A primeira coisa que notei dentro da aeronave era que se eu tivesse visto somente o interior, não acreditaria que era um avião. As proporções eram imensas. Poltronas de couro grandes e confortáveis num tom de caramelo, havia várias delas dobradas faziam a primeira classe de qualquer avião parecer econômica. O interior era decorado num tom de vermelho amadeirado e intenso era incrível. Havia um quarto com uma cama king size no avião como se fosse um quarto normal de uma casa sofisticada. E a cozinha era pequena e elegantemente projetada para parecer uma cozinha comum completamente decorada como o resto do avião.

Peguei a prancheta com todos os elementos que deveriam estar na cozinha, chequei tudo duas vezes e depois os cardápios do café da manhã, almoço e se necessário jantar.

Todas as refeições eram pré- aquecidas, sendo necessário o uso do micro-ondas ou o fogão elétrico para algumas coisas. Sou boa na cozinha, fiz aulas para isso então estou bem, fui até a cabine do piloto e os dois estava bem ocupados.

—  Está tudo bem? Teremos convidados em apenas cinco minutos.  - Perguntei com um sorriso que mal cabia em meu rosto, estava ansiosa e empolgada para começar e sabia que dava pra ser visto explodindo pelos meus poros. 

—  Está tudo Okay, Little queen! Esse avião é maior do que o meu apartamento, era disso que estávamos falando.   - Dante conta com um sorriso sem graça por ter que afirmar aquilo. 

—  Reparei nisso também. Vocês vão querer alguma coisa depois que decolarmos?  - Esperei pela resposta de ambos, anotando mentalmente os pedidos. Um cappuccino para dante e um duplo para Clark. Pedi licença e fui para a porta de entrada, bem a tempo dos primeiros passageiros entrarem.

Eram cinco homens ao todo e três mulheres, os cumprimentei respeitosamente com um sorriso recolhendo seus casacos e os pendurando. O último a entrar estava falando ao telefone em uma língua rebuscada, que se pudesse adivinhar seria espanhol ou italiano, tirou o paletó sem nem mesmo olhar para mim e foi se sentar. Fechei a porta e guardei as bagagens de mão de todos, passei na cabine para verificar quanto tempo tínhamos e Clark respondeu que só restavam dois minutos.Respirei fundo enquanto pegava o interfone. —  Senhoras e senhores, decolaremos em dois minutos. Por favor desliguem seus aparelhos eletrônicos e apertem os cintos de segurança. - Observei os executivos desligando notebooks e celulares só o homem falando italiano continuava falando sem parar como se ela não tivesse pedido nada. Coloquei o interfone de volta no gancho, pensando na melhor forma de agir, eu não queria um confronto com nenhum executivo em minha primeira viagem mas, era um mal necessário. — Senhor? - Chamei quase como em um sussurro, o homem me encarou, seus óculos escuros Armani lhe dando um ar misterioso totalmente desnecessário. Ele continuou falando ao telefone, fazendo um sinal de espera com a mão para mim, enquanto me observava de cima a baixo. Eu tinha pressa, não ia ficar quieta enquanto ele fazia o que bem entendia. —  Lamento ser rude, porém precisamos decolar. São só alguns minutos poderia fazer a gentileza de desligar seu celular?

Os lábios cheios se torceram em uma espécie de careta, achou até mesmo que deveria ter falado em italiano, porém sabia que ele havia a entendido quando direcionou pela primeira vez a voz a mim. —  Você quer que eu interrompa uma grande transação comercial nesse momento? - a pergunta parecia extremamente arrogante em sua voz rouca e estranhamente entediada, repleta de ironia e sarcasmo. Estava bem claro que tínhamos que decolar no horário determinado então se aquilo era necessário, que seja.

—  O senhor escolhe o que fazer, não decolaremos enquanto não desligar o seu celular e então atrasaremos a decolagem e por tabela atrasaremos qualquer encontro importante que os senhores possam ter no nosso destino e acho que isso seria ruim para os negócios também, correto? Então respondendo a sua pergunta, sim eu quero que interrompa a sua ligação, por favor.  - Disse num tom de voz tranquilo e monótono como se falasse assim o tempo todo. Foi com grande alívio que o ouvi despedindo-se da pessoa do outro lado da linha e guardar o telefone em seguida. — Obrigada!

Com um sorriso sincero, fechei o seu cinto de segurança, andei até o interfone informando que estava tudo bem e me sentei apertando meu próprio cinto, senti o arrepio familiar quando o avião se ergueu da pista, quase pulei do meu assento quando o sinal do piloto piscou algumas vezes. Informei aos passageiros que podiam ficar a vontade enquanto buscava os menus, a viagem seria de basicamente quatro horas então teria que me preparar. Recolhi os menus e os pedidos enquanto servia uma rodada de cappuccinos fumegantes e sucos.

Enquanto eles discutiam sobre negócios, eu levei cappuccinos e sanduíches para Dante e Clark. —  O que houve lá? Achei que teríamos um atraso. 

—  Eu também achei. Um deles não queria desligar o telefone mas, eu dei o meu jeito.

—  Primeiro dia e você já exerceu sua majestade. Que isso hein! Eu li a lista de passageiros, o senhor Price está lá atrás.   - Reprimi a vontade de fazer uma careta, essa informação era nova. Agora estava curiosa para saber quais deles era o tal Price. 

—  Eu não me importo muito com quem está lá. Só espero que não tenha mais problemas. Agora eu tenho que ir preparar o almoço deles, você já foram em Seattle? Quero almoçar no restaurante flutuante no space Needle* As sobremesas de lá são maravilhosas!

—  Isso é um convite para o almoço, Kim?

—  Claro! Eu pago o almoço inteiro se nenhum dos dois ficar vigiando o quanto eu como de doces.  - Os dois se olharam com um sorriso cúmplice e levantaram as mãos em rendição, pagar o almoço seria divertido já que eu não conhecia Clark. —  Então nós vemos depois, quando acabarem de comer, um dos dois leve a bandeja na cozinha. Vou estar fazendo saladas para as super modelos vestidas de Secretárias!

Os dois concordaram, passei recolhendo as xícaras de café vazias e comecei a preparar as refeições. As secretárias pareciam estar em uma dieta coletiva, já que pediram salada Caesar com frango grelhado. E os executivos pediram Ratatouille, que estava pronto em porções individuais, só colocar no micro-ondas e estaria perfeito!

O pequeno trabalho – o que me faria usar o fogão elétrico – seria a sopa de tomate fria com anéis de lula. O Senhor óculos escuros tinha que ser o mais complicado! Fala sério!

…

Uma nova tripulação foi efetivada hoje, costumo verificar o currículo de cada funcionário novo que está ligado diretamente a mim. Contando com essa, estamos na marca de doze tripulações contratadas e dispensadas em uma semana.

Acompanhei minha equipe de advogados e executivos que iria me auxiliar na nova conexão com a Hoffman enterprise, seria um bom teste para os novatos. Clark Better, Dante James e Kimberly O’brian. Os nomes eram fáceis de gravar, difícil era mantê-los.

Escutei a voz tranquila, rouca e animada da nova comissária desejando um bom dia e recolhendo os casacos. O que me chamou a atenção até mesmo na foto era a intensidade daqueles olhos verdes, o sorriso era encantador e parecia sincero de verdade poucas pessoas sorriam assim, com estranhos.

Ela sorriu para mim e por um segundo esqueci que Giuliano estava falando sobre a importância do acordo ao telefone, ela recolheu meu paletó e foi guardá-lo. Alguns minutos depois ouvi sua voz no interfone, pedindo que  os cintos fossem apertados e que todos desligassem os aparelhos, resolvi ficar no telefone só para ver como ela agiria, geralmente as comissárias atrasavam a decolagem para me agradar ou perdiam a cabeça.

Escutei seus passos vindo na minha direção, estava usando meias calças pretas e saltos altíssimos vermelhos como se não fosse nada, senti seu perfume algo cítrico e adocicado, assim que ela se aproximou do meu assento. —  Lamento ser rude, porém precisamos decolar. São só alguns minutos poderia fazer a gentileza de desligar seu celular?

A voz dela era calma e suave a cada palavra como se nada á aborrecesse ou se o dia estivesse tão colorido que nada a faria se irritar,perguntei se ela queria que eu interrompesse uma grande transação comercial, ela olhou para o relógio - Um Rolex de ouro branco com diamantes incrustados que geralmente aeromoças não possuíam dinheiro para pagar – e sorriu como se pudesse ver através dos meus óculos escuros. —  O senhor escolhe o que fazer, não iremos decolar enquanto o senhor não desligar o seu celular e então atrasaremos a decolagem e por tabela atrasaremos qualquer encontro importante que os senhores possam ter no nosso destino e acho que isso seria ruim para os negócios. Então respondendo a sua pergunta, sim eu quero que interrompa a sua ligação. Ela disse séria com uma nota de sarcasmo, alto o suficiente para nós dois ouvirmos e ninguém mais. Eu dispensei a conversa com Giuliano e ela pareceu aliviada ao dizer:

Ela  agradeceu com um sorriso maravilhoso e foi na direção do interfone. Aquela mulher tinha falado comigo daquele jeito e não sabia nem se tinha garantia. Uma hora depois de decolarmos Kimberly apareceu empurrando um carrinho, as papeladas foram deixadas de lado sobre a mesa.

As saladas com frango para as mulheres, Ratatouille para os outros e minha sopa de tomate estava com rodelas de lula e queijo de cabra por cima. Tinha pedido aquilo exatamente porque as rodelas de lula tinham que ser esquentadas se não ficariam duras. Mas parecia que o próprio Gerard tinha vindo completar as refeições.

—  Bom apetite a todos, qualquer coisa de que necessitarem, apertem o botão no braço direito da poltrona. - Ela disse se afastando com o carrinho, a lula estava no ponto assim como a sopa, Kimberly tinha passado no segundo teste. Ela recolheu os pratos sujos estava indo na direção da cozinha quando o piloto apareceu, saído da cabine e á ajudou a carregar os pratos, o resto do caminho.

—  Deixa comigo Little Queen!  - Foi a única coisa que entendi antes dela corar e os dois entrarem na cozinha. Alguns minutos depois ele saiu de lá rindo e sumiu. Ele nem queria imaginar o que aqueles dois tinham feito na cozinha, Kimberly teria que rever seu profissionalismo.

...

O senhor sopa de Lula parecia estar vigiando-me o resto do vôo, parecia zangado também. Prendi o fôlego enquanto o ajudava á vestir o paletó. 

—   A primeira reunião é daqui a vinte minutos senhor Price.   - A modelo número um disse. Então aquele era o meu novo chefe, senhor sopa de Lula irritante, era Maximillian Price, Uau!

—  Vejo você no próximo vôo senhorita O’Brian.   - Falou com um sorriso mínimo para ela. 

—  Tenha uma boa tarde de negócios, senhor Price. - respondeu com um sorriso gentil, o mesmo que havia dado para os outros. 

Seattle era uma metrópole grande e fria, porém encantadora, repleta de musicalidade para todos os lados. Conseguimos comprar os ingressos para almoçar no restaurante flutuante, naquela nave espacial! O space needle é um obelisco espacial que fica em cima de uma torre de 184 metros de altura. Pedi um grande sundae de chocolate com todos os biscoitinhos existentes enquanto os rapazes comiam fritas e hambúrgueres - Juro que eles dois vieram de tão longe e comeram isso mesmo - enquanto o obelisco girava e me deixava ver os prédios, as montanhas olímpicas ao oeste e as montanhas da cascata ao leste. Depois passeamos pelo lago Union e pelas avenidas dos anfiteatros e por fim. Fomos para o hotel que obviamente era das indústrias Price e depois de um banho apaguei por completo.

…

—  Mais café, senhor Price?    - ofereceu com calma enquanto estavam voando de volta para casa. 

—  Não Kimberly, obrigado!  - Afastei-me servindo os outros e fui para a cozinha, começando a arrumar as poucas coisas que precisei tirar do lugar. Peguei um pote de mousse de laranja e sentei em um cantinho para comer. O gosto daquilo era incrível, a textura do chocolate amargo com o ácido da laranja e pedaços de gengibre faziam minha língua vibrar. Também a fazia imaginar o quão caro Price, havia pago para ter uma sobremesa de jerry ali. 

—  Algum problema Kimberly?   - “Oh Merda!” O que ele estava fazendo ali. Olhei na sua direção enquanto levantava, um sorriso de canto surgiu em seus lábios, aqueles olhos cor de caramelo atentos aos movimentos dela. Como ela não tinha reparado neles antes? Eram realmente lindos e hipnotizantes e estavam cravados em mim.

— Precisa de algo senhor Price?   - Perguntou ajustando a roupa no corpo e esperando que ele não se demorasse e esquecesse que ela estava ali comendo. 

—  Eu quero uma água. Não achei necessário apertar o botão. - Ele disse aproximando-se, os olhos desviando-se para a minha boca, seus dedos tocaram o canto dos meus lábios e ele levou o dedo a própria boca. —  Delicioso. Boa escolha! - Price disse com a voz rouca e perigosamente baixa, senti meu rosto esquentar, mortificada de mais com a sua atitude para me mover enquanto ele se afastava para pegar a sua água. 

Ele tinha realmente feito aquilo? Mesmo depois de ele ter ido embora e de muitos minutos terem se passado, eu ainda sentia seus dedos em meus lábios. “Qual é Kim? Ele é seu chefe! Sai dessa.”

Sem romance no trabalho, sem problemas na vida!