“Está bem!” - exclamou Laura quebrando o silêncio que pairava entre nós. – “pode ir contando! O que aconteceu Luna?”

Eu tinha que contar uma hora ou outra, era necessário. Laura é minha melhor amiga, nós conversávamos sobre tudo uma com a outra, sempre. Era um laço forte entre nós, sempre será.

Ela era realmente uma garota espetacular e muito bonita, os garotos viviam em seu pé, ela os atraia de um jeito incomum. Seus lindos cabelos negros a soldavam, caíam feito uma cachoeira em suas costas, seus olhos da cor do céu num dia ensolarado e sem nuvens, era de dar inveja a qualquer um. Sua pele era bronzeada, como uma garota da Califórnia. Caminhávamos pelo refeitório do colégio Crow Whiter, enquanto meu olhar seguia os das outras pessoas, como se fossem me atacar, talvez era um jeito que eu “tentava” me defender de certos olhares, minha paranoia estava estampada em meu rosto. Respirei fundo e pude sentir o cheiro de panquecas que emanava no ar. Um buraco em meu peito crescia, queria ficar aqui, eu gostava desse lugar, mesmo sendo uma perdedora. Não queria vivenciar o começo de morar numa nova cidade e estudar em um novo colégio onde eu havia cem por cento de certeza que me julgariam a todo custo, sem eu ter ao menos uma chance de me apresentar. Eu estava prestes a falar, quando vi que Laura me olhava com uma expressão de dar arrepios, porém, não o senti. Seus grandes olhos esperavam por uma resposta, sua sobrancelha arqueada dizia que era um sinal de impaciência e sua expressão era “Ou me fale agora ou eu enfiarei este pirulito em você sabe onde” Tomei um gole de meu milk shake de morango e fechei os olhos para recordar bem deste gosto maravilhoso como se eu nunca mais fosse tomá-lo, talvez eu não fosse mesmo.

“Laura, irei viaja para bem longe.” - Eu disse com uma voz fina e baixa, como medo de sua reação. Ela fez o que eu não esperava, deu-me um perfeito sorriso mordendo o lábio. “

''Uau! Eu ficaria feliz com uma viajem sabe? Para botar tudo em dia, fazer umas compras e...” - eu não a deixei terminar, ela estava se iludindo sozinha e isso não era uma coisa boa.

“Será definitivo, irei embora daqui para sempre.” - Murmurei tentando não chorar mais uma vez - "Vou morar em uma cidadezinha que tem por nome de... Kristin... Krisda!"

Seu sorriso sumira e o pirulito em suas mãos caiu no chão, ela estava imóvel, como estivesse sido congelada, paralisada.

“Como é que é?” - Sua pergunta parecia uma ameaça, ela me olhava feito um touro prestes a chocar-se com o pano vermelho. Dei mais um gole de meu milk shake e me arrependi, o gosto de morango não estava mais ali, apenas um gosto parecido com... papelão. Meu apetite se fora, joguei-o na primeira oportunidade que tive em uma lixeira. Ajeitei minha touca preta, uma mania boba e me abracei, isto não era uma mania, estava realmente frio e eu estava apenas com um casaco fino. Era um milagre pois não estava usando meus moletons velhos e feios. Eu gostava do frio, a neve... Perfeito.

“Desculpe Laura, eu juro que tentei convencer meu pai, mas ele estava decidido!” - Dei um longo suspiro e me encolhi lembrando-me de Margaret. “- Minha mãe resolveu aparecer. Ela disse ao meu pai que tenho que ir morar com ela, acredita?” Ela pareceu chocada.

“Sua mãe está me tirando de você? Ela não pode! ela abandou você lembra?” - Em outra situação eu teria gargalhado de sua expressão de indignação mal feita porém agora não era o caso, aquilo não tinha a menor graça. – “Olhe, eu não estou sendo uma patética egoísta mas... Na verdade, estou sim e não consigo aceitar isso." Ela parecia estar tentando esconder o quanto estava desapontada e o quanto estava triste, o que me deixou completamente abalada.

“Desculpe” - Eu disse, enquanto uma lágrima escorria e eu a limpava. – “Juro que tentei, mas papai apenas me ignorou."

Ela não falou mais nada, apenas nos abraçamos, ela era mais alta que eu, e usava seus saltos pretos favoritos, fazendo-a ficar corcunda ao me abraçar.