Agora, estática a fitar o restante dos homens aterrorizados diante de si, ela já não sentia pena.

O homem caído á seus pés, transpassado por suas estacas, não lhe causava o menor remorso. Ela fugira para as montanhas por uma única razão.

Queria estar só. Sozinha e livre.

Mas eles se atreveram a vir busca-la e tentar prenda-la, como algum tipo de fera. Ela mal podia acreditar em sua ousadia.

Aquele era SEU reino, e embora houvesse atirado a coroa montanha abaixo, ela não permitiria que retirassem sua autoridade.

Hans arriscou-se a aproximar-se, cauteloso, sendo seguido pelos olhos gélidos da jovem. A falta de outras emoções no rosto da herdeira do trono de Arendelle o preocupava. A única que podia distinguir em suas faces pálidas era ódio. Puro e glacial, fazendo todo o corpo da garota retestar-se..

– Majestade, não seja o monstro que... – Mas ela não permitiu que ele completasse sua frase cheia de honra falsa. Contraindo os dedos e esticando os braços ela fez um pedaço escarpado gelo cristalino, atirando-o contra ele.

Um sorriso começava a invadir os lábios rosados de Elsa.

As palavras interminadas de Hans fazendo algo agitar-se em seu peito.

Ela acompanhou a trajetória do cristal, antecipando o momento em que o atingiria no peito.

Mas algo saiu errado. Ele saltou para fora do caminho no ultimo maldito segundo, e o cristal despedaçou-se ao chocar-se contra a parede.

Elsa ouviu a si mesma rosnar. Um som baixo e quase irreconhecível. Alguma parte de sua consciência assustou-se, mas foi ignorada.

Os outros soldados correram para dentro do recinto, mesmo com medo fazendo seus corações baterem incontrolavelmente.

A rainha ouvia a tudo como ecos indistintos. A cada passo que eles se atreviam a completar contra o chão de seu palácio, todas as emoções que emanavam de seus corpos amedrontados podiam ser sentidas pela rainha, como se o gelo fosse a extensão de algum órgão sensorial. Pelo canto de seus olhos azuis ela pode ver em um relance a dama de negro rir á um canto afastado.

A jovem percebeu sua respiração condensar em frente a seu rosto. Era como se a voz doce penetrasse sua mente, empurrando-a, controlando seus poderes de dentro á fora.

Não.

Elsa tremeu por um momento, ouvindo sua própria voz em pavor. Contudo o momento passou e ela, gritando com pura fúria, segurou sua cabeça entre as mãos e curvando-se, para, logo depois, erguer o corpo bruscamente disparando uma rajada de gelo e neve contra seus captores. Uma rajada de morte.

Os homens, com gritos entalados nas gargantas dilaceradas, e ainda com expressões de terror e incredulidade em seus rostos foram atingidos, furados, os corpos penetrados profundamente pelos cristais mortíferos.

O peito de Elsa subia e descia suavemente.

Mal notou o único sobrevivente de sua explosão tempestuosa. Ele manteve-se deitado, fingindo-se de morto. Uma grande ponta afiada atravessava uma de suas coxas, esticando a carne e os músculos ao menor movimento.

Ele perdeu a consciência após alguns segundos.

Caminhando nitidamente atordoada, ela se colocou em direção a escada. Porem, ao pisar o segundo degrau, perdeu o equilíbrio, chocando-se contra o chão congelado. Os detalhes delicados espalhados pelo piso não foram notados ou admirados pela garota que mantinha as mãos a frente do rosto, fechadas em punhos.

Quase imediatamente, a cor de seu palácio se tornou amarelada, uma pequena nevada caindo sobre seus cabelos. Refletia o humor transtornado de sua arquiteta.

Vagarosa ela abriu as mãos, e levou as palmas próximas a suas orelhas, sentindo espasmos por todo seu corpo. A onda de maldade substituída por pânico.

O que foi que eu fiz, ela se perguntava com pavor, ao notar o sangue espirrado por seu vestido claro, o cheiro de ferro penetrando seu sentidos e deixando –a entorpecida. O que foi que eu fiz?

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