Quando fui capaz de abrir os olhos, vi o ancião sentado no chão próximo onde eu estava deitada. Meu corpo parecia que fora embebido em algo gosmento que se misturava ao meu suor. Havia mais uma pessoa no local, mas esta sequer me olhava.

Sentei-me encarando-os e tentando compreender o que acontecera.

—O que aconteceu? - questionei confusa, sentindo uma leve dor na cabeça.

—Você acabou de reativar as lembranças mais antigas da sua mente. - a mulher distante que me respondeu, para minha surpresa.

—Eu não entendi...

—Você ainda precisa conhecer muitas coisas antes de entender por si mesma essas coisas. E se quiser, podemos lhe ensinar. - disse o ancião me olhando.

Foi estranho por alguns dias. Eu ficava boiando numa poça que eu não entendia para que, mas quase uma semana depois eu já não questionava.

Em uma noite, enquanto me preparava para dormir, senti minha mochila se aquecer de forma conhecida; era o Ítalo me chamando (só nós dois usávamos esse método de comunicação).

Peguei o caderno e me assustei ao ver a letra de Rose. Ela pedia desculpa por ter obrigado o Capí à mostrar para ela, mas que estava muito preocupada comigo e queria saber onde eu estava. Fiquei tentada a responder e quando o ia, o ancião - que me conhecia melhor que eu mesma - apareceu para me chamar para um ritual que disse ser importe para mim.

Confiei nele e o acompanhei até o local onde vários nativos se encontravam em formação circular. O ancião me posicionou no centro do círculo e, no mesmo instante em que colocou o pé fora da formação, os nativos começaram a andar em sentido horário batendo o pé direito e a cantar uma canção desconhecida para mim, mas de ritmo agradável.

Me mantive imóvel. Aos poucos a canção me parecia conhecida, mas de vidas antigas. Como se eu a conhecesse e ao mesmo tempo não tivesse ouvido nesta vida. Um bom tempo depois, notei que alguns nativos mantinham chamas em suas mãos. Foi só eu perceber isso para meu corpo esquentar; minhas chamas estavam muito maiores que a de todos juntos, o ritmo agora acelerado fazia meu coração bater cada vez mais forte e um pequeno descontrole começar a germinar dentro do meu ser.

O sangue fluindo rápido por todo meu corpo e as chamas agora apontadas para mim só faziam o descontrole crescer dentro de mim. Meu corpo queimava sem dor e o coração batia tão forte que parecia querer sair do peito. Essas foram as últimas coisas que percebi antes de ver todas as chamas vindo em minha direção e tudo escurecer.