The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 85
Capítulo 85 - Arrependida


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Tudo bem com vocês?
Vou pedir um favor na cara dura, mas é pelo bem da fic hehe.
Se puderem, poderiam listar as mudanças que notaram na personalidade de Selene?
Vai ajudar muito no andamento da fic!
beijos e espero que gostem ♥



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Enquanto enrolava pra me levantar da cama sentindo o travesseiro fofo sob minha bochecha, me perguntei se eu tinha mudado.

Se meus ideais ou minha visão sobre o mundo mudaram desde que aceitei o meu “lado demoníaco”, mas nada encontrei.

Eu tinha me tornado uma garota mais sensível.

Talvez sensível fosse uma palavra sutil pra realidade: sentimentalista.

Ficava constantemente remoendo os acontecimentos do dia e estava sendo facilmente influenciada por eles.

Se eu já era antes, estava ficando cada vez pior.

Porém eu tinha breves surtos de maldade e isso afagava meu ego de demônio.

Podia apostar que se estivesse lendo um livro cuja personagem fosse tão piegas quanto eu me tornara, ficaria irritada e deixaria de lê-lo.

Me sentia uma humana adolescente desiludida, embora soubesse que eu não era uma.

Essa era outra mudança em mim: eu não mais me esquecia da diferença entre mim e meus colegas de classe.

Ou dos meus vizinhos.

Ou qualquer outro humano que passasse à minha frente.

Depois de ter me fundido à Selene-demônio eu tinha total consciência de que estava ali sendo eu mesma ao máximo que pudesse, mas limitada a costumes humanos.

Sabia que meu pai, aquele que lavava louças e desviava dos olhares maliciosos das vizinhas, era o Rei dos Demônios e tinha um reino aguardando seu retorno às trevas.

Por outro lado, nunca me senti superior.

Isso me aliviava, já que a Selene de antigamente odiaria ser esnobe.

Passou pela minha cabeça que naquele momento, eu como uma completa elfa-demoníaca me sentia mais humana do que nunca.

Meus sentimentos afloravam com facilidade.

Minha vida se tornara um drama digno de seriado de TV.

Daqueles que fazem o telespectador chorar de dó da protagonista.

Ou dar tapas na própria testa diante de sua estupidez.

“Eu não mudei tanto assim então”, pensei e revirei os olhos.

Estava fazendo muito caso de coisas que eu não podia mudar.

Já estava feito.

Me levantei da cama e fiz minha higiene, descendo as escadas pra encontrar a cozinha vazia.

Franzi o cenho.

Isso não era nem um pouco comum.

Papai estava sempre lá, mantendo o cômodo aquecido pela fumaça da chaleira ou com o forno ligado.

Meus olhos encontraram um pequeno pedaço de papel preso à geladeira e fui até ele.

Tive um imprevisto e saí pra cuidar disso. Deixei 50 dólares em cima do microondas e peço desculpas, filhota. Boa aula”.

Semicerrei os olhos e me perguntei em que mundo meu pai achava que eu precisaria de 50 dólares.

Fui até o microondas e enfiei as notas ali deixadas em um bolso qualquer da mochila.

As chaves estavam ali também.

Não chovia e nem nevava, mas o clima estava abafado e a luz do sol passava por frestas de nuvens ameaçadoras, então não quis arriscar.

Liguei a laranja berrante e o ronco suave do motor me distraiu por alguns minutos dos pensamentos que tive logo ao acordar.

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Michele estava sentada no lugar de Daniel.

Me dirigi até o meu, indecisa entre deduzir que isso fosse algo bom ou não.

— Devo ficar desconfiada? - murmurei enquanto tirava meu caderno e estojo da mochila.

Michele me olhou com desdém.

— Seu pai saiu da cidade, é natural que eu me aproxime pra te proteger - ela disse a contragosto.

Uni as sobrancelhas, ligando os pontos.

Fazia o mínimo de sentido, considerando que Michele estava teoricamente servindo a mim.

Não achei que ela fosse realmente cumprir o pacto, mas o que ela poderia fazer caso algo acontecesse?

E acima de tudo: o que poderia acontecer?

Bufei.

— Você não é minha escudeira e nada vai acontecer na escola - revirei os olhos.

A loira apenas se encarou num espelho pequeno e retocou seu maldito gloss labial.

Torci o nariz e encarei a porta.

Daniel adentrou a mesma rapidamente.

Ou talvez eu não estivesse esperando que ele viesse.

Ou estava?

Sua sombra se projetou sobre mim e me retraí involuntariamente.

Mas ele direcionava seu olhar à Michele.

— Você poderia, por favor, sair do meu lugar? - perguntou o dragão, tentando ser paciente.

A demônio-mirim franziu o cenho e negou com um aceno de cabeça, voltando a dar atenção à própria aparência no espelho minúsculo.

Ouvi algo ser estilhaçado e Michele, irritada, depositou o espelho rachado sobre a mesa.

— Estou apenas cumprindo meu dever, se quer me atrapalhar vá em frente - sibilou a loira.

Não parecia que ela estivesse irritada com isso de fato, e sim com o espelho quebrado através da magia de Daniel.

Revirei os olhos.

— Tudo bem - Daniel sorriu malignamente - eu só estava sendo educado.

Suas grandes mãos se fecharam no braço de Michele e os olhos arregalados da garota buscaram os meus.

Sabia que quanto à força bruta, ninguém que eu conhecia venceria Daniel.

Nem mesmo Seth.

E a loira não esperava pelo aperto repentino.

Fuzilei o dragão com o olhar e ele ficou estático.

— Solte-a - sibilei.

— Selene, não crie cena - ele franziu o cenho, recuperando a postura.

— Não pode falar com ela como se fosse melhor - semicerrei os olhos - ela está comigo e se fizer pouco caso de Michele, estará fazendo de mim também.

Daniel pareceu pensar por um momento.

Soltou o braço de Michele e estendeu as mãos para o alto, em gesto de rendimento.

— Às vezes você realmente age como uma princesa, defendendo seu povo - ele zombou e fez uma reverência.

Um frio percorreu minha barriga e eu sabia que meus olhos estavam arregalados.

Pude ver meu rosto empalidecer através dos olhos dourados de Daniel, que me encaravam.

O dragão lançou um ultimo olhar de zombaria e saiu da sala.

Algumas garotas nos encaravam de soslaio, tentando entender o ocorrido.

Provavelmente inventariam histórias a favor de Daniel, já que sua popularidade crescia ao passo que sua humanidade se esvaía.

Senti meu rosto esquentar e baixei o olhar.

— Não há nada de errado no que ele disse, exceto pelo desdém - Michele deu de ombros - você é uma princesa e um dia terá de encarar isso. De todas as formas.

Encarei a loira que juntava os pequenos pedaços de seu pequeno espelho e os juntava, numa tentativa fracassada de torná-lo novo.

Ela emburrou, fitando os cacos e vi uma pequena veia saltar em sua testa.

Toquei seu ombro.

— Já foi - eu disse quando a mesma me encarou - certas coisas não podem ser consertadas com magia.

Michele acalmou o olhar, parecendo compreender.

E achei bem deprimente o fato de que a garota que outrora eu odiei fosse quem mais me entendesse no momento.

Eu não podia consertar minha vida amorosa ou qualquer coisa que eu estivesse perdendo aos poucos.

Era a primeira vez que admitia isso a mim mesma: queria meu antigo “eu” de volta.

 


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