Por Hermione Granger:

A brisa gélida nos atingiu em cheio, o lago negro se estendia além da nossa vista. Dentro do castelo, os barulhos de feitiços invadiam meus ouvidos.

De repente, Luna tapou os ouvidos com força e fechou os olhos. Olhei para ela, preocupada.

– Luna? – Gina chamou.

Toquei o ombro da loira e ela se esquivou. Arregalei os olhos.
– Luna, o que está havendo?

Harry franziu a testa, espantado.
– O que acont...

Ele não terminou, por que Luna começou a gritar. Me encolhi diante do berro que ela soltou.

– Não... Eu não posso, não sei! Neville! – ela chorava, dei um passo na sua direção e ela se virou imediatamente – CORRAM! Neville... não, não façam isso, SAIAM!

Tentei me aproximar de novo, ela agora desferia frases a ninguém, sempre chamando por Neville, e aos poucos seu semblante passou para desesperado, suas lamúrias eram desconexas. Tentamos nos aproximar, mas ela berrava para que corrêssemos.

Estaquei no lugar.
– Vamos Luna, venha conosco! – implorei.

Harry se pôs a minha frente.
– Luna, seja forte. Vamos! – ele mandou.

Gina se afastou alguns passos atrás, a beira das lágrimas.
– Hermione... Trevor entrou na cabeça dela. – ela disse, a voz falhando.

Olhei com descrença para ela.
– Ele... ele vai controlá-la. Vocês não veem? – Gina continuou, mantendo distância.

Incrédula, comecei.
– Como você pode se afastar? Ela é sua amiga também! Precisa vir conosco!

Gina olhou dentro dos meus olhos.
– Se tem uma coisa que eu aprendi, é que não podemos resolver tudo. Não estou dizendo para abandoná-la para que Trevor obrigue-a a se matar, estou dizendo que é inútil. Se ficarmos aqui, Trevor fará ela nos matar. – ela disse.

– O que faremos, então? – Harry falou, observando Luna agachada no chão, murmurando coisas inteligíveis.

Assenti para Gina, aos poucos, mesmo me sentindo contrariada. Caminhei até Luna e tirei a varinha de seu bolso, colocando-a no meu.
– Luna. – chamei.

Ela se encolheu mais ao chão, como se embaixo da terra tivesse uma salvação.

– Luna. – chamei novamente.

– Luna, não podemos nos separar. – Gina insistiu.

A loira se levantou lentamente, surpreendendo-nos. Avancei alguns passos, mas não a toquei. Eu ainda temia o que Trevor poderia fazer. Luna era minha amiga, e depois de tantas perdas eu não me conformava nem com o pensamento de deixá-la ir, até esse momento eu não tinha percebido o quão especial ela tinha se tornado. O quão essencial meus amigos eram na minha vida. Lutei para afastar Draco da minha cabeça, engoli as lágrimas pela milésima vez naquele dia. Era noite, Draco tinha partido, Luna estava enlouquecendo, minha escola estava sendo atacada e os meus amigos poderiam morrer a qualquer momento. Eu poderia morrer a qualquer momento.

Senti alguém segurando a minha mão, uma mãozinha pequena, mas firme. Olhei para baixo. Aria me observava atentamente, quando nossos olhos se encontraram ela me transmitiu uma segurança inimaginável.

Tornei a olhar para cima, mas toda essa segurança se esvaiu ao encarar Luna. Seu semblante era retorcido em uma careta, seus poros emanavam tensão e seus olhos estavam fixados em mim.

Num lampejo, vi Luna lutando contra algo dentro de si.
– Fuja! – ela gritou, no mesmo momento em que foi lançada para trás por uma força inexistente, caindo no chão.

Me afastei dois passos rapidamente, apavorada.

Seus olhos eram negros.