– Washington D.C.

Simmons respirou profundamente, pronunciando o nome de um jeito fofo. Algo naquela cidade lhe fazia sentir como se a Inglaterra não estivesse tão longe assim dela. Talvez fosse aquela universidade em que Sarah Lydon lecionava. A doce sensação de reencontrar sua vizinha carismática e gentil, tão castigada pela vida. Simmons sentia seu passado voltar com toda força, batendo de encontro ao seu coração. Mas ela não iria recuar agora. Assim como não havia recuado no dia em que salvou a vida da mãe de Miles.

– Jemma, você está mesmo bem com isso? - Skye tocou o braço da amiga enquanto Ward olhava para os lados, com as mãos bem repousadas na cintura.

– Estou, Skye. – a cientista deu um meio sorriso, nitidamente nervosa. – É só essa sensação...

– Skye!

Miles avistou o trio ainda do outro lado da calçada e atravessou a avenida correndo de encontro à morena que mexia nos cabelos aleatoriamente.

– Miles! – Skye o abraçou com animação, deixando Ward meio enciumado atrás deles. – Quanto tempo!

– Sim! Nossa, o que você fez com esse cabelo?

– Solta! – ela deu um tapa na mão de Miles que tentava enrolar cabelo escuro da garota, sem sucesso. – Você sabe que eu adoro mudar meu cabelo.

– É verdade – ele sorriu largamente, soltando os cabelos agora lisos de Skye – Mas nada vai superar aquela mecha verde que você tinha com quinze anos!

Ele gargalhou com a lembrança e Skye deu alguns murros no braço dele, enquanto Jemma e Ward se entreolhavam um tanto perdidos.

– Com licença – Ward limpou a garganta e pronunciou com toda a paciência que havia dentro de si – Acho que nós temos que salvar a vida dele antes de vocês continuarem o passeio pela terra da nostalgia.

– Ah, okay… Sobre isso – Miles olhou para Skye, mudando a expressão em seu rosto – Skye, você não acha que tem que me explicar algumas coisinhas?

– Sinto muito, Miles… Mas tem uma coisa sobre você que eu não contei. Uma coisa muito séria.

– Tá bom – ele acenou com a cabeça e a encarou sério, esperando que ela continuasse – Estou aqui agora. Pode falar.

– Aqui não. – Simmons surgiu na conversa, apontando para uma câmera de trânsito que com certeza conseguia filmá-los daquele ângulo – Essa era uma ótima hora para o restaurante irlandês.

– Ótimo. – Ward respirou fundo e sentiu o celular vibrar dentro do bolso – Só um instante.

– Quanto tempo até o encontro de vocês dois? – Skye perguntou.

– Falta duas horas ainda. Achei que vocês tinham se perdido no caminho.

– Não é fácil estacionar um quinjet e roubar um carro sem que isso levante suspeitas.

– A S.H.I.E.L.D. tem quinjets e não tem um carro? – Miles debochou.

– Experimenta ser discreto dirigindo uma BMW preta blindada e com um símbolo gigante da S.H.I.E.L.D dos lados.

– Okay, foi mal. – Miles jogou as mãos para cima e Skye revirou os olhos – A demora está justificada.

– Era a Samantha.

Os olhos de Simmons briharam e Skye olhou para ela com desconfiança.

– Pode desfazer essa cara de felicidade porque hoje você não vai abrir ninguém pra estudar genética!

– Eu não vou… Desisto! – Simmons revirou os olhos e cruzou os braços enquanto Skye sorria da reação dela.

– Ela vai nos encontrar no restaurante em vinte minutos. – Ward continuou. – Vamos logo, temos um dia interessante pela frente.

(…)

– Melinda, faça as malas. Vamos para Hunan.

Coulson adentrou a cabine atordoado. Após aquela noite incrível, ele poderia jurar que todos os problemas do mundo se resumiam a conseguir coragem o suficiente para sair da cama em que Melinda estava deitada. Mas Fury o surpreendeu com uma revelação que poderia mudar o rumo de Skye e o seu próprio e, no pior dos cenários, poderia colocar a agência e o mundo inteiro em risco.

– Do que está falando? Fury não está lá?

– Ele acabou de descobrir um artefato Kree, Melinda. – ele sentou-se ao lado dela no assento do co-piloto e May configurou o Bus para o piloto-automático. – Do tipo que pode dizer exatamente o que a Skye é. Do tipo que pode nos levar aos pais dela e do tipo que pode encontrar uma…

– Uma o quê, Phil?

– Uma cidade. Uma cidade repleta de seres como ela.

Melinda não sabia exatamente por onde começar a processar todas aquelas informações, mas concentrou-se em se deter no fato de que o objeto de que Fury falava era capaz de levar Skye aos pais verdadeiros. E ela não sabia ao certo se isso era algo bom ou ruim.

– Precisamos chegar até o fundo disso antes de falarmos com Skye.

– Foi exatamente isso que eu pensei – Coulson suspirou e olhou para o horizonte, tentando achar alguma coisa que o distraísse de seus pensamentos temerosos – Ward, Simmons e ela saíram mais cedo para Washington D.C. Alguma missão relacionada à Samantha, mas tenho quase certeza de que foi uma desculpa para passeio.

– Aquele restaurante irlandês que a Simmons…

– Esse mesmo. – Phil sorriu de lado, como uma faísca de bem-estar que lutava contra a pressão dentro de seu peito. – Isso e o fato de que Samantha é formada em Biologia Celular, então...

– A Simmons vai deixar o Fitz por ela. – May comentou descontraída, tentando diminuir as preocupações que nublavam a mente de Coulson.

– Sim. – ele sorriu. – As duas vão se dar super bem.

– Nós vamos resolver isso, Coulson – Melinda segurou as mãos dele e o fez olhar em seus olhos. – Como sempre fazemos.

– Sim, Melinda. Nós vamos.

– Fitz já sabe?

– Não. – Coulson suspirou e deu um beijo na testa dela antes de se dirigir para fora da cabine. – Estou indo avisá-lo agora mesmo. Não podemos esperar que os outros voltem para irmos todos juntos. Nós três viajaremos para Hunan, enquanto Skye, Jemma e Ward passam um tempo com Samantha em Washington. Eu me sentirei melhor sabendo que Skye está segura e longe disso tudo até que possamos descobrir exatamente com o quê estamos lidando.

– Entendido, Phil – May sorriu para ele, ternamente. – Vou alterar o curso de vôo para Hunan imediatamente.

(…)

– E aí, Maninho! – Samantha adentrou o restaurante com os olhos fechados, sentindo o cheiro da comida se espalhar gostosamente pelo ambiente – E pelos céus, quem escolheu esse restaurante divino?

– Eu. – Jemma levantou uma das mãos, timidamente – Adoro esse lugar.

– Eu também! – Samantha vibrou em animação e Simmons levantou-se para cumprimentá-la. – Prazer em conhecê-la. – a loira a abraçou com carinho e Jemma retribuiu meio desengonçada. – Eu me chamo Samantha e sou irmã gêmea desse tapado aqui.

– Ai, Samantha. – Ward reclamou quando sentiu o tapa na cabeça vindo de sua irmã hiperativa. – Depois você me pergunta por que eu não sinto falta disso. – ele olhou para Skye, com degosto.

– E eu me chamo…

– Jemma Simmons, a cientista. – ela respondeu sorrindo e Jemma corou imediatamente. – Não tem como não bater com a descrição de Ward. Na verdade, você é ainda mais bonita do que ele descreveu.

Agora era oficial. Jemma estava a versão feminina do caveira vermelha de tanto que o seu rosto pálido corou.

– Wow, wow, wow, irmãzinha… Pega leva aí – Ward segurou o braço dela e a olhou um tanto sério – Você está constrangendo a Simmons.

– Cala a boca, Grant. – Samantha disse simplesmente e Ward soltou o braço dela, vencido. – Agora, deixa eu dar um abraço na minha famosa cunhadinha!

– Nossa, Ward, você não disse que ela era tão amável assim! – Skye levantou-se e abraçou Samantha, tão animada quanto ela.

– Nossa, você parece uma bonequinha – Disse Samantha, com seus incríveis 1,82 de altura – Ward fala muito bem de você.

– Não posso dizer o mesmo – Skye respondeu divertida e Ward abaixou a cabeça, indignado – Digamos que ele não é tão carismático e aberto como você.

– É normal isso. Nós sempre tivemos nossas diferenças, mesmo. Mas eu amo esse desgraçado.

Samantha sorriu para o irmão que ainda estava com um semblante de derrota estampado na testa. A loira sentou-se – finalmente – e Ward agradeceu mentalmente por isso. Ele sabia que as apresentações eram sempre a pior parte. Conhecia Samantha bem demais para imaginar como ela reagiria, por isso, sempre adiava apresentar a irmã para as pessoas. Sua personalidade forte e seu hiperativismo sempre o assustaram, ainda mais depois que eles se separaram e Ward acabou na cadeia. Ainda assim, era bom vê-la depois de toda aquela bagunça em sua vida. Era como ancorar o barco em um porto seguro depois de enfrentar uma grande tempestade.

– Ela é intensa. – Simmons comentou, enquanto Samantha estava no balcão fazendo os pedidos deles.

– Você se parece mais ainda com um robô quando está perto dela, Ward. – Skye comentou, rindo da situação juntamente com Jemma.

– Temos um problema. – Miles entrou no restaurante quase correndo e Skye virou-se para olhar para ele.

– Até que enfim você voltou – Skye ainda tentava parar de rir. – Você perdeu a chegada triunfal da irmã do Ward…

– Eles estão atrás de mim. – Miles tocou o ombro de Skye e falou sério, olhando para ela e os demais, ainda ofegante. – Os caras de terno... Eles estão vindo atrás de mim.