Capitulo 2

Viu todos esperando os portões sendo aberto. Quando aconteceu, entraram calmamente, parando em frente a sacada de Alice e fazendo uma pequena reverência. Viu sua irmã saindo pelas portas e olhando para cima, fazendo uma pequena reverência e olhando novamente a irmã, com raiva no olhar. Alice engoliu em seco. Não sabia do que Samantha era capaz depois de tanto tempo.

Logo todos entraram e as comemorações começaram. Depois de poucas horas, as cinco da tarde, chegou a hora da coroação. Todos se encontravam na pequena capela que havia no castelo. A primeira a entrar foi Samantha. Ela entrava séria e com a cabeça erguida. Mantinha a mesma pose fria da irmã. Se postou ao lado do padre e olhou para as portas.

Alice entrou por lá de cabeça erguida, assim como a irmã. Mas diferente de Samantha, Alice não tinha a pose fria. Seu corpo emanava medo, e Samantha percebeu isso. Quando Alice se postou ao lado do padre, todos se calaram.

– Alice Christina Costantin, princesa de Volvende, filha mais velha do rei Jones e da rainha Anna. Com o poder submetido a mim, eu a declaro rainha. – então ele a estendeu uma almofada, onde se encontrava o cetro. Ela foi pegar, mas foi interrompida pelo mesmo. – As luvas, majestade. – ele disse e Samantha a olhou. Ela então tirou as duas luvas e colocou-as ao lado da almofada, pegando o cetro e olhando novamente para frente.

– Eu, como rainha, prometo cuidar desse reino e ama-lo, como meus pais fizeram todos esses anos. – ela disse vendo o gelo começando a sair de suas mãos.

Então o padre lentamente pegou a coroa, colocando nela. Alice rapidamente colocou novamente o cetro na almofada, vestindo as luvas. Todos se levantaram enquanto ela descia as escadinhas em direção a porta. Samantha foi logo atrás e foram para o grande salão onde aconteceria o tão esperado baile. Pelo menos para o povo.

Quando chegaram, se separaram. Samantha cumprimentava uns, enquanto Alice cumprimentava outros. Logo então, as duas irmãs se postaram lado a lado em frente aos tronos, olhando a todos.

– Apresento-lhes, a rainha Alice e a princesa Samantha, de Volvende. – um homem disse ao lado das duas e as cornetas soaram, enquanto todos se curvavam.

Logo voltaram a festa e Alice olhou a irmã. Ela estava tão crescida. Então o arrependimento tomou conta de seu corpo.

– Samantha. – ela disse com um sorriso.

Samantha olhou para a mais velha e não conteve um sorriso. Por mais que estivesse irritada com a irmã, não conseguia não sorrir ao vê-la depois de tanto tempo.

– Alice. – ela disse com um sorriso e as duas se abraçaram.

Ao mesmo tempo que Alice esfriou Samantha, a mais nova esquentou a irmã. Então elas se separaram rapidamente.

– O que foi isso? – Samantha perguntou confusa.

– Rainha Alice. – um homem magrelo apareceu na frente das duas. – Princesa Samantha. – ele fez uma pequena reverencia. – Sou o governador de uma cidade próxima a essa. Fica em uma ilha bem ao lado daqui. Gostaria de fazer negócios com a rainha. – ele disse.

– Tudo bem. – ela disse e olhou a irmã. – Depois conversamos, Sammy. – falou e saiu com o homem.

Samantha subiu as escadas e foi até a sacada, olhando a lua. Sentiu uma presença atrás dela e olhou, vendo um menino. Ele era loiro e vestia um terno preto elegante. Os olhos castanhos claros. Samantha sorriu automaticamente.

– Princesa Samantha. – ele fez uma pequena reverencia. – Sou o príncipe Mathew, de Almer. – ela fez uma pequena reverencia.

– Príncipe Mathew. – ele sorriu e se aproximou, se postando ao lado dela e olhando a lua.

– Está uma bela noite, não? – perguntou sorrindo.

– Magnifica. Pena que temos que ficar lá dentro e não podermos aproveitar essa noite de lua cheia. – ela disse olhando a lua assim como ele. – Os que menos se importam são os que mais tentam fazer os que se importam não se importarem mais. – ela proferiu. – Minha mãe sempre me dizia isso. – suspirou.

– Sinto muito pela sua perda. – ele disse.

– Samantha. – ouviu uma voz e os dois olharam, vendo Alice.

– Rainha Alice. – Mathew fez uma pequena reverencia.

– Príncipe Mathew. – ela fez uma pequena reverencia assim como ele. – Poderia me deixar a sós com minha irmã? – perguntou.

– Claro, majestade. – ele fez outra reverencia e saiu.

Alice se aproximou da irmã e se postou ao lado dela. As duas ficaram em silêncio olhando as águas no horizonte. Quando arranjaram coragem, viraram uma para a outra.

– Eu queria... – falaram ao mesmo tempo e sorriram.

– Fale primeiro. – Samantha disse com um sorriso.

– Eu queria me desculpar por ter me mantido tão invisível da sua vida. Como sua irmã, eu não deveria ter ficado tão distante... – ela disse.

– Eu entendo. E sei que você teve motivos. – ela colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha. – Mas o que eu queria saber era o porquê de você nunca ter saído daquele quarto. Porque se manteve tão invisível? Tão transparente? – perguntou.

– Eu sinceramente não posso te dizer. – ela disse.

– Ah, novidade. – Samantha disse e saiu da sacada, voltando para o salão onde ocorria a festa.

Ela se postou novamente ao lado dos tronos e logo sua irmã apareceu ao seu lado.

– Não vire as costas para mim, Samantha. – ela disse com um tom de voz irritado, mas baixo.

– Olha, eu consegui te irritar! – Samantha disse com um tom debochado, baixo assim como o da irmã.

– Samantha, pare com isso. – Alice mandou.

– Se não o que? – perguntou ainda debochada.

– Se não... – então dois homens se postaram na frente das duas. Samantha reconheceu um.

– Rainha Alice, princesa Samantha. – os dois fizeram uma pequena reverencia. – Gostaríamos de convidá-las para uma dança. – falaram juntos.

– Adoraria. – Samantha disse sorrindo e pegou na mão de Mathew.

– Eu também. – Alice disse pegando na mão do outro.

Então as duas foram até o meio do salão e começaram a dançar a música lenta que tocava. Samantha sorria levemente para Mathew.

– Quem é aquele? – perguntou baixo olhando a irmã com um sorriso no rosto.

– Meu irmão mais velho. John. – ele disse também baixo.

O sorriso de Samantha se aumentou. Quando a música acabou, os dois fizeram uma pequena reverencia para as irmãs.

– Tenho que conversar com minha irmã. – Samantha disse e Mathew assentiu.

Ela fez uma pequena reverencia e se aproximou da irmã, que conversava com John. Se postou ao lado da mais velha e sorriu para o príncipe.

– Príncipe John. – fez uma pequena reverencia. – Poderia conversar com minha irmã por um segundo? – perguntou.

– É claro, princesa Samantha. – ele disse e saiu. Samantha olhou a irmã.

– Então, o que você estava falando? – perguntou.

– Você não deveria falar assim com sua rainha. – ela disse. – Ainda mais sendo sua irmã mais velha. – Samantha riu.

– E porque não? Depois de doze anos, doze anos, Alice, você aparece! Você sabe o que é ficar doze míseros anos sem ver sua irmã? – ela elevou o tom de voz e algumas pessoas em volta já começaram a prestar atenção na conversa.

– Sei sim! Sendo que eu também fiquei doze anos sem ver você! – gritou.

– Porque você quis! – Samantha gritou.

– Porque foi necessário! – Alice gritou com todas as forças. – Eu sempre quis te ver. Deus sabe o quanto eu quis! Mas eu não podia! Não podia te machucar! – gritou.

– Você não ia me machucar! – Samantha gritou.

– Ia sim, Samantha! – Alice gritou mais alto.

– Eu odeio você! – Samantha gritou. – Você não merece usar esse anel! – então tirou o anel da irmã, assim como a luva, e tacou no chão. – Você não é digna, sendo que foi covarde demais pra aparecer no enterro dos nossos pais! – gritou.

– Você não sabe do que está falando! – Alice gritou.

– Você foi covarde demais pra sequer se despedir deles! – gritou. – Você não é digna de ter o mesmo cargo que os nossos pais tinham, sendo que enquanto você se escondia, eu tomava conta desse reino junto com o nosso pai! Você nunca se interessou por isso aqui! Nunca quis conviver junto conosco! – gritou com todas as forças que tinha.

– Cala a boca! – Alice gritou e um jato de gelo saiu de sua mão, indo direto para a parede. Samantha olhou a irmã pasma.

– Então foi por isso. – ela disse dando um passo para trás.

– Você não sabe o que é se afastar daqueles que você ama por causa de um poder que você não consegue controlar! – Alice disse com as lágrimas caindo de seus olhos.

– Não sei? – Samantha perguntou tirando a luva. – Você é quem acha. – então estendeu a mão até a lareira que se encontrava bem ao lado de onde o raio de gelo descongelava aos poucos. Uma bola de fogo saiu da mão da ruiva, indo até a lareira e acendendo a mesma. – Mas diferente de você, todos esses anos eu aprendi a controlar esse poder. Depois de seis anos, seis míseros anos, eu saí finalmente daquele quarto, e voltei a conviver normalmente com minha família. Mas você nem isso queria. Se apegou tanto àquele quarto, que nunca mais saiu. – falou com raiva na voz e as lágrimas caindo. – Você foi covarde, Alice. – então se virou e viu todos olhando a conversa. – A festa está acabada. Voltem para suas casas, seus reinos, tanto faz. Só saíam daqui. – falou e saiu pelas portas.

Começou a andar pela estrada de terra não sabendo para onde ia. No caminho, soltou os cabelos e deixou os mesmos soltos. Continuou andando e começou a subir uma grande montanha. Quando chegou ao topo, ajoelhou e deu um grito de raiva, tirando a outra luva e jogando do alto da montanha.

Cerrou os punhos. Como Alice teve coragem? Ou melhor perguntando, como ela fora tão covarde? Era o que Samantha se perguntava. Desistir da família para a proteção da mesma. Desculpas. Era isso. Ela queria era se proteger dos comentários dos outros. Mas deixar de ir ao enterro dos pais... Os pais que, mesmo naqueles momentos, deram amor a ela. Carinho. E ela os deixara ir embora sem ao menos se despedir.

Ela soltou um grito de raiva e ódio, fazendo as chamas saírem de suas mãos. Se levantou e começou a tacar o fogo para tudo o que era lado, tentando fazer com que a raiva que ela sentia se esvaziasse. Juntou as duas mãos e fez com que delas saísse uma grande bola de fogo, tacando na parede. Então a chuva fina começou a cair, ficando mais forte com o tempo.

Logo as pequenas poças se transformavam em lama. Samantha tacou fogo numa dessas poças, fazendo a mesma se erguer no ar como uma bolha de argila* chamuscante. Sorriu e começou a enrolar essa argila, a transformando em uma escada com dois degraus. Seu sorriso se alargou e ela foi fazendo isso com as poças que se formavam, fazendo uma grande escadaria até a parte mais alta da montanha.

*Argila, pra quem não sabe, é feito de um tipo diferente de areia.

Foi até a mesma e colocou o pé, a esquentando completamente e a deixando dura. Foi fazendo isso subindo por todos os degraus e endurecendo todos eles. Então chegou a parte mais alta da montanha e viu a chuva se acalmar aos poucos e logo parar. Continuou com a brincadeira de lama, como a mesma nomeara. Fizera várias coisas, mas parara ao perceber que estava encharcada.

Olhou o vestido e sorriu. Fez o mesmo começar a pegar fogo e aos poucos o azul se transformou em vermelho sangue e desceu até o pé, fazendo uma calda com um tecido mais fino. Os sapatos baixos se transformaram num salto alto fino vermelho. Não satisfeita, fez uma fenda da coxa até o pé, dando mais facilidade de andar.

Se concentrou e fez uma pequena escadaria de fogo, subindo nela e sentando na ponta da mesma, vendo o pequeno vilarejo, assim como o castelo. Suspirou e começou a tacar pequenas bolas de fogo a toa de cima da montanha.

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Alice: