Just don't be afraid escrita por Maya


Capítulo 49
Capítulo Especial - Máscara [Parte II]


Notas iniciais do capítulo

Oi, como estão?
Cá está a segunda parte do pov da Camila. Ficou um pouco grandinho, e desculpem-me por isso, mas não consegui evitar.
Tenho uma noticia importante para vós contar nas notas finais, por isso não se esqueçam de as ler.
Quero dedicar o capítulo à Brenda Potter pela favoritação. Muito obrigada anjo!
Antes de lerem, uma pequena informção: Cachorro é uma espécie de sandes, com salchicha, queijo e fiambre com um molho especial por cima e batatas fritas a acompanhar. Então não, não é um cão. Isto porque mais abaixo vou mencionar e não quero que percebam errado xD
Vá boa leitura e não se esqueçam de ler as notas finais ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496138/chapter/49

Entrei dentro do café e procurei pelo Kentin. Depois de o ver numa mesa do fundo, dirigi-me até lá e sentei-me à sua frente. Ele ergueu a cara do telemóvel e abriu-me um pequeno sorriso, ao qual correspondi.

— Já pediste alguma coisa? — perguntei, enquanto dava uma vista de olhos no menu. Sem dúvida que Anne vai ter um ataque de indecisão quando vir isto. Soltei uma pequena gargalhada com esse pensamento.

— Não, estava à tua espera— disse, pegando no outro cardápio pousado na mesa. — Não vejo aqui nenhuma piada.

— Hum? — Encarei-o sem perceber o porque daquele comentário.

— Começaste a rir quando olhaste para isto. — Ergueu um sobrolho.

— Oh, estava a pensar no quanto a Annelise vai ficar indecisa ao ver isto. — Voltei a rir. Ele abriu um sorriso e concordou com a cabeça.

— Como achaste este sítio? — não tive tempo de responder, uma vez que o empregado se aproximou para nos fazer os pedidos. Ambos dissemos o que queríamos e o rapaz acabou por ir embora.

— Ontem, ao ir para casa, depois de chegar a Portugal, passei por esta rua, e digamos que o nome é bastante apelativo. Ia dizer a Anne para virmos cá a duas experimentar, mas depois tive uma ideia melhor. — continuei a conversa. Ele assentiu. — Acho que ela vai gostar ainda mais se fores tu a traze-la aqui. E é provável que subas mais uns quantos pontos na sua consideração. Mas o encontro não pode ser só isto, obviamente — murmurei a última parte. — Que tens em mente? — Olhei-o nos olhos.

— Eu… Bem… — Desviou o olhar e coçou a parte de trás do pescoço. — Prometes não te rir? É meio estúpido… — Mal sabe ele que eu já me estou a rir interiormente.

— Prometo. — pousei o meu queixo na minha mão tampando a minha boca para ele não ver o meu sorriso zombeteiro.

— Ok… Bem… Eu pensei leva-la à casa da música. — Esperei que ele continuasse. — E arranjar maneira de a por a tocar a frente de várias pessoas desconhecidas sozinha. — Agora fiquei intrigada.

O empregado voltou, trazendo os nossos pedidos que eram só duas bebidas de lata.

— Como assim? E porquê? — Ele suspirou e voltou a observar-me.

— Eu tenho a impressão que ela tem um certo receio a tocar para públicos que não conhece. E tu disseste que eu tinha de a ajudar a vencer os medos, ou qualquer coisa assim, por isso achei que seria melhor começar pelo mais fácil, não? E na casa da música nunca está muita gente na mesma sala, por isso, não será um público assim tão grande.

— E como tencionas fazer isso? — ele não está há espera que simplesmente o deixem entrar lá e o deixem mexer nos instrumentos, certo?

— A esta altura, já devias saber que com dinheiro as coisas são mais fácies de acontecer. — assenti em compreensão.

— Então, acho que temos mais ou menos tudo. Primeiro vem aqui almoçar e depois passam a tarde na casa da música. Tens de arranjar maneira de ela já saber o que tocar, para não ter nenhum ataque de indecisão. De preferência algo britânico, porque assim ela vai decidir treinar em casa para mostrar ao pai. Deixo os pormenores por tua conta, está bem? — ele concordou. — Espero que saibas que estou a confiar em ti. Não me desiludas, Kentin. Prometo-te que te arrependerás caso o faças. — acabei o meu sumo e levantei-me, preparando-me para sair do café.

— Camila? — Virei-me, encarando-o. — Obrigado, a sério. Principalmente por cuidares da Anne. — Fingi um sorriso e saí, antes que o sentimento de culpa se tornasse forte o suficiente e me denunciasse.

«»

Cinco dias mais tarde

Guardei o telemóvel no bolso e comecei à procura do que vestir. O Pedro ligou-me a dizer que tinha uma surpresa para mim, pedindo que fosse até à discoteca onde trabalha o mais rápido possível. Peguei nas calças de ganga pousadas na ponta da cama e tirei um top sem alças preto do armário. Fui até à casa de banho e prendi o cabelo num rabo-de-cavalo. Só espero que não seja nada de muito importante, já que nem maquilhada vou. Voltei para o quarto e peguei no meu colar com ametista. É a minha pedra preferida, e nunca saio de casa sem ela. Coloquei as chaves de casa no bolso, assim como o telemóvel e saí de casa. A discoteca fica a dez minutos daqui, por isso, não vale a pena dar trabalho ao motorista.

Ao fim de alguns minutos de caminhada, peguei no telemóvel e voltei a reler a mensagem que Ricardo me mandara ontem.

De Ricardo:

«Não posso Camila, fica para outro dia.

Aliás, precisamos de conversar.»

Além do “precisamos conversar” nunca ser bom sinal, o facto de não haver nenhum “meu anjo” na mensagem alarmou-me ao ponto de não ter dormido muito bem. O Ricardo nunca é tão frio numa mensagem, não comigo, pelo menos. Tenho quase a certeza que a nossa conversa não vai ser agradável e que ele vai dizer aquilo que eu há anos tenho medo de ouvir. Eu não estou preparada para perde-lo, principalmente se for para uma rapariga que não mereça um terço da sua atenção e dedicação. Ele merece alguém que esteja disposto a dar-lhe o mundo, e mesmo que eu não o possa fazer, não consigo desprender-me dele. Ou melhor, não quero. Ele é o meu porto seguro e não estou preparada para ficar sem ele. E eu sei que soa egoísta, e de facto, é, mas o que seria de mim, se pelo menos nisso não o fosse? Eu não tenho mais ninguém.

Mandei uma mensagem ao Pedro para vir abrir a porta mal cheguei à discoteca. Ele não demorou muito a faze-lo.

— Preparada? — perguntou, entusiasmado. Assenti. — Então vem. — Agarrou a minha mão e puxou-me até ao meio da divisão. Avistei um rapaz de cabelo loiro sentado ao balcão. Paramos mesmo à sua frente, mais ou menos a dois metros de distância. Pedro largou a minha mão e afastou-se um pouco. — Podes virar-te. — O miúdo virou-se e senti o meu coração saltar para fora do peito. — Surpresa! — gritou ao meu lado. Os meus olhos abriram-se mais que o normal e tudo à minha volta pareceu parar.

— Lucas? — murmurei, trémula. Ele abriu um sorriso, fazendo-me perder o ar. Como é possível estar ainda mais bonito? O seu cabelo apresentava agora um corte mais curto, deixando só a parte superior cumprida o suficiente para formar caracóis. O seu maxilar estava mais definido e coberto por uma camada fina de barba.

Atordoada, não percebi que se estava a aproximar de mim. Só me dei conta disso quando senti os seus braços envolverem-me num abraço apertado. Demorei algum tempo a corresponder ao gesto.

Ele voltou. Ele está aqui comigo. Ele está a abraçar-me.

Naquele momento, já não havia problema nenhum que me assombrasse. Sabia que estava protegida nos seus braços e que ninguém me faria mal enquanto ali estivesse.

— Estava cheia de saudades, ursinha. — sussurrou. Soltei uma pequena gargalhada, sentindo as lágrimas virem-me aos olhos. Ursinha. Encostei a minha cara ao seu peito, começando a chorar. Ele apertou-me um pouco mais. — Desculpa pela demora. — Neguei com a cabeça. Ele não tinha de pedir desculpa por nada. Afastamo-nos algum tempo depois, por sua vontade.

— Eu nem sei que dizer… — disse com a voz estrangulada devido ao choro. Ele sorriu novamente e despenteou-me o cabelo de forma carinhosa.

— Eu conheço-te bem o suficiente para precisar que digas alguma coisa — limpou-me as lágrimas. — Estava mesmo cheio de saudades tuas. Ficar sem a minha melhor amiga durante dois anos foi a coisa mais awful de sempre. Fica já combinado que não nos separamos tanto tempo, ok? — Concordei com um aceno de cabeça, sorrindo. Eu não queria ficar separada nem mais um segundo. — Antes de começares a contar-me tudo o que aconteceu nestes dois anos, diz-me: ainda as tens? — Encarei-o confusa.

— Ainda as tenho, o quê? — Ele abriu um sorriso matreiro.

— As cuecas dos ursinhos. — murmurou. Senti as minhas bochechas ficarem quentes e soube que estava a corar. Desviei o olhar para o chão. — Então, tens? — sem coragem para responder-lhe a pergunta, fiz um gesto afirmativo, corando ainda mais. Ele soltou uma gargalhada.

— Não podia deitar fora aquilo que deu origem à nossa amizade… — disse, baixinho. Ele voltou a puxar-me para um abraço.

— És uma tontinha. — afirmou num tom carinhoso, aquecendo-me o peito. — Mas vá, conta-me as novidades todas. — afastou-se e puxou-me para me sentar numa cadeira.

Reparei que o Pedro já não se encontrava entre nós, provavelmente para nos dar alguma privacidade.

— Não sei ao certo o que queres saber — comecei a brincar com os meus dedos.

— Qual é a parte de “tudo” que não percebeste? — sorriu.

Após aquilo que eu chamaria de longa conversa sobre os dois anos anteriores, decidimos que devíamos ir até ao restaurante ao lado da nossa antiga escola, jantar um cachorro como nos velhos tempos. Por sorte, não ficava muito longe, dando bem para ir a pé.

— E tu e o Ricardo, ainda continuam o mesmo “complicado” de sempre? — perguntou, colocando um braço sobre os meus ombros.

— As coisas não são complicadas entre nós, vocês é que pensam que sim. Somos aquilo que temos de ser, sem rótulos nem pressões. Há coisas que não valem a pena serem complicadas.

— Queres dizer que ele não vale a pena? — perguntou-me com alguma apreensão.

— Não! Claro que vale, mas não é isso. Nós damo-nos bem assim, percebes. Eu gosto dele e ele de mim, mas não dessa forma. Somos demasiado parecidos para termos algo mais definido que isto.

— Sem dúvida complicados — murmurou. — E sobre a tradição da Anne? O que sabes? — Pela primeira vez desde que estávamos a conversar, senti o meu peito doer. Claro que ele não ia esquece-la.

— Não sei muito. É melhor fazeres perguntas específicas. — Ele fez um ar pensativo.

— O que sabes sobre o Kentin?

Entramos no restaurante e sentamo-nos na mesa perto da janela. Suspirei e encarei a sua iris azul.

— Estás a tentar avaliar o inimigo? — Ele encolheu os ombros e olho para a janela.

— Não estejas a julgar-me interiormente, Camila. Ela é o amor da minha vida, e eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para a ter novamente. — doeu mais do que estava à espera. Respirei fundo e guardei a mágoa no sítio do costume, adotando a postura que Ricardo me ensinara.

— Bem, então acho que devias saber que ele gosta dela. E se queres a minha opinião sincera, ela meio que gosta dele. — Senti o seu olhar feroz em mim. — Se ela o sabe? Não, afinal é da Annelise que estamos a falar. Mas também não tardará muito a que ele se confesse e a beije. E sabes que depois de um beijo, as coisas nunca mais são as mesmas. — ele calou-se e voltou o olhar para o exterior.

Eu sei que posso estar a ser dura demais, ou até mesmo rude. Mas ele merece a minha opinião sincera. Toda a gente precisa de alguém que lhe diga a verdade na cara e eu sou esse alguém na vida de quem conheço e gosto. Se não a quisesse, não falava disto comigo e sim com o Pedro. Ele é que bom para passar a mão no ombro e dizer que tudo vai ficar bem, quando na verdade sabe que não vai.

— Lucas — chamei, tentando que voltasse a olhar para mim —, sabes que tu vais a pessoa que sempre vai ter uma hipótese com ela, certo? — Ele abriu um sorriso triste. — Vais sempre causar confusão no coração dela — e no meu, completei mentalmente.

«»

Coloquei a manta sobre mim, aconchegando-me da melhor maneira possível. Encarei as estrelas e suspirei. Já era um vício meu sentar-me no telhado da minha casa à noite, principalmente quando tenho muito na minha cabeça. Mandei uma mensagem ao Ricardo para vir ter aqui, para termos a tal conversa. Sei que não posso adiar mais, mesmo que queria. Não tenho dormido nada, e embora tenha quase a certeza que vá continuar a não conseguir, ao menos vou tirar um problema da equação. E quanto mais simples ela ficar, melhor.

Acho que nunca senti tanto medo como agora. Perde-lo será perder uma parte de mim. E nunca estarei preparada para isso.

Ouvi barulhos vindos da árvore perto do telhado, mas continuei a encarar as luzes por cima de mim, e nem mesmo quando se sentou ao meu lado desviei o olhar. Escutei-o suspirar.

— Não sei bem como dizer isto… — declarou ao fim de algum tempo.

— De forma direta, por favor, não vamos complicar, não agora. — pelo canto do olho vi-o assentir.

— O Lucas está cá. Por isso não pude ir ter contigo no outro dia, fui busca-lo ao aeroporto com o meu pai. Eu não queria contar-te por mensagem, e era para já te vir ter dito ontem, mas simplesmente não quiseste que viesse. — imediatamente virei a minha cabeça na sua direção . — Que foi? Eu sei que te devia ter- — comecei a rir-me histericamente, porém, não tardou para que as gargalhadas se tornassem soluços e começasse a chorar. — Camila? — senti as suas mãos na minha face e percebi que me estava a limpar as lágrimas. Puxou-me para si, abraçando-me. — Ei, que se passa? — sussurrou.

— Eu pensava que tu vinhas dizer-me que tinhas arranjado alguém e que já não querias saber de mim — confessei. — E isso só ficou pior depois de ter estado com o Lucas e ele me ter dito que veio atrás da Annelise.

— Então tu já sabias… — murmurou. — E que ideia maluca é essa, de repente? Ainda há coisa de uma semana dormimos juntos e eu disse que eras a pessoa mais importante para mim. — Afastou-se e levou a mãos as laterias da minha cara, fazendo-me encara-lo. — Mete isso na cabeça, Camila. Eu nunca te vou deixar. — Aproximou a sua face da minha, chocando levemente os nossos narizes. Nenhum de nós fechou os olhos, ficando a encarar-nos. Senti o seu polegar acariciar a minha bochecha esquerda. Encostou as nossas testas e suspirou — Eu não consigo deixar-te, anjo. Não agora, não nunca. — separou as nossas testas. — Eu amo-te, Camila. Não penses que eu sou como o resto dos teus amigos, não desvalorizes o que faço por ti e confia em mim, em nós. — afastou-se, deixando as suas mãos caírem na lateral do seu corpo. Respirou fundo e ergueu-se, estendendo-me a mão para que me levantasse também.

Ficamos a fitar-nos durante algum tempo em silêncio. Havia uma confusão de sentimentos nos seus olhos, como se estivesse a travar uma guerra interiormente. Queria dizer-lhe que confiava nele, que as minhas dúvidas vinham de mim e não dele; que ele não tem culpa nenhuma pela minha falta de autoestima, nem merece sequer levar com as consequências disso. E cheguei a afastar os lábios, mas as palavras morreram assim que chegaram à garganta e não consegui imitir nenhum som.

Ricardo abriu um sorriso triste e percebi que seja qual fosse o seu dilema, tinha chegado a uma conclusão e que nenhum de nós ia gostar dela.

— Ontem estive a falar com a minha mãe sobre nós… — começou. — Ela disse algo que me deixou mesmo irritado. Disse que talvez fosse melhor que nos afastássemos um pouco. Obviamente respondi que ela não percebia aquilo que nós tínhamos e tranquei-me no quarto. — Pegou numa mecha do meu cabelo e colocou atrás da minha orelha — Mas agora acho que percebo o que ela queria dizer com aquilo. — Fez uma pausa. — Eu acho que estamos demasiado presos um ao outro, Camila. Durante estes anos fomos nós contra o mundo. Ignoramos tudo a nossa volta porque estávamos confortáveis juntos. Não me entendas errado, eu sou feliz sendo confortável contigo. Mas talvez… — Engoliu a seco. — Talvez seja melhor afastarmo-nos um pouco, ver como nos safamos sozinhos. Tentarmos perceber se aquilo que sentimos um pelo outro é mesmo o que achamos que é. — Senti os meus olhos voltarem a encher-se de lágrimas. Abanei a cabeça, negando. Não, ele não pode estar a fazer isto. As suas mãos prenderam a minha cara, obrigando-me a encara-lo. — Percebe que estou a faze-lo por nós, por ti. Não podes continuar a viver com medo que sem mim não vais ter ninguém. Vamos fazer as coisas da forma certa, por favor. — Desviei a minha atenção para as pantufas, não tendo mais força para ver os seus olhos cobertos de tristeza.

— E como pensas fazer isso? — disse, tentando não soar frágil.

— Ficando um tempo sem te ver ou falar contigo. — Numa velocidade incrível ergui a cabeça e olhei-o de forma feroz.

— A sério? Depois de tudo a tua solução é essa? — Soltei uma gargalhada seca. — Diz-me, estas a fazer isso por mim ou por ti? Porque a mim está a parecer-me que te fartaste de mim, mas não queres dize-lo, porque achas que sou fraca demais para aguentar. — Afastei-me de si, virando-lhe costas. Ouvi-o suspirar alto.

— E teres um pouco mais de confiança em ti, não? — Agarrou-me um braço e puxou-me, obrigando-me a ficar de frente para si novamente. — Foda-se Camila. Eu conheço-te e sei o porquê de seres assim, insegura. Mas seres assim comigo não faz sentido. Não quando eu estive sempre ao teu lado! — encarei o chão e tentei prender novamente as lágrimas. Ricardo abraçou-me, fazendo-me colocar a minha cabeça no seu peito. — Não questiones a minha amizade, por favor. — ficamos em silêncio durante alguns segundos. — Eu fiz um plano… — murmurou. — Quer dizer, é mais uma lista de coisas que devíamos ter feito e não fizemos. Acho que seria uma boa forma de começar… — continuou num tom de voz ainda baixo. — Eu sei que não queres, eu também não quero. Mas não pudemos continuar assim, dependentes um do outro.

Não lhe respondi, deixando-me ficar encostada a si, ouvindo o seu coração a bater. Uma das coisas que mais gosto no Ricardo é o facto de a sua altura ser perfeita para que sempre nos abraçamos eu fique no sítio certo para ouvir os seus batimentos cardíacos. É algo que sempre me acalmou nos meus piores momentos. Muito antes de nos envolvermos a sério, quando a nossa relação ainda se baseava nas suas tentativas falhadas de me conquistar.

As suas palavras vagueavam pela minha mente, fazendo-me cada vez me encolher mais nos seus braços. Pode soar repetitivo, mas eu não quero perde-lo; não quero afastar-me da única coisa que me fez bem nestes anos todos. Porém, eu sei que ele está a fazer aquilo que acha que é mais correto para nós, para mim. E não vai desistir, mesmo que eu não concorde.

— Tens aí a lista? — perguntei, sabendo que o melhor era seguir com o seu plano. Ele assentiu, afastando-se. Tirou um papel dobrado do bolso das calças de ganga e entregou-me. Abri-o com cuidado e li:

Assumir os sentimentos em relação ao Lucas;

Confessar tudo para a Annelise (e para o Daniel);

Combinar uma data para a despedida e depois uma data para o reencontro;

Despedida;

Sair com pessoas novas (não só por sair, mas sim quando achamos que a pessoa vale a pena).

— Não tem muita coisa, só consegui pensar nisso — murmurou, fazendo-me olha-lo.

— Por que é que os dois primeiros pontos são para mim e não há nada para ti? — inquiri. Ele coçou a parte de trás do pescoço.

— Porque tu és a única aqui que gosta de alguém e que vive com a culpa a consumir-te há mais de três anos. Eu não tenho problemas pendentes com ninguém a não ser contigo. E se quero fazer as coisas de forma certa, tenho de te ajudar a deixar isso tudo para trás. Eu entendo se preferires não fazer nada disso, anjo. Mas eu já tomei a minha decisão, quer concordes ou não.

Eu já sabia que ele tinha tomado uma decisão. Talvez se não tivesse aquele ataque de choro isso não tinha acontecido. Mas agora já não havia nada a fazer a não ser aceitar.

— Tudo bem, vamos faze-lo.

«»

Mexi o corpo ao som da música, cantando junto com a voz da Ariana Grande. Nunca uma música desta magricela fez tanto sentido para mim como agora.

So one last time, I need to be the one who take you home — cantei sentindo a minha voz ficar rouca. Ergui os braços e balancei-os ao ritmo mexido da melodia.

Já há alguns dias que não vejo o Ricardo e começo a achar que aceitar o seu plano foi a pior decisão que tomei. Sinto a sua falta.

Dirigi-me para o interior da casa, para ir buscar uma bebida. Peguei no primeiro copo com vodka que vi e bebi metade. Preparei-me para voltar para o exterior, porém o toque na campainha fez-me ir até à entrada. Assim que abri a portar, os meus olhos arregalaram-se.

— Boa noite. Tivemos uma denúncia por causa do barulho. Será que podemos falar com o proprietário? — encarei os policias à minha frente e assenti freneticamente, dizendo para esperarem um bocado.

Saí à procura da Annelise e detestei ter de interromper o seu momento com o Kentin. Acompanhei-a até à porta e depois ajudei-a a mandar toda a gente embora. Quando o último grupo foi embora, o do seu primo, voltamos para a sala.

— Camila, podes ficar a tomar conta das coisas? Quero ir trocar de roupa, estou farta deste vestido — acenei em concordância e vi-a subir as escadas para o seu quarto. Sentei-me no sofá mais perto da janela, para poder observar as estrelas. Tirei o telemóvel do bolso das calças e abri a aplicação do Wattpad, preparando-me para mergulhar numa fanfic de lobisomens, a minha categoria preferida.

Fanfics, a sério? E a outra ainda se queixou de eu estar a jogar My Talking Tom. — Levantei a cara, deparando-me com um par de olhos azuis a encarar-me. O rapaz não demorou muito a vir sentar-se ao meu lado. — Desculpa lá vir para aqui, mas eles vão ensaiar e eu já não aguento mais ouvir as discussões do Castiel com o Nathaniel… — murmurou, pousando a cabeça na costa do sofá. Voltou o olhar para mim e abriu um sorriso preguiçoso.

Sabem quando olham para uma pessoa e tudo nela é apelativo? O jovem ao meu lado era uma pessoa dessas. Tudo nele atraía, desde o sorriso fácil até ao seu cabelo escuro a cobrir-lhe a testa. Para não falar da barba rala que lhe dava um ar de descuido bastante sexy. Senti-me tentada a correr os olhos pelo seu corpo, porém, contive-me e mantive-me focada nos seus olhos.

— Mas que lês, afinal? — perguntou, inclinando-se um pouco na minha direção, tentando espreitar para o meu telemóvel. Virei o aperelho para si, para que pudesse ler. — Em inglês, a sério? — Encolhi os ombros.

— Não tenho culpa se as portuguesas são todas sobre dos One Direction. E de lobisomens quase que só vale mesmo a pena as inglesas. — Ele assentiu e tirou-me o telemóvel das mãos. — Ei, que vais fazer com isso? — Senti um aperto no estomago assim que os seus olhos me observaram.

— Tirar uns snaps com o teu telemóvel. — Piscou o olho. Ergui a mão tentando tirar-lhe o objeto. Ele abriu a aplicação do Snapchat e começou a filmar-me enquanto tentava alcançar-lhe a mão.

— Devolve-me isso! — atirei-me para cima dele. Contudo, nem isso foi suficiente, pois o seu braço era grande o bastante para que eu não conseguisse chegar-lhe. Ele começou a rir com o meu desespero e agarrou-me a cintura, afastando-me de si.

— Eu prometo que te devolvo, assim que me disseres o teu nome e me cumprimentares, docinho. — Voltou a piscar-me o olho. Enchi as bochechas de ar e cruzei os braços. Ele soltou mais umas quantas gargalhadas e tocou na minha face com o dedo indicador. — Não queres o teu telemóvel? — Assenti. — Então anda lá. — Apontou para a sua bochecha, indicando-me que queria um beijo ali. Suspirei e revirei os olhos antes de me aproximar e encostar-lhe rapidamente os lábios lá.

— Camila — murmurei a contragosto. O seu sorriso tornou-se maior e estendeu-me o telemóvel. Agarrei-o de imediato.

— Combina contigo, embora docinho fique ainda melhor. — aproximou-se e beijou-me a bochecha de forma demorada. — Armin — sussurrou, junto ao meu ouvido. Senti a minha respiração ficar escassa e o meu estomago se contorcer com o seu perfume masculino. — Espero ansiosamente por nudes. — Piscou o olho e levantou-se. — Lex, vamos embora! — gritou, fazendo um rapaz de cabelo azul erguer-se também e segui-lo para fora da casa da Annelise.

Que raio foi isto?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então o que acharam???? Eu sei que o Armin não parece muito o do jogo, mas o que acharam da sua interação com a Camila? E da decisão do Ricardo?
Quero anunciar que decidi fazer uma continuação de JDBA, criando assim uma especie de série com os paqueras que mais gosto. A ordem será Ketin (JDBA), Armin e por último Dake. Isto, porque não consigo deixar a história da Camila por aqui, e a história que tinha planeado para 2016 ainda está um pouco atrasada. O que acham da ideia?
Beijinhos e fico à vossa espera nos comentários ^^