Os Jogos do Amanhã escrita por princessplisetskaya


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

vai começar...



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Os mais leves raios de sol riscam o céu. Ficam mais fortes, fazendo o firmamento mudar de cor. Negro, azul escuro, rosa, um pouco dourado, azul claro...

Ninguém levantou ainda, o que explica aquele estranho silêncio. Os meninos do 16 deviam estar de pé, se vestindo, arrumando as camas, conversando, fazendo brincadeiras. Mas não estão. Eu também não, afinal estamos em uma despedida...

Adeus cama, adeus travesseiro, adeus coberta, adeus mesa de cabeceira, adeus conteúdo que há nas gavetas da mesa, adeus...

Não. Balanço a cabeça. Sem essa de despedida. É certo que aonde quer que fôssemos, tudo aquilo iria fazer falta, mas não podemos nos apegar. Se não, nunca vamos conseguir nos adaptar. Me levanto, abro o baú e pego as roupas. Bem o que eu esperava: blusa de mangas compridas, pano fino, jaqueta, calças e um par de botas boas para correr.

Enquanto me troco, deixo o pensamento vagar, lembrando de como foi meus primeiros dias no 12.

Eu havia ficado perto dos que conhecia melhor, ou seja, Rumlow e Dave. Tivemos que nos acostumar á nossa nova rotina: acordar cedo de manhã, aulas teóricas durante a manhã, treinamento de tarde, e descanso no sábado e domingo. Podíamos ficar o dia inteiro no pátio fazendo o que quiséssemos.

As manhãs foram a parte mais fácil de se acostumar, já as tardes, começaram como um pesadelo. Eu tive que aprender o nome das armas, como engatilhá-las, carregá-las, dispará-las. Tive que socar sacos de pancadas, ganhar massa e peso. Eu sempre fui magro, e mesmo hoje, cinco anos depois, continuo sendo magro, mas pelo menos, musculoso. As coisas ficaram mais difíceis quando começamos a usar outras armas, como facas, espadas, lanças, machados, arcos. Eu praticamente apanhava delas e dos outros alunos. Alguns dos treinadores me chamou atenção, disse que eu só tinha que encontrar alguma arma com que me desse bem, e dominá-la. O machado foi com quem eu me dei melhor, então, lentamente, comecei a dominá-lo.

Outra coisa com que tive de me acostumar, foi com o sangue. No começo, os alunos arrancavam sangue uns dos outros por mal saberem se virar com as armas. Até hoje há isso, mas é só quando um combate fica mais violento, e isso só acontece do 16 ao 18. Íamos para a enfermaria, observávamos nossos machucados, e contávamos uns para os outros como conseguimos essa ou aquela cicatriz. Quanto á minha predileção por sangue... não é bem uma coisa que eu me orgulhe. Só quando eu fico irritado dentro de um combate, e a irritação cresce e vira fúria, que me faz querer ver sangue, consequentemente, me fazendo me empenhar mais na luta.

Termino de amarrar os cadarços das botas, e escovo os dentes. Julian entra no banheiro com uma mão no cabelo, bagunçando a cabeleira ruiva. Ele é contra cabelos arrumados.

–Será que lá vai ter garotas?-ele pergunta.

–Acho bem provável- digo sarcasticamente- já reparou que todas as garotas do complexo e as Elsir'es também irão?

–Ah- ele responde franzindo a testa- tinha me esquecido. Aliás, andei conversando com alguns Elsir'es.

–Sério?- nós saímos do dormitório sem esperar pelos outros- Como eles são?

Julian sorri animadamente:

–São legais, considerando a pouca conversa que consegui ter com eles. É meio estranho conversar com criaturas com olhos grandes e penetrantes de olhando sabe? Como se lessem a minha alma... e deixassem de ser perfeitos e virassem monstros e... BUM! Te explodem.

Nós dois rimos. No refeitório, olho de um lado para o outro, procurando Iza. Ela entra e rapidamente se senta do meu lado.

–Então, estão animados?- ela parece alegre, mas sua alegria é forçada. Seus olhos demonstram o nervosismo.

–Um pouco-responde Julian,esfregando os olhos- tive que acordar de um sonho mais interessante do que os que eu tive ultimamente.- Iza me olha com expectativa, como se pensasse: meu irmão está pronto. É claro que está. Diga que está, Ian!

–Estou ansioso. E sinceramente, preocupado, animado, apavorado, receoso, agitado, nervoso... e você?

–Nervosa também, mas feliz. -Ela sorri.

O café da manhã está bom, café com torradas e waffles. Dave, Rumlow e Alice se sentam na mesma mesa em que eu estou, e terminamos o café faltando dez minutos para as oito.

Não vamos para o pátio, temos que ir para o telhado do segundo bloco do complexo, que é o maior dos três. Lá estão pousadas duas enormes naves, cada uma com uma escada posicionada para dentro dela. Uma das filas é para os habitantes do complexo, e a outra, para os Elsir'es. Reparo que eles mal passaram no refeitório, foram direto para o telhado. Eles murmuram uns para os outros, mas quando eu digo 'murmurar' não é bem murmúrio, pois eu não ouço absolutamente nada do que eles dizem, e duvido que mesmo se estivesse perto, conseguiria ouvir alguma coisa.

Há fila para subir a escada e entrar na nave, primeiro os mais novos e por último os mais velhos. Com as criaturas do outro lado da pista não é assim. Eles entram um atrás do outro, olhando para todos os lados, roçando os dedos no corrimão da escada, observando as turbinas e atentos no barulho que elas soltam...

Chega a minha vez de entrar na nave. Dou uma última olhada no que está ficando para trás, no céu, nos outros blocos, nas paredes de pedra, na grama, sentindo o vento soprar...

O amanhã agora é hoje.

Ficar ou ir.

Correr ou morrer.

Eu entro na nave.


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