Unapologetic escrita por oakenshield


Capítulo 45
Divorce




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Katerina e Erik ficaram mais alguns dias em Altulle. Poucos dias, porque eles ainda tinham dois países para cuidar.

A rainha sentia sua barriga crescendo mais a cada dia. Os desejos começaram. O primeiro foi de torta de limão, logo depois ela sentiu vontade de comer carne assada. Detalhe: eram quatro da manhã. Um chef teve que acordar para fazer a carne assada para ela.

Hana e Don viajavam constantemente. Desta vez, Katerina e Erik haviam os encontrado em Ahnmach, em uma palestra sobre a saúde pública. Depois disso Erik os convidou para ficar no Palácio Le Lëuken.

Neste momento, Katerina estava sozinha no quarto com a sua irmã. Sem câmeras ou microfones por perto, sem criadas e seguranças.

– Han, você acha que é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? - Katerina pergunta. - Quero dizer, amar de modos diferentes. É possível?

Hana fica em silêncio por algum tempo e acaba dando de ombros.

– Não sei. Eu acho que tudo é possível, só depende do jeito como você lida com o seu coração.

Katerina olha para as suas mãos pairando sobre a sua barriga já crescida.

– Porque eu ainda o amo, mas eu sinto algo diferente por Erik - ela conta. - É um tipo de amor totalmente diferente e eu sei que é amor porque eu sinto, sabe? Eu sinto.

– Todos nós temos o nosso primeiro amor, Kate, mas isso não significa que ele será o último.

Katerina olha para a irmã.

– Eu gostaria de ter dois corações. Um para Fabrizio e outro para Erik.

De repente a expressão de Hana fica séria.

– O nome dele é Francis. Kate, você tem que se acostumar com isso. Fabrizio não existe, mas Francis sim.

– Para mim eles são pessoas diferentes - a mais velha fala, fechando a cara.

– Mas não são. Fabrizio foi criado por Francis. Fabrizio faz parte de Francis. Lá no fundo é quem ele é. Ninguém pode ser tão bom ator assim na vida real. Ele já falou inúmeras vezes que a ama, mas você parece nunca acreditar nisso. Parece que você não quer acreditar.

– E eu realmente não quero - Katerina fala. - Porque se algum dia eu chegar a me convencer de que foi real... eu vou acabar traindo Erik e você sabe o que isso significa. Nem mesmo um rei e uma rainha podem ir contra as leis estabelecidas pelo papa. Traição real é morte em praça pública.

– Você tem que parar de pensar como uma rainha e começar a pensar como Katerina, uma recém-adulta que quer ser feliz. Se você for se preocupar com todas as ameaças de morte que você pode receber por tentar seguir o seu coração...

As lágrimas começam a brotar nos olhos de Katerina e Hana as seca com os dedos, suas unhas raspando de leve na pele da irmã.

– É hora de viver, Kate - Hana fala. - Se você não decidir, vão acabar decidindo por você.

+++

– Aqui está - Ivna entrega o frasco de vidro com cuidado para Melanie. - É melhor tomar logo.

Melanie concorda. Na frente do pequeno frasco está gravado no vidro um P de Praga. A Praga. O líquido é verde e parece que não foi muito bem dissolvido.

– Não dá para colocar em uma seringa e inserir? - ela pergunta. - Isso parece nojento.

– Veio junto - Ivna fala, tirando a seringa do pacote. - É melhor fazermos isso rápido. Se Joffrey perceber que eu o roubei...

Melanie coloca o líquido verde na seringa e a posiciona no seu pescoço. A morena aperta o êmbolo e sente o líquido frio entrar no seu sistema. Ela respira fundo.

– Quanto tempo para fazer efeito?

– Cinco minutos.

Ela assente.

– Você viu se Joffrey guarda o soro do sono?

Ivna retira outro frasco do bolso. Dessa vez há um S gravado no vidro. S de sono. O líquido é azul claro, quase bebê, e passa uma tranquilidade que só de olhar já da uma vontade de dormir por dez anos.

Mas ela não pode se dar ao luxo de dormir.

– Obrigada por tudo, Ivna. Você está sendo uma ótima amiga.

– O que você pretende fazer?

– Vou até Carrick e pedirei para ele disponibilizar a cura para o meu irmão. Derek pegou aquela maldita praga antes de eu entrar no PMI, então eu consegui o dinheiro para comprar o remédio que encuba o vírus. Agora que Vincent inseriu A Praga de novo em Meurer... receio que ele não sobreviva desta vez. Minha mãe já me avisou que ele está doente de novo.

– Como que A Praga se espalha assim tão rápido? Vincent é realmente muito habilidoso...

– Ainda não descobri, mas acho que muitas pessoas morreriam para deixar oculto esses métodos.

Ivna concorda e de repente sente um calafrio.

– É melhor eu entrar - ela fala. - Fique a vontade, Melanie.

– Eu partirei amanhã pela manhã.

A filha do imperador da Rússia concorda com a cabeça.

– Bom, então boa sorte.

Melanie sorri, agradecida.

– Eu realmente vou precisar.

+++

Britney está deitada ao lado de Francis, mexendo nos cabelos loiros dele. Isso o irrita, mas ele não diz nada.

– Por que o divórcio é proibido aqui?

– Somos católicos - Francis fala como se fosse óbvio. - Segundo a Igreja Católica, quando um homem e uma mulher se casam, eles se tornam um só. Não tem como você partir uma pessoa ao meio e ela sobreviver. Por isso o divórcio é ilegal. Os adúlteros são condenados a morte, principalmente os adúlteros dentro da Corte, que são os que tem mais conhecimento da palavra Dele.

– Na Inglaterra o divórcio também não é considerado algo natural, mas depois de um padre conversar com o casal e dizer que não tem jeito, a anulação pode ser concedida. Não sei como era há vinte ou trinta anos atrás, mas o meu pai mudou as coisas depois da Grande Guerra no norte de Frömming. Ele teve medo que os selvagens invadissem o nosso país, então ele decidiu adaptar algumas leis para que se algum dia eles chegassem, aceitassem as nossas regras e não tentassem impor outras.

– Seu pai foi sábio - Francis fala -, mas por que estamos falando de divórcio?

– Eu sei que você não queria se casar, Francis. Nem eu queria. Você ama a rainha Katerina de Frömming e eu tenho alguém em Londres. Eu queria poder ser feliz com ele, mas meu pai não me permite ficar com alguém de uma classe social inferior a minha.

Francis toca o rosto moreno da esposa.

– Britney, você é uma pessoa maravilhosa - ele murmura. - Merece toda a felicidade desse mundo e seu puder ajudá-la, eu ajudarei.

Ela sorri, baixando o olhar.

– Se tivéssemos casado na Inglaterra, poderíamos anular o casamento. Eu não faço ideia de como as coisas funcionem aqui em Altulle.

– Eu sou o rei agora - Francis fala. - Eu posso mudar a coisa.

– Você sabe que quando Henrique VIII quis se casar com Ana Bolena teve que ir contra a Igreja Católica. Ele teve que romper com Roma.

Francis pega as mãos de Britney e a olha no fundo dos olhos.

– Nós podemos fazer isso. Nós vamos fazer isso.

Ela assente com a cabeça e o abraça.

– Obrigada - Francis sente as lágrimas de Britney molharem o seu ombro quando ela repete um agradecimento sem parar - Obrigada. Obrigada. Obrigada.

Ela o beija na bochecha e ele a beija na testa.

Essa é a prova de amor que Katerina tanto quer, Francis reflete. Existe prova maior do que essa?

+++

Melanie olha para Josh ao seu lado, dormindo como um anjo. Ela passa os dedos compridos e frios pelo rosto macio e quente dele. Seus cabelos estão caídos na frente dos olhos e a única coisa que cobre o seu corpo é um lençol.

Os olhos da morena ficam molhados só de pensar em deixá-lo mais uma vez, mas se ela disser que está indo para o norte ele vai querer ir junto e Vincent só havia mandado a cura para Joffrey. Para uma pessoa. Não há antídoto suficiente para Josh.

Ela prefere que Josh a odeie a vida toda, mas que fique vivo. Se ele ir junto com ela vai acabar morrendo.

Eu não quero que ele morra, Melanie pensa. Ele não vai morrer por mim.

Ela se levanta da cama e caminha até o guarda-roupa. Pega uma calça jeans preta, coloca uma blusa de mangas compridas azul e uma jaqueta de couro por cima, nos pés ela usa o seu típico tênis sem amortecedor. No sul não está tão frio, mas no norte com certeza ela tremerá.

Melanie caminha até a cama e deposita um beijo nos lábios de Josh.

– Eu amo você - ela diz para ele antes de fechar a porta.

A morena desce as escadas rapidamente antes que as lágrimas cedam e procura a saída do palácio o mais rápido possível. Ivna a espera nos fundos.

– Meus seguranças de confiança a levarão até o jatinho de Joffrey - ela fala. - Quando meu marido perceber que o jatinho e a cura sumiram será tarde demais.

Melanie não se aguenta e abraça Ivna.

– Obrigada por todo.

Meio hesitantemente, Ivna a abraça. As lágrimas de repente começam a escorrer dos seus olhos.

– Eu já disse que vejo muito de mim em você? - Melanie assente com a cabeça -, mas eu acho que menti. Você é bem mais forte do que eu. Você luta mais do que eu. Você é melhor do que eu jamais poderia ser.

Melanie sorri. Ela já ouviu boatos sobre Ivna e o seu pai, sobre como ele abusava dela e de outras filhas, de como costumava vender ou mandar os seus filhos homens para longe para ficar só com as mulheres para si. Sobre como ele havia matado a mãe dela quando ela descobriu o homem nojento com quem era casado. Ivna havia suportado tudo isso e havia se casado com Joffrey, um homem tão horrível quanto o seu pai, para conseguir escapar de um inferno para ir para outro. Ela criou o filho de outra mulher e o amou como se fosse seu. Ela foi tão guerreira quanto Melanie jamais poderia ser. O que ela havia feito na sua vida toda, afinal? Havia se prostituído? Morado na rua por dois anos? Participado de ataques rebeldes contra a capital? Roubado alimentos dos ricos para dar aos pobres? O que ela realmente havia feito para ser considerada uma guerreira?

– Eu a admiro muito - ela diz a Ivna. - Você não faz ideia do quanto eu me espelho em você. Algum dia eu serei tão boa quanto e quando eu conseguir isso, poderei partir em paz.

Agora sim que Ivna desaba em lágrimas.

– Quando aquele velho asqueroso morrer e eu assumir a Rússia, prometo que você terá tudo o que precisar, Melanie. Você não vai mais precisar se esconder ou passar fome. Você, seus amigos e a sua filha serão bem-vindos no meu país.

Melanie agradece com um sorriso verdadeiro.

– Está na minha hora - ela seca as lágrimas de Ivna e deposita um beijo na sua bochecha. - Eu tenho que partir.

– Eu lhe desejo toda a sorte nesse mundo. Qualquer coisa que você precisar, me avise.

Melanie assente com a cabeça e entra no carro com os seguranças russos de Ivna. Eles a levam até o jatinho de Joffrey, que está posicionado em uma pista particular. Ele logo começa a voar e Melanie sente as lágrimas voltarem a tampar a sua visão. Ela toca o vidro e o embaça com a sua respiração acelerada.

Adeus, Josh.

+++

Erik está parado na sacada, olhando o pôr do sol alaranjado que cobre o céu e reflete nas nuvens cor de fogo.

– Eles me lembram você - ele fala, ainda olhando para o céu. - A cor de fogo me lembra os seus cabelos.

Katerina o abraça por trás. Erik sente a barriga já um pouco grande ela tocando as suas costas.

– Como você sabia que era eu?

Ela percebe que ele está sorrindo.

– Eu conheço o seu perfume.

Agora quem está sorrindo é ela.

– Sabe, Erik, eu sempre pensei que eu deveria me casar com você e que algum dia eu deveria aprender a amá-lo e amar somente a você. Eu sempre pensei que eu deveria gerar herdeiros e ser fiel a você. A minha vida mudou completamente nos últimos meses.

Ele para de sorrir. O tom de voz de Katerina está neutro e ele não tem coragem de olhar os seus olhos e perceber que o que ela está prestes a dizer não o fará feliz.

Mas ele está errado.

– Eu sempre pensei que o amor que eu sentiria por você seria o amor que uma mulher sente pelo homem que a faz ter filhos, o gerador da sua alegria. Sempre pensei que seriamos cúmplices em relação a forma de reinar, que agiríamos juntos pelo melhor do nosso país. Eu me enganei.

Como ele não está a olhando, ela pressiona o braço dele levemente para trás, o virando para ela. Katerina é alguns centímetros mais baixa que ele, então ela tem que olhar para cima para poder encará-lo.

– Quando eu pensava sobre os meus sentimentos, eu sempre dizia que amaria verdadeiramente somente os meus filhos. Então eu me apaixonei por ele e sentir a alegria de ter alguém comigo foi a melhor coisa que eu poderia ter sentido. Mas eu me casei e descobri que nada do que ele sentia por mim era real. Eu me decepcionei, eu tive o meu coração partido e você estava lá.

Ela sorri para ele abertamente. Erik nunca a viu sorrir tanto na vida.

– Você cuidou de mim depois de tudo. Você cicatrizou as minhas feridas quando eu mais precisava, você me acompanhou sempre que eu pedi e você estava lá. Você foi tudo o que eu sempre quis, mas eu estava perdida demais para perceber isso. Eu estava quebrada demais para perceber que você é a minha realidade e que eu nunca tive tanta vontade de estar acordada.

Katerina toca o rosto de Erik.

– Eu pensei, pensei e pensei. Nunca pensei tanto na vida. Não sabia se era possível amar duas pessoas ao mesmo tempo, mas de formas diferentes. Você foi meu amigo, você cuidou de mim todas as noites e ficou acordado me esperando pegar no sono só para ter que acordar algumas horas depois comigo gritando. Você pode ter me dado essa alegria - ela toca a barriga - ou você pode me dar muitas outras alegrias futuramente. Desde o começo eu achei que amaria Francis para sempre e que eu nunca sentiria a mesma coisa por outra pessoa. Eu estava certa, porque o que eu sinto por você é algo totalmente diferente. É um tipo de emoção diferente.

O corpo de Erik está paralisado, seus olhos fixos em Katerina se atrapalhando toda com as palavras. Seus ouvidos escutam ela dando voltas, voltas e voltas e nunca chegando ao ponto final, mas o seu coração... O seu coração está disparado como nunca na vida e ele sabe que se não teve um ataque cardíaco nesse momento, é possível que ele nunca mais o terá.

– O que eu estou tentando dizer esse tempo todo é que eu te amo - ela desliza o dedos indicador para os lábios dele. - Eu te amo, Erik. Eu sei que você pode não acreditar, mas eu nunca diria isso se eu não tivesse certeza.

– Você também o ama - é o que ele consegue dizer.

– Sim - ela responde. - Francis foi muito importante para mim e eu ainda o amo. Talvez eu nunca deixe de amá-lo, mas neste momento eu quero ficar com você porque eu também o amo.

Erik não a deixa falar mais. A puxa com cuidado pela cintura para não machucar a sua barriga e a beija.

– Esse é o melhor dia da minha vida - ele murmura.

Erik a vira e retira o seu espartilho devagar. Seus dedos tocam as costas nuas dela e a conduz até a cama com calma, mas a beija com vontade. Ele ama aquela mulher.

– Eu amo você.


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