Francis estava deitado na sua cama ao lado da sua mais nova esposa. Ele pensou que o casamento não traria vantagens, mas traz algumas.

Britney Wainbury, herdeira do trono da Inglaterra e esposa de Francis Kiobach, é uma linda mulher. Alta, magra, pele bronzeada, cabelos castanhos, compridos e lisos, lábios carnudos e olhos verdes. Ela lembra a rebelde que está em Frömming, Melanie Hemingski.

Hoje é o dia da coroação. Francis está nervoso.

– Hum, Britney? - ele resmunga. - Você quer que eu saia do quarto pra você se arrumar para o café?

– Por quê? - ela pegunta.

– Porque você não quer que eu a veja nua? - ele supõe, como se fosse óbvio.

– Você já viu, e daí?

Francis decidiu que havia gostado dessa mulher a partir desse momento. Ele é homem, afinal. Se Katerina não o quer, tem quem queira.

Ele então beija a sua esposa e vai para o banheiro. Hoje é o dia em que ele se torna rei e nada iria atrapalhá-lo.

+++

Katerina tenta retrucar, mas Erik está decidido.

– Não podemos deixar que as pessoas digam que você é fraca, Kate - o loiro insiste. - É normal reis e rainhas irem a uma coroação. Ainda mais a coroação do novo rei de Altulle. Poderia significar para os outros que vocês estão tentando firmar a paz entre os países.

– Essa disputa para ser o país dos países durou anos - Katerina fala. - Não é agora que vai acabar. Ainda mais depois do que Francis me fez.

– E o que ele te fez? - Erik pergunta. - Ele a fez abrir o seu coração? Se entregar? Katerina, por favor, há coisas piores nesse mundo.

– Como o quê?

– Como a morte! - Erik se exalta. - Você não percebe que enquanto faz esse drama ao redor da sua vida amorosa fracassada há pessoas do lado de fora dessa sua armadura que realmente se importam? Pelo amor de Deus, Katerina, você tem que abrir os olhos para a vida. Há pessoas aqui que morreriam por você, mas parece que isso não é suficiente se essa pessoa não for Francis.

Katerina nunca viu Erik tão exaltado. Ele estava vermelho e nervoso. Ele gritava com ela e isso a assustava. Ele parecia possuído.

O loiro respira fundo, tentando se acalmar.

– Está na hora de você crescer - ele anda até a porta. - Você tem duas horas para decidir. Depois do almoço eu partirei para Altulle com ou sem você.

+++

Alison acorda com os beijos de Desirée ao redor do seu rosto.

– Hum... - ela resmunga.

– Bom dia, mon amour– a francesa fala.

Alison se senta, percebendo uma falha no jeito como a namorada fala.

– Desirée, você é realmente francesa?

A loira de cabelos enrolados encara a caçula dos Kionbach.

– Por que isso agora, Alis?

– Minha mãe era francesa, Dess. Eu não me lembro dela, mas conheço os pais dela e sei como é o sotaque francês.

Desirée abaixa a cabeça.

– Meu pai era francês - a loira conta. - Ele bebia, se drogava e me batia, então eu fugi para as ruas. Não tive outra alternativa que não fosse me prostituir. Então o seu tio Henry uma noite pagou por mim e me disse que a família dele tinha um bordel em Altulle e...

– Então você não é da França e nem de Altulle? - Alison pergunta. - De onde você é?

– Frömming - a loira conta. - Do extremo norte de Frömming. Nasci e vivi em Meurer até conhecer Henry.

– Mas e a sua naturalização?

– Henry forjou.

Alison está surpresa com todas aquelas revelações.

– Você nunca teve ninguém?

– Eu tive uma amiga. Bom, ela era mais minha companheira de programa do que amiga. Melanie Hemingski era o nome dela. Não sei nem se está viva.

Alison conhece aquele nome.

– Ela está viva e está na capital - a loira fala. - Ela é do grupo dos Apátridas agora.

Desirée se surpreende.

– Pelo menos ela não é mais prostituta. Melhorou de vida. Já eu...

– Desirée, eu sei que não é um bom momento para falar sobre isso, mas eu não sei mais o que eu sinto por você.

A prostituta pega a mão da princesa. Tão diferentes socialmente, tão iguais por dentro e por fora...

– Como assim?

– Eu acho que eu amo um homem.

Desirée retira sua mão de perto da mão de Alison.

– Eu não me importo. Nós ainda podemos ficar juntas. Eu não quero compromisso, Alis, você sabe disso. Eu nunca quis.

– Dess, você não entende...

– Eu também fico com homens todas as noites. Eu realmente não me importo, mas eu amo você.

– Mas eu não te amo mais - Alison confessa de uma vez. - Sinto muito, Dess. Eu não posso ficar com alguém que não amo.

A mão de Desirée vai para baixo das cobertas, tocando a parte interna das coxas de Alison.

– Dess, por favor... - ela arfa. - Dess, não.

Mas ela não para. Suas mãos rápidas retiram a calcinha de Alison e ela joga as cobertas para fora da cama.

– Você não precisa me amar - Desirée fala, beijando a loira. - Só precisa me desejar.

Os dedos de Alison pressionam o fecho do sutiã de Desirée. Ela sabe que não vai resistir e decide tomar aquilo como uma despedida. Uma última vez.

– Tudo bem - ela concorda. - Ok. Ok. Eu acho que... ahhh.

As mãos de Desirée passeiam por todo o seu corpo e Alison sente tremores nas pernas.

– Pare de falar - a prostituta fala, apertando os seios dela. - Temos só alguns minutos e você não para de falar.

– Acho que posso conseguir ficar quieta por quinze minutos - Alison fala.

– Ótimo.

E assim as mãos de Desirée voltam para a parte debaixo de Alison.

Eu sou realmente uma vadia, a caçula de Jean-Pierre diz para si mesma.

+++

Erik já está dentro do jatinho há dez minutos. Ele está atrasado dez minutos.

– Majestade, nós precisamos voar - o piloto fala. - Chegaremos atrasados na coroação.

– Ela já está chegando - Erik insiste.

O piloto concorda e volta para o lugar. Erik espera por Katerina, aflito. Ela realmente não vem.

– Esquece. Podemos ir.

Se ela não veio até agora poderá chegar nos últimos instantes? Não. É impossível.

Mas antes de fechar a entrada do jatinho, ele vê um ponto vermelho. Uma garota de cabelos cor de fogo corre até o avião particular.

– Espera! - ele grita e o piloto desliga tudo.

Erik pula para fora do jatinho e corre até Katerina. Ele pensa em abraçá-la bem forte, mas a ruiva e mais rápida e o beija.

– Estou indo por você, ok? Não estou indo por mim, por ele, pela coroação e nem pelo que as pessoas pensaram. Eu estou indo por você.

Erik não consegue deixar de sorrir.

– Ok.

Ele a beija novamente.

– Eu estava tão preocupado. Eu realmente pensei que você não viria.

Ela sorri de canto para ele.

– Eu estou aqui agora.

– Sim. Você está - ele a abraça fortemente. - Kate, você tem noção do quanto eu te amo?

Ela sente o coração apertar. Como ela gostaria de dizer o mesmo e quem sabe algum dia ela consiga, mas agora não dá. Para não deixá-lo no vácuo, ela o beija intensamente. Isso sim ela consegue fazer. Isso sim ela gosta de fazer.

– Podemos ir agora?

– Sim - ele concorda. - Podemos.

+++

Francis encontra Britney no seu quarto. Eles haviam se arrumado em quartos separados para um não ocupar o espaço do outro. Para o homem se arrumar é sempre mais fácil, apesar de tudo. Os ingleses lotavam o Grande Salão com a sua euforia e suas músicas. Os nobres de Altulle eram bem mais contidos.

Quando a hora chegou, Francis foi buscar a esposa no quarto do casal.

– Está tudo certo? - ele pergunta.

– Sim - a morena responde com um sorriso no rosto. - Está tudo ótimo.

Ela está com o tradicional vestido branco que uma rainha deve usar na sua coroação. Britney está com os cabelos lisos e soltos, com um batom rosado nos lábios grandes e com um sorriso lindo. Já Francis também está tradicional com o terno branco. É um típico dia de coroação.

Ele entra no quarto e oferece o braço para a sua esposa.

– A partir desse momento, tudo vai mudar.

– Assim eu espero - ela fala.

Os dois descem para o Grande Salão. A música barulhenta dos ingleses para, as conversas são silenciadas e tudo o que se ouve são os flashes e o som de um violino quando o casal entra no local. Francis percorre os olhos pelo salão e reconhece boa parte das pessoas. É uma das poucas vezes em que ele aparece para toda a imprensa.

No fim do salão havia dois tronos com estofado avermelhado. O hino de Altulle tocou, depois o da Inglaterra. Chegou a hora. Ele tem que fazer o juramento.

Francis fica de pé diante do Santo Padre, coloca a mão direita sobre o peito e repete as palavras do papa:

– Eu, Francis Elliot LeRoux Kionbach, príncipe de Altulle e da França, herdeiro do trono, rei das Ilhas Distantes e filho do ferro, juro lealdade ao meu povo.

Ele olha para frente e vê Katerina. Ela está lá, com um vestido vermelho sangue, com seus cabelos cor de fogo enrolados e soltos parecendo o maior incêndio que ele já havia visto. Realmente, ela incendia todos os lugares que vai. Ela o incendeia.

Katerina percebe o olhar de Francis. Ela não sabia que ele era considerado um filho do ferro. Em Manske somente os homens que lutaram na guerra recebem o título de filhos do ferro. Katerina foi considerada a princesa mais bela do continente, por isso recebeu o título de filha de beleza. Não era bem um título, mas ela gostava de dizer. Enquanto ela vivesse seria a filha da beleza.

Acontece que Francis fala olhando diretamente para ela e a ruiva não consegue desviar o olhar. Erik talvez tenha percebido, ela não sabe, porque simplesmente não consegue parar de olhar para aquela imensidão azul que são os novos olhos dele. Sim, para ela são novos olhos. Para ela, aquele homem é uma pessoa totalmente diferente, porém igualmente lindo. Não, lindo não. Perfeito. Ele é maravilhoso. Deus, como alguém pode ser tão perfeito?

– Juro atender as minhas responsabilidades de melhor forma possível, ouvir atentamente as pessoas que precisam e fazer de tudo para resolver problemas sociais e econômicos - ele repete as palavras do papa. - Eu juro me doar completamente ao meu povo. Prometo que todas as minhas necessidades estarão vinculadas as necessidades do meu país. Vidas serão salvas e enquanto eu viver todos estarão a salvo. Eu juro pela minha vida que eu morrerei pelo meu povo.

O papa o olha por um instante. Francis pode falar.

– Minha mãe ficaria orgulhosa se estivesse aqui - ele fala olhando diretamente para Katerina. A ruiva sente como se ele estivesse a culpando pelo que Joffrey fez -, mas ela não está. Infelizmente, Alícia Louise LeRoux Kionbach, a segunda na linha de sucessão da França, foi vítima de um ataque em sua própria residência. Eu farei de tudo para que isso não aconteça com ninguém. Só as pessoas que viram algum dos seus pais morrer diante dos seus olhos entende essa dor e eu posso afirmar com todas as letras que quando o culpado pagar por isso, a justiça finalmente será feita. Eu prometo a todos vocês que farei de tudo para instaurar a paz em Altulle e eu pretendo começar estabelecendo um acordo com Frömming - ele olha diretamente para Katerina e agora todos estão olhando para ela também. - As brigas entre Frömming e Altulle tem se arrastado por décadas. Chega de futilidades, chega de discutir coisas bobas que não nos levarão a lugar algum. Chega de prejudicar o povo com rixas inúteis. Chega de guerra.

Katerina o odeia como nunca odiou em toda a sua vida. Ele pintou o seu retrato de vilã, como se ela fosse a culpada pelos erros do tio, como se a briga entre os dois países fosse culpa dela, como se ela nunca tivesse tentado um acordo de paz. Diante dos representantes de vários países, diante de todo o continente. Diante de todo o mundo...

Katerina ferve, tenta se controlar, mas a sua pulsação estoura dentro dela. A ruiva sente que vai explodir. Erik a segura pelo pulso.

– Se acalme, Kate - ele murmura. - Todos esperam uma resposta.

Enquanto ela passava a imagem de má, Francis seria agora adorado pelo povo, idolatrado pelos mais humildes, passaria a imagem de justiceiro e benfeitor. Como se ele tivesse instaurado a paz, como se ele tivesse conseguido essa façanha que nenhum rei ou rainha de ambos os países conseguiu.

Ela o odeia.

Katerina vira-se para a câmera mais próxima, sem saber direito o que vai falar. As palavras simplesmente escorrem pela sua boca como veneno.

– Eu e meu tio Joffrey sempre tentamos fazer um acordo de paz, mas Jean-Pierre nunca nos atendeu. Talvez o novo rei seja uma pessoa diferente do pai. Descobriremos em breve, não é mesmo? - ela sorri e passa a mão pela barriga. - O que eu e o meu marido mais queremos nesse momento é paz, afinal o nosso filho logo chegará ao mundo e nós realmente esperamos que ele chegue em um momento de paz.

Tudo começa com murmúrios, baixos sussurros e fofocas. As vozes começam a aumentar e tomam conta do salão. Jornalistas chovem ao seu redor, despejando uma tonelada de perguntas sobre ela e Francis perdeu o foco. Ela sorri para ele enquanto responde com cuidado todos as perguntas. As vozes se silenciam novamente quando o papa pede silêncio para Britney fazer o seu juramento.

Os olhos azuis de Francis estão escorrendo sangue e Katerina sabe que da sua boca escorre veneno. Ela não liga. Ser uma pessoa boa não adiantou, então pelo jeito ela teria que agir de outra forma com ele.

Depois do juramento de Britney, o papa coloca a coroa sobre ela e Francis e eles se levantam. Os flashes voltam a reinar.

– Vida longa ao rei Francis e a rainha Britney! - Katerina puxa o coro de vozes.

Ela sente o braço de Erik na sua cintura, passando a mão pela sua barriga.

– Não foi o mais sábio a se fazer - ele murmura. - Fleur está aqui. Agora ela sabe.

– Eu não me importo com Fleur - ela vira-se para o marido. - Não poderemos esconder a minha barriga para sempre.

Ele concorda. Katerina enlaça seus dedos ao redor do pescoço do marido e o beija.

– Eu estou muito feliz hoje apesar de tudo - ela fala. - Vamos comemorar um pouco.

Erik concorda. Ela sorri para ele e os dois se dirigem para a mesa de doces. Katerina os ataca rapidamente. A criança dentro dela realmente está se fartando com tudo aquilo. Depois de pegar alguns doces, eles se dirigem para o salão do lado, onde ocorrerá a festa. Uma mulher os conduz até a mesa reservada para eles. Katerina se senta no colo do marido e Erik passa a mão pela cintura dela. Os dois se beijam calorosamente, trocando carinhos. Ninguém liga para os flashes.

Francis e Britney são cumprimentados pelos nobres no local, porém ele não consegue tirar os olhos de Katerina e Erik. Ele nunca sentiu tanta raiva daquele cara na vida. Katerina estava o provocando, ele se convenceu disso.

Nem lhe passou pela cabeça que talvez ela tenha o superado.