The Forest City escrita por Senjougaha
Notas iniciais do capítulo
Oi gente! Tudo bem com vocês?
Vou pedir um favor na cara dura, mas é pelo bem da fic hehe.
Se puderem, poderiam listar as mudanças que notaram na personalidade de Selene?
Vai ajudar muito no andamento da fic!
beijos e espero que gostem ♥
Enquanto enrolava pra me levantar da cama sentindo o travesseiro fofo sob minha bochecha, me perguntei se eu tinha mudado.
Se meus ideais ou minha visão sobre o mundo mudaram desde que aceitei o meu “lado demoníaco”, mas nada encontrei.
Eu tinha me tornado uma garota mais sensível.
Talvez sensível fosse uma palavra sutil pra realidade: sentimentalista.
Ficava constantemente remoendo os acontecimentos do dia e estava sendo facilmente influenciada por eles.
Se eu já era antes, estava ficando cada vez pior.
Porém eu tinha breves surtos de maldade e isso afagava meu ego de demônio.
Podia apostar que se estivesse lendo um livro cuja personagem fosse tão piegas quanto eu me tornara, ficaria irritada e deixaria de lê-lo.
Me sentia uma humana adolescente desiludida, embora soubesse que eu não era uma.
Essa era outra mudança em mim: eu não mais me esquecia da diferença entre mim e meus colegas de classe.
Ou dos meus vizinhos.
Ou qualquer outro humano que passasse à minha frente.
Depois de ter me fundido à Selene-demônio eu tinha total consciência de que estava ali sendo eu mesma ao máximo que pudesse, mas limitada a costumes humanos.
Sabia que meu pai, aquele que lavava louças e desviava dos olhares maliciosos das vizinhas, era o Rei dos Demônios e tinha um reino aguardando seu retorno às trevas.
Por outro lado, nunca me senti superior.
Isso me aliviava, já que a Selene de antigamente odiaria ser esnobe.
Passou pela minha cabeça que naquele momento, eu como uma completa elfa-demoníaca me sentia mais humana do que nunca.
Meus sentimentos afloravam com facilidade.
Minha vida se tornara um drama digno de seriado de TV.
Daqueles que fazem o telespectador chorar de dó da protagonista.
Ou dar tapas na própria testa diante de sua estupidez.
“Eu não mudei tanto assim então”, pensei e revirei os olhos.
Estava fazendo muito caso de coisas que eu não podia mudar.
Já estava feito.
Me levantei da cama e fiz minha higiene, descendo as escadas pra encontrar a cozinha vazia.
Franzi o cenho.
Isso não era nem um pouco comum.
Papai estava sempre lá, mantendo o cômodo aquecido pela fumaça da chaleira ou com o forno ligado.
Meus olhos encontraram um pequeno pedaço de papel preso à geladeira e fui até ele.
“Tive um imprevisto e saí pra cuidar disso. Deixei 50 dólares em cima do microondas e peço desculpas, filhota. Boa aula”.
Semicerrei os olhos e me perguntei em que mundo meu pai achava que eu precisaria de 50 dólares.
Fui até o microondas e enfiei as notas ali deixadas em um bolso qualquer da mochila.
As chaves estavam ali também.
Não chovia e nem nevava, mas o clima estava abafado e a luz do sol passava por frestas de nuvens ameaçadoras, então não quis arriscar.
Liguei a laranja berrante e o ronco suave do motor me distraiu por alguns minutos dos pensamentos que tive logo ao acordar.
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Michele estava sentada no lugar de Daniel.
Me dirigi até o meu, indecisa entre deduzir que isso fosse algo bom ou não.
— Devo ficar desconfiada? - murmurei enquanto tirava meu caderno e estojo da mochila.
Michele me olhou com desdém.
— Seu pai saiu da cidade, é natural que eu me aproxime pra te proteger - ela disse a contragosto.
Uni as sobrancelhas, ligando os pontos.
Fazia o mínimo de sentido, considerando que Michele estava teoricamente servindo a mim.
Não achei que ela fosse realmente cumprir o pacto, mas o que ela poderia fazer caso algo acontecesse?
E acima de tudo: o que poderia acontecer?
Bufei.
— Você não é minha escudeira e nada vai acontecer na escola - revirei os olhos.
A loira apenas se encarou num espelho pequeno e retocou seu maldito gloss labial.
Torci o nariz e encarei a porta.
Daniel adentrou a mesma rapidamente.
Ou talvez eu não estivesse esperando que ele viesse.
Ou estava?
Sua sombra se projetou sobre mim e me retraí involuntariamente.
Mas ele direcionava seu olhar à Michele.
— Você poderia, por favor, sair do meu lugar? - perguntou o dragão, tentando ser paciente.
A demônio-mirim franziu o cenho e negou com um aceno de cabeça, voltando a dar atenção à própria aparência no espelho minúsculo.
Ouvi algo ser estilhaçado e Michele, irritada, depositou o espelho rachado sobre a mesa.
— Estou apenas cumprindo meu dever, se quer me atrapalhar vá em frente - sibilou a loira.
Não parecia que ela estivesse irritada com isso de fato, e sim com o espelho quebrado através da magia de Daniel.
Revirei os olhos.
— Tudo bem - Daniel sorriu malignamente - eu só estava sendo educado.
Suas grandes mãos se fecharam no braço de Michele e os olhos arregalados da garota buscaram os meus.
Sabia que quanto à força bruta, ninguém que eu conhecia venceria Daniel.
Nem mesmo Seth.
E a loira não esperava pelo aperto repentino.
Fuzilei o dragão com o olhar e ele ficou estático.
— Solte-a - sibilei.
— Selene, não crie cena - ele franziu o cenho, recuperando a postura.
— Não pode falar com ela como se fosse melhor - semicerrei os olhos - ela está comigo e se fizer pouco caso de Michele, estará fazendo de mim também.
Daniel pareceu pensar por um momento.
Soltou o braço de Michele e estendeu as mãos para o alto, em gesto de rendimento.
— Às vezes você realmente age como uma princesa, defendendo seu povo - ele zombou e fez uma reverência.
Um frio percorreu minha barriga e eu sabia que meus olhos estavam arregalados.
Pude ver meu rosto empalidecer através dos olhos dourados de Daniel, que me encaravam.
O dragão lançou um ultimo olhar de zombaria e saiu da sala.
Algumas garotas nos encaravam de soslaio, tentando entender o ocorrido.
Provavelmente inventariam histórias a favor de Daniel, já que sua popularidade crescia ao passo que sua humanidade se esvaía.
Senti meu rosto esquentar e baixei o olhar.
— Não há nada de errado no que ele disse, exceto pelo desdém - Michele deu de ombros - você é uma princesa e um dia terá de encarar isso. De todas as formas.
Encarei a loira que juntava os pequenos pedaços de seu pequeno espelho e os juntava, numa tentativa fracassada de torná-lo novo.
Ela emburrou, fitando os cacos e vi uma pequena veia saltar em sua testa.
Toquei seu ombro.
— Já foi - eu disse quando a mesma me encarou - certas coisas não podem ser consertadas com magia.
Michele acalmou o olhar, parecendo compreender.
E achei bem deprimente o fato de que a garota que outrora eu odiei fosse quem mais me entendesse no momento.
Eu não podia consertar minha vida amorosa ou qualquer coisa que eu estivesse perdendo aos poucos.
Era a primeira vez que admitia isso a mim mesma: queria meu antigo “eu” de volta.
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