David e eu ficamos sentados em meu sofá por horas e horas a fio, as vezes nos olhando rapidamente e logo desviando o olhar um do outro com uma expressão de puro desconforto.

Meus pensamentos iam e vinham, sempre parando no mesmo lugar. Cameron. E sempre na mesma frase. ''E se fora ele? Ele quem praticou isso tudo com Jenifer sem nem se importar com a vida dela?''

Eu podia estar tirando conclusões precipitadas pois eu nem o conhecia direito mas... Aquele dia, meu primeiro e tedioso dia em Diamond ele estava lá, e ele tratou aquela mata tenebrosa como se a conhecesse muito bem. Era inevitável eu não pensar em algo assim. Mas para que minhas perguntas fossem respondidas, eu teria que esperar Jenifer acordar. E ficar aqui já estava me torturando o bastante.

Levantei e andei para lá e para cá, dando passos rápidos e desengonçados, enquanto minha mente vagueava por ai em busca de respostas. Minha cabeça estava abaixada quando ouço um clac estranho vindo da porta de meu quarto. Rapidamente paro e olho para o corredor, David também estava com um olhar alarmador, enquanto ele levanta do sofá num pulo, eu dava alguns passos para trás, como se fosse saltar algo muito perigoso de lá. E que claro, era Jenifer. Mas mesmo assim, meu medo invadiu minha alma, deixando todos os cabelos de meu corpo eriçados.

Jenifer aparece e eu suspiro aliviada de ve-la bem e inteira. Apenas sua cara que não parecia nada bem.

Ela olhava ao redor com um ponto de interrogação enorme no olhar e isso me preocupava mais que David.

Olhar para ela assim, viva. Me fez pensar que toda a dor que passei, todo o esforço e terror na mata valera a pena. Eu não estava nem um pouco arrependida de ter quase morrido por alguém. Talvez dessa maneira, se eu estivesse morrido, eu não teria ido para o inferno.

Mordi um lábio para não rir desse pensamento e sentei novamente no sofá estampado, notei que ele parecia uma fruteira mas mesmo assim não liguei, apenas respirei fundo.

''Está tudo bem com você Jeni?'' - eu pergunto a convidando para sentar no outro sofá e ansiando por respostas.

Ela assente e aperta os olhos, firmando suas mãos contra o peito. Seu cabelo desgrenhado e multi-colorido estava bagunçado , com um pedaço de folha nele que logo que ela o viu, e o tirou sem pestanear.

Sua roupa surrada estava suja , como se ela voltasse a ser criança e estivesse brincado por um dia sem parar no parque da praça ao lado.

''Queremos que nos conte tudo Jeni... '' - David diz, com seu olhar puro e firme sobre ela.

Ela se remexe no sofá e me olha, olha fundo. Eu tive um certo medo de seu olhar pois ele era misterioso, ela parecia saber de algo muito importante... Me perguntei se ela vira minha grande encenação e apenas de imaginar ela sabendo de tudo, meu coração martelava forte.

''Vocês não o viram?'' - eu e David balançamos a cabeça em negação enquanto ela remexia seus dedos frenéticos em seus joelhos. - ''Eu estava lá, quando de repente alguém tampa minha boca, o pano tinha um cheiro forte, eu fui ficando fraca e cansada mas eu tentei aguentar o máximo possível, tentei ser forte. Eu estava apavorada, impossibilitada de falar. - ela para de falar, estreitando seus olhos sobre nós com um olhar gratificante e iluminado. - ''Ele parecia um macaco, sério. Ele conseguiu me carregar escalando aquela árvore, e me por lá em cima, daquele jeito ruim e desconfortável... Ele usava um moletom que tinha um capuz onde cobria a metade de seu rosto, apenas aqueles lábio perfeitos estavam a mostra... E bom, ele parecia da pesada. Eu nem o vi sair, logo em seguida eu apaguei.

Então tudo indicava que era Cameron, quer dizer... Eu não sabia mas mesmo que eu descobrisse que esse homem fosse ele, eu não estava nem um pouco surpresa com o fato.

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Depois Jenifer fizera mais algumas perguntas como ''Por que estou na sua casa?'' ''Como você me tirou de la de cima e eu sai inteira?'' Essas coisas. Coisas normais. Talvez nem tanto assim.

Margaret chegara e deixara sua bolsa de lado, lançando-me um sorriso iluminado de orelha a orelha.

''Como foi a escola querida?''

Fora um dia difícil, eu fiz um feitiço, quase morri, salvei uma garota... E ah também havia um maniaco assassino!

''Foi ótimo, melhor impossível.'' - Ai! essa mentira fora a mentira mais mal feita de todas mas eu nem ligara, por dentro eu apenas dera de ombros e já estava ótimo.

Fui para meu quarto e deitei na cama, tentei dormir, pensar em algo útil mas apenas o rosto perfeito de Cameron me vinha a cabeça, um rosto lindo, angelical, rebelde e tentador.

Balancei a cabeça e me levantei furiosa, olhando todo o meu quarto, o analisando bem, meu criado mudo, as paredes brancas sem vida, livros empoeirados em uma estante, meu pequeno guarda- roupa e meu computador velho. Que me aguardava há dias. Dias que eu não falara com Laura e eu tinha certeza que ela estava mandando milhares de emails.

Era horrível meu super vácuo que eu dava nela a cada dia mas... Eu estava sem tempo.

Eu tinha e precisava saber onde era a casa de Cameron.

Eu ainda tremia, de medo e raiva.

Eu queria enfrentá-lo, olhá-lo no fundo de seus olhos e mandar a real.

Mas qual era a real?

Eu iria matá...

''Tem certeza bobinha?'' Uma voz interrompe meus pensamentos. Aquela voz de novo. Era uma voz bonita, com um certo charme e claro, era de mulher.

Corri para a mesinha de meu computador e arranquei um papel de meu caderno que habitava ali e escrevi:

''Irei sair, volto logo. Beijos.

Luna. ''

Sustentei meu rabisco no olhar, mirando meus olhos no ''volto logo''

Eu voltarei? Quem me garantia que Cameron não era um maniaco louco?

Olhei para meus dedos, magros e pálidos, eu os remexi no ar como se fosse fazer algo maldoso. Talvez eu fosse.

Respirei fundo, sentindo o cheiro floral e perfeito da casa de Margaret. Ela trabalhava com jardinagem, dava tudo de si. Nosso quintal era esplendido, talvez o mais bonito da cidade, do jeito que sempre quis e imaginei. Era algo que eu nunca conseguiria manter se morasse sozinha.