Just don't be afraid escrita por Maya


Capítulo 50
Capítulo 43


Notas iniciais do capítulo

Heeeey :)
Eu sei, eu sei, estou muito atrasada. Mas as coisas tem sido complicadas, desculpem.Não vou estar aqui a demorar-me a explicar o porquê, eu sei que vocês querem ir logo para o capítulo. E para compensar a demora, trouxe um capítulo mega grande para vocês.
Espero que gostem dele tanto como eu gosto. Já agora, para além de música, tem uma pequena imagem com o link na palavra "instagram" lá em baixo. Caso tenham curiosidade na foto que a Anne tirou, ou pelo menos, em como eu idealizo, é só clicar xD
Quero dedicar o capítulo à LeMemezinha pela favoritação! Muito, muito obrigada anjo ^^
Vá, boa leitura.
Ps: leiam as notas finais.

[capítulo não revisto, peço desculpa pelos erros]



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»Anne«

Puxei a Camila para os meus braços, deixando que chorasse no meu ombro. Esfreguei suavemente as suas costas e apertei-a um pouco mais.

— Está tudo bem agora, eu estou aqui... — murmurei.

Era a primeira vez, em anos, que vejo a minha melhor amiga chorar assim. Sei que ela não é de mostrar o que realmente sente, no entanto, sinto como se lhe tivesse falhado. Que raio de amiga sou eu, se a deixei chegar a este ponto?

Camila ia soluçando algumas palavras que não conseguia compreender, de tão sufocadas que saíam. Durante alguns minutos, deixei que continuasse a chorar. Afinal, que havia eu de lhe dizer? Nunca estivemos nesta situação. Sempre fora ao contrário, eu a ter problemas e Camila a resolve-los ou, pelo menos, a ampara-me.

— Eu não aguento mais, Anne... — Afastei-me um pouco, encarando-a.

— Qu-

— Eu tenho de te contar... Eu sei que me vais odiar, mas eu não consigo esconder-te mais... — interrompeu-me. Agarrou-me pelo braço e puxou-me escadas a baixo, parando só quando chegamos ao escritório do meu pai. Lá, levou-me até ao sofá encostado à janela e sentou-se, fazendo-me sentar também. — Eu preciso que me ouças até ao fim, sem interromperes. — Assenti. Camila limpou as lágrimas com a sua mão esquerda e respirou fundo, tentando acalmar-se. — Seja o que deus quiser.... — sussurrou.

«»

Encarei a minha melhor amiga, sem saber o que dizer. Como assim ela gosta do Lucas? Como é que ela pode esconder isso de mim? Sinto-me traída, magoada. Como se durante muitos anos tivesse vivido uma mentira, ou pelo menos, convivido com alguém que não era quem eu achava. Afinal, quem era ela? O que pensava ela realmente?

Eu percebo o motivo de não me ter contado depois de eu e o Lucas começarmos a namorar. No entanto, tenho a certeza que ela já gostava dele antes. Porque não me disse? Porque não me disse logo desde o início? Antes de sequer de eu o conhecer? Eles são melhores amigos de infância. Enquanto eu encontrava a Camila sempre que os nossos pais permitiam, eles estudaram juntos durante anos. Sentimentos não se ganham de um momento para o outro, por isso, falta de tempo não foi.

Desviei o olhar para as minhas mãos, pousadas no meu colo e tentei formular alguma frase.

— Nem sei o que dizer... — A minha voz saiu baixa.

— Eu sei que te devia ter contado isto mais cedo, mas eu não queria perder a tua amizade, e gostar do namorado da tua melhor amiga de certeza que não faz parte das "regras de como manter uma amizade"... — Soltou uma gargalhada forçada. Ergui o meu olhar e tentei esconder a fúria que senti ao ouvir as suas palavras.

— Tu achas que o problema é esse?! Só podes estar a gozar comigo, Camila! — Levantei-me e afastei-me do sofá, virando-lhe costas. Respirei fundo, tentar acalmar-me. Voltei a virar-me, caminhando para a direção da outra janela. Foquei o meu olhar no jardim. — Quem és tu, Camila? — murmurei, não obtendo nenhuma reação. — Porque a única coisa que sinto neste momento é que não te conheço. — Encarei-a. — Começas-te a gostar do Lucas depois de nós namorarmos? — A sua resposta foi apenas um gesto negativo com a cabeça. — Então porque não me contaste antes de eu ir estudar para a tua escola? Não que eu exija que me contes o que quer que seja; somos amigas sem perguntas. Mas não podes culpar-me, nem te fazer de vítima por eu e ele termos tido algo. Não quando tu nunca me contaste que sentias algo por ele. E, sinceramente, eu estou-me a lixar para o facto de gostares dele, agora não muda nada. O que magoa é saber que não confias em mim, na nossa amizade. — Os seus olhos desviaram-se dos meus e vi o seu lábio tremer. — Magoa estar a ver mais emoções tuas nesta última hora que nos últimos anos.

A sala ficou silenciosa. Mas não a minha cabeça. Todos os tipos de pensamentos rodavam na minha mente; pensamentos de como as coisas poderiam ter sido diferentes.

— Eu sou assim tão terrível para não merecer a tua confiança? — perguntei, num fio de voz.

— Não é nada diss-

Bullshit. — Interrompi-a. — Era tudo treta, não era? — Uma expressão confusa tomou conta da sua face. — Aquilo do Carpe Diem era treta, não era? Tu só dizias isso para esconder o que sentias. Tu não saíste com o Ricardo porque estavas com pena dele, mas sim porque querias uma distração. Não era o Ricardo que não queria sair connosco, aliás, eu duvido até que ele tenha realmente alguma coisa contra o Lucas, como sempre me disseste; tu é que não querias esfregar mais sal na ferida. Não me entendas errado, eu no teu lugar também não iria querer. Mas era preciso mentir tanto, Camila? Era? — A miúda não respondeu, fitando o chão. — Talvez a culpa seja minha por sempre aceitar tudo que me dizias, por não te questionar. Talvez tenhas razão e eu seja realmente egoísta e só pense em mim. Mas uma amizade é feita por duas pessoas, e eu não errei sozinha. — Concluí e fui até à porta, abrindo-a. — Agora, eu preciso que vás embora. Eu não quero que as coisas fiquem piores, por isso vamos deixar arrefecer e conversamos quando ambas estivermos mais calmas. Precisas que te acompanhe à porta?

— Não. — Levantou-se e passou por mim, com os olhos baixos.

— Acho mesmo que devias contar ao Lucas e acabar com o problema de vez — disse quando ela alcançou a porta de entrada, fazendo-a estagnar com a mão na maçaneta. — Só te vais sentir melhor quando confessares. — Os seus ombros descontraíram e quase que podia apostar que sorriu levemente.

— Sim, obrigada — respondeu, saindo.

Assim que a porta bateu, encostei-me à parede e fechei os olhos. Deixei-me escorregar até me sentar no chão. Tapei a cara com as mãos sem saber o que fazer. Não conseguia deixar de pensar que talvez não devesse ter dito aquilo.

Tirei o telemóvel do bolso, desbloqueando e abrindo as mensagens. Após digitar o que queria e enviar, não tardou muito para ouvir passos das escadas. Kentin não demorou muito a aproximar-se, nem a sentar-se ao meu lado. Encostei a minha cabeça no seu ombro e suspirei.

— Queres falar sobre isso? — disse, após alguns segundos de silêncio. Neguei. Ele ergueu-se, esticando a mão para me ajudar a levantar. — Tenho o sitio perfeito para irmos, então. — Sorriu.

«»

Encarei o edifício à nossa frente, sem saber o que pensar. Estávamos no pátio de um orfanato que fica nos arredores da cidade. Virei-me para Kentin com uma expressão confusa, tentando que revelasse alguma coisa. O rapaz juntou as nossas mãos e, tal como nas outras vezes em que tentei obter alguma informação, ignorou-me. Começou a puxar-nos para a porta de entrada, fazendo-nos subir os degraus.

Assim que entramos, uma senhora veio ter connosco sorrindo.

— Kentin, ainda bem que pode vir! — Cumprimentou-o.

— Não perderia isto por nada, Luísa — respondeu. A mulher virou a sua atenção para mim, ainda com o sorriso nos lábios.

— É um prazer conhece-la pessoalmente, Annelise. Aquilo que fez na casa da música foi surpreendente. — Ok, acho que estou um pouco perdida aqui.

— A senhora estava lá? — Uma expressão de divertimento surgiu no seu rosto. Acho que ela está a adorar o facto de eu não estar a perceber nada.

— Vejo que o Kentin tem muito para lhe contar. — Voltou-se para ele. — Daqui a cinco minutos começa a entrega. Até já. — E deu costas, indo para uma sala ao fundo do corredor. Afastei-me dele, colocando-me a sua frente.

— Será que te importas de me explicar o que se passa? — Ele coçou a parte de trás do pescoço.

— Não sei bem por onde começar. — Revirei os olhos.

— Talvez pela mulherzinha que sabia da minha existência, mas eu não sabia de dela? — Ele suspirou e concordou.

— Aquela era a Luísa Bessa, coordenadora da casa da música. Foi com ela que tratei de tudo para poderes tocar na sala principal. E bem... Nos estamos aqui...— Desviou o olhar. — Estamos aqui porque eu meio que tive de pagar para que tu pudesses lá tocar e Luísa decidiu que o dinheiro devia ser utilizado para dar instrumentos a crianças. E hoje é o dia em que eles os vão entregar. — Senti o meu peito aquecer-se e logo um sorriso surgiu nos meus lábios. Entrelacei os meus dedos nos seus.

— Isso é muito querido, Kentin. A sério. — Deixei a minha cabeça ir contra o seu peito sem largar as suas mãos. — Obrigada — murmurei. Ele beijou o meu cabelo e pousou a sua cabeça na minha.

— Qualquer coisa por ti, Annie — sussurrou. Deixamo-nos ficar encostados durante algum tempo sem silêncio, saboreando o conforto um do outro. — Acho que devíamos ir. Estou a ficar demasiado ansioso para ver a reacção dos miúdos. — afastei-me de si, largando uma das suas mãos e comecei a andar até à sala onde Luísa tinha entrado, trazendo Kentin comigo.

«»

Observei a menina tocar notas ao calhas no piano com um sorriso nos lábios, sentindo-me invadida por memórias da primeira vez que o meu avô me colocou ao piano. Comecei a tocar por sua causa, porque queria maravilha-lo como ele o fazia a mim sempre que tocava. Esses dias foram os meus preferidos na Inglaterra. Quando a minha mãe não se preocupava tanto com o meu futuro e o meu avô ainda tinha agilidade nos dedos para o piano. Não que ele agora não tenha, mas já não é como antes.

Movida pela nostalgia, aproximei-me do instrumento e da criança.

— Posso? — perguntei, apontando para o lado desocupado do banco. A pequena assentiu timidamente, chegando-se um pouco para a outra ponta. — Sou a Annelise, e tu? — Encarei a sua iris castanha.

— Raquel... — murmurou.

— Bem, Raquel, já alguma vez tinhas tocado piano? — Abanou negativamente a cabeça.

— Tu sabes tocar piano? — Os seus olhos começaram a brilhar, principalmente após eu ter anuído. — A... A minha mãe também sabia. Ela tocava todas as noites, antes de ir dormir. Eu tenho saudades de a ouvir tocar. Ela era a melhor pianista do mundo! — Sorriu.

— Tenho a certeza que era. — Correspondi ao sorriso, embora tenha ficado um pouco triste. — Quantos anos tens, pequena?

— Tenho sete. — Fez uma pausa e virou a sua atenção para o piano. — Podes... Podes tocar alguma coisa, Lise? — inquiriu num tom de voz baixo. Era a primeira vez que alguém me tratava pela segunda parte do nome.

— Claro. Tens alguma música de que gostes muito? Pode ser que eu saiba como tocar. — A menina ficou com um ar pensativo, negando depois com a cabeça. — Então, vou tocar uma que o meu avô tocava para mim, está bem? — Raquel voltou a sorrir, desta vez de orelha a orelha. — E que tal se me ajudares? Sempre que eu fizer sinal com a cabeça, tu tocas esta nota aqui. — Apontei. Ela assentiu e pôs o dedo em posição. — Pronta?

— Sim!

[música]

— "You got a fast car, I want a ticket to anywhere." — comecei, baixinho. Fazendo-lhe sinal sempre que era preciso. — "Maybe we make a deal. Maybe together we can get somewhere. Anyplace is better, starting from zero got nothing to lose. Maybe we'll make something. Me, myself, I got nothing to prove." Canta comigo, "You got a fast car..." — Sorri. Senti pequenas lágrimas virem-me aos olhos, mas prendias, não querendo chorar a beira da criança. — "...and I got a plan to get us out of here. I've been working at the convenience store, managed to save just a little bit of Money. We won't have to drive too far, just 'cross the border and into the city. You and I can both get jobs and finally see what it means to be living". 

A sala começou a ficar silenciosa, fazendo com que a minha voz se ouvisse. Raquel já sabia quando tocar a sua nota, sem que lhe indicasse, por isso, ergui o olhar do piano, constatando que os miúdos estavam todos sentados à volta do piano, olhando para mim e para a pequena. 

— "You see my old man's got a problem. He live with the bottle that's the way it is. He says his body's too old for working. I say his body's too young to look like his. My mama went off and left him. She wanted more from life than he could give. I said somebody's got to take care of him. So I quit school and that's what I did". Canta outra vez. "You got a fast car..." — Porém, Raquel não fora a única a cantar a frase, mas sim uma grande parte dos miúdos —"...is it fast enough so we can fly away? We gotta make a decision. We leave tonight or live and die this way". 

 Procurei o Kentin pela sala, encontrando-o encostado a parede, com um sorriso enorme da cara, murmurando também a letra. 

— "I remember we were driving, driving in your car. The speed so fast I felt like I was drunk. City lights lay out before us and your arms felt nice wrapped 'round my shoulder. And I had a feeling that I belonged. And I had a feeling I could be someone, be someone". — As empregadas do orfanato juntaram-se ao lado do Kentin. — Vamos cantar mais uma vez a frase. "You got a fast car...."— A esta altura, já não havia maneira de impedir as lágrimas. Não quando os olhos das crianças brilhavam e os seus sorrisos não paravam de crescer. — "...I got a job that pays all our bills. You stay out drinking late at the bar, see more of your friends than you do of your kids. I'd always hoped for better. Thought maybe together you and me find it. I got no plans I ain't going nowhere, so take your fast car and keep on driving". — Respirei fundo, preparando para finalizar a música. 

"So remember when we were driving, driving in your car, speed so fast I felt like I was drunk. City lights lay out before us and your arm felt nice wrapped 'round my shoulder. And I had a feeling that I belonged. I had a feeling I could be someone, be someone. You got a fast car, is it fast enough so you can fly away? You gotta make a decision, leave tonight or live and die this way." — Assim que toquei a última nota, levei as mãos à cara, limpando as lágrimas. Ergui o olhar assim que ouvi palmas e sorri. Raquel abraçou-me de forma repentina, fazendo-me quase cair para trás. Abracei-a de volta.

— Obrigada Lise! — gritou assim que se afastou. Correu para a beira dos seus amigos, deixando-me sozinha ao piano. Aos poucos, as crianças voltaram-se a entreter com os instrumentos, dando-me tempo para me recompor.

Senti alguém atrás de mim e não precisei de me virar para saber que era o Kentin. Logo ele pôs as mãos no meu cabelo, começando a entrança-lo. Inclinei-me um pouco para poder olha-lo. Ele sorriu-me e fez-me um pequeno aceno para que me levantasse. Mal o fiz, os seus braços envolveram-me, encostando-me a si.

— Foi lindo, Annie — sussurrou. Beijou o topo da minha cabeça. Senti as lágrimas voltarem, mas desta vez, deixei que saíssem livremente. Estava segura nos seus braços.

— Obrigada... — disse com a voz abafada.

— Queres falar sobre o que te deixou assim, моя любовь (meu amor)? — começou a afagar as minhas costas.

— Não é nada de especial... É só que foi por isto que eu tive vontade de aprender a tocar. Para deixar os outros felizes, assim como o meu avô me deixava a mim... — murmurei.

— Deixa-me dizer-te que conseguiste cumprir o teu objetivo, ervilha. — Afastei-me um pouco, encarando a sua iris verde.

— Já há muito que não me chamavas isso. — Sorri.

— Pensava que não gostavas de alcunhas relacionadas com a tua altura. — Ergueu uma sobrancelha.

— Onde foste buscar isso? Não me lembro de alguma vez ter reclamado. — Ele ia contestar, mas não deixei, continuando o meu discurso: — Além disso, eu gosto quando me chamas pequena em russo. — Os seus olhos abriram um pouco mais, surpreso.

— Como é qu-

— Perguntei à Camila — interrompi. — Passei uma boa meia hora a tentar fazer o som que tu fazes ao pronunciar as palavras, mas ela lá conseguiu perceber. Não és o único que tem as suas fontes... — Pisquei o olho. Ele abanou a cabeça, sorrindo e baixando-se, para poder beijar-me a ponta do nariz.

— Se calhar era melhor irmos, está a ficar tarde... — falou, encostando as nossas testas. Anuí.

Afastamo-nos e fomos ter com Luísa, para lhe dizermos que já íamos. Após um grande discurso de agradecimento e dois abraços demorados da sua parte, os miúdos vieram despedir-se, abraçando-nos também, mas desta vez, num grande abraço de grupo.

Quando estava preparada para sair do edifício, senti um puxão na camisola. Virei-me, deparando-me com Raquel. Abaixei-me para ficar à sua altura.

— Vocês vão voltar, certo? — Abri um sorriso, para a tranquilizar.

— Claro que sim. Prometo que sempre que puder te venho ensinar a tocar piano. Está bem? — A menina, que antes possuía uma expressão triste, abriu um sorriso de orelha a orelha e abraçou-me. Deixei-me ficar nos seus braços durante algum tempo, sabendo que eram estes pequenos momentos que faziam os seus dias melhores. Quando senti o seu corpo recuar, afastei-me também. — Vá, até à próxima, Raquel. — disse. Raquel despediu-se com um aceno.

Assim que cheguei ao exterior, dei com o Kentin encostado a uma coluna, a olhar para a chuva. Aproximei-me e juntei as nossas mãos, entrelaçando os nossos dedos.

— Quem diria que choveria assim em Agosto? — Encostei a minha cabeça ao seu braço. Ele encolheu os ombros e beijou a minha cabeça. — Jantas lá em casa? — inquiri num tom baixo. Ergui a minha cabeça e encarei-o. Kentin baixou o olhar, fixando-o em mim.

— Não sei. Queres que jante? — Assenti. — Então sim. — Sorriu, fazendo-me sorrir também. — Vamos?

«»

Assim que desligou o motor, Kentin encostou-se ao banco e virou a cara na minha direção.

— E agora? Esperamos que acalme? — Desviei a atenção para a janela, observando a chuva que caía de forma mais intensa a cada minuto. Encolhi os ombros. Senti a sua mão por cima da minha e virei a cabeça na sua direção. A sua cara aproximou-se da minha. Fixei o olhar na sua iris verde, tentando controlar a vontade de olhar para os seus lábios. Com a sua outra mão, acariciou a minha bochecha esquerda. Aproximou o seu nariz do meu, fazendo pequenas caricias com o mesmo. Vi os seus olhos fecharem-se lentamente e senti os seus lábios tocarem suavemente nos meus.

Porém, afastei-me e soltei uma gargalhada. Desapertei o cinto e sai do carro, começando a correr pela chuva. Ouvi a outra porta do carro bater e soube que Kentin vinha atrás de mim. Corri em direção às traseiras da minha casa, tendo em atenção ao chão para não cair. Quando estava quase a contornar a esquina que daria ao jardim, dois braços rodearam-me e puxaram-me para trás, fazendo-me rir. Senti a sua respiração no meu ouvido.

— Achavas mesmo que podias escapar impune, Annie? — sussurrou. Tentei libertar-me, no entanto, só resultou no aumento de pressão por parte das suas mãos. Senti-o beijar o meu lóbulo da orelha, arrepiando-me a pele.

Rodei o meu corpo, ficando de frente para si. Elevei as minhas mãos até aos seus ombros, rodando-lhe o pescoço.

— E o que me vais fazer, Ken? — perguntei, baixinho. Fez um sorriso de canto.

— Eu sei o que tu queres Anne, mas está a chover demasiado para brincarmos na chuva. — Deu-me um selinho e largou a minha cintura, agarrando uma das minhas mãos. Começou a puxar-me para entrada.

Desiludida com a sua atitude, soltei a sua mão da minha e andei o mais rápido que pude até as escadas. Eu só queria uma sessão de beijos na chuva.

— Agora estás com pressa, Anne? — Virei-me na sua direção, mas quase caí ao dar com ele tão perto de mim. As suas mãos voltaram à minha cintura. Encarou-me e suspirou. És impossível. — Juntou os nossos corpos e antes que me pudesse aperceber, os seus lábios cobriam os meus. Levei as minhas ao colarinho da sua camisa branca, puxando-o mais para mim. O calor do seu corpo era ainda mais atraente com a chuva gelada a cair-nos em cima, fazendo-me querer que ele se aproximasse até não haver nenhuma parte de mim afastada dele. Senti-o erguer um pouco a minha camisola e arrepiei-me ainda mais ao sentir os seus dedos frios nas minhas costas.

O problema de beijar o Kentin é nunca querer parar de o fazer, mesmo quando sei que tenho de o fazer para respirar. Porque beija-lo e respirar, parece não combinar, aliás, beija-lo não combina com nada. Enquanto os seus lábios estão nos meus, a única coisa que eu consigo fazer é beija-lo de volta e sentir o meu coração bater tão rápido como se tivesse levado uma dose de adrenalina.

Infelizmente, não tardou a que o Kentin diminuísse a intensidade do beijo e começasse a dar-me pequenos selinhos.

— Eu acho mesmo que devíamos entrar — disse, quando se afastou de mim. Senti o meu lábio começar a tremer. Ele notou, pegando na minha mão e puxando-me para dentro.

Assim que chegamos ao segundo andar, conduzi-o para um quarto de hóspedes para que ele pudesse tomar banho. Voltei ao meu quarto e procurei por roupa sua que tivesse pegado emprestado, levando-a para lá, mal a achei. Regressei novamente ao meu quarto, fechando a porta atrás de mim e dirigi-me ao quarto de banho para também puder tomar um duche.

Quando finalizei e saí da divisão, encontrei Kentin sentado na minha cama, com o computador à sua frente.

— Que estás a fazer? — inquiri, enquanto ia buscar um pacote de lenços de papel à gaveta da mesinha de cabeceira.

— Achei que podíamos ver um filme e fazer cuddle. — Piscou-me o olho. Revirei os olhos e sorri. Aproximei-me de si, sentando-me ao seu lado. Ele afastou o computador, dando espaço para que ambos conseguíssemos ver. Peguei no meu telemóvel, que estava pousado na mesinha ao lado da cama e abri a câmera.

— Podemos tirar uma selfie? — ele soltou um pequeno riso nasal e puxou-me para si, passando um braço à volta da minha cintura. Encostei a minha bochecha à dele e abri um sorriso. Após tirar a foto, editei-a e coloquei-a no instagram. — Agora, vamos lá ao filme.

Sabia que as coisas com a Camila tinham ficado mal resolvidas e que talvez a nossa amizade nunca mais fosse a mesma. Porém, não me sentia mal. Sentia-me em paz, em paz comigo mesma e com o mundo. E não há nada neste momento que me possa tirar isso. Não enquanto os braços do Kentin estivessem à minha volta e o sorriso daquelas crianças vagueassem pela minha mente. 

 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Anjos, eu preciso de vos falar do motivo que me levou a demorar tanto a postar o capítulo. Com o início do novo ano, comecei a estudar para o exame que vou ter em Junho e que preciso para entrar na universidade. Eu nunca fui de estudar durante muitas horas seguidas, mas, uma vez que eu nunca tive esta disciplina e estou a aprende-la por mim, tenho estudado praticamente o dia todo, e quando não estou a estudar, estou a trabalhar. Por isso, desculpem se os capítulos vão demorar mais a sair, mas eu quero mesmo ir para universidade e não vou conseguir se não me empenhar a 100% nos estudos.
Não irei abandonar a fic, isso nunca, mas não posso prometer atualizações certas. Espero que compreendam.
Beijinhos e até ao comentários, abacates ^^