Raio de Sol escrita por Han Eun Seom


Capítulo 4
Raiane "até aqui"


Notas iniciais do capítulo

Ok. Esse provavelmente é o maior capítulo da fic até agora, por que - para os meus padrões - ele ficou muito grande e espero que vocês gostem dele o tanto que eu gostei de escrevê-lo :3
Agradecer a Nanda por estar acompanhando e ter deixado review!!
~~Boa leitura e nos vemos nas notas finais!



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Capítulo 4 – Raiane “Até aqui”.

Era manhã quando sua irmã estava chegando a casa. Seus pais passaram a noite arrancando cabelos por causa do suposto desaparecimento de sua filhinha. Raiane tinha oito anos e estava no seu quarto quando escutou a porta abrir. Desceu correndo para ver a irmã, mas tudo o que encontrou foi seus pais brigando com ela.

Raiane não entendia o porquê da discussão, Tália gritou alguma coisa e seu pai replicou no mesmo instante lágrimas se formaram nos olhos dela. A mãe delas fez uma expressão surpresa para o marido e Tália passou por eles sem esperar resposta e encontrou Raiane no pé da escada assustada com toda aquela comoção.

Tália sorriu e limpou as bochechas tomando a mão de Raiane e dizendo olhando para ela.

– Está tudo bem maninha – e sorriu.

Raiane sabia que não estava tudo bem, mas o sorriso de Tália a acalmava. Raiane assentiu, Tália olhou para trás e jurava ter visto raiva nos olhos dela. Subiram as escadas sob os protestos de seus pais. Tália fechou a porta atrás dela e a trancou, Raiane sentou-se na cama da irmã olhando o quarto.

Era raro entrar ali, seus pais não deixavam entrar por que diziam que iria bagunçar tudo por isso adorava quando a irmã a convidava para brincarem juntas mesmo sendo quatro anos mais velha.

Mas nesse dia Tália não pegou bonecas ou panelinhas. Ela sentou-se na cama ao lado da irmã e simplesmente a abraçou, Raiane nunca foi de falar, mas percebeu que sua irmã não queria brincar ou conversar então apenas a envolveu com seus braços.

Tália chorou bastante e não disse uma palavra durante o tempo todo, enquanto isso Raiane fazia carinho na cabeça dela e resolveu fazer uma coisa que odiava fazer. Qualquer coisa que fizesse a irmã parar de chorar estava valendo. Raiane se desvencilhou dela suavemente e sob o olhar confuso da irmã ela se levantou e parou reta, toda esticada no meio do quarto.

– Uma menina me ensinou – Raiane tinha uma voz não adulta, mas madura. – Quase tudo que eu sei. Era quase escravidão. Mas ela me tratava como um rei.

Tália sorriu de lado e Raiane continuou:

– Ela fazia muitos planos, eu só queria estar ali, sempre ao lado dela, eu não tinha aonde ir – e Raiane encenava a música fazendo uma expressão abandonada.

– Mas, egoísta que eu sou me esqueci de ajudar, a ela como ela me ajudou, e não quis me separar! – Raiane colocou as pequenas mãos na cintura com um a expressão indignada e Tália riu.

– Ela também estava perdida – Raiane deu de ombros. – E por isso se agarrava a mim também e eu me agarrava a ela por que não tinha mais ninguém.

Tália parou de rir e sorriu para a irmã enquanto ela cantava o refrão:

– E eu dizia ainda é – e a voz de Tália se juntou a dela. – Cedo, cedo, cedo, cedo! – Tália pegou a irmã e a rodou enquanto continuavam a cantar. – E eu dizia ainda é cedo, cedo, cedo, cedo!

Uma das poucas coisas que realmente tinham em comum era paixão pelas músicas do Legião Urbana, elas passavam horas cantando ou escutando as músicas, era o único momento em que Raiane realmente deixa a voz sair.

Tália nunca discutia com os pais, mas quando o fazia era por causa de Raiane e o motivo era sempre o mesmo. Tália sabia que a irmã tinha algum tipo de problema que a deixava mais fechada e quieta e tentara convencer seus pais a levarem-na para um psicólogo, mas eles nunca quiseram aceitar a probabilidade de ter uma filha indo para um psicólogo.

Tália também não gostava de pensar nisso, mas eles não passavam tanto tempo com a filha para saber do que ela estava falando e para piorar eles nunca nem demonstraram amor por ela - o que Tália achava que só fazia Raiane ficar ainda mais fechada.

Tália amava a irmã disso não tinha dúvida e naquele dia simplesmente não aguentava mais olhar para o olhar triste e sem vida de Raiane enquanto seus pais nem mesmo olhavam para eles. Para falar a verdade, Tália achava ridículo brincar de bonecas, mas toda vez que brincava com Raiane um brilho tomava conta do olhar dela.

E a deixava linda. Sua irmã era linda. Raiane tinha um sorriso magnífico, mas nunca o mostrava. Raiane tinha olhos gentis e calmos, mas só conseguia ver a parte rasa dessa gentileza. Raiane tinha mãos pequenas e macias de uma criança, mas as escondia sob um casaco. Raiane também tinha um coração aberto e meigo, mas as pessoas que ela mais queria que o vissem nem mesmo olhavam em seu rosto.

Tália percebia tudo isso e por isso amava tanto a irmã. Às vezes, quando a irmã sorria era um momento tão especial que se condenava por desejar que apenas ela visse aquele sorriso ou quando Raiane cantava jurava que podia escutá-la por toda a a sua vida.

Era fato assim que a faziam querer morrer. Ela sabia que deveria ajudar a irmã a se soltar mais, a se sentir mais a vontade na frente de outras pessoas, mas tudo o que conseguia fazer era querer guardar a irmã para si.

Ela sabia que era errado e não aprovava seu próprio comportamento e morria por dentro quando lembrava da frase dita uma única vez por Raiane... Apenas você me ama, Tália... Morria por dentro por que sabia que isso não era verdade.

Amava ela, mas era a única por que não deixava mais ninguém chegar perto dela. Apesar de saber disso não conseguia se controlar.

– Tália? – Raiane percebeu que a irmã havia parado de cantar e estava séria. – O que foi?

– Ah – Tália suspirou. – Não é nada maninha – ela passou a mão nos cabelos da irmã e sorriu. – O que acha de escrevermos um pouco? Tenho um trabalho e queria que ficasse aqui comigo.

Raiane piscou um pouco confusa, mas assentiu. Tália sentou-se na escrivaninha pegando cadernos e livros enquanto dava para Raiane lápis e um caderninho em branco.

As duas estavam em silêncio, mas no ar ainda se encontrava o clima da diversão de mais cedo. Tália se concentrava enquanto Raiane escrevia em silêncio até que perguntou o que a irmã queria ser quando crescesse.

– Hum... Não sei mana – Tália disse distraída. – Se bem que já estou de saco cheio dessa pergunta.

Raiane parou um pouco para refletir sobre a resposta da irmã e disse falou algo quase que sussurrando. Tália se virou na cadeira surpresa.

– É sério? – Raiane assentiu envergonhada e Tália riu. – Isso é demais Raiane! – Tália se levantou e deu três pulinhos excitados.

– Não é – Raiane disse quase de boca fechada. – Não é pra tanto.

– O que? – Tália disse e riu de novo. – É perfeito! – ela tirou Raiane do chão e a pegou no colo dando um beijo estalado na bochecha da irmã. – Mas olha... – Tália disse sorrindo. – Você tem que me prometer uma coisa.

– Hum? – Raiane inclinou a cabeça para o lado como um cachorrinho. Tália soltou um suspiro curto e deu um sorrisinho.

– Você me promete que vai seguir este sonho não importa o que aconteça? E que terá uma dedicatória?

– Eu – Raiane estava confusa com toda aquela euforia da irmã. – Acho que sim - o sorriso que Tália deu foi tão iluminado e feliz que Raiane achou que o rosto dela iria se rasgar.

Mais tarde Tália ao se arrumar para as aulas de dança guardou dentro de um cofrinho o desenho que retratava Raiane e ela. As duas estavam de mãos dadas de frente a uma casa de telhado vermelho e paredes amarelas. Tália usava um vestido azul e segurava um violão e Raiane um vestido vermelho com um livro na mão. Escrito por ela.

...

– Raiane! – Tália gritava em plenos pulmões no meio de uma multidão. Algumas pessoas paravam para observá-la, talvez tivessem pena ou simplesmente achavam que ela era louca. – Mana! Raiane!

Tinha acontecido o que mais temia: Raiane fugir de casa. Tália esperava que isso fosse acontecer um dia, mas não que Raiane tivesse apenas dez anos quando o fizesse. Os pais nem ao menos tinham dado falta da filha e só foram procurá-la quando Tália voltou da escola e não achou a irmã.

Mesmo assim eles simplesmente tinham dado de ombros e dito que depois Raiane voltava. Idiotas. Tália saiu correndo procurando pela irmã e o que a levará ali foi o moço da pipoca que disse que havia visto sua irmã correndo por ali. Ela não pode estar muito longe.

A sorte dela era que moravam num bairro pequeno e que todo mundo se conhecia. Depois de dez minutos a dona da sorveteria disse que sua irmã estava indo em direção à igreja. Mas como não pensei nisso antes, pensou se repreendendo. Era óbvio que o primeiro lugar que iria seria lá.

Não a igreja, mas o terreno abandonado que tinha do lado dela, quando eram muito pequenas costumavam brincar lá, até que um dia Raiane ficou muito doente e suspeitaram que fora alguma coisa naquele terreno.

– Raiane! – estava ficando escuro e o terreno parecia muito mais assustador do que na época em que brincavam. – Raiane! Por favor!

Viu um gato passar correndo e escutou um choro. Se guiando pelo som e vendo para onde o gato ia chegou até sua irmã. Ela chorava e acariciava a cabeça do gato de rua preto. Raiane sempre teve um apreço por gatos e outros felinos, achava-os lindos e independentes. Tudo o que queria ser.

Tália sem dizer nada ficou na frente da irmã que chorava. Talvez tenham ficado assim por cinco ou talvez vinte minutos até que Raiane falasse algo e quando falou Tália sentiu seu coração apertar.

– Sabe mana... – Raiane disse olhando para o gato que ronronava. – Um dia eu vou sair daqui – e um soluço cortou sua fala. – Vou sair daqui e viver minha vida sem precisar de ninguém.

Tália não sabia o que falar diante daquilo, Raiane tinha apenas dez anos e falava quase que com raiva.

– E um dia... – Raiane se levantou e olhou nos olhos da irmã. – Alguém além de você vai me entender – Raiane passou as mãos nas bochechas vermelhas. – Alguém que não você vai gostar de mim.

Tália queria interromper a irmã e dizer que havia sim mais pessoas que gostavam e entendiam ela, mas naquele momento ela se viu incapacitada de mentir para Raiane. Tudo o que Tália pode fazer foi abraçar sua irmã enquanto os soluços dela doíam em seu coração.

Voltaram para a casa em alguns minutos e seus pais nem ao menos demonstraram preocupação pelos olhos vermelhos e inchados da filha mais nova.

Tália soube mais ou menos depois por um amigo o que havia acontecido com Raiane para ela ter estourado daquele jeito. Parece que algum garoto da mesma idade de Raiane disse que não a queria na brincadeira por que ninguém gostava dela e ninguém a achava legal.

O mesmo garoto alguns anos depois teria se declarado a Raiane e pedido desculpas se não fosse o fato que Raiane não estaria mais ali.

Isso mesmo. Com quinze anos de idade Raiane se matou de estudar para entrar em um internato particular ganhando bolsa. Ela não conseguiu, mas aceitaram-na no regime de treinamento para meninas do exército. Era um colégio comum, onde haviam apenas meninas a única diferença era que logo após o almoço elas ainda tinham aulas de luta e sobrevivência.

Foram os três piores anos para Tália. Ela apenas podia ver a irmã de final de semana e pelo Skype. Tália sentia-se vazia por que tudo sem a irmã continuava igual, nada mudou com a partida dela e isso foi o que mais doeu em Tália, perceber que com dez anos de idade Raiane estava certa. Ninguém além de Tália a entendia ou gostava dela.

Claro que seus pais não ficaram felizes com Raiane indo para um internato, eles ficaram tristes e vez ou outra no jantar falavam que seria legal se Raiane estivesse ali, mas era apenas isso. O assunto morria por ali.

Tália fez amigos, teve alguns namorados, começou um cursinho, pintou o cabelo, comprou roupas, conseguiu um trabalho de aprendiz, mas nada, absolutamente nada disso a deixava contente.

Queria compartilhar as coisas que fazia com a irmã quando chegasse a casa, mas não podia por que sua irmã nunca estaria lá.

Duas semanas antes de Raiane sair de férias de seu primeiro ano, Tália ficou tão contente que passou as duas semanas falando sobre a chegada da sua irmã.

– Você – seu namorado naquela época disse com a testa franzida. – Parece que gosta mais de sua irmã do que de qualquer outra pessoa não é?

Aquilo a pegou de surpresa e Tália percebeu que ele estava certo. Amava sua irmã mais do que qualquer outra pessoa.

Quando Raiane chegou Tália percebeu que mesmo não tendo mudado muito fisicamente, Raiane mostrava um olhar mais vivo. Sua mãe fez um jantar especial e seu pai voltou para casa mais cedo, pareciam ansiosos com a volta de Raiane e por mais que perguntassem como era lá Raiane percebeu que eles não queriam realmente saber.

Mas toda noite durante três meses, Raiane ia para o quarto da irmã e ficavam escutando música e conversando... Bem, era apenas Tália que falava, mas ela ficava feliz com isso, não sabia o que faria se sua irmã tivesse mudado a tal ponto.

Raiane se formou no ensino médio e Tália fazia faculdade de administração de empresas. Tália esperava que Raiane fosse para casa, mas Raiane disse pelo telefone que não.

– Como assim você não vem? – Tália franziu a testa e seus pais a olharam com preocupação. – Você passou de ano não foi? Fomos até a sua formatura.

Eu sei – Raiane suspirou pelo telefone – Mas minha colega de quarto aqui precisa de alguém para dividir o aluguel em seu novo apartamento e me dispus a isso.

– Você vai morar sozinha! – era uma exclamação e não uma pergunta, mas Raiane a respondeu mesmo assim.

– Eu já sou maior de idade, Tália. Além de que consegui um emprego bom perto do apartamento que vai dar até para começar um cursinho.

– Mas... – Tália estava tão atônita que não pronunciava as palavras direito. – Os pais deixaram? – Tália olhou para sua mãe que simplesmente deixou o olhar cair e com surpresa percebeu que já sabiam de tudo. – É sério isso?

– Bem... É. Mas não se preocupe Tália – Raiane completou rapidamente. – Vamos nos ver com mais frequência do que quando estava no colégio. O pai e a mãe já disseram que tudo bem e que estou livre para fazer a faculdade que quiser.

A conversa não demorou muito mais e Tália olhou para os pais com raiva quando desligou.

– Como assim vocês vão deixar uma menina que mal fez dezoito anos morar sozinha!

– Ela pediu e já está bem grandinha para isso Tália. – seu pai respondeu sem tirar os olhos da TV.

– Pois é... – Tália desligou a TV e gritou por cima dos protestos do pai. – Vocês nem mesmo conhecem a garota com quem ela vai morar!

– Tália, se esse escândalo é por que nós não deixamos você morar sozinha... – sua mãe começou, mas Tália a cortou jogando com tudo o controle da TV no chão.

– Isso não tem porra nenhuma a ver comigo! – Sua mãe tinha uma expressão horrorizada pelo palavreado da sua menina. – VOCÊS NÃO TEM A MÍNIMA PREOCUPAÇÃO COM ELA!

Tália saiu da casa e só iria voltar no dia seguinte pronta pra fazer as malas e ir morar com uma amiga, mas isso não durou muito e voltou para a casa dos pais que nunca mais tocaram no assunto.

Tália também não disse nada quando sua irmã começou a fazer a faculdade de enfermagem em vez de Letras, mas sabia que um sonho como aquele não poderia ter sido esquecido tão facilmente.

Não fez objeção alguma, muito pelo contrário, apoiou sua irmã e disse que iria ligar toda semana e mandar mensagem todo dia quando Raiane quis alugar um apartamento só dela.

Com vinte anos Raiane tinha uma vida mais independente e estabilizada do que a irmã mais velha, mas Tália sofria toda vez que escutava Raiane dizer que não tinha novidades por que isso significava que não havia feito amizades ou coisas novas.

Mas Tália sabia que um dia alguém além dela iria amar sua irmã tão incondicionalmente que chegaria a doer... Assim como ela.


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Notas finais do capítulo

E então? Chegaram aqui ilesas? rsrsrs
Eu espero que este capítulo tenho mostrado um pouco da história de nossa protagonista! E alguém aqui tem dicas para me dar com a sinopse?

Deixem um continue, sei lá, qualquer coisa nos reviews e terão capítulo novo!!



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