O primeiro sentido que despertou em Chihiro foi o auditivo. O som das folhas chacoalhando ao vento. Cigarras.

Foi então que sua mente começou a trabalhar. Suas memórias vieram a tona. O túnel. A pedra sorridente. O sonho. As vozes. Os medos, os desejos. HAKU! Tudo voltou muito rápido. A cabeça de Chihiro doeu. A ponde. A casa de banhos. Yubaba. Haku. Lin. Kamaji. As caudeiras. O Deus Rio. Sem Rosto. Seus pais virando porco. Seu corpo desaparecendo. Zeniba. O bebê de Yubaba. A ajuda de seus amigos, o selo de Zeniba e o feitiço de Haku no qual tinha pisado em cima libertando-o do poder de Yubaba. Todo o seu tempo no mundo espiritual veio a tona. Seu músculos contraíram. Chihiro tentou levantar, tentou abrir os olhos. Mas não podia. Só podia se lembrar. Haku... Haku prometeu...

“—Não tem água! —Chihiro dissera ao ver o campo verde por onde chegara.

—Não posso continuar com você. Volte pelo mesmo caminho qu veio, mas, em nenhum momento olhe para trás até você ter saído do túnel. — Haku dissera a ela, olhando-a intensamente.

—Mas e você? E você Haku? — Ela não queria deixa-lo. Era seu melhor amigo.

—Vou falar com Yubaba. Deixarei de ser aprendiz. Estou bem agora que tenho meu nome de volta... Também vou retornar ao meu mundo. — Agora ele havia se virado para ela.

—Haku a gente vai se ver de novo? — Ela não queria. Não queria ter de deixa-lo para trás, estava triste.

—É claro! —Ele respondeu sorrindo.

—Você promete? — ela indagou.

—Prometo. — Ele havia deixado de sorrir.

Suas mão dadas estavam suadas. Mas o toque dele era perfeito em sua mão. Seria capaz de segurar sua mão para sempre.

—Agora vá e não olhe para trás. — Ele disse.

E a medida que se afastava suas mãos se soltaram. E foi então que o vazio no peito de Chihiro começou. Com separação dela e Haku.”

Tudo era ta confuso naquele momento. Como se esquecera de algo assim? Como pudera esquecer Haku? Kohaku... Seu melhor amigo, seu protetor...

Ela abriu os olhos, estava deitada ao lado do túnel. Sua cabeça doía, seu braço também. Tentando se levantar, percebeu que estava toda dolorida. Ao levantar-se olhou para o tínel. Sentiu o vento entrar, exatamente como a oito anos antes. Respirou fundo, considerando a idéia de entrar e procurar Haku. Então, lembrou-se de que ele havia lhe dito que voltaria ao seu mundo. Droga! Ele não cumprira a promessa. E ela não teria como encontra-lo. Tentando se lembrar melhor do rosto de Kohaku, Chihiro fechou os olhos e se concentrou. Ainda não conseguia. Como se lembrara de tudo, menos do rosto de Haku? Não, não se lembrava nitidamente do rosto de ninguém... Talvez fosse porque era muito jovem... Ela suspirou. Abriu os olhos e pode ouvir suas vozes...

—Engraçado... não me lembro de seus rostos... mas me lembro de suas vozes... — Ela olhou o túnel escuro.

Ela virou as costas e começou a andar na direção oposta ao mundo dos espíritos. Não entraria... Ao menos... Não hoje.

Ela voltou para casa andando pois todo seu corpo doía. O coração parecia despedaçado. Haku... O nome enchia sua mente, assim como a promessa que ele havia feito a ela. Ele não cumprira. Provavelmente nunca iria. Isso doía. Saber que Kohaku havia se esquecido dela... Como será que ele estava? Faria qualquer coisa para vê-lo novamente.

Chihiro nem olhou por onde andava, não prestou atenção no caminho. Até que estava em frente a sua casa. Ela respirou fundo e entrou.

— Estou em casa! — Disse fechando a porta. A casa estava silenciosa. Não parecia ter ninguém em casa. —Mãe?! Pai?! — Ela chama, sem resposta.

Subindo as escadas Chihiro foi para o seu quarto, pegando o celular olhou as horas. Uma e meia da tarde... Havia perdido a hora do trabalho... Tinha ficado tempo demais perdido naquele poço de lembranças. Boas lembranças, más lembranças... tudo se confundia em sua mente.

Cansada, ela largou o celular na cômoda e se deitou na cama para dormir. O sono veio rápido. E as garras de um sonho se moveram tomando rapidamente sua mente adormecida.

“Lá estava o dragão. Com um corpo que mais lembrava uma serpente, e uma cabeça que lembrava a de um lobo. Suas quatro patas fortes, e suas escamas prateadas, os pelos verdes sacudindo ao vento. Ele se debatia e voava desorientado, com milhares de pássaros atrás dele. Ele mergulhou no oceano. Saiu do oceano. E aqueles pássaros brancos ainda o perseguiam.

Curiosa Chihiro observava o dragão, e olhando para seus perseguidores notou que não eram pássaros. O que eram?

—Poxa!Não são pássaros...

Ela assistiu o dragão se contorcer no ar por um instante. Depois se apoiou no madeirado da sacada e gritou:

—Haku! Por aqui! Lute! — e foi só então que percebeu o nome que dissera. — Ah, Haku? — O medo preencheu seus ossos. — Haku!

O Dragão pareceu escutar e veio rápido em sua direção, entrando no quarto. Sen apressou-se em fechar a janela, mas acabou cheia de... de... Tiras de papel?

—Poxa, eles são de papel! — Ela exclamou depois de espernear um pouco.

Voltando sua atenção para Haku ela notou que o dragão parecia ferido, todo ensanguentado.

—Haku? Haku é você? — Ele rosnou, sangue escorria de sua boca. — Está ferido? Os pássaros de papel já foram embora. Você está seguro agora.

No entando, Haku não a ouvia, com um rosnado alto ele avançou em direção a janela. Chihiro se assustou saindo do caminho do grande animal. O sangue dele epirrou por todo o quarto. A garota o observou subir no ar, ainda desorientado.

—Ele vai até Yubaba... — Concluiu. E então um estalo soou em sua mente e a medo por um amigo querido tomou seu corpo. — Ah! Não! Ele vai morrer!”

Chihiro acordou assustada.Fechando os olhos ela mergulhou nas lembranças... Aquele tinha sido um dia e tanto para ela. Haku quase havia morrido. Sem-Rosto entrara na casa de banhos para Deuses e causara um grande estrago lá dentro. Coçando a cabeça, ela levantou o dorso e se espreguiçou. E... O que viu ao abrir os olhos a assustou, dando um pulo na cama a garota se sentou no canto da cama enquanto ela olhava perplexa para a figura a sua frente.

—Mas você... — Ela sorriu — O que está fazendo aqui?