– Vamos logo, Anne! Não quero me atrasar para o primeiro dia de aula!

Molly puxava Anne pelo braço, fazendo com que a amiga andasse mais rápido. Já estavam quase atrasando e era só o começo do ano letivo.

– Não sei por que a pressa, Molly. Sua vida vai virar de pernas para o ar antes do final do ano, você sabe. Medicina. Você só pode ter ficado louca.

Alguns meses depois a vida de Molly estaria mesmo de pernas para o ar, mas não era culpa do curso que escolhera.

– Olha quem fala, você escolheu Literatura! Nós não teremos nenhuma matéria em comum.

– Mas moramos juntas agora!

Ela riram e seguiram pelos corredores. Pareciam irmãs de tão parecidas. Todos que as viam indagavam sobre isso. Conheceram-se no ensino médio e não se separaram mais. Vieram para a mesma universidade, mesmo sabendo que nunca escolheriam o mesmo curso, mas alugaram um quarto e agora teriam muito mais tempo juntas, ainda que os cursos as deixassem loucas.

Separaram-se quando chegaram a um cruzamento de corredores.

– Boa sorte com os corpos, Molly.

A futura médica revirou os olhos.

– Boa sorte com as traças, Anne. Nos vemos mais tarde.

– Yep!

Molly seguiu para a sua da primeira aula do dia. Entrou na enorme sala sentindo-se tímida. Tinha dificuldades em conhecer pessoas novas, principalmente se partisse dela o primeiro contato. Procurou uma cadeira em um canto e sentou-se. Teria uma visão privilegiada ali, gostava de observar as outras pessoas e tentaria passar despercebida.

Quando o professor entrou na sala, Molly simpatizou com ele logo de cara. Era jovem e não tinha o ar de seriedade que ela esperava dos professores do curso que escolhera.

– Olá, pessoal! Como vocês estão? Eu sou o Todd e vou falar para vocês um pouco do que é o curso de Medicina e o que vocês devem esperar dele.

A partir daí Molly focou sua atenção no professor e nem percebeu o tempo passar, assustando-se quando ouviu o sinal para a troca de aula soar.

– Até a próxima! Não precisam ficar com essas caras de assustados! - Todd sorria para a turma ao perceber que os alunos já estavam suando frio.

Molly caminhou lentamente até sua próxima aula, que era algo relacionado a Química.

– Você também está cursando Medicina? - Ela ouviu uma voz falar ao seu lado. Virou-se para encontrar um rapaz da sua altura e de cabelos loiros. Sorriu para ele.

– Sim. - Molly não sabia como desenvolver o assunto. O rapaz parecia nervoso com o primeiro dia de aula e ela não sabia o que dizer.

– Ah eu me chamo John. John Watson.

– Prazer, Molly Hooper.

– Você acha que daremos conta? Esse professor realmente me assustou.

Molly riu, porque ele parecia realmente apavorado. Ela, ao contrário, estava ainda mais animada.

– Se escolhemos o curso certo, vamos conseguir sim. Você não se sente animado em dar esse passo?

– Sim... Mas nossa... Às vezes parece impossível...

– Eu sei. Para mim também. - Molly disse sorrindo enquanto eles entravam na sala de aula. Ela procurou mais uma vez um lugar no canto e encontrou um nos fundos da sala. Continuava sem querer chamar atenção de jeito nenhum. John sentou-se próximo a ela. Molly gostou muito da professa Hilary, que era uma senhora simpática e atenciosa.

Prestava atenção na aula quando alguém se jogou na cadeira ao seu lado.

– Hey, você, pode me emprestar a caneta que não está usando?

O pedido foi para John. E Molly observou ele olhar confuso para o estranho que tinha sentado ao lado dela e tirar da mochila uma caneta, entregando-a para o rapaz alto, magro e de cabelos enrolados que esperava com impaciência.

– Como você sabia que eu tinha uma caneta? - John olhava com desconfiança.

O rapaz revirou os olhos, entediado.

– Oras, vamos lá. Suas mãos estão manchadas e você tem um caderno. Não é tão difícil assim.

Molly riu quando John olhou para os riscos de caneta em suas mãos e acabou fazendo com que os dois olhassem para ela. Sentiu o rosto enrubescer automaticamente e concentrou os olhos em suas próprias mãos.

A professora Hilary continuava dissertando sobre a matéria, alheia ao que acontecia ao fundo da sala e Molly tratou de prestar atenção no que ela dizia. Percebeu que o estranho ao seu lado havia pedido a caneta não para fazer anotações, mas sim para fazer pequenos desenhos em seu caderno, que Molly reparou ser de Hilary e da sala de aula. Ele completava as frases da professora antes dela terminar de dizer, parecendo já conhecer a matéria.

Molly começou a encará-lo sem perceber e não teve tempo hábil para disfarçar quando ele virou os olhos para ela. Sentiu-se presa a ele, como se algo a estivesse magnetizando. Ele a encarou por alguns momentos e balançou a cabeça, como quem diz "o quê?". Ela pensou por alguns instantes, sentindo-se envergonhada por ter estado encarando-o, mas não podia deixá-lo sem resposta.

– A matéria. Você já sabe. – Ela sussurrou, para que a professora não percebesse a interrupção.

Ele olha confuso para ela, como se ela tivesse dito algo óbvio.

– Sim. Eu já sei.

Dizendo isso, virou-se e continuou desenhando em seu caderno.

Ela não viu a aula passar, mas também não prestou atenção na matéria. Quando o sinal tocou, ela e John se levantaram e seguiram para a outra aula.

– Nós poderíamos dividir o quarto.

Molly deu um pulo com a voz que surgiu entre ela e John.

– O que? Do que está falando? – Ainda bem que John respondeu antes que ela precisasse falar algo, porque estava muda. Seu cérebro estava em branco. O rapaz a intrigava.

– Você. Não está precisando dividir as despesas de um quarto com alguém?

– Como você sabe disso também?

O rapaz de cabelos escuros revirou os olhos de novo.

– Existe um anúncio no mural, provavelmente deixado por você mesmo, caso não se lembre. Podemos conversar sobre isso no almoço. Agora preciso ir para a próxima aula. Ah... Sherlock Holmes. – Disse estendendo a mão para John e depois para Molly.

– John Watson.

– Molly Hooper.

E sem dizer mais nada, Sherlock se virou e caminhou na direção contrária. Molly e John se olharam e riram, sem entender nada.

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O almoço chegou e Molly encontrou Anne. As duas seguiram juntas para o refeitório. John tinha ido atrás de Sherlock para acertarem a questão do aluguel de quartos.

– Quero saber de tudo, Molls!

– Acalme-se. – Molly ria da empolgação da amiga. – Eu vou contar. Mas podemos fazer isso enquanto comemos?

Elas sentaram-se a mesa e Molly contou sobre suas aulas e ouviu o que Anne tinha a dizer. Ela estava adorando o curso de Literatura. Tinha inclusive feito uma amiga, Mary Morstan. E Molly sorriu quando viu a loira, de cabelos curtos se aproximar e jogar-se na cadeira ao seu lado.

– Oi, sou Mary. Espero que não se importe se eu me sentar aqui com vocês. Anne disse que não teria problema.

– De forma alguma. Me chamo Molly. – Simpatizou com Mary assim que a viu. Não tinha como não gostar da garota de sorriso fácil que se sentou à mesa.

– Essa é a Molls, de quem lhe falei. Que gosta de mexer com mortos.

– Falando assim, Anne, até parece que eu irei trabalhar em um necrotério.

– Talvez você vá um dia.

As três riram e passaram o almoço trocando experiências com as aulas que tiveram.

– Molls, o que tanto você olha para aquele lado? Ahhhhhhhhhh... - Anne expressou assim que olhou na mesma direção que ela. - Você sempre gostou dos estranhos. Ele está na sua turma?

Anne percebeu o interesse de Molly por Sherlock. Agora ela estaria ferrada.

– Não. Hum. Ele assistiu apenas uma aula com a gente. Não o conheço.

– Gostei muito mais do outro que está com ele. – Mary disse, virando-se para onde Anne olhava.

– Ah! Aquele é John. Ele está na minha turma. Posso apresentá-lo a você!

– Meu Deus! Vocês vieram aqui para estudar ou para arrumar namorado? – Anne repreendia as duas e ria.

– Os dois! – Elas responderam juntas e riram ainda mais, fazendo Anne sacudir a cabeça.

– Vamos lá, suas loucas. Nós temos mais um período para suportar e eu não aguento mais estudar. – Anne disse com um suspiro, fingindo cansaço e arrancou gargalhada das duas amigas. Por fim elas se levataram e se arrastaram para as salas de aula.