Unapologetic escrita por oakenshield


Capítulo 40
Toda guerra exige sacrifícios


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês.



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Assim que chegou em Altulle, Alison contou a novidade ao irmão: Erik Le Lëuken mantinha um relacionamento com Fleur Hallaya. Francis não se surpreendeu.

– O que você pretende fazer?

– Nada.

– Como assim nada? Esse é o nosso trunfo, Francis. Se Katerina descobrir, talvez...

– Se, talvez... Katerina sabe onde eu moro, Alison. Se algum dia ela quiser me procurar, ela saberá onde me encontrar.

– Você é inacreditável - ela dá risada. - Se humilha para Katerina enquanto pede perdão por um erro que na verdade não é seu, e sim do nosso pai, e depois quando tem a chance de virar o jogo ao nosso favor simplesmente desiste.

– Eu não quero mais ser um peão no jogo da xadrez do nosso pai - Francis rosna. - Eu sou o rei e eu vou tomar o meu lugar de direito.

– O que você está querendo dizer?

– Minha noiva inglesa e sua Corte chegam no começo da manhã. O casamento ocorrerá em uma semana.

+++

Erik se sentiu desesperado nos últimos dias. Fleur constantemente dava um jeito de se comunicar com ele, sempre dizendo que mataria Katerina para ser rainha ao lado dele e coisas do tipo. Ele simplesmente não podia permitir...

Katerina parecia ser o tipo de garota perdida. Ela sempre esteve decidida a fazer o melhor pelo seu país, mas até agora não fez nada de muito importante. Bom, Frömming está em paz com a maioria dos países, tirando Altulle, que já é um caso perdido, não há muito o que se fazer.

Mesmo assim, ele havia gostado dela desde o dia em que a viu no seu vigésimo aniversário. Ela parecia tão confiante quando subiu naquele tablado e falou diante de todas aquelas pessoas... Katerina exalava determinação.

Depois de casados, foi tudo diferente. Ela parecia mais amarga e até deprimida. O sorriso que ele havia admirado tantas vezes através de fotos já não existia mais e na maior parte das noites ela acordava aos choros e gritos. Então ele secava as lágrimas da ruiva, a beijava e dizia coisas boas e otimistas até ela pegar no sono novamente e tudo recomeçar.

Erik não dormia direito a dias, mas não se importava. Mesmo depois de Katerina dormir, ele ainda a abrigava em seus braços na esperança de que Fleur e nenhum dos seus vassalos tentasse fazer algo contra ela. Erik sentia uma vontade absoluta e irredutível de protegê-la e isso só aumentou quando descobriu que ela está grávida.

Então ele a viu com Francis Kionbach e a raiva encheu o seu peito. Ele havia ouvido boatos de que Katerina havia se envolvido com o seu guarda-costas, mas quando ele a viu perto demais daquele cara o ódio lhe subiu pela cabeça e ele sentiu que poderia explodir. O guarda-costas de Katerina não poderia ser Francis Kionbach.

Mas era. As coisas entre os dois eram bem mais complicadas do que deveriam ser. Eles deveriam ser cada um representante do seu país, se encontrando apenas em reuniões internacionais e a rixa entre as famílias deveria continuar. Eles deveriam estar brigando um com o outro, não se beijando.

Depois de bater em Francis, Erik saiu da entrada do palácio, irritado. Nem voltou para a sala de jantar e foi direto para o seu quarto. Pediu um pedaço de torta de limão no quarto e Katerina entrou no momento em que a criada levava o prato vazio embora.

– Nós precisamos conversar.

– Sim.

Ela tranca a porta e se senta na ponta da enorme cama.

– O que exatamente você viu? - Katerina pergunta.

– O suficiente.

Então ela percebe que ele viu a cena do beijo. Sim, era óbvio que ele havia visto.

– Eu sempre achei que ele era um guarda-costas. Eu nunca teria o reconhecido, até porque ele nunca aparecia na mídia e também, ele estava disfarçado. Se eu sequer suspeitasse que ele era Francis, eu nunca...

– Você não me deve explicações, Kate. Eu também tive um passado - Erik fala, pegando as mãos dela. - Eu não me importo que você tenha tido um caso antes do nosso casamento, porque eu também tive os meus. Eu só quero que agora isso pare.

– Mesmo quando eu pensava que ele era outra pessoa, eu havia dito a ele que não desistiria do meu casamento. Mesmo quando eu achava que ela era Fabrizio e que ele me amava de verdade, eu havia desistido de tudo pelo casamento.

Erik olha para os seus dedos enlaçados nos dedos de Katerina. Os dois eram brancos demais e os dedos juntos, todos embolados, poderiam se confundir. Até porque ele não via tudo, mas não enxergava nada. Era como se ele estivesse ali, mas não estivesse ao mesmo tempo, porque tudo o que ele conseguia pensar era que Fleur poderia entrar a qualquer momento no palácio e matar Katerina e o bebê.

O bebê.

O filho que ele pensou que era dele.

– Esse filho é meu? - ele quebra o primeiro silêncio, mas outro logo começa. - Kate, eu preciso que você me diga a verdade.

Katerina não sabe o que dizer. Continuar mentindo não faz mais sentido. Ela e Erik já tinham passado disso. Ele estava ali, pedindo para ela ser sincera e ela ainda pensava em mentir para esse homem... Deus, como a sua vida estava errada.

Erik havia lhe abrigado nos seus braços todas as noites após os pesadelos dela, ele sempre sussurrava em seu ouvido que tudo ficaria bem, que logo ela adormeceria e que isso não passava de um pesadelo. Ele havia a desenhado, a tratava com carinho e sempre a respeitou. Erik nunca tentou beijá-la a força, mesmo sendo o seu marido. Pior: ele nunca a forçou a fazer sexo com ele e isso só fazia com que ela se sentisse mais culpada ainda.

Seria tão mais fácil odiá-lo se ele fosse um monstro, ela diz para si mesma.

Katerina olha para as mãos dos dois enlaçadas, seguindo o olhar de Erik. A aliança de ouro no dedo anelar esquerdo de cada um chocando-se, a dor impregnada nos corações de ambos e a verdade e a mentira pairando sob eles, tentando roubar a alma do casal. As coisas pareciam tão pesadas, tudo parecia tão sufocante que Katerina sentia que poderia desmanchar-se neste exato momento.

Ela decidiu contar tudo para ele. Katerina não precisava, mas decidiu fazê-lo não porque se sentia pressionada por Erik, mas sim porque se sentia pressionada por ela mesma. O peso da mentira estava a consumindo nos últimos dias e antes que o seu castelo de cartas caia, é melhor ela construiu um de tijolos.

A verdade precisa ser dita, ela decide.

– Eu não sei.

– Como não sabe?

Ela respira fundo. Precisaria conversar com ele sobre isso mais cedo ou mais tarde. Quanto mais cedo falasse, mais cedo poderia esquecer.

– Eu só dormi com ele uma vez e a data foi muito perto da noite da consumação. Mesmo que fizéssemos um pré-natal, a data não mudaria nada.

Katerina decide ocultar que fez sexo com Fabrizio na noite anterior do seu casamento. Ela não pretendia passar de vadia nem para Erik nem para ninguém.

Erik pensa no assunto.

– Nem esperando a criança nascer fará muita diferença. No final das contas, Francis e eu temos a mesma aparência.

– Sim.

– Então nós precisamos fazer o DNA.

– Quando?

– Quando nascer.

Katerina concorda. Não havia saída para ela. Mesmo assim, ela tinha que perguntar...

– E se por acaso não for seu filho?

– É melhor nós resolvermos isso mais tarde.

Ela balança a cabeça. Erik fica com a consciência pesada e pensa que se contar a ela sobre Fleur, talvez ele não se sinta tão mal assim.

Katerina falou a verdade, afinal. Ela também merecia que ele fosse verdadeiro.

– Eu fiquei com Fleur Hallaya - ele conta - até alguns dias depois do nosso casamento, mas eu a afastei.

A revelação a pega desprevenida. Katerina não pode dizer que sentiu ciúmes, mas algo dentro do seu peito se partiu e mais alguma coisa chocou-se no seu estômago. Ela sente náuseas.

– Acontece que uma mulher como Fleur não aceita a rejeição - Erik olha para Katerina pela primeira vez desde que eles começaram a conversar. - Ela quer ser a rainha.

Cada país tinha a sua rainha, mas como rainha de Frömming, Katerina é considerada a rainha das rainhas. Se Fleur queria ser A Rainha de Manske...

– Ela quer me matar.

Ele balança a cabeça de forma afirmativa.

– Por isso que é bom nós mantermos a gravidez oculta pelo máximo de tempo que conseguirmos. Depois nós deveremos triplicar a segurança.

– Por quê?

– Porque mesmo que você seja morta, se o filho for meu será um empecilho para Fleur e eu tenho a impressão que ela não hesitaria em matar um recém-nascido.

+++

Depois do jantar, os Apátridas se reuniram no quarto de Melanie. A morena conta aos companheiros o seu plano e depois de questionarem um pouco, eles aceitam meio hesitantemente.

– A índole desse plano é suspeita - Andrew fala. - Nós deveríamos conquistar apoio com as nossas ideias, não com chantagens.

– Eu nunca me importei com a índole das pessoas - Melanie retruca. - Se fosse assim nunca namoraria com o seu irmão.

Logo depois de dizer isso ela se sente culpada. Josh dá uma risada de leve, mas para ao ver a cara de dor estampada no rosto do irmão. Andrew ainda a amava.

– Acho que é tudo o que temos que fazer - Hillary diz. - Não podemos nos dar ao luxo de recusar planos.

– Temos que nos espalhar. É melhor descobrirmos mais podres dessas pessoas, assim terminaremos mais rápido.

– E quando tudo terminar? - Savannah pergunta. - Uma guerra eclodirá e você sabe disso, Melanie. Você mesma está trabalhando para que isso aconteça.

– Quando tudo terminar, os sobreviventes voltarão para casa.

– E os que morrerem pela nossa causa? - a garota de cabelos lilás pergunta. - Você não se importa com eles?

– Quando você decide lutar, você deve saber que a morte é um grande risco - Josh defende Melanie. - Todos nós fizemos um juramento ao entrar nos Apátridas e não devemos desistir agora. Mesmo que a morte chegue, eu defenderei a honra do meu povo. Se tiver que morrer tentando, o véu cobrirá o meu corpo ensanguentado e eu partirei em paz– Josh cita. - Vocês não se lembram?

Os presentes se silenciam.

– Acho que Melanie e Josh deveriam ficar em Frömming - Matthew fala. - Como ela é irmã da rainha, talvez seja mais fácil conseguir apoio. Eu e Hillary podemos ir para Las Mees conseguir apoio de Branka e Petrus e Andrew e Savannah devem ir para Hahle manipular os Hallaya.

– Não será muito difícil para vocês - Hillary se dirige a melhor amiga, Savannah. - É só dizerem aos Hallaya que Fleur pode ser torturada e morte por enforcamento caso Katerina descubra a traição.

– Eu ainda acho que essa não é a melhor forma - Andrew fala. - Deve te uma saída.

– Essas pessoas são horríveis! Todas elas estão juntas em um complô que apoia Vincent e suas maldades. Eles compactuam com isso! - Melanie explode. - Vincent destruiu o nosso país, matou o meu povo. Você não entende isso porque sempre teve a sua vida maravilhosa aos seus pés. Você nunca viveu na rua e nem passou fome, você nunca sentiu o frio terrível do norte durante o inverno enquanto a chuva caia e você não tinha nem um cobertor para se cobrir. Tudo o que alguém que vive nas ruas consegue fazer é pedir para Deus que melhore a sua vida ou que acabe com esse sofrimento de uma vez.

Ela pega fôlego e continua a falar.

– Todos vocês - ela olha para os amigos - tiveram um luxo que eu nunca poderia ter imaginado até ter saído do PMI com uma boa colocação. A minha casa deveria ser do tamanho da suíte de cada um presente aqui e mesmo assim eu nunca reclamei da minha vida, eu nunca questionei os motivos pelos quais vocês estão aqui, então eu adoraria que vocês fizessem isso comigo também porque o motivo que me levou aos Apátridas foi a vingança e eu não vou desistir nem que eu tenha que morrer tentando.

Ela olha para Josh e respira fundo.

– Eu não ligo para a índole de vocês, eu não ligo para o dinheiro e nem para o poder, não me importo contra quem tenhamos que lutar e estou me lixando para os métodos que teremos que usar para conquistar o melhor para o norte. Todos entraram nos Apátridas por um só motivo e englobado nesse motivo está o ódio por Vincent e a indignação pelo que ele faz com Meurer. Eu quero vencer e eu vou vencer com ou sem a ajuda de vocês.

Ninguém está olhando para ninguém neste momento. Os vários pares de olhos estão focados ou nós pés, nas paredes ou em algum ponto desconhecido pelos presentes. A questão é que ninguém tem coragem de falar até que...

– Nós devemos nos unir e não brigar pela forma como vamos agir - Josh fala. - O que importa os meios se no final tudo dar certo?

– E as pessoas que morrerão no processo? - Savannah volta no assunto.

– Toda guerra exige sacrifícios - Melanie diz.

Savannah se retira, indignada. Andrew faz o mesmo.

– Nós iremos para Hahle do mesmo jeito com ou sem eles - Matthew assegura a Melanie. - Eu prometo.

Ela sorri, agradecida, e o abraça.

– Como Hillary lidará com isso? - ela murmura.

– Eu não sei, mas espero que bem - o moreno diz.

Assim Melanie e Josh ficam sozinhos no quarto. Ele a beija na testa e diz que vai tomar um banho. Melanie se joga na cama até que alguém bate na porta.

– Já estou indo! - ela grita.

Mas quando abre a porta, não há ninguém.

– Mas que diabos...

Então ela vê algo no chão. Um envelope com o selo dos Archiberz. Melanie olha para os lados, mas não vê ninguém no corredor. Desconfiada, ela pega o envelope e fecha a porta do quarto.

Dentro do envelope amarelado há apenas uma foto. A foto de uma garota de um ano de idade. Seus cabelos são ruivos e ela tem a pele pálida e os olhos cor de água, algo entre azul e verde. Ela é linda.

Melanie não precisava nem ter virado a foto para saber quem ela é.

"Luna Hemingski Duninghan ou Luna Archiberz Duninghan?"

A escrita é de uma caligrafia caprichada. Melanie reconhece a letra imponente e masculina como a letra de Vincent Fieldmann. A morena com certeza a reconheceria, afinal recebeu um certificado de participação no PMI assinado por ele.

A sua filha está com aquele monstro. A expressão da garota na foto é vaga. Ela não demonstra tristeza, dor e nem nada do tipo. A sua filha não é mais nada além de carne, ossos e sangue. Nada além de uma carcaça vazia e sem vida, assim como ela desde que a perdeu.

Melanie se agarra a foto e se joga no chão aos prantos. Ela se afoga nas suas lágrimas por quinze minutos até que ouve o chuveiro ser desligado. Ela se senta e seca as lágrimas. Depois disso, a morena esconde a foto no exato momento em que Josh aparece no quarto só de toalha.

Eles pensam que vão me calar ameaçando a minha filha, Melanie diz para si mesma. Mas eu não vou desistir. Eu, Luna e Josh seremos uma família de verdade quando tudo isso acabar.

– O que foi? - Josh a levanta e encaixa o polegar no rosto dela.

– Está tudo certo - ela o beija e pressiona a sua cabeça contra o peito dele. - Eu amo você, ok? Eu amo você.

– Por que você está dizendo isso agora? - ele pergunta.

– Eu amo você - ela sussurra. - Nunca se esqueça disso. Eu amo você.

Josh encosta seus lábios nos lábios de Melanie.

– Eu também amo você - ele diz. - Eu a amo mais do que qualquer coisa nessa vida.

Toda guerra exige sacrifícios, Melanie relembra as suas duras palavras para Savannah. Parece que o mal caiu sob ela. Toda guerra exige sacrifícios.

Ela fica repetindo isso na sua cabeça até ecoar no fundo da sua mente, entrando por todos os seus sistemas e percorrendo até os seus segredos mais obscuros. Ela não é nada além de pó, pó e pó. Melanie precisa se convencer de que tudo ficará bem no final, porque se ela não disser isso para si mesma, por que ela lutará?

Toda guerra exige sacrifícios.


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Notas finais do capítulo

Melanie ainda tem um coração, gente. É difícil para ela se permitir sentir, mas ela ainda sente.



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