Unbroken escrita por Annia Ribeiro


Capítulo 7
Friends


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura cupcakes.



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"Try to let go of the truth. The battles of your youth. 'Cause this is just a game"

Estava passando mal quando acordei. Na verdade, acho que nem dormir direito. A madrugada toda eu senti uma dor insuportável de cabeça, foram três idas ao banheiro para vomitar e acho que duas cartelas de remédio. Minha mãe nem se incomodou de averiguar se eu estava bem, mas eu já estava acostumada com isso. Eu não havia bebido nem comido nada para estar desse jeito, mas no fundo eu sabia que tudo isso era coisa da minha cabeça. Eu queria morrer e não lidar com meus problemas. Eu tentava me convencer que era forte, mas eu não era, nem um pouco. Eu não podia mais conviver com meus problemas, não havia como apagar o passado.

Se completou 3 dias do namoro de Piper e Jason – 3 dias da “festa” – e a garota nem havia dado as caras. Conhecia ela a poucos dias, mas fiquei chateada por ser trocada logo de cara por um garoto. Nesses três dias sem me encontrar com nenhum amigo da Piper, eu aproveitei para conhecer a cidade (sozinha, oque foi bem chato); eu almoçava em lugares diferentes, mas não tinha a menor graça estar ali e não ter ninguém para comentar. A minha mãe realmente não estava ali por mim, e sim por negócios, todas as vezes que a chamava para almoçar ela adiava.

Precisava de ar, meu quarto estava me sufocando. Fui até a sacada do meu quarto, mas quando vi o quarto a frente dela desistir de ficar ali, era o quarto de Percy, e eu queria ficar longe de quaisquer lembrança relacionada a ele. Todas as noites eu via uma garota em seu quarto, oque não era difícil, já que a janela era de frente a minha.

Meu relógio marcava seis e meia da manhã e eu incrivelmente me sentia sem nenhum sono. Desci as escadas, vestindo um sobretudo cinzento por cima do pijama, eu precisava sair logo do quarto, o ar estava ficando quente, estava me sufocando.

Abri a porta da frente com cuidado e vi um carro vermelho parado em frente a casa de Poseidon. Percy estava sem camisa e de bermuda falando com uma garota ruiva dentro do carro. Fechei a porta sorrateiramente, deixando apenas uma fresta para eu ver a cena. A garota era Rachel, e ela estava com o cabelo um pouco bagunçado. Porque eles estavam ali tão cedo? A não ser que Percy quisesse que ela saísse escondido de sua casa não tinha outra explicação para aquilo.

Meu peito se encheu de ódio daquele garoto. Ele havia mesmo levado Rachel para sua cama depois de toda aquela cena? Rachel não tinha amor próprio para não aceitar isso não? O canalha havia levado uma garota pro seu quarto a cada noite, e ela gostava de ser apenas mais uma. O carro deu partida e logo saiu do meu limitado campo de visão. Não me preocupei em abrir a porta logo em seguida, e muito menos se Percy me viu. Eu estava pouco me lixando para ele, mas achei uma enorme sacanagem sua atitude. Mas, sinceramente, ele que se exploda. Atravessei a rua correndo sem olhar para ele; meu destino era um parquinho de criança que ficava a dois minutos dali, era bem próximo. Corri até lá, sem olhar para trás.

Sempre gostei de balanços, a sensação de querer ir mais alto, de alcançar o limite, de querer tocar o céu. O parque desértico e os poucos carros na rua davam uma sinistra sensação de solidão, parecendo um daqueles filmes melancólicos e exageradamente dramáticos.

– Ei, tudo bem? – perguntou Percy, parando a minha frente no balanço.

– Minha cara por acaso está como de uma pessoa que está tudo bem? – eu digo, ríspida, olhando para qualquer lugar sem ser para ele.

– Qual é o seu problema? – ele perguntou, cruzando os braços e olhando para os lados.

Percy vestia apenas uma calça de moletom com chinelos, o cabelo estava bagunçado e a cara com marcas de travesseiro. Ele estava bem gostoso sem camisa. Desculpe! Tive que notar, não quero ficar com ninguém, mas olhar não machuca.

Estava querendo ignorar sua pergunta, mas aquele olhar estava fixo em mim. Realmente, nós dois tínhamos uma “amizade” (não sei o nome a dar a isso) bem estranha. Não nos entendíamos, vivíamos brigando, mas ele sempre vinha para cima de mim, querendo algo mais... Ele estava embaralhando minha cabeça, jogando todos os papeis para o alto, dando um dane-se bem grande para a lógica. Como eu o odiava. Será que se eu contasse a verdade ele pararia de ficar no meu pé? De certo modo eu não poderia arriscar.

– Qual é o meu problema? Não pergunte isso, não tente me entender. Vai acabar delirando, ou assinando o próprio contrato de morte – digo num tom sombrio. Nossa, eu realmente disse aquilo? Foi bem dramático, pena que tirei do livro que havia lido na tarde de ontem.

Percy riu debochado, mas eu já meio que havia previsto tal ato dele. Ele sentou-se no balanço ao meu lado, e começou a fazer mínimos impulsos para frente e pra trás.

– Bem, sinceramente, não quero saber de seus problemas, e nem você vai querer dos meus. Cansei de ficar preocupado com esse tipo de coisas da vida, joguei tudo pro ar, faço oque quero. Faça o mesmo.

– Queria, mas não tem como.

– Não importa – ele olhou para mim, malicioso – Hoje eu e meus amigos vamos mostrar como que é a verdadeira diversão de São Francisco.

– Quero distância de você – digo, dura e na lata.

A cara do garoto foi como se tivesse acabado de ver um porco voador, ou algo parecido. Senti um gostinho bom na boca, como se aquela brincadeira fosse tão divertida que eu podia até senti-la. Não era brincadeira... mas parecia, de certa forma. Acho que eu deveria usar o termo “sensação de poder”. Sempre mantive superioridade com Percy, embora às vezes ele conseguisse me superar, mas quando eu o pegava de surpresa... não tem preço.

– Como é? – ele perguntou, como se não tivesse ouvido direito.

– Acha que eu não vejo você com uma garota diferente em sua casa?

– Está me espionando, Chase? – ele sorriu malicioso.

– Acho que até a minha avó deve ter ouvido os gritinhos das garotas, e ela nem é dessa cidade – minha voz saiu carregada de sarcasmo. Parei o balanço e me levantei. Não consegui reprimir o impulso e olhei para Percy, tentando fracassadamente imitar tudo que eu sem querer conseguia ouvir do meu quarto. – “Oh, oh, Percy. Que delícia. Isso. Vai, vai”. Da próxima vez, diz para as próximas que ninguém quer saber! Não precisa ficar gritando.

– Se continuar imitando gemidos eu não vou conseguir não te levar para cama, aliais, acho que nessa parte do incentivo você não vai me decepcionar – ele disse, como se não quisesse nada... mas aquele maldito sorriso, tão debochado, tão malicioso, tão pedindo uma porrada.

Virei-me de costas para ele, com uma cara de nojo e incrédula, e comecei a andar em direção ao portão. Como ele conseguia ser tão idiota? Nem para flertar prestava. Só conseguia ser um safado metido. Percy conseguiu me parar, deixar-me totalmente imobilizada, mas não foram seus braços fortes que me deixaram sem andar mais um passo, e sim sua frase.

– Quem é Luke?

Oh céus, mais problemas? Deuses, eu por acaso colei chiclete em seus tronos? Será que ele ouviu eu gritando o nome de Luke quando ele brigara com Leo? Como ele ainda se lembrava disso? A verdade não seria dita.

– Uma parte de meus problemas, que não cabe a você – digo como uma pedra de gelo.

– Ok, senhorita problemática. Mas acho que você estava bem alterada na festa do Jason, pois, você tacou uma garrafa na minha cabeça me chamando de Luke. Acho que tenho o direito de saber quem é ele – ele disse, se levantando e cruzando os braços.

– Não, você não tem nenhum direito em saber quem é ele – digo, severa. Minha expressão estava endurecida e meu olhar penetrante.

O vento cismava em bagunçar meu cabelo, oque devia fazer parecer um furacão negro em torno de minha cabeça, eu tinha que apertar o sobretudo sobre meu corpo, já que o mesmo não conseguia me proteger do frio. Percy andou até a mim, ficou tão próximo que eu tive que inclinar um pouco a cabeça para cima para conseguir encarar seu rosto.

– Annabeth, isso é ridículo – Percy disse, como se estivesse dizendo uma coisa bem obvia.

– Sim, você é ridículo.

– Você está sendo infantil.

– Não, você que desde sempre está sendo infantil, cara – eu digo, unindo as sobrancelhas.

– Olha quem está imitando minhas frases agora!

Dei um soco no seu braço, insegura demais para arriscar dar do peito ou na cara. O gesto deve ter parecido amigável e nem um pouco ofensivo, já que ele riu. Percy estava conseguido me fazer ter uma raiva absurda dele, e eu já fazia uma promessa silenciosa de ignora-lo. Meu pavio estava bem curto ultimamente, e Percy estava com fogo nas mãos.

– Já que eu já fiz de tudo para te pegar, e você conseguiu resistir bravamente... – ele começou, falando o final da sentença com um sorriso malicioso – Acho que vou ter que te considerar como uma amiga, igual a Piper. Nossos pais são sócios, então, você aceita essa proposta de amizade? Isso se você ainda querer distancia de mim, como disse – ele estendeu a mão. O encarei para tentar perceber qualquer resquício de armadilha ou pegadinha, mas se tivesse ele estava conseguido eclipsar muito bem. Eu queria distância dele. Mas era impossível. Ele era filho do sócio da minha mãe. Meu vizinho. E melhor amigo da minha amiga e o novo namorado dela. Ou seja, querendo ou não, eu sempre iria me esbarrar com ele.

– Tudo bem, amigos – apertei sua mão; estava extremamente fria, mas era macia. Logo a soltei.

– Então para começar peça desculpas? – ele passou as mãos no cabelo, com o sorriso debochado, ele mais parecia um daqueles mauricinhos.

– Por quê?

– Por ter chutado meu saco?

– Não, claro que não. Nosso nível de amizade ainda não chegou à etapa aonde eu venço meu orgulho – dei uma risada debochada. Eu meio que o iludi, pois ninguém conseguiu até hoje vencer meu orgulho, raramente eu pendia desculpas por algo, pois minha cabeça é programada para me defender de atos. Eu poderia ser uma ótima advogada, caso não amasse engenharia.

– Consigo chegar nesse nível?

– Só se consegue algo se realmente querer, depende do seu esforço.

Não sentia nenhuma diferença entre minha relação com Percy agora; poderia dizer que me sentia mais leve por não ter um assunto complicado aqui em São Francisco, mas estaria mentindo. Ser oficialmente amiga do garoto e não quase-inimiga não fez nenhuma diferença em minha cabeça.


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