Saio de casa. Praticamente correndo, eu não podia perder o ônibus, eu estaria morta se o perdesse. Margaret pediu desculpas pela demora do almoço e dei de ombros. Ela sabia que eu não estava chateada nem nada, aquele almoço fora incrível.
Afasto minha leve bolsa onde um livro e um caderno batiam frenéticos em minhas pernas, atrapalhando-me sempre que dava um passo.
Quando olhei para frente, avistei ao longe o ponto onde o ônibus parava e pessoas saiam apressadas de dentro. Corro para ir ao encontro do grande carro, nem ligando para as pessoas que me olhavam feio cada vez que eu esbarrava e murmurava um “desculpe”
Pisoteio em algo e sinto meus pés molhados, olho para baixo desejando que não fosse o que eu estava pensando.
Uma grande poça de lama. Sim...!
“Ah droga!” - exclamo pondo as mãos no tênis como se isso fosse secá-lo.
Talvez hoje não fosse meu dia de sorte. Na verdade, nunca é meu dia de sorte.
Varro meus olhos dali e vejo o ônibus indo em direção a Diamond. Tento gritar mas paro e penso melhor. Talvez minha sorte mude.
“Você é um par de tênis mal!” - eu falo baixinho, andando a passos largos e rápidos, olhando para os velhos tênis. – “Molhado e feio...”
Uma buzina agita meu coração e eu dou um grande pulo, constrangida por ser pega falando com meus tênis.
Olho para o lado vendo um carro com vidros pretos andar na mesma velocidade que eu. Aperto os olhos para ver alguém ali dentro, mas era totalmente impossível.
“Um belo conversível...” Eu penso arqueando as sobrancelhas O vidro foi abaixando-se sozinha, meu coração estava acelerado e depois que eu vi a figura que estava ali, eu sabia exatamente o porque disso.
“Quer uma carona?” - ele pergunta, seus olhos em mim, e sua expressão dizia “Eu sou de mais, e você é apenas uma louca renegada em tudo.”
Continuei parada, não conseguindo deixar de fitá-lo com olhos raivosos e lábios franzidos.
Cameron apertou as mãos no volante e olhou rapidamente para frente, logo depois voltou-se para mim.
“Obrigado, irei andando.” - voltei a andar e o carro continuou me seguindo.
Tudo bem ele não parecia que iria desistir.
Resisti à tentação de aceitar a carona, tranquei a respiração, contei até vinte, fechei os olhos e o carro continuou me seguindo devagar.
Eu parei e fiz cara feia, ele riu inclinando a cabeça para trás.
“Entre logo ai” - Cameron piscou, não pude dizer que não fiquei tonta, pois confesso que fiquei.
Ele me olhava com uma expressão descontraída de eletrocutar os músculos de meu corpo.
Ficamos em silêncio absoluto durante todo o percurso, às vezes ele me olhava com algo no olhar, não soube dizer muito bem o que era, talvez uma brilhante e avassaladora chama.