Darcy não devia ter ficado chocada quando Clint veio falar com ela dois dias depois do casamento. Mas, lerda como era, ficou mesmo assim.

–Então... Você e o Phil, hein?

Ela estivera assinando um papel e quando Clint soltou essa a mão dela escapou e acabou fazendo um risco gigante na página. Okay...

–Eu... Oi? Não sei do que você está falando. –falou por fim.

Clint lançou um olhar significativo ao papel que ela acabara de assassinar e então arqueou a sobrancelha. Darcy amassou a prova do crime e jogou na lixeira.

–Não é nada disso. –ela falou virando a cadeira para não ter que encara-lo.

–Olha, parecia ser exatamente isso quando vocês estavam dançando de testa colada no casamento, dois dias atrás. –Clint provocou.

Darcy levantou num pulo.

–Clint, para. –ela pediu –Não é nada disso, vocês estão errados!

E, exatamente como Barnes, Clint percebeu que algo estava errado.

–Darcy, eu estava brincando. –ele falou, remorso no seu tom –O que está acontecendo?

–Eu preciso da sua ajuda e da Nat. –ela falou –Treino com armas e combate básico.

–Pra que? –Clint perguntou confuso.

–Eu vou ser secretária da Hill. Eu pedi transferência.

–Darcy...

–Clint, por favor. –ela suspirou –Eu não quero falar disso. Eu levei meses pra contar pra Jane...

–Meses? –ele estava chocado –Você tem escondido há meses que vocês estão juntos?

Agora era Darcy que estava chocada.

–Clint, nós não estamos juntos! Ta louco?

Agora sim, Clint parecia absurdamente confuso.

–Então o que você está escondendo? –ele quis saber.

–Que eu to apaixonada por ele! –ela bufou.

–Espera ai. Quer dizer que vocês não estão juntos, que ele não sabe o que você sente?

–E vai continuar desse jeito. –ela avisou.

–Mas, Darcy...

–Não!

–Mas...

–Não!

–Darcy...

–NÃO!

Clint bufou.

–Ta bom.

–Ótimo. Você vai me ajudar ou não? –ela quis sabere.

–Claro que sim. –ele suspirou –O Phil ja sabe que você vai ser transferida?

–Hum...

–Darcy! Você não contou? –Clint estava passado.

–Ainda não. Mas eu vou. –os ombros dela caíram –Ou a Hill não oficializa minha transferência.

–Alguém tem bom senso nessa agência. –Clint resmungou –Você sabe que isso quer dizer que ela, provavelmente, sabe porque você está pedindo né?

–Tudo bem. Eu tenho material de chantagem contra ela.

Clint revirou os olhos.

–Conversa logo com o Phil, Darcy. –ele pediu –Talvez as coisas se resolvam de um jeito que você nem imagina.

Ela duvidava muito.

XxX

O Natal foi um inferno. E não era porque ela ainda não tinha conversado com Phil. Foi porque ela teve que passar três dias na casa dos pais.

Susie estava grávida e sua família não parou de falar de como isso era marvailhoso. Que não a entendessem mal, Darcy adorava crianças e era louca para ser tia. Mas isso pareceu lembrar a todos que ela era a única Lewis solteira. E onde estava Phil? Por que ele não tinha ido com ela? O que Darcy tinha feito para espantar um homem tão bom como aquele? Eles sabiam que Darcy não ia conseguir manter um relacionamento com um homem daquele.

Fora isso Devin estava com um bico enorme porque Darcy saíra em várias revistas nas fotos do casamento de Tony Stark e Pepper Potts. Ser madrinha tinha suas vantagens. Inclusive, em uma das fotos, Darcy estivera com o braço passado pelo de Steve, criando uma onda de fofoquinhas que já tinha passado, felizmente. Darcy sabia que era infantil, mas adorou se vangloriar e contar detalhes do casamento para a mãe. Devia ter ficado quieta, porque isso só fez Devin mais insuportável que o normal.

Foram os três piores dias da vida de Darcy. E isso era, por si só, uma façanha.

Mas tudo bem, agora estava de volta a Nova York. E de licença. COMO UMA AGÊNCIA DE AGENTES SECRETOS FAZ PAUSA DE FIM DE ANO?

Que absurdo! Quer dizer que Doom ia viajar nesse feriadão? Loki queria ganhar presentes de Natal e ia ser um bom menino? Ela nunca tinha ouvido nada mais absurdo.

–Pra que tanto mal humor?

Darcy, que estivera tentando intimidar sua caneca de café com o olhar, levantou a cabeça e deparou-se com Pepper (que estava linda e perfeita como sempre).

–Oi, Pepper. –sorriu de leve –Eu não acredito que a SHIELD tirou o fim de ano de folga. –admitiu num muxoxo.

–É estranho, eu admito. –Pepper sentou na cadeira ao lado da garota –Mas você parece ser o tipo de pessoa que sabe apreciar folgas. Qual o problema?

–Ficando sem nada pra fazer sobra tempo demais pra pensar. –Darcy resmungou.

–Eu imagino. –Pepper estava obviamente analisando a garota –E eu já passei por tempos como esses. Mas... –cortou quando viu Darcy abrir a boca para retrucar –Eu não vim dar palpite na sua vida.

Ela seria a primeira, porque a essa altura ja tinham vindo Natasha, Skye, May (e ai estava uma conversa da qual ela fugira com o maior orgulho), Clint, James e até Jarvis!

–Eu vim apenas trazer seu presente de Natal. –Pepper informou –Nós não nos vimos antes e eu tenho a impressão de que essa é a primeira vez que te vejo desde o dia 25.

–Eu cheguei ontem de noite. –Darcy respondeu –A Jane pediu pra ajudar com umas coisas, por isso eu to aqui na Torre.

–Bom, você facilitou minha vida. –a ruiva sorriu –Deixa eu buscar o pacote.

Quando Pepper voltou e entregou o presente, Darcy quase chorou. Sério.

Darcy tinha uma figura mais voluptuosa e marcas de grife nunca faziam nada do tamanho dela. E mesmo que fizessem nunca teria dinheiro para comprar algo.

Pepper acabara de lhe entregar uma caixa que tinha Versace escrito.

–Pepper...

–Quieta e abre! –a outra falou com um sorriso animado.

Darcy nem fez charme. Abriu a caixa correndo e quase chorou de novo. Pepper encontrara tudo o que ela mais amava e enfiara numa caixa da Versace. Se esse vestido servisse ela ia morrer feliz.

–Experimenta! –Pepper parecia tão animada quanto ela –Jarvis, ninguém entra nessa sala!

–Sim, senhora.

Darcy trocou-se. O vestido era o tipo preferido dela, um peplum. O corpo de Darcy era um violoncelo, na opinião dela: peitão, bundão e cintura mais definida. Esse tipo de vestido caía nela como uma luva. A cor era um vermelho intenso (uma das preferidas dela!) e o decote era um perigo!

Estava amando.

–Pepper, eu ainda não acredito. Onde você achou um Versace que servisse nos meus peitos?

–Eu conheço muita gente. –ela falou de forma modesta –Eu fico feliz que você tenha gostado. Você poderia usar na nossa festa de Ano Novo.

–Isso vai rolar? –Darcy perguntou confusa –Eu não tinha ouvido disso.

–Não? Que absurdo. –Pepper estava inconformada –Vou descobrir porquê. Mas mesmo assim! Vai ser aqui, você tem que vir. Tony quer fazer uma queima de fogos e eu tenho que impedi-lo de incendiar a cidade.

Darcy riu.

Isso podia ser divertido.

XxX

Tony realmente sabia dar uma festa.

Ele tinha mandado limpar o décimo andar da Stark Tower e convidado vários funcionários da SI e da SHIELD. A noite prometia.

–Darcy!

–Caro!

As duas garotas se abraçaram.

Devia ser a sina das irmãs Potts serem lindas e divas a qualquer momento em qualquer lugar. Caro estava parecendo uma daquelas divas dos anos 50, desde o cabelo vermelho perfeitamente feito em ondas, até o vestido preto e o bolero amarelo ouro.

–Nossa, Lewis, você vai causar um incêndio com esse vestido. –Caro falou em tom de aprovação.

–Obrigada. Você também está um arraso. Tudo isso pro Barnes? –Darcy provocou de leve.

Caro perdeu o sorriso e cruzou os braços.

–Não sei porque você está falando isso. –ela deu de ombros –Nós mal nos conhecemos.

–Xi... Quer dizer que vocês não se pegaram no casamento?

Caro bufou.

–Minha irmã apareceu quando eu estava falando com ele. –ela revirou os olhos –Só faltou ameaçar mandar prende-lo por sedução de inocentes.

Darcy riu.

–É, ele tava meio preocupado que fosse acontecer. Mas acho que ele te curtiu.

Caro tentou conter o sorriso.

–Mas não foi pra isso que eu vim falar com você. –a ruiva balançou a cabeça –Foi algo que a Pepper me disse.

Darcy ouviu o que Caro tinha a dizer, mais do que um pouco chocada. Era a solução para praticamente todos os seus problemas...

As duas combinaram de almoçar dia 03 e discutir detalhes.

Darcy então trombou com Clint e Nat, que conversaram alguns minutos com ela, e saíram deixando-a com um martini na mão. Foi aí que ela avistou Phil.

Ela nunca tinha se considerado uma pessoa vaidosa, mas estava se sentindo poderosa nesse vestido e queria ver a reação de Phil. Dessa vez sem filtro nenhum, não ia ficar de negação, nem romantizar o que não estava lá. Hoje, nesse exato momento, ia ser completamente lógica.

Sério.

Virou o copo de martini e pegou uma taça de champagne na bandeja que passou por ela.

–Phil! –chamou, colocando seu melhor sorriso.

Phil olhou na direção dela com um sorriso, mas ao realmente vê-la seus olhos ficaram arregalados. OK, agora ela acreditava. Phil reconhecia que Darcy era um mulher atraente.

–Oi, Darcy. –ele se aproximou –Você está incrível.

–Obrigada. –sentiu suas bochechas ficarem quentes –O vestido foi presente da Pepper.

–A Pepper tem muito bom gosto. –Phil cedeu –Mas a modelo ajuda muito.

É, ela tinha sido cega por um bom tempo aparentemente...

Os dois conversaram alguns minutos, mas dessa vez parecia que algo estava diferente. Darcy não tinha certeza do que era. A verdade era que tinha muito medo de estar vendo as coisas do jeito errado. Já tinha passado por situações nada agradáveis em relacionamentos, a última coisa que queria era estragar sua relação com Phil. E era comprovado que isso sempre acontecia, Darcy não era daquelas que conseguia terminar um namoro e continuar amiga do cara.

Ou talvez estivesse dando desculpas. A essa altura do campeonato ja nem sabia o que estava fazendo.

Seu olhar varreu a sala e encontrou alguém que estivera procurando por um tempo.

–Phil, eu preciso falar com o Barnes. –ela falou –Já volto. –prometeu.

Darcy caminhou até o ex-assassino/espião/cara mau, que estava (pra variar um pouquinho) parado num canto escuro, como se fosse um serial killer. Não era a toa que todos os recrutas da SHIELD morriam de medo dele.

–James! Seu sorriso ilumina o salão! Como sempre. –ela deu uma piscadela para ele.

–Darcy. Seu decote ilumina minha vida. –ele respondeu com um pequeno sorriso divertido –Como sempre.

–Patife. –ela falou rindo –Seguinte, a Caro ta aqui, ta te querendo, então acho bom você fazer algo a respeito.

James revirou os olhos.

–A última vez eu eu segui seu conselho e fiz exatamente isso, a Pepper brotou das trevas e foi péssimo. –ele informou.

–Então você vai pro ataque e eu dou um jeito na Pepper. –Darcy falou como se fosse óbvio.

–Ah é? –James arqueou uma sobrancelha, cheio de divertimento -Como? –quis saber.

Hum, Darcy não tinha pensando nisso ainda.

–Eu distraio ela, oras! –falou, tentando ter alguma ideia útil -Eu posso subir na mesa e fazer uma strip-tease.

–Não se atreva. –James falou na hora -Porque eu gostaria de ver essa cena. –ele completou ao ver a expressão confusa de Darcy.

Ela revirou os olhos.

–Você é um babaca. –ela informou –Faz o seguinte, colega: a meia-noite todos estarão se cumprimentando e beijando. Você pega Princesa Caro pela mão e arrasta ela pra primeira sala vazia que achar. Eu tenho certeza de que ela não vai se importar.

James parecia estar tentando lutar contra um sorriso.

–E você? –ele rebateu –Qual o seu plano da noite? Porque você está vestida para caçar.

–Nem eu sei mais o que eu planejo fazer. –ela informou, os ombros caídos –Seria muito anti-ético pular nele?

–Um pouco, mas quem liga? –ele deu de ombros –Você ja devia ter feito isso faz tempo.

–Eu podia esperar até fevereiro. –ela falou de repente –Quando eu deixar de ser assistente dele oficialmente.

–Olha, que surpresa! Você está enrolando. –James falou fazendo uma cara exagerada de choque.

Darcy revirou os olhos, mas entendeu a indireta.

–Ta, saquei. –ela bufou –Pode ser minha resolução de ano novo.

–Sei. –James estava sendo um pouco irônico demais agora –Para de enrolar, Lewis. Você ja pensou que pode estar perdendo algo bom?

–Agora você está sendo o sujo, falando da mal lavada. –ela protestou –Eu poderia te dizer a mesma coisa.

–É completamente diferente. –ele falou –Você, por alguma razão estranha, está apaixonadinha pelo Agente Blase. Eu só quero transar com a irmã da Pepper.

–Você é nojento. –ela declarou por fim –Divirta-se com sua empreitada. Eu vou falar com o Phil.

Bucky fez uma cortesia para ela.

–Algum problema com Barnes? –Phil quis saber tão logo ela se aproximou.

–Tirando o fato de que ele é um babaca? –ela perguntou rindo –Nenhum. O cara é uma peça.

Phil arqueou a sobrancelha.

–Vocês se dão bem então?

–Super. Melhor que ele na minha vida só o Clint mesmo. Mas não deixa ele saber. –ela pediu –Nenhum dos dois, aliás. O Clint ta me agradando porque não quer perder o lugar de preferido e o James é um babaca.

Phil riu e balançou a cabeça.

Então os primeiros acordes de “I’ve Got You Under My Skin” começaram a tocar e a voz de Frank Sinatra preencheu o salão. Darcy lançou um olhar confuso para o dj e viu Tony fazendo gestos de positivo e apontando para Phil.

O imbecil confundiu as músicas de Sinatra. Por que isso não a surpreendia? Ela apostava que se fosse Black Sabatah ele teria lembrado.

–Eu gosto dessa música. –Phil declarou com um sorriso.

–Bom, não vamos desperdiçar uma boa música. –Darcy propôs –Que tal uma dança?

–Com todo prazer. –Phil ofereceu o braço para ela.

Os dois se colocaram num dos cantos da pista e começaram a balançar suavemente com a música.

–Eu só consigo dançar quando é você que está me conduzindo. –Darcy admitiu.

–Justo, afinal eu só consigo relaxar quando é você quem está mandando. –ele provocou.

Darcy riu.

–Eu me sinto completamente satisfeita pelo jeito que nós evoluímos. –ela informou –Eu parei de pensar em você como o Agente que roubou meu iPod, você aprendeu a tirar folgas, nós começamos a nos entender de verdade...

–Você me fez sorrir, me fez café, me fez dormir... –ele riu –Você tem cuidado muito bem de mim, Darcy.

–É um prazer, chefe. –ela sorriu.

–Nós não estamos no trabalho. Você pode me chamar de Phil, sabe? –ele falou batendo a testa suavemente contra a dela.

–É mais um termo carinhoso do que um título a essa altura. –ela contou.

–Menos mal. –ele cedeu.

Phil fez Darcy rodopiar e, quando ela voltou a ficar de frente com ele, as mãos dele foram parar na cintura dela. Após um segundo de hesitação Darcy deixou os braços em volta do pescoço dele.

As coisas estavam ficando sérias agora. Essa era a tal da hora da verdade? O que ela tinha que fazer? O que ela podia fazer?

–Darcy...

Ok, ele ia falar alguma coisa e estragar o momento. Ela tinha certeza disso! Era o que sempre acontecia com ela.

Talvez Darcy devesse ter pensado um pouco mais antes de agir, mas não era do feitio dela de qualquer jeito...

Darcy esticou o pescoço e colou a boca na de Phil. Foi bem curto, quase um susto e ela ja afastou o rosto do dele. E Phil estava olhando para ela, olhos arregalados.

Fala alguma coisa! Fala alguma coisa!

Darcy abriu a boca, mas nenhum som saiu. Felizmente Phil resolveu agir (finalmente!).

Ele puxou-a para perto pela cintura e beijou-a de novo. Ainda era a coisa mais simples do mundo: apenas bocas, nada desesperado ou carregado. E mesmo assim era perfeito, melhor do que Darcy ja tinha sonhado (e como ela tinha sonhado...), porque era Phil. O cheiro dele, o calor dele, a boca dele.

E, embora tivesse durado mais que o outro, também foi curto.

–Darcy, nós precisamos...

–Agente Coulson!

Diante da voz de May, Darcy afastou-se de Phil como se ele queimasse.

A mulher aproximou-se rapidamente, olhou de um para o outro e pareceu considerar sumir.

–O que foi, Agente May? –Phil perguntou sério, sem olhar para Darcy.

–Nós temos uma... Emergência, senhor. –ela falou, ainda parecendo querer sair dali –Mas eu posso resolver...

–Eu já vou. –Phil garantiu, então virou-se para Darcy –Nós precisamos conversar.

Darcy nem fez que sim com a cabeça, antes de virar-se e sair de lá.

Bom... Que merda.