Era o dia do casamento. Hans estava sorrindo largamente para os convidados. Na mesma igreja onde ocorrera a coroação de Elsa, agora, seria realizado seu casamento com o decimo-terceiro príncipe das ilhas do Sul. O tempo ensolarado mesclava-se ao humor das pessoas, já esquecidas dos acontecimentos de um ano atrás. Sim, havia se passado um longo e angustiante ano desde a morte da princesa Anna e a ‘captura’ de sua antiga rainha.

O ruivo olhou mais uma vez suas costeletas no espelho, admirando a si mesmo, satisfeito. Finalmente, finalmente ele asseguraria o trono para si.

Durante todo o ano, preenchido com prantos dos moradores que perderam familiares, o rapaz tentara conquistar o coração da jovem de cabelos brancos. Mas ela não parecia possuir mais tal coisa.

Não que ele se importasse realmente. Uma vez que ela dissesse sim no altar, seus problemas estariam, ao fim, resolvidos. Estaria para sempre ligado ao trono de Arendelle. Seu plano funcionara perfeitamente.

Ele ajeitou o colete branco e azul e caminhou para sua posição. Estava na hora de sua noiva caminhar pelo tapete vermelho.

E lá estava ela. Sem atrasos, sem sorrisos. E ainda assim, a coisa mais linda que ele já havia visto. Seus olhos não puderem desviar-se. O vestido branco leve e com os ombros e parte das costas aberto, com desenhos em renda deixavam-na com a aparência de um anjo, embora a falta de emoção em sua face destonasse com a ocasião.

Ela caminhava lenta e segura, um pé após o outro e nenhuma vez sequer desviou seus olhos do pedestal onde se encontravam o padre e seu noivo indesejável.

Os cabelos estavam presos, demonstrando sua própria situação, atada á um futuro desagradável, ao lado de um assassino. Contudo, ela manteve a expressão relaxada e séria. Tinha de manter o figurino. Pelo menos por mais alguns minutos.

A jovem rainha se posicionou ao lado do rei indigno. Seus olhos azuis cravaram-se nos orbes verdes em frente de si.

E o padre começou o discurso. A igreja revibrava com o silencio e expectativa.

Em latim, ele disse por fim as palavras decisivas:

– Promete ser fiel, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, ate que a morte os...

O padre interrompeu as sagradas palavras ao ver ao mão pálida da noiva levantada, em um pedido de silencio.

Hans olhou irritado com o canto dos olhos. Fogo borbulhava em seu estomago. Faltava tão pouco.

– Continue. – Ele ordenou em um sussurro rude. O homem fez menção de continuar, mas Elsa ergueu a outra mão, como em um aviso.

Virou-se lentamente para encarar Hans. Baixou as mãos ate que elas descansassem em seus ombros largos.

– Oh Hans, se eu ao menos não te odiasse... – Suas palavras saíram altas e confiantes.

Durante o tempo em que foram feitas as preparações para o casamento e ate antes, Elsa não falara mais do que monossílabas ou resmungos. Era a primeira vez em meses que pronunciava uma frase inteira.

Com uma força descomunal o empurrou contra o chão, suas mãos apertando seus ombros com violência. Antes que pudesse ao menos raciocinar, a rainha bateu seu pé contra o chão com vigor, fazendo estacas afiadas de gelo subirem desde o piso de mármore.

Depois de rasgarem suas roupas e o prenderem ao chão, ela soltou seus ombros e olhou ate o homem á sua frente, encarando-a ultrajado, as sobrancelhas juntas, escurecendo sua expressão.

Pânico se instalara na igreja. Gritos e passos de pessoas correndo preencheu o ar como zumbido de abelhas.

– É tudo culpa sua. Eu os matei por sua culpa! – Elsa explodiu, demonstrando insanidade nos olhos azuis.

– Não, você os matou sozinha, como você sempre esteve! – Hans gritou de volta, tentando inutilmente livrar-se dos pedaços pontiagudos de gelo. A garota apertou os punhos em fúria e mais deles cresceram, rasgando e dilacerando a pele do ruivo. Sangue começou a escorrer, jorrando constante do corpo caído de Hans. O liquido vermelho simplesmente continuava surgindo, e o desespero espalhava-se velozmente pelo rosto atraente do príncipe. Ele sorriu, em ultimo esforço. – E como sempre vai estar.

– AHHHH!! – O grito dela fez o coração dos cidadãos dispararem com medo. A jovem curvou-se ligeiramente na direção do corpo semi-estendido de Hans, as mãos curvadas em garras, o vestido alvo tingido pelo sangue vermelho vivo.

Uma de suas mãos enrolou-se em seu pescoço, estreitando o aperto de seus dedos gelados. Lagrimas misturavam-se ao sangue pincelado em suas feições pálidas.

O ruivo começou a engasgar, a ponta de uma estaca de gelo visível no lado esquerdo de seu peito. Elsa começou a rosnar, os dentes trincados e o rosto próximo ao seu noivo.

– Esse dia era para ser perfeito. – Ela murmurou tristeza em suas palavras. – É uma pena que ele não pertence a mim.

Ela livrou o pescoço do rapaz de suas unhas, pequenos pedaços de sua pele abaixo delas.

O gelo havia perfurado-o completamente. Estava acabado.

Ela colocou-se ereta. Estava na hora de ir. Seus pés a levaram para fora, os quadris movendo-se de um lado a outro. Ela recuperara seu andar poderoso. A rainha de Gelo retornara.

Ela passou as pessoas que lhe lançavam olhares de acusação e temor. O vestido de noiva, brilhando com sangue transformava-se a cada passo.

Quando seus pés tocaram a agua, essa congelou, criando um caminho para sua passagem. Sua vingança estava completa.

Finalmente, ela esta livre.

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