Aureus escrita por Dindih, Anns Krasy


Capítulo 6
Proposta




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I walk a lonely road

The only one that I have ever known

Don't know where it goes

But it's only me and I walk alone

I walk this empty street

On the boulevard of broken dreams

Where the city sleeps

Sleep estará eu se não vencer essa preguiça e me levantar. - Resmunguei para mim mesma, ainda olhando para o teto. Eu tinha acordado a um bom tempo já, mas ainda não conseguia encontrar energias para me erguer. Decidi deixar Green Daytocar Boulevard of Broken Dreams por mais alguns minutos antes de pausar a musica no meu celular e tirar os fones de meus ouvidos.

A visão do meu quarto não ajudou muito a me motivar. Não poderia estar mais bagunçado. Roupas estavam espalhadas pelo chão e sapatos estavam revirados. Minha mochila tinha caído da cama para o chão e eu nem queria ver o que tinha debaixo de minha cama. Suspirei, vendo que nenhuma "mágica" iria resolver aquilo.Peguei meu celular novamente para ver as horas e fiquei aliviada por saber que era cedo. O joguei novamente na cama, mas como qualquer aparelho pequeno e quebrável, ele resolveu dar um mortal e cair com tudo no chão. A bateria voou para um lado enquanto a capa voou para outro. Mas o que me chamou atenção foi o berro felino do alvo que meu celular acertou na queda.

Stiker chiou e saltou para a cama, aonde cravou suas garras não afiadas no meu forro. Ele se espreguiçou e então me olhou de modo culposo, mas eu não estava preocupada com a reclamação de um gato preguiçoso. A gota d'água foi quando ele vomitou uma bola de pelos gosmenta em cima da minha mochila.

Esse gato está pedindo para morrer.

–Argh, gato estupido! Sai daqui! - Falei irritada, enquanto abria a porta e o chutava para o corredor. Ele berrou em protesto quando atingiu a parede, mas se recompos e fugiu para o andar de baixo. Naquele momento eu não estava preocupada com a possibilidades de ele voltar e fazer suas necessidades na minha porta. Mas com certeza ele faria isso mais tarde. Também não me importei se minha avó tinha ouvido isso. Já era um ato normal jogar Stiker do meu quarto ou de cima da escada que ela nem ligava mais.- Como esse gato me ama!

Finalmente, depois de mais duas musicas de minha banda favorita, meu quarto estava respeitável. Me sentei na frente de minha penteadeira para começar a desembaralhar o meu cabelo. Resolvi fazer uma trança simples e a deixei cair pelo meu ombro. Prendi com uma liga da cor de meus cachos e então dei uma bagunçada para deixa-lo normal. Só tive tempo de olhar o vulto no meu espelho quando senti a pancada da parede em minhas costas. Perdi meu fôlego por alguns minutos. Meu braço ardia no local onde ele tinha me arranhado, mas minhas costas doíam muito mais.

Não tive tempo de pensar em algo mais inteligente para falar. - Quem é você?

Mas reconheci-o na hora. A criatura que havia atacado minha avó me olhou como se eu fosse uma presa encurralada. Mas eu não estava com medo. Outro sentimento crescia dentro de mim, borbulhando e ardendo. Pude sentir uma força correr pelo meu corpo e o aviso de que o que quer que aquilo fosse era perigoso. Era quase como um instinto, apesar de eu não confiar muito em "instintos".

– Sou o seu pior pesadelo -Falou ele. Sua voz era rouca e sombria e me fez arrepiar. Mesmo sem o medo presente em mim, hesitei quando ele saltou em minha direção, me agarrando. Me contorci, chutando o ar. Ele já começava a me irritar e me deixar furiosa. O ódio só cresceu quando ele arrancou uma mecha de meu cabelo com suas garras afiadas como lâminas, e desmanchou a minha trança.

Não sei o que deu em mim, mas abri um sorriso e parei de me mexer por segundos. - Não, eu sou o seu pior pesadelo. - Rosnei, o derrubando e prendendo-o no chão do mesmo modo que ele tinha feito comigo. Aonde eu o tocava ele começava a queimar, se contorcendo. Seu grito foi horrendo e o que me fez tremular foi o liquido negro e frio que saía dele. - Não sei o que você é ou o que quer, mas se voltar aqui novamente será muito pior. - Garanti, soltando-o por fim.

Me ergui e me fitei no espelho. Eu estava descabelada e uma mecha da frente estava cortada menor que meu queixo. Minha roupa estava suja de sangue negro, mas ela escorreu aos poucos e se acumulou no chão poupando minha roupa de ser lavada novamente. Só percebi que estava trêmula quando James arrombou a porta do meu quarto.

– O que aconteceu aqui? - Ele perguntou, e pude ver preocupação no fundo de seus olhos azuis. Mas uma névoa fria cobriu seus sentimentos antes que se tornasse óbvio. Notei que algumas coisas do meu quarto estavam quebradas, felizmente eram poucos objetos. - Amara, você está bem?

Sua voz tinha suavizado, mas mesmo assim eu solucei.

– Não - Minha voz falhou quando as lagrimas começaram. Ele me abraçou forte contra seu peito, e pude me sentir segura e protegida por instantes que acabaram quando ele se afastou para me fitar. Ele limpou uma lagrima de meu rosto e sua mão foi instintivamente a minha mecha, para coloca-la atrás da orelha. Ele pareceu um pouco aborrecido quando viu que tinham cortado-a e deixado-a muito curta.

– Vem, vamos cuidar desses ferimentos. - Ele me chamou, dando um sorriso pequeno. Vi que era uma tentativa de ele me fazer esquecer o episódio que tinha ocorrido, então dei um sorriso pequeno em resposta e aceitei sua ajuda.Ele pegou minha mão para me auxiliar a descer as escadas e então notei o quanto tonta estava.

– Amara! - Minha avó exclamou assim que desci o ultimo degrau da escada. - O que aconteceu? Você esta bem?!

Demorou um pouco para reorganizar meus pensamentos, mas então a fitei.

– Eu não sei o que aconteceu.... Foi tudo bem rápido. Algo invadiu meu quarto. - Respondi por fim e então contei o ocorrido enquanto observava o pote de sorvete que estava aberto na mesinha. Havia uma colher dentro dele, e minha barriga roncou dizendo que não tinha nada demais eu pegar um pedaço do pote. E foi o que fiz. Me apoderei do pote de sorvete assim que relatei minha aventura da manhã.

– Seu cabelo está...- Interrompi minha avó ainda quando ela procurava as palavras certas para tentar me contar.

– Cortado?Bem, aquela coisa fez um bom trabalho.- Resmunguei, ainda com a colher de sorvete na boca. Minha avó me analisou por um tempo, antes de suspirar.

– Amara, eu preciso falar uma coisa para você - Ela disse por fim, um pouco séria. Séria de mais para mim.

– O que foi? -Falei, suave, insistindo para ela continuar a falar.

Seus olhos pararam em James por alguns poucos segundos antes de se voltarem novamente para mim. James olhava para a janela como se o assunto já tivesse sido discutido entre eles antes. Ou pelo menos um assunto parecido.

– Essa coisa que te atacou é como um caçador. - Ela disse, hesitando um pouco antes de continuar. - E ele tem você como presa.

– Espere, eu estou sendo caçada? O que que eu fiz?! - Me levantei. Eu não era uma gazela inofensiva na savana sendo observada de longe por um leão faminto! E então me arrependi de pensar nessa comparação quando minha mente disse que o leão podia ser tanto quem controlava aquele Caçador quanto o próprio James. Ignorei esse fato antes que eu começasse a corar.

James cravou seus olhos safiras em mim e então abriu um sorriso atrevido.

– Você não fez nada. Apenas herdou esse medalhão –Ele respondeu ironicamente,apontando para o medalhão que aparecia por cima de minha camisa preta. O fuzilei com o olhar.

–Minha avó me deu esse medalhão, então por que mais alguém iria querer ele? - Perguntei, fechando a cara para James. Cruzei os braços, teimosa, antes de voltar a me sentar e pegar novamente o pote de sorvete.

– Porque ele guarda o poder das suas ancestrais. - Ele deu de ombros, como se fosse óbvio; mas então sua expressão se tornou mais séria. - Sabe aquela luz ontem? E o que você fez com o Caçador hoje? Não é qualquer um que pode fazer isso, Amara. Você é uma maga com magia nas veias e que conta com o poder de seu medalhão. Você tem o poder de todas as suas ancestrais aí dentro.

Franzi a testa.

– Então eu sou uma espécie de bruxa guardiã?

James pareceu pensar por um estante, então deu de ombros.

– É, tipo isso. - E então ele se voltou para minha avó antes de subir as escadas. Não me surpreenderia se ele estivesse ficando como hospede. - Eu não disse que ela iria entender, Larrie? - Ele murmurou, desaparecendo no andar de cima.

Minha avó estava quieta o observando, e aquilo não era bom sinal. Ela nunca ficava quieta com a cara pensativa e fechada ao mesmo tempo. Olhei para trás para me certificar que James tinha ido e então me sentei de frente para minha avó.

– O que foi?- Perguntei.

– Eu acho que você deveria aprender magia, Amara. Você... - A voz de James interrompeu-a do segundo andar, vindo abafada por causa da madeira.

– Também acho!

Suspirei, me levantei ainda com o pote de sorvete na mão.

– Olha, eu fui atacada hoje de manhã e logo depois descubro que sou algo como uma "bruxa guardiã" e que estou sendo caçada!- Fiz uma pausa, recuperando o fôlego. -Então me da um tempo vovó, só um tempo. -Não esperei pela respostae subi em direção ao meu quarto. Mas James estava encostado na porta dele com as mãos cruzadas. Fechei a cara para ele, mas foi em vão.

– Amara.

– O que?

Por um momento de descuido, quase fiquei presa em seu olhar intenso. Ele se aproximou de mim, ficando centímetros de distancia, ainda sem tirar sues olhos dos meus. Senti quando ele colocou a mão na cintura e tirou delicadamente o pote de sorvete de minhas mãos. Naquele momento eu não tinha mais controle por mim mesma. Ele se inclinou perto do meu ouvido e sussurrou uma frase.

– Esse sorvete é meu.

Corei e irritada o empurrei para que saísse de meu caminho. Chutei a porta do meu quarto esquecendo-me totalmente do sorvete e ignorando o riso que ele estava dando. Vi que alguém tinha limpado o sangue negro e arrumado meu quarto e agradeci mentalmente por isso, mesmo sabendo que tinha sido James. Estava tão cansada de toda essa conversa que me deitei e adormeci. Eu agora estava parecendo a bola de pelos de minha avó com toda essa preguiça.

.

Quando acordei já estava escurecendo. Pude sentir que tinha perdido o almoço e o lanche da tarde que minha avó sempre fazia quando minha barriga concordou, implorando por comida. Me sentei na cama e suspirei. O cheiro de bolo vinha da cozinha, então permiti que meu nariz me guiasse. Desci as escadas, mas parei quando ouvi minha avó e James conversando. Só entrei na cozinha quando a conversa parou de repente.

Ignorei os olhares deles em mim e peguei um pedaço de bolo. Estava tão cansada que ainda coloquei leite quente na tigela de Stiker. Ele cheirou o leite - provavelmente conferindo se eu tinha colocado veneno - e então se permitiu beber. Me sentei na mesa com eles e encarei minha avó enquanto provava do leite quentinho que ela tinha feito.

– Eu pensei no que você disse. - Falei, enquanto colocava a xícara na mesa. - E eu aceito. Seria um desperdício de tempo ter de arrumar meu quarto novamente caso ele voltasse.

O sorriso de minha avó apareceu radiante e alegre.

– Ótimo! James irá ensinar o básico enquanto eu faço o jantar - Falou ela, contente, recolhendo meu prato e minha xícara.James franziu a testa e a fitou.

– Eu vou?

– Claro que vai! - Ela devolveu o olhar, e então revirou os olhos. Aquela era uma antiga expressão que dizia"E eu te criei para que?!" ou "Está na hora de pagar pelos meus serviços". Confesso que fiquei um pouco enciumada, já que ela só usava essa expressão comigo ou com pessoas da família como minha mãe.

James suspirou, derrotado pelo olhar mortal de minha avó.

– Vem, vamos para a sala. - Falou ele, se levantando da mesa. Quando chegamos lá, ele pegou um vaso antigo de minha avó e o jogou para cima; ora o pegando com uma mão, ora com outra. Fiquei perplexa com a ignorância dele. E se quebrasse?! - Certo, você utilizou a sua magia da última vez sob pressão... Então vamos usar a pressão para ativar sua magia e depois controla-la.

Ele me observou por um tempo antes de arremessar o vaso com tudo para o outro lado da sala. Definitivamente ele não queria jogar para mim, já que eu estava ao lado dele. Engoli um grito de surpresa e, sem pensar duas vezes, estiquei minha mão em desespero para tentar segurar o vaso. Em minha mente só se passava que eu queria que o vaso parasse. O resultado não foi bem o que esperei. O vaso de flores levitou, parado totalmente no meio do ar.

–Muito bem, agora controle-se. Mesmo que esteja com raiva, não perca a concentração. -falou ele- Não o deixe cair.

Sua voz estava ficando mais suave, mesmo assim minha mente ainda estava totalmente focada no objeto flutuante. Não senti de imediato quando ele me puxou pela cintura, e então me encostando em seu peito. Tive que dividir minha mente para ambos. Eu deveria estar vermelha como uma pimenta.

– Não se distraia. Seria péssimo se Larrie visse seu precioso vaso espatifado no chão em mil pedaços. - Ele alertou quando o vaso ameaçou cair e se quebrar. Naquele momento eu não sabia mais se estava concentrada no objeto ou na voz de James. Controlar um objeto e faze-lo levitar era fácil, mas parecia depender do peso. Mesmo assim, James não estava ajudando.

Ele inclinou-se, brincando com a mecha curta de meu cabelo. E esse foi meu limite. Minha concentração escapou, e o vaso caiu sem ter nada que o suspendesse no ar, seja uma força sobrenatural ou não. Fechei os olhos esperando o barulho de cerâmica se quebrando, mas não escutei nada. Quando finalmente reuni coragem para abri-los, o vi em centímetros do chão, flutuando e inteiro. Olhei para James, mas ele observava o objeto seriamente. Uma de suas mãos estavam estendidas, mas a outra continuava em minha cintura.

Esperei que ele colocasse o vaso em cima da mesa para que pudesse pisar em seu pé.

– Ai! Esse pé de baixo é meu! - Ele grunhiu.

– Não me desconcentre desse jeito! Se eu tivesse deixado o vaso cair?! - Reagi, irritada. - Você não leva nada a sério?!

Ele simplesmente sorriu. - Claro que levo. Caso não saiba, estou muito concentrado em uma coisa.

– E o que é?

Seu sorriso alargou de modo encrenqueiro, enquanto ele ainda me olhava nos olhos.

– Você.

Não pude responder mais nada. Foi minha avó que me salvou quando entrou na sala e nos chamou para comer na cozinha. Ela ainda estava sorridente. Meu coração ainda estava acelerado, principalmente quando fitava James furtivamente.E algo me dizia que amanhã também seria um dia agitado.


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Notas finais do capítulo

E ai gostaram?Gostaram?Gostaram?Nós demoramos?Eu acho que não...



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