The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 5
Capítulo 5 - Duplicada


Notas iniciais do capítulo

Como autora, meus agradecimentos à Giuly pelo comentário, me deixou muito feliz!



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Mais uma vez, voltei pra casa pela floresta. Já estava escuro e o vento estava forte, mas apreciei isso. Desde o farfalhar das folhas nas árvores até o som dos animais diurnos voltando para suas tocas. Esfreguei meus braços tremulando de frio e me lembrando de que em breve teríamos inverno. Minha estação favorita.
– Pai, cheguei... - anunciei ao chegar em casa.
A porta se fechou sozinha atrás de mim e bem na minha sala estava a pessoa que eu menos gostaria ou esperaria ver naquele momento. Na verdade, em momento nenhum.
Aqueles olhos friamente bicolores - um azul, outro verde - se viraram para mim e de repente se iluminaram, mas logo ela se recuperou e voltaram a ser opacos.
– Já faz um tempo, Selene... - disse ela vindo em minha direção.
Me desviei do que parecia ser uma tentativa de abraço. Ela não devia fazer aquilo muitas vezes. Me lembrei de que eu também não.
– Quem é você? - perguntei em tom de tédio e me dirigi às escadas.
Subi para o meu quarto ignorando as reclamações e reprovações daquela mulher que se titulava minha mãe. Ninguém jamais sabia o que se passava na cabeça dela. Ninguém sabia o porquê de ela só visitar a cidade sem regularidade alguma, mas de anos em anos. Já faziam seis desde a ultima visita e meu pai não falava uma palavra a respeito disso. A única opinião que ele tinha a respeito dela era "Sua mãe é desprezível. É só o que você precisa saber, querida", e ele sorria. Como se aquilo não fosse nada, e acabou se tornando um nada para mim também. Eu não sabia o que era ter uma mãe e não tinha a curiosidade de saber. Tinha um pai maravilhoso que definitivamente poderia arranjar uma mãe pra mim se quisese. Mas sempre foi assim e nós amamos: só ele e eu.
Tomei um banho e tentei relaxar, ainda que fosse impossível. Quando Aquela Mulher estava na cidade, eu sempre tinha a impressão de que ela estava me olhando e planejando algo. Bufei e direcionei meus pensamentos às provas semestrais, antes que me lembrasse de algo desnecessário. Antes que pensasse demais em relação Àquela Mulher desagradável que aparecia para infernizar a cidade toda.
Não que eu tenha passado por algum acontecimento traumatizante pra detestar minha própria mãe, tampouco tive meu coração quebrado ou ela traiu meu pai. Eu não a odiava, apenas era indiferente à ela.
Sai do banho, vesti meu pijama e desci para o jantar.
– Isso é roupa de se usar na mesa? - perguntou minha mãe com desprezo e desaprovação.
– Você está na minha casa, não enche. - respondi pegando meu prato e indo comer no sofá, bem diante da tv.
Mas havia uma garota estranha lá. Assustadoramente parecida comigo, e eu diria que ela era eu se não fosse a pele bronzeada e os cabelos negros como a noite. Ela virou para me olhar e seus olhos eram iguais aos meus: o esquerdo azul cobalto, o direito negro. Me lembrei vagamente de uma foto onde essa mesma garota aparecia, porém mais nova. Era minha irmã gêmea não-idêntica. Será que era tipo uma maldição de família?
– Ah, oi. - ela disse e voltou a prestar atenção na matéria sobre a influência dos jogos nos adolescentes.
– Oi. - respondi e comecei a comer.
Era a primeira vez que nos víamos. E aquela foi a conversa mais breve, calma e bacana que tive com alguém. Pensei que estava tudo bem ela ser minha irmã.
Prestei atenção na matéria. Não porque eu gostasse desse tipo de canal de tv, mas porque me lembrei de que já fora uma viciada em games certa vez. Senti súbita vontade de voltar a jogar, mas tirei a ideia da cabeça antes que a colocasse em prática.
– ... você a mimou demais! - ouvi vindo da cozinha.
Me aproximei mais da porta, o suficiente para ouvir melhor sem ser vista.
– E você não está em posição de dar opinião alguma sobre como criei Selene. - rebateu meu pai rangendo os dentes.
– Um dia ela terá de vir comigo e nada dessa criação vai ter valido a pena, tudo uma perca de tempo - ela disse e era de se imaginar a cara de desprezo dela, aliás, ela devia estar até abanando as mãos.
Entrei na cozinha e peguei um copo de água. Olhei para o teto e assoprei a franja.
– Seja lá o que você quer dizer com isso Adalind, eu jamais sairia dessa casa para ir a algum lugar com você - disse eu calma ainda olhando para o teto - além disso, não te considero minha mãe.
Me virei para ver se ela ouvia. Ela estava séria e parecia absorver a informação.
– Então, não se preocupe com que tipo de criação estou tendo e volte pro inferno de onde você veio. - completei e coloquei o copo na pia com força, voltando ao meu quarto.
Pude ver a cara surpresa do meu pai antes de sair da cozinha. Só não pude saber se era uma surpresa boa ou ruim. Me dei conta de que nunca havia agido daquela maneira na frente dele. Nunca tive um motivo.
– Ei. - disse uma voz me fazendo pular.
Era minha irmã. Qual era o nome dela mesmo? Franzi o cenho tentando lembrar.
– Solara - disse ela como se adivinhasse o que eu estava pensando - meu nome é Solara.
Ela estava sentada na minha cama e parecia analisar cada detalhe do meu quarto.
– Você tem mesmo olhos iguais ao meu - disse ela parecendo sem jeito.
– Somos irmãs gêmeas, mesmo que não-idênticas seria uma surpresa sermos diferentes demais. - respondi dando de ombros e me jogando no pequeno sofá do meu quarto.
Ela assentiu e deitou na minha cama.
– Não fique achando que porque finalmente nos conhecemos irei agir como sua adorável irmã mais nova - adverti e ela assentiu novamente.
Viramos de costas uma para a outra e suspiramos. Parecia que nossas respirações estavam em sincronia e eu quase ri por pensar numa bobagem dessas. Fechei os olhos. Foi assim que caímos no sono.


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