sala e corri para a sala de cirurgia, e quase tive uma parada cardíaca quando lá cheguei.

Vi o outro médico — cujo nome eu sabia, mas momentaneamente havia esquecido... Eu estava tão chocado que esquecera meu próprio nome — dar ordens para a equipe ali. Ouvi perguntar se eu participaria e me ouvi afirmar, ao mesmo tempo em que comecei a me preparar rapidamente para a cirurgia.

Havia uma bala alojada no tórax e outra na clavícula, perto demais da maldita artéria subclávia. Erraram a jugular e até mesmo a subclávia por pouco. Não havia tiro na cabeça, mas era claro para mim que a mulher naquela sala era mais uma vítima do misterioso assassino em série, por quem Ártemis desenvolveu uma estranha curiosidade. E embora tal constatação fosse chocante, reconhecer a vítima foi pior do que reconhecer seu quase assassino.

— Você a conhece, doutor Grace? — meu companheiro de cirurgia pergunta.

E sim, eu lhe respondo. Aquela é a mãe do melhor amigo de meu irmão caçula, lhe informo.

A mãe de Leo Valdez era a mais nova vítima do Serial Killer.

P. O. V Autora:

Esperanza Valdez, uma das poucas mulheres ourives da empresa de Hades, era a responsável por todas as jóias que Hazel desenhava, e era muito querida por todos. Quando reclamou que não conseguia mais lapidar as pedras, que elas se partiam, claramente e imediatamente começaram a investigar.

Afinal, ela não era a primeira a reclamar, e Hades sabia disso, embora nada tenha comentado. Não contou nem mesmo para Hefesto, o líder dos ourives, seu amigo pessoal e marido de Esperanza.

Talvez se tivesse dito, pelo menos que abriria uma investigação, não estaria no telefone agora, recebendo a notícia do acidente da funcionária.

Era desgraça após desgraça, mas ele sentia que podia ajudar daquela vez. Ele devia ajudar.

— O que foi? — Perséfone pergunta, ao vê-lo se levantar da cama.

— Preciso ir à delegacia! — responde, vestindo-se mecanicamente.

— Agora? — a esposa torna a perguntar, dessa vez aflita.

— Preciso resolver assuntos pendentes, Perséfone. Não se preocupe: no fim, tudo vai dar certo! — ele lhe diz, rezando para que desse mesmo.

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Reyna não sabia como ainda estava inteira, mas considerando o estado de nervos de Leo, ela nem se incomodou em protestar pela velocidade altíssima que ele guiou a moto.

Eles estavam no trânsito quando o celular do garoto começou a tocar. Ele se desculpou e estacionou para atender — era o pai quem ligava, e ele não recusaria a chamada. Ela sorriu, sinalizando que tudo bem.

Mas não estava tudo bem, e agora estava aflita, tentando acalmar o menino que a salvara e que a divertia sempre. Que a divertira muito naquela noite e agora sofria.

Foram longas as horas de cirurgia, mas Leo não parecia cansado. Sua hiperatividade estava a mil, e Reyna precisou de todo seu autoritarismo para mantê-lo no lugar antes que resolvessem lhe dar um sedativo. Porém, foi impossível contê-lo quando uma enfermeira apareceu e lhes disse que tudo estava bem e que Esperanza descansava no quarto.

— Podemos vê-la? — Hefesto pergunta, um pouco mais aliviado.

— Ela ainda está sedada, mas os familiares podem vê-la, sim; ordens expressas do doutor Grace! — a enfermeira sorri.

Reyna volta a se sentar, sentindo a tranqüilidade levar o estresse que estava sobre seus ombros, se preparando para esperar por Leo.

— O que está fazendo? — o garoto pergunta, parando de seguir o pai.

— Vou esperar você ver sua mãe... — ela responde, confusa com a pergunta.

— Bobagem, Rey-Rey: venha vê-la também! — ele a puxa para si, mirando os olhos castanhos tão escuros quanto jabuticabas — Os familiares podem! — ele pisca, levando-a junto com si.

Reyna não pode deixar de sorrir diante d’aquela frase.

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A perícia recolheu as balas que erraram o corpo de Esperanza e a faca com que Hefesto acertara o suspeito. Tudo fora encaminhado para o laboratório, mas não antes que Ártemis pudesse por suas preciosas mãozinhas nas evidências.

— Eu me sinto um traficante entregando drogas nas esquinas. Não podia ter estacionado mais a frente, ou, quem sabe, em frente ao prédio como qualquer pessoa normal? — a ruiva comenta, nervosa.

— Muitas testemunhas. E se pararmos para pensar, nós estamos cometendo uma espécie de crime, minha querida.

— Não me chame de querida, Apolo. Não estou no clima. — suspira, observando as ruas passando enquanto o carro corria — Do que está rindo?

— De você! Da gente! Sabe, recentemente Allegra estava lendo os livros de A Seleção, e a personagem principal, America Singer, é uma ruiva bem temperamental, e o príncipe Maxon um loiro bem bacana... Eles não te lembram duas pessoas?

— Fale menos e dirija mais, então, príncipe Maxon. — a ruiva revira os olhos, sem muita paciência para as brincadeiras do melhor amigo

— Podíamos nos vestir de A Seleção no aniversário da Allie! Acho que consigo arranjar uma peruca ruiva para que ela se pareça com a May... Você podia até fazer cosplay de America, gritando que não é minha querida... — ele continua divagando, ainda em choque pela noite anterior

— Ah, mas... Eu sou sua querida! — ela resmunga, mirando seus olhos castanhos esverdeados nele.

— Agora estamos falando a mesma língua. — o loiro sorri — Aliás, tome, minha querida.

E uma rosa vermelha surge no colo de Ártemis, que ignora o significado da rosa e, ao contrário da maioria das mulheres, não se comoveu. Preocupou-se, na verdade.

— Praticando truques de mágica, príncipe?

— Qualquer coisa para não ficar pensando na Sra. Valdez. — ele suspira, largando as mãos sobre o colo, aproveitando o sinal vermelho — Se ela tivesse morrido ali, sob minhas mãos...

— Mas não morreu, Apolo! Relaxe! — Ártemis sussurra, acariciando-lhe os cabelos — Relaxe, está bem?

Suspirando, ele assente e volta a guiar o carro, sentindo o efeito Ártemis na veia: sua pulsação se acalmava e as preocupações em sua mente até tiravam férias.

Mas não havia Ártemis ou café suficientes quando chegaram a seu apartamento. Estavam tão ocupados tentando achar o método do Serial Killer agir, que nem mesmo a presença um do outro os acalmaria.

— Isso é impossível! Onde está a frieza e o calculismo? Eu sou mais frio que isso! — ele diz exasperado e sobrecarregado de cafeína.

— Alguém chame os médicos, porque Apolo Grace perdeu um grau na escala do calor humano. O que faremos sem seu calor? — ela demonstra um desespero irônico.

— Palhaça! — ele a puxa contra si, caindo sentado sobre a cadeira do escritório, fazendo cócegas na cintura delineada da mulher em seu colo.

Era por momentos como aquele que ele ansiava: momentos de riso, momentos com Ártemis. Beijos da mesma... Por mais que ambos estivessem errados!

— Idiota! — a ouviu murmurar, sentindo seu cabelo ser puxado. Ele amava quando ela puxava seu cabelo. Deixar crescer exatamente por isso.

A verdade é que ele era a presa fácil e ingênua, e ela uma leoa: uma caçadora nata e precisa.

Uma tempestade se agitava dentro deles, entre eles. Espirais de culpa, desejo, e todo o desespero sobre o caso, tudo se juntava e se perdia enquanto se beijavam. Ninguém importava para Apolo, exceto a mulher em seu colo, que apertava as pernas ao redor de seu quadril. Nada era importante o suficiente que superasse a necessidade de decorar cada detalhe da pele de Ártemis, beijar cada centímetro daquele corpo.

— Apolinho, bebê da prima, você comprou os livros que pedi? — mas, é claro, o destino não queria cooperar com ele.

— Porcaria de família! — o bebê reclama, bufando ao ouvir a risada da melhor amiga — Não se atreva a rir, Ártemis.

— Desculpe, bebezinho! — ela ri, apertando as bochechas dele

— Bebê? — Atena escolhe o exato momento em que Ártemis está beijando Apolo, para entrar no escritório — Opa, péssima hora para bancar a prima coruja!

— Não posso concordar mais! — o primo paparicado resmunga, encostando-se na cadeira.

— Oi, Ártemis! — Atena cumprimenta, como se fosse normal encontrar melhores amigos se beijando.

Não era, mas naquela família parecia ser... Pelo menos deveria.

— Oi, Atena! — a ruiva devolve o cumprimento, ficando tão vermelha quanto os cabelos.

Adorável, Apolo pensou, abraçando-a junto a si, beijando sua testa. Recado dado: ela não escaparia dele.

— O que são todas essas fotos? — Atena questiona, apontando para o quadro no meio do escritório.

— Estamos tentando descobrir a motivação patológica de um Serial Killer. Indicações de sociopatia, psicopatia, TEPT...

— Apolo, um intervalo de três anos tira o Transtorno de Estresse Pós Traumático dessa lista! — Ártemis comenta, tentando focar nas fotos e não na mão de Apolo sob sua camisa, desenhando figuras disformes em sua cintura.

Era vergonhoso como um polegar de Apolo podia desconcertá-la. Imaginava o que aconteceria se ele usasse as duas mãos. Se fosse ele quem a capturasse.

— Acho que vocês perderam algumas aulas de psicologia... — Atena comenta displicente. — Não há nada aqui que mostre um caráter patológico: é apenas uma assinatura.

— Assinatura? — os dois perguntam confusos.

— Entendo porque acharam que era um psicopata, mas é como Ártemis disse: são três anos entre uma vítima e as outras. Se fosse um distúrbio, haveria mais vítimas, mas não há. Então, só pode ser uma assinatura.

— Assassinatos iguais, próximos cartograficamente, sem motivo patológico...

— Já vi muito disso em São Francisco: gangues, máfias... Todo assassino tem sua assinatura, sua marca registrada, seja ele psicopata, seja ele alguém “sadio” — Atena dá de ombros — Bem,vou visitar Annie e aterrorizar o Jackson um pouco. Vejo vocês depois.

Silêncio sepulcral se faz depois que Atena sai. Lidar com um sociopata seria fácil: era uma pessoa doente, e Ártemis aprendeu a lidar com doentes. Assassinos a sangue frio, com motivo fútil ou não, mas com fundamento patológico: isso, ela entendia.

Assassinatos para encobrir outros crimes... Assassinos em seu círculo pessoal... Como ela seguiria ao saber de tal coisa?

E o pior: sem poder contar a ninguém.

P. O. V Thalia:

Ver Jason nervoso por causa de um encontro é algo interessante para se fazer no domingo à noite. Principalmente porque Jason não ficava nervoso quando se tratava de garotas, mesmo que ele não fosse mulherengo como Apolo: Jay se saía bem, afinal, quem resistia àquela carinha?! No entanto, com Piper, o assunto era outro.

— Tem certeza de que estou bem? — ele pergunta, ajeitando a gola de sua camisa.

— Jason, você está ótimo! Só desfaça essa cara e despenteie o cabelo: Apolo é a prova de que os garotos dessa família não nasceram para andarem penteados. Até o papai desistiu e assumiu a juba.

— Certo. — ele passa a mão pelo cabelo, descarregando os nervos ali — Mais alguma dica?

— Ponha os óculos. — respondo, abrindo a porta de meu apartamento para ele.

E dando de cara com Nico. Perdendo uma batida do coração quando o italiano sorriu.

— Parece que o fim de semana de alguém vai ser animado... — Nico comenta, avaliando o visual de Jason — Vai encontrar com sua avó?

Gargalhei: a idéia de casual, para Jason, consistia em camisa social, suéter, jeans e sapatos sociais. Mais parecia um estagiário da empresa do papai do que um cara pronto para dar uns amassos.

— Como você cogita a idéia de deixar seu irmão sair assim? Você é uma vergonha para a legião de modelos featuring estilistas. — Nico soa desapontado, e eu apenas sorria de seu show — Que figurino terrível! Você não vai agarrar ninguém com essa roupa.

— E se eu não quiser isso?

— Ninguém passa tanta colônia se não pretende dar uns amassos em alguém, Jason.

Eu podia sentir o cheiro da colônia pós-barba de Nico, mesmo estando distante.

— Quanto você calça? — a perdição de minha vida pergunta a meu irmão.

— 43.

— Ótimo! Tira o sapato! — e Nico entra no apartamento.

Vejo-o tirar seus coturnos e passá-los para Jason. Meu irmão o olha desconfiado por um segundo, antes de aceitar a oferta.

O resultado final melhorou, mas aquele suéter...

— Jaqueta, relógio... É, melhorou: tá mais Jason e menos Zeus. — Nico comenta.

— Pareço mais você, isso sim! — Jason resmunga, jogando a jaqueta de couro no sofá. — Mas fico com o relógio e os sapatos.

— Boa noite, e não faça nada que eu não faria! — Nico diz, vendo Jason sair, como se ele fosse o dono do apartamento.

Meu irmão gritou algo em resposta, mas não fui capaz de entender e, sinceramente, não ligava: quando a porta do elevador se fechou, Nico nos puxou para dentro do apartamento, nos jogando no sofá.

— Belo pijama. — ele sussurra em meu ouvido.

Eu estava vestindo alguma camisa velha de um dos meus irmãos — que ficava milhares de vezes maior em mim — e uma calça de moletom qualquer — que podia muito bem ser de Nico. Além de meias de dedinhos coloridas, que mais mereciam ser de Allegra do que minhas.

— Belos pés! — devolvo, sorrindo.

Nico estava estranhamente silencioso: nada de perguntas, brincadeiras, ou explicações para sua aparição inédita — não que eu fosse exigir um por que para suas visitas...

— Entediado? — pergunto, acariciando seu rosto.

— Demais. — ele suspira, beijando minha mão.

— Odeio quando se barbeia. — solto, porque também estava entediada e porque era a maior verdade de minha vida

— Eu ia aparar, apenas, mas errei o pente... Como já tinha começado o estrago... — o senti dar de ombros.

— Vou ter que te ensinar a se barbear. — suspirei.

Nada era mais sexy do que Nico com barba por fazer. Não ter essa visão era um desatino muito maior do que uma sex tape.

— A seguir seus caprichos, você quer dizer... — ele ri — Não que já não saiba... — senti seus lábios sussurrarem em meu pescoço, levando-me a estremecer.

— E que não faça excepcionalmente bem! — lanço-lhe um olhar sugestivo

No entanto, por mais que a quantidade de colônia dissesse que ele tinha segundas intenções, seus olhos jamais mentiriam: meu Nico estava perdido em dores.

Desvencilhei-me de seus braços e segui até a cozinha. Eu podia senti-lo me observando enquanto eu ficava na ponta dos pés para abrir a parte de cima do armário e tirar de lá uma garrafa de Jack Daniel’s

— Não é Golden Label, mas vai ter que servir! — dei de ombros e voltei para o sofá, entregando-lhe a garrafa de uísque, que ele aceitou sem pestanejar. — Agora me diga o que tanto lhe aflige...

Ele dá uma risada seca antes de sorver um largo gole da bebida.

— Você me conhece bem demais, Thalia! — ele sorri, mas não estava nem um pouco feliz.

— Sou sua melhor amiga, sexfriend e vício: conhecê-lo bem é meu papel na sociedade — dei um meio sorriso, sem sequer abrir a boca e mostrar os dentes.

— Talvez seja você o que tanto me aflige... — ele joga ao vento, e toma mais um gole.

— Como assim, Nico? — pergunto, aflita, confusa e, confesso, magoada.

— Você, Silena e Bianca foram vítimas da mesma atrocidade. Bianca é minha família, minha irmã mais velha, mas não estou mais preocupado com ela, pois sei que é forte e não vai se deixar abalar por Luke. Também sei que Silena é uma garota romântica e delicada, e que vai ficar abalada e chorar por causa de tudo isso, entretanto tampouco é com ela que me preocupo — pausa, e ele não precisaria falar mais nada.

Era em mim que toda sua preocupação se concentrava. Eu deveria ter notado tal coisa durante o almoço, mas seria em vão: de qualquer forma Nico apareceria por ali.

— Nós somos melhores amigos e eu te amo tanto que nem sei. Eu não consigo dormir ou relaxar, porque estou vendo sua vida ruir e isso machuca. Eu sinto sua tristeza, e não posso fazer nada. Nada! — ele bufa, engolindo mais uísque.

Foi nesse ponto que notei que não apenas eu, mas também Nico estava desolado. E a culpa era apenas minha: eu o deixara e voltara repentinamente, trazendo uma tempestade de problemas comigo e, irrevogavelmente, jogando-os em suas costas. Porque, não importava o tempo ou qualquer outra coisa, Nico e eu nos apoiaríamos sempre.

— Eu já sou bem grandinha, Nico: eu fiquei chateada, irada, com o que aconteceu, mas sei que o que tem de ser, será. Não vou tomar medidas precipitadas... — afirmei, tentando tranqüilizá-lo e evitando pensar na minha fracassada tentativa de suicídio há quase 10 anos.

Per favore, Thalia: você sequer acredita no que está dizendo! — ele se deita no sofá, apoiando as pernas no encosto e a cabeça em meu colo — Você me conhece bem demais e eu te conheço melhor do que às palmas de minhas mãos, ok?

— Você já está bêbado? — pergunto, sem vontade de confirmar sua verdade

— Essa não é a primeira garrafa que tomo hoje! — ele resmunga e puxa minha mão — Pode, pelo menos, mexer no meu cabelo enquanto reclamo da vida?

Contive meu riso: Nico bêbado era uma montanha russa emocional: toda sua paixão, a mesma que ele aplicava aos seus roteiros e desenhos, escapava de seu controle de forma arrebatadora. Eu conhecia cada fase de sua embriaguez e sabia que o melhor a fazer era deixá-lo extravasar.

— Eu odeio e amo seus olhos! — ele solta, agarrado à garrafa como um bebê à mamadeira — De onde eu vim, todos tinham olhos escuros, e mesmo acostumado a encarar os olhos de tio Poseidon e do Percy, não posso negar que seus olhos foram um espetáculo e tanto. Acho que meu destino se firmou no momento em que vi esses olhos pela primeira vez... — ele suspira, como se reorganizasse o furacão de idéias em sua mente — Eu fazia qualquer coisa para vê-los brilhando de alegria, mas descobri que havia um brilho ainda melhor que o de felicidade...

— E qual seria? — pergunto, distraída com a beleza de seu rosto... Estranhamente há algo de atraente nas trevas, e Nico era a prova disso.

— O brilho de desejo, que vejo cada vez que a toco. — ele sussurra, sentado de novo — Seus olhos ficam realmente elétricos... Eu peco para vê-los assim, amore de la mia vita!

Não dava para negar: eu jamais sentiria por outro homem o que eu sentia por Nico. Ele me levava da culpa e compaixão ao júbilo e ao desejo rápido demais, com poucas palavras e atitudes. Ao mesmo tempo, me mantinha no estado de amor constante, e por mais que eu o desejasse no momento, eu não me satisfaria, mas cuidaria dele.

— Venha Nico di Angelo: hora dos cineastas super-gostosos tomarem banho e café! — o ajudo a se levantar, levando-o para o banheiro de meu quarto.

— Ui, você vai me ajudar a tomar banho? — ele ri — Preciso recompensá-la... O que você acha de aprender truques novos? Sua cama é quase tão gostosa quanto você...

— Claro, amor, mais tarde a gente tenta... — desconverso, deixando-o no banheiro e caminhando para fazer o café.

Porém, sóbrio de novo, Nico tinha outras idéias...

— Cara, me diz como concordei com essa loucura?

— Foi logo depois de eu ter dito algo sobre gritos ensurdecedores noite adentro. — Nico responde, se ajeitando na cadeira

— Um estúdio de tatuagem no meio da noite... Vai dizer que quer que eu segure sua mão... — reviro os olhos em deboche.

— Se não for incomodar... — ele dá de ombros, mas posso ouvir o que está tentando esconder.

Quatro anos se passaram desde que sua mãe partiu. O quarto corvo seria tatuado, e Nico estava desolado: quatro anos se passaram e o assassino de Maria di Angelo ainda estava solto.

— Nunca será! — tomo sua mão nas minhas — Nunca.

Quando ele sorriu, o sorriso não chegou aos seus olhos. Ele estava quebrado. E, se pudesse, eu daria tudo para arrancar a dor dele.


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Notas finais do capítulo

Então pessoal, eu tenho visto que muita gente está curiosa sobre o relacionamento Leyna aqui em WTN, e como eu tava de bobeira - mentira - eu achei que seria justo explicá-lo melhor para vocês e criei uma shrot-fic para isso. Chama-se Bésame Sin Miedo e eu espero vê-los lá.
Comentem o que acharam do capítulo e das novidades ^^



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