A geada fria encobria a relva enquanto acordávamos cedo e desconfortavelmente naquele acampamento montado às pressas. Estávamos longe das vistas de Kremlin, afastados pelo menos uns 3Km dos seus muros altos e grossos, que imprimiam uma imagem de imponência ao castelo, fazendo-nos parecer formigas diante de um enorme sapato. Durante o dia faríamos uma ronda de reconhecimento do terreno, precisávamos ter um relatório sobre as condições dos arredores, principalmente se algo desse errado, pois precisaríamos chamar reforços e com isso já teríamos as especificações para repassar às novas tropas.

Minha van – Agora de cara nova – Precisou ficar camuflada debaixo de uma pilha de folhas de palmeira, não podíamos correr o risco de sermos vistos pelos satélites locais e colocar a missão toda a perder. Meu pelotão era composto por quatro especialistas de Operações, uma agente de Comunicações e dois Agentes da Divisão de Ciências e Tecnologia, todos de nível 7. E eu, é claro. Os Agentes Stan e Josh eram os mais novos do pelotão e também melhores amigos e coincidentemente eram os nerds da computação assim como eu. Dormimos pouco e ruim em sacos de dormir camuflados, e já estava na hora de levantarmos de novo para concluir a etapa de mapeamento e transferência de imagens até o Bus, afinal, precisaríamos de suporte tático de May e Triplett que nos coordenariam de lá mesmo do avião.

– Agente Skye, o agrupamento Alfa irá para a torre leste e o Bravo ficará com a torre sul. Quando terminarmos a implantação das câmeras, estudaremos calmamente o perímetro para descobrir os pontos mais frágeis e talvez quem sabe até encontrar um jeito de entrar.

– Tudo bem, comandante. Terminaremos o mais rápido possível. Eu e mais dois agentes estamos trabalhando num equipamento que funciona como um buraco negro digital.

– Sim, Senhor. Só precisamos nos aproximar o suficiente de uma rede Wi-fi que se origine de dentro da fortaleza. O dispositivo sugará todo tipo de informação que se encontre em meio digital.

– Listas de entrada, identidades, extratos e provavelmente teremos os arquivos das câmeras de segurança se eles fizerem o backup desses arquivos para algum disco rígido. – Completei o raciocínio de Josh.

– Muito bem. Vamos terminar logo a varredura do perímetro. Fiquem de olho nas armadilhas e não se aproximem muito das muralhas. Apenas durante a noite poderemos ter um contato mais próximo das entradas.

– Entendido – Eu e os garotos respondemos em uníssono.

Estava começando a entender como funcionava essa coisa toda de trabalhar com outra equipe e cheguei à conclusão de que Coulson já imaginava que eu me adequaria rapidamente à situação. Já sentia falta de acordar com a Jemma comendo rosquinhas e o Fitz reclamando porque nós duas passamos a noite cochichando, impedindo ele de dormir tranquilo. May nos acordando “docemente” pelo comunicador e eu chegando primeiro do que o Triplett no nosso treino matinal. Coulson pacificamente sentado na sua poltrona, ora remexendo na sua pilha de papéis, ora jogando dardos no alvo personalizado da S.H.I.E.L.D. (Como tudo o mais naquele avião). Sentia falta da minha cama, da holomesa e daquela escada caracol. Mas existia ainda um outro buraco dentro de mim. Era a falta dele. Daquele idiota traidor que estava me devendo um drink e uma explicação pra tudo aquilo. E por mais que eu me odiasse por aquilo, simplesmente não poderia deixa-lo para morrer lá.

– Vocês eram muito próximos? – Stan perguntava-me enquanto despejava aquele almoço esquisito na boca, sem aparentar sinais de educação.

– Éramos. Você não tem ideia do que nós passamos juntos.

– Eu ainda não tive o prazer de conhecer o Agente Coulson. Ele é uma lenda na Academia. – Josh revelava, enquanto dividia comigo um saco de rosquinhas.

– Lenda? – Soltei uma gargalhada, me sentindo a agente nível 2 mais veterana daquela equipe. – Imagina se você soubesse que eu trabalho com a Cavalaria.

– A Cavalaria?! – Os dois gritaram quase colocando parte da comida para fora, fazendo-me rir como se não houvesse amanhã.

– Isso vai ser divertido. – Disse, pegando mais uma rosquinha – Vocês não tem noção do que é trabalhar naquele avião.

– Você foi um cadete de sorte. – Stan confessou, deixando escorrer uma gota de inveja do canto da boca.

– Eu só segui as pistas certas. Hackeei uma entrada... Não sabia que me tornaria uma agente da S.H.I.E.L.D, nunca estive na Academia. A primeira vez que vi Coulson e Ward foi quando eu fui levada da minha van para ser interrogada na nova unidade de Coulson.

– Você nunca passou pela Academia? – Stan continuava admirado.

– Não.

– Então, como?

– Phil viu potencial em mim. Alguma coisa que o fez acreditar em mim desde o começo. Ele tem essa espécie de radar para algumas pessoas. Talvez ele esteja até certo sobre o Ward.

– Ele acha que pode consertá-lo?

– Ele acha que eu posso.

– E o que você acha?

– Eu não sei... Só quero tirá-lo de lá. Só Deus sabe o que ele pode estar sofrendo ali. E eu tenho certeza de que ele me salvaria se fosse a situação inversa.

– Mas ele é HIDRA! – Stan exclamou, um pouco alterado.

– Pode ser... Mas quem sabe no que ele se meteu antes disso? Eu não vou deixa-lo. Só sairei daqui quando tivermos resgatado ele.

– Você o ama. – Josh sorriu, olhando-me de forma doce.

– É, acho que sim.

– Agente Skye? – A voz firme do Comandante Wilson nos avisava que a hora do almoço havia terminado. – Concluímos a última parte do perímetro. Você e os agentes Stan e Josh já podem começar a coisa do processamento de imagens com aquele...

– Buraco negro digital. – Josh deu uma força a ele.

– Isso! Conseguiremos ter acesso aos vídeos das câmeras de segurança?

– Em tempo real? Não. Mas o padrão é fazer o backup dos vídeos para eventuais consultas. Como a nossa. – Sorri triunfante, mas parece que o Comandante não entendeu a graça da coisa – Examinaremos e faremos o relatório o quanto antes, senhor.

– Ótimo. Estarei com o agrupamento Alfa recolhendo os relatórios.

– Tudo bem, senhor. – Josh ligava os computadores.

– Okay. Vamos descobrir o que há no estômago da besta. – Falei, ligando meu inseparável laptop que perdia de lavada para as máquinas dos meninos.

– Consegue quebrar esse algoritmo? Eu sou o cara dos hardwares, não me peça pra hackear o satélite da NSA.

– Eu já hackeei o satélite da NSA.

– Não brinca...

– Sério, Josh! Foi durante... – Fui interrompida bruscamente por uma informação não muito agradável – Essa não, gente...

– O que? Continua a história...

– Stan, isso é criptografia quântica!

– Sim, e daí? Você hackeou o satélite da NSA! Isso não pode ser mais...

– Mas naquela circunstância eu não precisaria enviar informação, apenas receber, ou seja, eu só teria o acesso às imagens, sem precisar adulterá-las.

– O que isso quer dizer?

– Que no momento que fizermos o download dos arquivos, o sistema de segurança vai vetar a transferência e vai reportar o remetente. No caso nós.

– E seremos descobertos. – Stan levou as mãos à cabeça.

– Como isso funciona exatamente? – Josh tentava entender o processo.

– Eu só lidei com criptografia quântica uma vez. Isso não é o tipo que se quebra facilmente, é tipo anti-falha. Ela utiliza a física ao invés da matemática e só pode ser instalada com materiais da mais alta tecnologia... Raríssimos. Tipo fibras de altíssima pureza.

– E agora? Sem as imagens não poderemos comprovar que o agente Ward está lá dentro. – Josh mostrava-se preocupado.

– E entrar aí pra morrer de graça... Temos três pelotões aqui e a S.H.I.E.L.D. está ressurgindo das cinzas... Não é hora de perder tantos agentes.

– Espera, Stan. Acho que teremos uma chance. Uma única chance.

– De que precisaremos?

– De reforços.